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A influência da mídia de massa sobre a formação do convencimento dos jurados nos crimes de competência do Tribunal do Júr

2 A INFLUÊNCIA DA MÍDIA SOBRE OS JULGAMENTOS REALIZADOS PELO TRIBUNAL DO JÚRI NO BRASIL

2.2 A influência da mídia de massa sobre a formação do convencimento dos jurados nos crimes de competência do Tribunal do Júr

Os Crimes dolosos contra a vida são o principal atrativo do sensacionalismo da mídia, sendo este o foco dos julgamentos do Tribunal do Júri, pela repercussão nos casos trazem o clamor público da sociedade por justiça, podendo fazer inocentes serem condenados e culpados absolvidos. Ocorre que, neste contexto, a mídia indaga para mostrar o problema, e a sociedade roga por uma solução. Neste sentido relata Andrade (2007, p. 13):

[...] ―quando os meios de comunicação analisam um caso, quase sempre limitam-se a informar os fatos, reproduzindo a dialética do poder‖, com algumas pitadas de sensacionalismo para render índice ainda maior de vendagem ou exposição. Invariavelmente, [...] Verifica-se que, ―os meios de comunicação só cumprem o papel de informar, e mal, distorcendo os fatos ou omitindo dados importantes, sempre na premissa de que é isso que o destinatário quer‖. Em realidade, ―massacra-se o leitor/telespectador com noticias selecionadas a partir do crivo de seu redator/proprietário, repetindo- as tantas vezes ate a sua absorção generalizada ou como estratégia de ocupar o espaço de outras informações‖.

É notório que a mídia influencia diretamente os personagens do judiciário, e esta influência é imensamente maior no Tribunal do Júri, visto que os jurados são pessoas comuns e na maioria das vezes com pouco ou nenhum conhecimento jurídico para proceder de forma imparcial nos julgamentos. Conforme relata Marcio Thomas Bastos (apud Andrade, 2007, p. 316):

Importante notar que se a pressão e a influência da mídia tendem a produzir efeitos sobre os juízes togados, muito maiores são esses efeitos sobre o júri popular, mais sintonizado com a opinião pública, de que deve ser a expressão. Diante disso, o juiz dificilmente resiste: estão às decisões em que se toma a ordem pública por pressões da mídia. No entanto, com os jurados é pior: envolvidos pela opinião pública, construída massivamente por campanhas da mídia orquestradas e frenéticas, é difícil exigir deles outra conduta que não seguir corrente.

A mídia possui a capacidade de manipulação da opinião pública. Algumas informações são inseridas por dogmas da própria instituição midiática e acabam por passar informações modificadas e manipuladas a fim de alcançar os próprios objetivos. As consequências da notícia dependem da forma com que ela é disseminada ao público, conforme um acontecimento no ano de 1938 relatado por Boldt (2013, p. 72):

Em 30 de outubro de 1938, ao veicular no rádio uma adaptação do livro Guerra dos Mundos, o futuro diretor de cinema Orson Welles transformou diversão em motivo de pânico e terror para a população do estado de Nova Jersey, nos EUA. Milhares de pessoas movidas pelo medo da suposta invasão marciana noticiada por Welles, fugiram sem destino com intuito de salvar suas vidas. Inúmeros acidentes ocorreram e até mesmo suicídios foram registrados.

Mesmo que a ameaça marciana noticiada não fosse real, produziu efeitos reais na população, causando acidentes, caos e mortes na cidade. Este caso, como vários outros existentes deixam evidente o poder que a mídia exerce sobre as pessoas. Hoje em dia são televisionadas ao vivo notícias sobre rebeliões em penitenciárias, homicídios cruéis, chacinas, que apesar de desagradáveis aos olhos, amplificam os fatos, tornando a violência um espetáculo midiático (BOLDT, 2013).

Pode-se, então, falar na existência de uma força grandiosa nas imagens emitidas pela televisão. E estas imagens produzem efeitos verdadeiros, ou seja, tornam-se reais à população ao serem divulgadas pelos meios de comunicação, conforme relata Bourdieu (1997, p.28):

Os perigos políticos inerentes ao uso ordinário da televisão devem-se ao fato de que a imagem tem a particularidade de poder produzir o que os críticos literários chamam o efeito de real, ela pode fazer ver e fazer crer no que faz ver. Esse poder de evocação tem efeitos de mobilização. Ela pode fazer existir ideias ou representações, mas também grupos.

O poder do chamado ―efeito de real‖ disseminado pela mídia de massa, embora aparentemente legítimo e meramente simbólico, tem a capacidade de contribuir para a dominação de um grupo sobre outro, conforme complementa Boldt (2013, p. 59):

No âmbito penal, pode-se afirmar, seguindo as lições de Vera

Malaguti Batista (2003, p. 33), que “os meios de comunicação de

massa, principalmente a televisão, são hoje fundamentais para o exercício do poder de todo o sistema penal, seja através dos novos seriados, seja através da fabricação da realidade para a produção de indignação moral, seja pela fabricação de estereótipo do criminoso”.

Na procura pelo sensacional os meios de comunicação banalizam a cultura e reduzem o real a um espetáculo, conforme relata Boldt (2013, p. 74):

Os meios de comunicação de massa têm a capacidade de banalizar a cultura e reduzir a realidade a mero espetáculo, não obstante este não seja uma criação midiática. O julgamento do ex-astro de futebol americano O.J. Simpson, a morte da princesa Diana e os ―casos‖ Suzane von Richthofen, Isabela Nardoni e Eloá, para citar apenas alguns exemplos, nos mostram que a encenação, a dramatização, são essenciais para vender notícias.

O caso Isabela Nardoni, demonstra o modo ao qual a mídia de massa nacional explora o crime e a criminalidade, tal caso retrata o assassinato violento de uma menina, e os principais suspeitos eram seu pai e a madrasta, um crime considerado incomum e macabro, explorado como um ―espetáculo‖ midiático por mais de dois meses consecutivos, e o foco principal das matérias era marcado pela pressão popular em busca de justiça contra o pai e a madrasta da menina que eram os acusados pelo crime (WERMUTH; CALLEGARI, 2009, p. 62).

Sobre o caso Nardoni, complementa Mello (2010) que cita como exemplo,

[...] a edição n. 2057, da Revista Veja, de 23 de abril de 2008. Na capa, estampados estão os rostos do pai e da madrasta suspeitos de terem assassinado a menina Isabela. Logo abaixo da imagem, o título impactante, cujo final nos chama atenção, uma vez que escritos em tamanho maior e em cores diferentes da utilizada no início do texto: ―Para a polícia, não há mais dúvida sobre a morte de Isabela: FORAM ELES‖.

A notícia demonstra o papel de promotora de acusação adotada pela revista, e tenta mostrar com o título e com a reportagem que a única solução para o fato é o exposto. De modo que resta demonstrado que a mídia promove um julgamento público antecipado, desrespeitando a Constituição Federal e as leis brasileiras (MELLO, 2010).

Influência percebida facilmente também no caso de Suzane von Richthofen e dos irmãos Cravinhos, conforme expõe Prates e Tavares (2008, p. 37):

Veja-se, por exemplo, o polêmico julgamento de Suzane von Richthofen e dos irmãos Cravinhos em que antes do julgamento ocorrer uma emissora de televisão colocou no ar um membro do Ministério Público e o advogado de Defesa da ré. Os dois debateram acerca das teses que seriam usadas durante o julgamento, ou seja, o julgamento estava acontecendo no ar, perante o público e o apresentador do programa exaltando que agora é que se veria se existe justiça neste país. Como se a condenação de Suzane fosse à exata medida de justiça para todos os crimes. E assim, inadvertidamente, vão agindo alguns setores da imprensa em busca da tão sonhada liderança de audiência.

Em outro momento, durante a exibição de um programa da Rede Globo de Televisão, foi exibida uma matéria na qual Suzane von Richthofen foi flagrada em

conversa com seus advogados, e os mesmos estavam orientando ela a chorar durante a entrevista. Fato este que causou indignação da sociedade. Suzane que estava sob a proteção de um habeas corpus, teve sua prisão preventiva novamente decretada com base na afirmação de que as noticias que haviam sido trazidas pelo Ministério Público traziam riscos à testemunha do feito, e prejudicavam a boa aplicação da lei penal (LIMA, 2005).

A morte do menino João Hélio foi outro fato que chocou o país e tomou parte de capas de revistas e jornais por todo o Brasil e o mundo, além de uma ampla cobertura televisiva e pelos sites de notícias. O fato ocorreu na noite do dia 07 de fevereiro de 2007, no Rio de Janeiro, na qual três indivíduos abordaram o carro de Rosa Cristina Fernandes, mãe de João Hélio, enquanto aguardavam em um sinal vermelho. O menino ficou preso ao cinto de segurança do lado de fora do carro e foi violentamente arrastado pelas ruas do Rio de Janeiro por mais de sete quilômetros. Conforme citado por Leal e Souza (2014, p. 210):

[...]Na edição do dia 14, o assunto foi capa tendo como manchete: ―Arrastado por quatro bairros do Rio de Janeiro, morto, destroçado por bandidos e mais uma vez... NÃO VAMOS FAZER NADA?‖, acompanhada de uma foto do menino, com nome e idade. A matéria de capa trazia o título ―Sem limites para a barbárie‖ e o assunto ocupou seis páginas (46- 51) do periódico, com muitos apelos emocionais. Além das nove fotos que expunham a desgraça e o sofrimento daquela família, texto narrativo foi apresentado, um tanto quanto literário e bastante dramático.

A revista Época também utilizou do sensacionalismo em suas edições sobre o caso, a primeira edição do dia 12 de fevereiro, trazia como capa o título ―O HORROR, O HORROR: o crime bárbaro que chocou o país‖, com uma pequena foto do menino estampada na capa da revista. A matéria que estava empregada nas páginas 86 a 90, repetia o título e acrescentava logo abaixo: ―Crime bárbaro em que criança é arrastada e morta no Rio de Janeiro reacende debate sobre a redução da maioridade penal‖. O texto relata todos os acontecimentos com uma redação dramática, como notório no trecho: : ―Na semana passada, a imagem de um corpo arrastado assombrou o Brasil, numa cena de horror que nem o mais imaginativo dos poetas conseguiria sonhar‖. No parágrafo seguinte, vislumbramos outro trecho com matéria apelativa: ―Bestas. Monstros. Vermes. Feras. Assim reagiu, aos prantos e

em choque, a sociedade, em cartas e e-mails enviados a jornais e revistas‖ (LEAL e SOUZA, 2014).

Os Julgamentos possuem influência nos fatos que os meios de comunicação apresentam para a sociedade como verdade. Esquece-se que na maioria das vezes eles são pré-julgados, pela imprensa ou por nossos próprios preconceitos, de modo inconsciente, e o veredicto final se resume à velha luta entre o bem e o mal (PENA, 2007).

As crenças disseminadas pela mídia tendem a acreditar na idéia fixa de que somente a pena pode solucionar os conflitos, não existindo debate nem atrito, sendo todo e qualquer discurso legitimante de pena aceito e imediatamente incorporado à massa argumentativa dos editorias e crônicas. Estas crenças resultam na criação do senso crítico da população, e esta incorporação de pensamento resulta em consequências, as quais são relatadas por Batista (2002, p. 4):

A primeira consequência [...] é conduzir a certos hábitos mentais que recordam aquela inversão da violação tabu, [...] se a desgraça sobreveio, é certo que houve infração. Os temporais natalinos de 2001, com um saldo trágico de dezenas de mortos no estado do Rio de Janeiro, imprimiram a seguinte manchete: ―Ministério Público busca responsáveis pelas mortes‖ (O Globo, 28.dez.01, p. 11). Se houve mortes, é certo que houve homicídio; do resto se encarregará uma muito mal digerida teoria da omissão.

O autor enfatiza a culpa do governo sendo ocultada pela notícia, e continua a exemplificar ao citar sobre a dificuldade de atestar em meio a um julgamento a culpa ou inocência de um réu, conforme cita Batista (2002, p.4):

A segunda consequência [...] reside no incômodo gerado pelos procedimentos legais que intervêm para a atestação judicial de que o delito efetivamente ocorreu e de que o infrator deve ser responsabilizado penalmente por seu cometimento. Tensões graves se instauram entre o delito-notícia, que reclama imperativamente a pena-notícia, diante do devido processo legal (apresentado como um estorvo), da plenitude de defesa (o locus da malícia e da indiferença), da presunção de inocência (imagine-se num flagrante gravado pela câmara!) e outras garantias do Estado democrático de direito, que só liberarão as mãos do verdugo quando o delito-processo alcançar o nível do delito-sentença (= penanotícia).

Ao ligar o televisor, ler um jornal ou acessar páginas na internet, com facilidade a pessoa se depara com propostas de maior repressão objetivando a redução da criminalidade, tais propostas que buscam justificativas para a extinção dos parâmetros de proteção dos direitos fundamentais que em grande parte dos casos são vistos como barreiras à efetividade da sanção penal e são assimilados como instrumentos de promoção de impunidade. Importante mencionar a reportagem de 07 de julho de 2008, veiculada no jornal A Tribuna, no estado do Espírito Santo, que tinha por título “Sugestões para reduzir a violência”, conforme descrito pelo próprio jornal no corpo da notícia, a pesquisa de opinião foi elaborada

“após uma semana violenta, com vários assaltos e sequestros”, e traz opiniões da

população para melhorar a segurança pública no estado de Espirito Santo (BOLDT, 2013, p. 104).

A maioria das propostas emanadas pela população inquerida pela pesquisa de opinião reproduz a cultura punitiva delineada pela mídia, buscando maior policiamento, combate às drogas, mais presídios, reforma no código penal, pena de morte, maior agilidade no Poder Judiciário, entre outros vários apontamentos relatados. Tal atitude midiática tem se tornado algo comum, e sempre após acontecimentos criminosos, surge uma enxurrada de notícias com o intuito de apurar a autoria e a materialidade destes casos. Posteriormente ―especialistas‖ e demais jornalistas passam a indicar soluções que possam resolver de forma definitiva os problemas, formando o pensamento popular com combustível no temor social, fazendo que a população aceite todas as sugestões sem pensar nas raízes do problema passando então a demandar mais repressão, sugerindo novos tipos penais e mais casas prisionais (BOLDT, p. 105).

Quando o jornalismo deixa de ser uma narrativa com o anseio de fidelidade sobre a investigação de um crime ou sobre um processo em curso, e assume diretamente a função investigatória ou promove uma reconstrução dramatizada do caso, passa a atuar politicamente. Quem duvida de que os acusados cujos crimes são requintadamente exibidos nos programas exibidos em rede nacional, estão sendo julgados sem defesa naquele momento, pelo júri midiático, que irá transmitir o veredicto dos apresentadores. Simplesmente, poderíamos dizer que o tratamento do

assunto se desloca da estética para a ciência política, e, portanto os juristas têm algo a dizer e devem dizê-lo (BATISTA, 2002, p. 05).

Nos casos de forte comoção popular, a mídia incita um sentimento de pânico generalizado, em busca do sensacional, conforme relata Bourdieu (1997, p.74):

E a mesma busca do sensacional, portanto do sucesso comercial, pode também levar a selecionar variedades que, abandonadas às construções selvagens da demagogia (espontânea ou calculada), podem despertar um imenso interesse ao adular as pulsões e as paixões mais elementares (com casos como os raptos de crianças e os escândalos capazes de suscitar a indignação popular), ou mesmo formas de mobilização puramente sentimentais e caritativas ou, igualmente passionais, porém agressivas e próximas do linchamento simbólico, com os assassinatos de crianças ou os incidentes associados a grupos estigmatizados.

A comunicação de massa influencia na maneira como as formas simbólicas são produzidas, transmitidas e absorvidas na sociedade atual, sendo cerceado pela ―midiação da cultura‖, aonde existe a combinação do potencial de mobilização da opinião pública com as regras de mercado, nesse contexto a mídia acaba adulterando a realidade e repercutindo nas demandas culturais e referências sociais (THOMPSON, 2008).

A televisão além de designar as notícias a serem transmitidas em rede nacional acaba de forma invisível impondo opiniões, em busca de maiores índices de audiência para assim atrair investidores e patrocinadores para a sua ―existência‖ conforme destaca Bourdieu (1997, p. 77):

O universo do jornalismo é um campo, mas que está sob a pressão do campo econômico por intermédio do índice de audiência. E esse campo muito heterônomo, muito fortemente sujeito as pressões comerciais, exerce, ele próprio, uma pressão sobre todos os outros campos, enquanto estrutura.

Esta imposição das suas opiniões e convicções remete ao grande poder que a mídia possui, pois, desde os primórdios sabemos que o mais forte se impõe frente ao mais fraco, tanto quanto o seu pensamento ate a forma de ação, portanto a imprensa por ser o que é, detém muito poder, conforme o disposto por Silva (apud CARVALHO, 2010, p. 23):

Tudo deve ter um limite. O direito de um termina quando se inicia o de outrem. Quando é desrespeitado esse princípio, o mais forte começa a impor ao mais fraco seu pensamento e sua forma de agir. Pois bem, quem é mais forte nesse país: a classe política, a Igreja, as Forças Armadas ou a imprensa? Discutível dizer qual delas. Entretanto, é indiscutível que a imprensa televisiva exerce poderosa influência. Em um país pobre e analfabeto como o Brasil, a televisão vem exercendo papel preponderante nas mudanças de costume e de padrões de vida da população.

Desta maneira, evidencia-se que a mídia utiliza da sua forte influência para lapidar a opinião pública ao seu gosto, transformando todo o ato em uma forma de espetáculo jornalístico, no qual os atores principais são os acusados dos casos em foco, passando a utilizar desta força para condenar ou absolver acusados, e prejudicando de uma forma irreparável o andamento imparcial e justo dos julgamentos.

CONCLUSÃO

O presente estudo foi desenvolvido com base em obras doutrinárias, artigos publicados na internet e trabalhos científicos. Abordou-se a influência da mídia nos julgamentos realizados no instituto do Tribunal do Júri, sendo que esta influência ocorre através da difusão de notícias incompletas, alteradas, manipuladas ou até falsas, desencadeando comoção popular e moldando a opinião pública.

A mídia passou por mudanças no passar do tempo, e ganhou força e velocidade com auxílio dos avanços tecnológicos, passando a ser praticamente instantânea a veiculação das notícias, não importando se o fato ocorreu em um local próximo ou do outro lado do mundo. Ainda, com a inserção de anúncios em sua programação, os meios de comunicação passaram a ser suscetíveis à cobrança de patrocinadores e anunciantes que visam a veicular suas propagandas nos programas de maior audiência, buscando alcançar um número maior de espectadores.

Os veículos midiáticos, ao divulgar as notícias, atingem a população e buscam suprir o que o público espera ver e ouvir. Fazem isto com objetivo de aumentar seus lucros e os níveis de audiência. Com foco nestes resultados, os jornalistas passam a não focar mais nas boas matérias e na veracidade dos fatos, passando a manipular as informações tentando agradar ao público e seus anunciantes, anulando o poder de análise crítica do público, pois ao ver a notícia a população passa a acreditar em tudo que foi veiculado e perde o senso de filtragem do que é bom ou ruim, do que é verdadeiro ou falso, causando um dano irreparável na capacidade de defesa dos acusados, transformando suposições em fatos reais e inocentes em culpados. Torna-se notório, nos fatos com larga exploração da mídia,

de que os jurados, responsáveis pelo julgamento, já estão com suas convicções e opiniões formadas pela vasta divulgação, antes de ser realizado o julgamento, não sendo necessária a oitiva dos debates entre acusação e defesa no plenário do júri, ou então a apresentação das provas nos autos do processo, porque a imprensa já pré-julgou e condenou ou absolveu o acusado.

Portanto, é possível assegurar que a mídia possui influência direta na decisão dos jurados do Tribunal do Júri, principalmente em casos de homicídios em que é larga a divulgação e exploração midiática, e causam grande comoção popular. Também é facilmente percebido que as garantias constitucionais que visam à imparcialidade no julgamento, nestes casos são violadas pelo abuso midiático, que na busca pelos maiores índices de audiência ultrapassam as barreiras constitucionais impostas pela liberdade de imprensa, privando o acusado da presunção da inocência, do contraditório, da ampla defesa e da plenitude da defesa, princípios que são básicos para o julgamento justo do acusado, de modo que a liberdade de imprensa apesar de ser constitucional, não é um direito absoluto e os meios de comunicação não podem se valer deste direito para ferir os demais direitos garantidos na Constituição Federal.

REFERÊNCIAS

AMERICANOS, Organização dos Estados. Pacto de San José da Costa Rica. San José: Organização dos Estados Americanos, 1969.

ANDRADE, Fabio Martins de. Mídia e poder judiciário. A influência dos órgãos da mídia no processo penal Brasileiro. Rio de janeiro: Editora Lumen Juris, 2007.

AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado. São Paulo: METODO, 2011.

BARROSO, Carlos Eduardo Ferraz de Mattos. Teoria geral do processo e

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