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A influência da mídia nos julgamentos pelo tribunal popular do júri

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GRANDE DO SUL

ALESSANDRO CHRYSTIANO ALTHAUS

A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS JULGAMENTOS PELO TRIBUNAL POPULAR DO JÚRI

Três Passos (RS) 2015

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ALESSANDRO CHRYSTIANO ALTHAUS

A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS JULGAMENTOS PELO TRIBUNAL POPULAR DO JÚRI

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DECJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Dr. Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth

Três Passos (RS) 2015

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Dedico este trabalho à minha família, pela

compreensão, incentivo, apoio e

confiança em mim depositados durante toda a minha jornada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a toda minha família, pelo apoio concedido nesta etapa da minha vida.

Aos meus pais, Mauri e Liane, pelo apoio que me foi dado em toda minha formação acadêmica.

Em especial a minha esposa Katia e minha pequena e amada filha Brenda, pelo apoio incondicional e compreensão que a mim foi confiado durante a jornada acadêmica.

Ao meu professor orientador Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth, pela paciência e disponibilidade que teve comigo, e por me passar diversos ensinamentos e ponderações indispensáveis para a confecção deste trabalho.

Por Fim, agradeço aos demais colegas e amigos que de alguma forma me auxiliaram durante minha formação acadêmica, compartilhando seus conhecimentos ou mesmo torcendo pelo meu sucesso.

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“A liberdade criou a imprensa. E a imprensa não pode se transformar na madrasta da liberdade.”

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O presente trabalho foi elaborado adotando como tema a influência da mídia nas decisões do Tribunal do Júri, em especial a sua atuação no que se refere à formação da opinião dos jurados e sua influência no veredicto, principalmente no julgamento de crimes dolosos contra a vida de grande repercussão midiática. Em um primeiro momento, fez-se uma breve abordagem sobre a competência e a finalidade do Tribunal do Júri. Após, foram abordados os princípios constitucionais aplicados ao Processo Penal em geral e os princípios específicos do Tribunal do Júri, buscando compreender os direitos e garantias que muitas vezes são ocultados aos acusados e à sociedade. Feito isso, passou-se então à análise sobre a relação entre a mídia e o Direito Penal no Brasil e a manipulação dos dados envolvendo casos penais pela imprensa de massa. Após abordar de forma breve o surgimento da mídia e suas transformações, salientou-se a busca pela lucratividade e audiência, que são os focos da mídia atual, citando alguns casos de leis penais casuísticas, promulgadas no fervor de momentos sensíveis da população. Por fim, procurou-se demonstrar a influência da mídia de massa sobre a formação do convencimento dos jurados nos crimes de competência do Tribunal do Júri. Nesse sentido, evidenciou-se que a maior prejudicada pelo evidenciou-sensacionalismo da mídia, acaba por evidenciou-ser a sociedade, dado que inocentes são condenados e culpados absolvidos, sendo que tais fatos ocorrem sem a análise prévia dos fatos e provas dos autos, tornando ineficazes os debates entre acusação e defesa e trazendo os jurados para o tribunal já com suas decisões prontas.

Palavras-Chave: Tribunal do Júri. Imparcialidade. Influência da mídia. Manipulação de opiniões. Sensacionalismo.

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This work was done taking as its theme the influence of the media in the jury's decisions, in particular its role in relation to the formation of the opinion of the jury and its influence on the verdict, especially in the trial of crimes against life great impact media. At first, there was a brief approach on jurisdiction and the purpose of the jury. After the constitutional principles applied to the Criminal Procedure in general and the specific principles of the jury were approached, trying to understand the rights and guarantees that are often concealed from the accused and society. After that, it moved then to the analysis of the relationship between the media and the Criminal Law in Brazil and data manipulation involving criminal cases by mass media. After addressing briefly the emergence of media and its transformations, he stressed the quest for profitability and hearing, which are the focus of today's media, citing some anecdotal cases of criminal laws promulgated in the fervor of sensitive moments of the population. Finally, he tried to demonstrate the influence of mass media on the formation of convincing the jurors in the jury racing crimes. In this sense, it was evidenced that most hampered by media sensationalism, turns out to be society, given that innocent people are convicted and acquitted guilty, and these things happen without prior analysis of the facts and evidence in the file, the debates becoming ineffective between prosecution and defense and bringing the judges to the court already ready with their decisions.

Keywords: Jury Court. Impartiality. media influence. Manipulation of opinions. Sensationalism.

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INTRODUÇÃO ... 8 1 O TRIBUNAL DO JÚRI NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO ... 11 1.1 A Competência do Tribunal do Júri ... 11 1.2 Os Princípios constitucionais aplicados ao Processo Penal em geral e ao Tribunal do Júri ... 14 2 A INFLUÊNCIA DA MÍDIA SOBRE OS JULGAMENTOS REALIZADOS PELO TRIBUNAL DO JÚRI NO BRASIL ... 33 2.1 A relação entre mídia e direito penal no Brasil e a manipulação dos dados envolvendo casos penais pela imprensa de massa ... 33 2.2 A influência da mídia de massa sobre a formação do convencimento dos jurados nos crimes de competência do Tribunal do Júri ... 47 CONCLUSÃO ... 56 REFERÊNCIAS ... 58

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INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como enfoque principal a influência da mídia nos julgamentos do Tribunal do Júri, instituição que tem por objetivo julgar os crimes dolosos contra a vida, de forma imparcial e justa, nos termos da competência estabelecida no Texto Constitucional. Ocorre que, com a intervenção provocada pela mídia nos acontecimentos, esta imparcialidade acaba sendo ameaçada pelo sensacionalismo.

O sensacionalismo da mídia acaba induzindo em muitos casos a sentença prolatada nos crimes dolosos contra a vida, que são julgados diretamente pelo Tribunal Popular do Júri. Tais crimes, alimentados por um clamor social, acabam condenando sem mesmo ter veracidade nos fatos apresentados, apenas com argumentos fracos e inconclusivos que são disseminados, causando um grande impacto social, principalmente para os jurados, os quais são cidadãos comuns e que acabam levando em consideração os fatos narrados a eles no decorrer do processo, formando uma convicção e um posicionamento muito forte mesmo antes de ocorrer o julgamento.

Portanto, o sistema penal acaba por ser influenciado pela mídia ao transmitir uma matéria sobre um fato criminoso. Manipulando os dados, a mídia transmite sua forma de pensar para toda a sociedade, proporcionando um julgamento antecipado, condenando ou absolvendo o réu naquele momento, visto que os jurados que irão formar o conselho de sentença já estarão com sua sentença formada, com base apenas na personalidade e conduta social do acusado, ignorando os fatos e provas expostos no plenário do júri.

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Alguns casos nacionalmente conhecidos e expostos em rede nacional trazem à tona a importância de se ponderar os direitos e princípios constitucionais em conflito nas situações julgadas pelo Tribunal Popular do Júri, sendo que estes crimes são o foco da imprensa.

O problema que orientou a pesquisa pode ser assim sintetizado:

Em que medida a exploração do crime como ―notícia‖ pelos meios de comunicação de massa interfere no posicionamento dos jurados a respeito da condenação ou absolvição do acusado nos crimes de competência do Tribunal do Júri?

No caso de inocência, o réu teria oportunidade de ser absolvido mesmo sob a pressão da mídia frente à condenação?

Visto que cabe aos jurados a decisão sobre a condenação ou absolvição do réu, a imparcialidade consegue vir à tona frente à influência exercida pela mídia?

O objetivo geral do trabalho é analisar as influências negativas e positivas da mídia frente aos casos julgados pelo Tribunal do Júri, buscando compreender em que medida tais influências podem vir a alterar ou até manipular os resultados dos julgamentos, infringindo os direitos constitucionais das partes em litígio.

O trabalho está dividido em dois capítulos: no primeiro capítulo, apresentará a instituição e o procedimento do Tribunal do Júri no Processo Penal Brasileiro, delineando as suas competências, passando para a demonstração dos princípios constitucionais aplicados ao processo penal que são de suma importância para o Tribunal do Júri. Em um segundo momento, começa a elencar os princípios constitucionais aplicados diretamente ao Tribunal do Júri.

No segundo capítulo serão abordados diretamente os fatos ligados à influência da mídia sobre os julgamentos realizados pelo Tribunal do Júri no Brasil, dando um enfoque para a relação entre mídia e direito penal no Brasil e a manipulação dos dados envolvendo casos penais pela imprensa de massa, expondo algumas leis casuísticas formuladas com base na pressão exercida pela mídia e a

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sociedade e algumas consequências advindas destas leis. Na sequência, aborda-se a influência da mídia de massa sobre a formação do convencimento dos jurados nos crimes de competência do Tribunal do Júri, demonstrando alguns casos reais e sua repercussão social.

Como metodologia de pesquisa, foi empregado o método de pesquisa dedutivo, em pesquisa do tipo exploratória, utilizando de coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores.

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1 O TRIBUNAL DO JÚRI NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO

O presente trabalho alude à questão da influência da mídia nos julgamentos pelo Tribunal Popular do Júri. O primeiro capítulo apresentará a instituição e o procedimento do Tribunal do Júri no Processo Penal Brasileiro, delineando as suas responsabilidades e competências, passando para a demonstração dos princípios constitucionais aplicados ao processo penal que são de suma importância para o Tribunal do Júri. Em seguida passa a elencar os princípios constitucionais aplicados diretamente ao Tribunal do Júri.

1.1 A Competência do Tribunal do Júri

O Tribunal do Júri é um órgão da justiça comum e sua competência é voltada para os julgamentos dos crimes dolosos contra a vida no Brasil, sendo a garantia constitucional do cidadão de ter o crime ao qual foi acusado, julgado pela sociedade, e está elencado nos artigos 406 a 497 do Código de Processo Penal, conforme demonstra Nassif (2001, p. 25):

Tenho defendido que o conceito de Júri deve ser extraído de sua natureza constitucional, concluindo que ele é a garantia constitucional do cidadão de ser julgado pelo povo, quando acusado da prática de fatos criminosos definidos na própria constituição ou em lei infraconstitucional, com a participação do Poder Judiciário

para a execução de atos jurisdicionais privativos (Júri – Instrumento

de Soberania Popular).

O Tribunal do Júri tem a finalidade principal de ampliar a defesa dos réus, observando os princípios constitucionais das partes envolvidas, conforme o entendimento de Capez, (2012, p. 648):

Sua finalidade é a de ampliar o direito de defesa dos réus, funcionando como uma garantia individual dos acusados pela prática de crimes dolosos contra a vida e permitir que, em lugar do juiz togado, preso a regras jurídicas, sejam julgados pelos seus pares. Como direito e garantia individual, não pode ser suprimido nem por emenda constitucional, constituindo verdadeira cláusula pétrea (núcleo constitucional intangível). Tudo por força da limitação material explícita contida no art. 60, § 4º, IV, da Constituição Federal.

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A palavra ―Júri‖ tem origem no latim ―jurare‖, e o seu significado é o de ―fazer juramento‖, tal juramento é prestado pelos membros do conselho de sentença, conforme o disposto no artigo 472 do Código de Processo Penal:

Art. 472. Formado o Conselho de Sentença, o presidente, levantando-se, e, com ele, todos os presentes, fará aos jurados a seguinte exortação: Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça. Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, responderão: Assim o prometo.

O Tribunal do Júri está elencado na Constituição Federal como um direito e garantia fundamental, sendo este um direito que o povo interfere e participa diretamente das decisões prolatadas pelo Poder Judiciário. Em sua essência protege os direitos constitucionais do acusado garantindo um julgamento justo e imparcial, buscando elucidar os fatos e propiciar a busca pela verdade frente ao caso concreto.

A competência do Tribunal Popular do Júri é regida pelo disposto na Constituição Federal em seu artigo 5º, XXXVIII, alínea ―d‖. Trata-se do julgamento dos crimes dolosos contra a vida, sendo esses os casos em que o criminoso teve a intenção de causar dano à vítima, existindo o dolo direto, ou seja, o agente teve a intenção de cometer o crime, e o dolo eventual, quando o sujeito queria resultado diverso daquele ocorrido, porém assumiu o risco de produzir o resultado alcançado. Conforme demonstra Capez, (2012, p. 653):

Atualmente, inserem-se na competência do Júri os seguintes crimes: homicídio doloso (CP, art. 121), infanticídio (art. 123), participação em suicídio (art. 122) e o aborto (arts. 124 a 127), tentados ou consumados. Tais crimes seguirão o procedimento especial previsto nos arts. 406 a 497 do CPP, com redação dada pela Lei n. 11.689/2008, independentemente da pena prevista.

Portanto, a competência desmembra-se entre os crimes contra a vida elencados no Código Penal, sendo o primeiro deles o de homicídio, que está elencado na legislação no artigo 121 do Código Penal que dispõe sobre o ato de matar alguém, conforme pondera Capez (2012, p. 23):

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Homicídio é a morte de um homem provocada por outro homem. É a eliminação da vida de uma pessoa praticada por outra. O homicídio é o crime por excelência. ―Como dizia Impallomeni, todos os direitos partem do direito de viver, pelo que, numa ordem lógica, o primeiro dos bens é o bem vida. O homicídio tem a primazia entre os crimes mais graves, pois é o atentado contra a fonte mesma da ordem e segurança geral, sabendo-se que todos os bens públicos e privados, todas as instituições se fundam sobre o respeito à existência dos indivíduos que compõem o agregado social‖.

No artigo 122 do Código Penal está tipificada a instigação ou auxílio ao suicídio, que disserta de Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça, conforme o conceito de Capez (2012, p. 103):

O suicídio é a deliberada destruição da própria vida. Suicida, segundo o Direito, é somente aquele que busca direta e voluntariamente a própria morte. Apesar de o suicídio não ser um ilícito penal, é um fato antijurídico, dado que a vida é um bem público indisponível, sendo certo que o art. 146, § 3º, II, do Código Penal prevê a possibilidade de se exercer coação contra quem tenta suicidar-se, justamente pelo fato de que a ninguém é dado o direito de dispor da própria vida. Não obstante a lei penal não punir o suicídio, [...] ela pune o comportamento de quem induz, instiga ou auxilia outrem a suicidar-se. É que, sendo a vida um bem público indisponível, o ordenamento jurídico veda qualquer forma de auxílio à eliminação da vida humana, ainda que esteja presente o consentimento do ofendido.

O terceiro crime julgado pelo Tribunal Popular do Júri é o Infanticídio, regrado pelo disposto no artigo 123 do Código Penal, que prescreve: “Matar, sob a influência

do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após”. Sobre o tema

relata Capez (2012, p. 114):

Segundo o disposto no art. 123 do Código Penal, podemos definir o infanticídio como a ocisão da vida do ser nascente ou do neonato, realizada pela própria mãe, que se encontra sob a influência do estado puerperal. Trata-se de uma espécie de homicídio doloso privilegiado, cujo privilegium é concedido em virtude da ―influência do estado puerperal‖ sob o qual se encontra a parturiente. É que o estado puerperal, por vezes, pode acarretar distúrbios psíquicos na genitora, os quais diminuem a sua capacidade de entendimento ou autoinibição, levando-a a eliminar a vida do infante. O privilégio constante dessa figura típica é um componente essencial, pois sem ele o delito será outro (homicídio, aborto). Assim é que o delito de infanticídio é composto pelos seguintes elementos: matar o próprio filho; durante o parto ou logo após; sob influência do estado puerperal. Excluído algum dos dados constantes nessa figura típica,

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esta deixará de existir, passando a ser outro crime (atipicidade relativa).

O aborto é outro crime julgado pelo Tribunal do Júri, e está tipificado nos artigos 124 a 127 do Código Penal. Trata-se da interrupção do desenvolvimento do feto durante a gravidez, conforme as palavras de Capez (2012, p. 121):

Considera-se aborto a interrupção da gravidez, com a consequente destruição do produto da concepção. Consiste na eliminação da vida intrauterina. Não faz parte do conceito de aborto a posterior expulsão do feto, pois pode ocorrer que o embrião seja dissolvido e depois reabsorvido pelo organismo materno em virtude de um processo de autólise; ou então pode suceder que ele sofra processo de mumificação ou maceração, de modo que continue no útero materno. A lei não faz distinção entre óvulo fecundado (3 primeiras semanas de gestação), embrião (3 primeiros meses) ou feto (a partir de 3 meses), pois em qualquer fase da gravidez estará configurado o delito de aborto, quer dizer, entre a concepção e o início do parto[...], pois após o início do parto poderemos estar diante do delito de infanticídio ou homicídio. Problema interessante é o do embrião conservado fora do útero materno, em laboratório (cf. em ―Objeto jurídico‖).

Os casos enumerados representam uma competência mínima, visto que o texto constitucional não coloca limites a respeito do tema, conforme Nassif (2001, p. 28) demonstra:

Define a Constituição a competência do Tribunal do Júri para julgamento dos crimes dolosos contra a vida (homicídio, induzimento ao suicídio, infanticídio, aborto, art. 74, §1º, CPP, combinado com art. 121, §§ 1º e 2º, arts. 122, 123, 124, 125, 126 e 127, CP).

Como referido [...], existe autoridade constitucional para ampliação deste rol, pela norma inferior, o que define como competência mínima do colegiado do povo prevista na carta.

Neste sentido, não haveria dano à cláusula pétrea, caso houvesse uma ampliação da competência do Tribunal do Júri, desde que tais crimes estejam conexos a algum ilícito principal, que seja da competência do Tribunal do Júri.

1.2 Os Princípios constitucionais aplicados ao Processo Penal em geral e ao Tribunal do Júri

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A Constituição Federal de 1988 destacou alguns princípios constitucionais como base do Processo Penal. Tais princípios possuem por norte estabelecer um julgamento justo e imparcial. Dentre eles pode-se destacar o princípio da presunção de inocência, do contraditório e da ampla defesa.

O primeiro destes princípios é o da presunção da inocência, que parte do pressuposto de que todo acusado é considerado inocente, até que sua culpa seja declarada por sentença condenatória transitada em julgado. É basicamente o estado de inocência do acusado. Tal princípio resta explicitado no art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal que diz: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em

julgado de sentença condenatória”. Não implicando diretamente na culpa do

acusado, pois como visto no texto constitucional ele não conduz consigo a culpa pelo fato a qual foi responsabilizado pela acusação.

O princípio representa o coroamento do devido processo legal e remete a um ―voto de confiança‖ da sociedade para com o acusado, crendo na sua inocência, levando em consideração os valores éticos de cada indivíduo, sendo ato próprio da sociedade livre, constituindo um dos elementos essenciais para a construção da democracia (TOURINHO FILHO, 2010).

O reconhecimento da autoria de uma infração criminal pressupõe uma sentença condenatória transitada em julgado, conforme o demonstrado por Távora (2011, p. 55):

Antes deste marco, somos presumivelmente inocentes, cabendo à acusação o ônus probatório desta demonstração, além do que o cerceamento cautelar da liberdade só pode ocorrer em situações excepcionais e de estrita necessidade [...]. A presunção de inocência esta a exigir redobrado cuidado. [...] a própria exposição da figura do indiciado ou réu na imprensa através da apresentação da imagem ou de informações conseguidas no esforço investigatório podem causar prejuízos irreversíveis a sua figura.

O princípio da presunção de inocência desdobra-se em três aspectos, segundo o demonstrado por Capez (2012, p. 83):

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O princípio da presunção de inocência desdobra-se em três aspectos: a) no momento da instrução processual, como presunção legal relativa de não culpabilidade, invertendo-se o ônus da prova; b) no momento da avaliação da prova, valorando-a em favor do acusado quando houver dúvida; c) no curso do processo penal, como paradigma de tratamento do imputado, especialmente no que concerne à análise da necessidade da prisão processual.

Em decorrência do princípio do estado de inocência, devem-se concluir alguns pontos, tais eles como, a restrição à liberdade do acusado antes da sentença definitiva, conforme o demonstrado, só deve ser admitido a titulo de medida cautelar, de necessidade ou conveniência. Ainda, a lei processual contempla que o réu não tem o dever de provar sua inocência, cabendo ao acusador comprovar a sua culpa. Por fim, para que o acusado seja condenado, o juiz deve ter a convicção que ele é o responsável pelo delito, sendo suficiente para sua absolvição a dúvida a respeito da culpa, com base no princípio do ―in dúbio pro reo” (MIRABETE, 2003).

Contudo, o objeto emanado pelo princípio constitucional, não deve ter o seu conteúdo semântico interpretado de forma literal, caso contrário ninguém poderia ser processado, mas deve sim ser concebido sob os efeitos constitucionais, com base em que nenhuma pena pode ser imposta ao réu antecipadamente, sendo a prisão antecipada amparada na justificativa de providência exclusivamente cautelar, para impedir que a instrução criminal seja perturbada ou, para assegurar a efetivação da pena (TOURINHO FILHO, 2010).

O princípio da presunção de inocência é disseminado há mais de duzentos anos, através da Declaração dos Direitos do Homem de 26 de agosto de 1789, conforme elenca Tourinho Filho (2010, p. 89):

Na verdade, há mais de duzentos anos, o art. 92 da Declaração dos Direitos do Homem, de 26-8-1789, proclamava: ―Tout homme étant

présumé innocent jusqu’a ce qu’il ait été déclaré coupable;'s’iÍ est jugé indispensable de I’arrêter, toute rigueur qui ne serait nécessaire pour s’assurer de sa personne, doit être sévèrement reprimée par la

íoi‖ (Todo homem é considerado inocente, até o momento em que,

reconhecido como culpado, se for indispensável sua prisão, todo

rigor desnecessário, empregado para efetuá-la, deve ser

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À proporção que a Constituição Federal dispõe de forma expressa acerca deste princípio, atribui ao Estado o poder de torná-lo efetivo, tendo o legislativo a função de criar normas que visem a equilibrar o interesse do Estado na satisfação de sua pretensão punitiva com o direito à liberdade do acusador. O executivo praticando o ato de sancionar essas normas, e o judiciário deixando de aplicá-las no caso concreto ou então afastando do mundo jurídico as disposições que não se incorporem com a ordem constitucional vigente, em razão destes, para que não seja ato inconstitucional por ferir o princípio da presunção de inocência. Sendo a única interpretação dada de que a prática de fato previsto como crime constitui falta grave desde que haja sentença penal condenatória transitada em julgado (AVENA, 2011).

Conclui-se que o princípio da presunção de inocência detém enorme influência para a garantia dos direitos fundamentais, pois ele não é aplicado apenas na tomada de decisão do magistrado, mas faz parte de todo o processo, dando espaço a outros princípios fundamentais para o bom andamento processual.

Outro princípio de extrema importância é o do contraditório, pelo qual toda a alegação fática ou prova demonstrada no processo por qualquer uma das partes, confere à outra parte o direito de se manifestar, deixando em equilíbrio a relação entre a pretensão punitiva do Estado e o direito de liberdade da condição de inocência do acusado. Este princípio pode ser encontrado na legislação no Artigo 5º, LV da Constituição Federal que dispõe: ―Aos litigantes, em processo judicial ou

administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Conforme trata a respeito do

assunto Távora (2011, p. 58):

Traduzido no binômio ciência e participação, e de respaldo constitucional (art. 5º, inc. LV da CF), impõe que às partes deve ser dada a possibilidade de influir no convencimento do magistrado, oportunizando-se a participação e manifestação sobre os atos que constituem a evolução processual. Numa visão macroscópica, o contraditório vai abranger a garantia de influir em processo com repercussão na esfera jurídica do agente, independente do polo da relação processual em que se encontre.

O réu deve conhecer a acusação a qual foi imputado para assim poder contrariá-la, evitando que possa ser condenado sem ser ouvido, conforme a

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expressão ―audiatur et altera pars‖, que significa ―ouça-se também a outra parte‖, e rege o princípio do contraditório e o da ampla defesa. O art. 261 do Código de Processo Penal determina que: “nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido,

será processado ou julgado sem defensor‖ e é acrescentado pelo seu parágrafo

único, que por sua vez, prevê que “a defesa técnica, quando realizada por defensor

público ou dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada”.

Finalmente, dispõe o art. 263 do Código de Processo Penal que, “se o acusado não

o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação” (CAPEZ, 2012).

Desta maneira, tal princípio consubstancia-se na premissa da ―auditaur et

altera pars”, sendo que a parte contrária deve ser ouvida. Desta forma, a defesa não

pode sofrer restrições, pois o princípio supõe completa igualdade entre acusação e defesa, estando ambas situadas no mesmo plano, em igualdade de condições, com os mesmos direitos, poderes e ônus, estando acima deles o Órgão Jurisdicional, como órgão superior, que após ouvir as alegações das partes, e apreciar as provas de ambas, dá a cada parte o que lhe pertence (TOURINHO FILHO, 2010).

Também é possível encontrar o referido princípio na Convenção Americana sobre os Direitos Humanos, mais conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, que foi aprovada pelo Congresso Nacional no Decreto Legislativo nº 27, de 26 de maio de 1992. O Art. 8° da Convenção enuncia que:

Art. 8º Garantias Judiciais

1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

Apesar de que não comporte exceções, o princípio do contraditório desenvolve-se de duas maneiras distintas. De forma antecipada, conferindo às partes o direito de acompanhar o desenrolar do processo, desde o início, sem suportar efeitos de decisões interlocutórias das quais ainda não tenham

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conhecimento, e somente após a cognição exauriente desenvolvida pelo juiz será proferida a sentença final, como ocorre no processo comum de conhecimento, Assim sendo, somente após a observância da citada dialética processual é que as decisões no curso do processo são tomadas, sendo o convencimento do julgador formado após a ampla manifestação das partes. E a outra hipótese é a de forma diferida ou postergada no tempo, que é o caso das decisões liminares, nas quais, mediante simples cognição sumária e através das alegações e provas de apenas uma das partes, o juiz prolata decisão provisória, sobrevindo o contraditório apenas após o cumprimento da ordem. Nestes casos o julgador, em virtude da urgência da medida solicitada, faz mero juízo provisório a respeito do pedido (BARROSO, 2011).

Visto que nenhuma inconstitucionalidade é encontrada na forma diferida, pois a medida em questão, somente será outorgada após ser prestada a contracautela, ou se o caso em foco for dotado da utilização da reversibilidade, sendo as hipóteses justificadas pela urgência da demanda a que são submetidas, pois se estes aguardarem o uso antecipado do contraditório pode tornar o processo ineficiente (BARROSO, 2011).

O princípio do contraditório possui um campo mais vasto de ação, pois, não alcança apenas a área defensiva, como no princípio da ampla defesa. Ele pode atingir o campo acusatório se isto for necessário para contrariar a parte em litígio, conforme leciona Avena (2011, p. 41):

Entretanto, comparadas essas duas garantias, o contraditório possui maior abrangência do que a ampla defesa, Visto que alcança não apenas o polo defensivo, mas também o polo acusatório, na medida em que a este também deva ser dada ciência e oportunidade de contrariar os atos praticados pela parte ex adversa.

Essa forma defensiva e acusatória é demonstrada em diversos artigos do Código de Processo Penal, como por exemplo, o artigo 409: “apresentada a defesa,

o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias”, e, ainda, o artigo 479 que dispõe que “durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte”.

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Conforme demonstrado, percebe-se que o princípio do contraditório, inicia antes da citação do réu e se estende até após a sentença, sendo de extrema importância para a elucidação fática dos casos em litígio.

Por último, cumpre mencionar o princípio da ampla defesa, que como o princípio do contraditório está consagrado no Artigo 5º, LV da Constituição Federal, e por sua vez concede ao réu o direito de utilizar amplos e extensos métodos para sua defesa, frente à acusação da parte contrária. Nucci (2013, p. 92), leciona o seguinte:

Encontra fundamento constitucional no art. 5º, LV. Considerando, no processo, parte hipossuficiente por natureza, uma vez que o Estado é sempre mais forte, agindo por órgãos constituídos e preparados, valendo-se de informações e dados de todas as fontes as quais tem acesso, merece o réu um tratamento diferenciado e justo, razão pela qual a ampla possibilidade de defesa se lhe afigura a compensação devida pela força estatal.

O Estado deve proporcionar a todo acusado a defesa mais completa, seja ela pessoal, na forma da autodefesa, ou técnica, efetuada por defensor. Desse princípio decorre a obrigatoriedade de se observar a ordem natural do processo, sendo que a defesa deve se manifestar sempre por último. Nas exceções em que o Ministério Público deve se manifestar após a defesa, existe a obrigação de que sempre, seja aberta vista dos autos à defensoria do acusado, para que assim ele possa exercer seu direito de defesa na amplitude que a lei consagra (CAPEZ, 2012).

Visto que existe uma ordem para a formalização dos atos processuais, eles devem ser seguidos para garantir a igualdade das partes no decorrer do processo, conforme demonstra Barroso (2011, p. 27):

O processo atua mediante sequência de atos processuais formais, todos eles previstos em lei justamente para garantir a igualdade das partes durante o transcorrer do ―jogo‖ que se instaura perante o Judiciário e para possibilitar meios de efetiva defesa dos seus interesses em litígio. Não se concebe um processo justo sem que tenham as partes acesso a todos os meios legais, processuais e materiais, criados para a demonstração das suas razões em juízo, servindo a ampla defesa também como forma de legitimação do processo. A violação desse princípio está ligada ao conceito de

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prematura, sem que tenha sido facultada à parte a utilização de todos os recursos previstos em lei para a defesa de seu direito. A defesa pode ser dividida em duas partes, defesa técnica, que é realizada por profissional habilitado, e é sempre obrigatória, e a autodefesa que pode ser realizada pelo próprio acusado, estando no âmbito de conveniência do réu, que pode optar por permanecer inerte, invocando inclusive o direito ao silêncio (TÁVORA, 2011).

A defesa técnica que é desempenhada por profissional habilitado, com capacidade postulatória, conforme o disposto no artigo 261 do CPP é obrigatória e indispensável para a defesa do réu, podendo ela ser exercida por um advogado constituído pelo réu, por um Defensor Público, ou então por um defensor dativo nomeado em juízo. A ausência da defesa técnica é causa de nulidade absoluta no processo, conforme o Supremo Tribunal Federal demonstra em sua Súmula 523:

“No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”.

Portanto, ninguém poderá ser julgado sem um defensor, pois o Estado não pode em hipótese alguma privar o acusado do direito de defesa, conforme leciona Tourinho Filho (2010, p. 30):

Sua pretensão punitiva, nascida no instante mesmo em que se verifica a infração, deve ser resistida. Daí por que ninguém poderá ser processado sem Defensor, ainda que ausente ou foragido, Daí por que o Estado não pode, em nenhuma hipótese, deixar de oferecer ao acusado a oportunidade de defender-se. Queira ou não, o acusado é obrigado a defender-se. Nada impede que ele

reconheça a sua culpa (pleas guilty — submissão) ou abdique dos

seus direitos, como na transação E não basta a defesa material, ou autodefesa. Exige-se, sob pena de nulidade absoluta, a defesa técnica. Não é pelo fato de o Estado desejar um julgamento justo, imparcial, que deixa de existir a lide penal. O interesse do réu em não sofrer restrição na sua liberdade, tenha ou não razão, contrapõe-se ao interescontrapõe-se do Estado, que é o de puni-lo, contrapõe-se culpado for.

A autodefesa é a defesa desempenhada pela própria parte no processo, e passa a ser exercida quando a parte participa ou se nega a participar das fases processuais, sendo ela de extrema importância para o andamento processual, conforme leciona Capez (2012, p. 414):

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A autodefesa é ato de exclusiva titularidade do acusado, sendo, por isso, perfeitamente renunciável. Essa qualidade, no entanto, não implica a sua dispensabilidade pelo juiz; só o réu, legítimo titular do direito, é que pode dela dispor, sob pena de se cercear a ampla defesa, uma vez que restaria vedada a possibilidade, tão importante, de a defesa técnica munir-se de subsídios fornecidos pela autodefesa.

A autodefesa pode ser apresentada frente a dois aspectos, o direito de audiência e o direito de presença. O direito de audiência explana a possiblidade de o acusado influir sobre a formação do convencimento do juiz mediante o interrogatório, apresentando a sua versão a respeito dos fatos. O direito de presença manifesta-se pela oportunidade de presenciar toda a prova produzida durante a instrução, evitando seja condenado sem conhecer as razões e as provas produzidas pela acusação (CAPEZ, 2012).

Portanto, o direito de audiência caracteriza-se pela faculdade do réu de ter contato com o juiz e expor a sua versão dos fatos aos quais é acusado, através do interrogatório.

O direito de presença divide-se em duas perspectivas, na positiva, em que o réu tem a oportunidade de demonstrar os fatos e expor a sua versão, buscando influenciar a decisão do Juiz, e a negativa, na qual o réu utiliza do direito constitucional de permanecer em silêncio, e se mantém calado, conforme disserta Capez (2012, p. 231):

Direito de audiência e direito de presença. Por direito de audiência entenda-se a possibilidade conferida ao acusado de influir pessoalmente no convencimento do juiz (e. g., interrogatório), ao passo que o direito de presença confere ao imputado a oportunidade de estar presente aos atos do processo, assegurando a sua imediação com o juiz e com as provas.

Discorrido sobre os princípios constitucionais que possuem aplicação ao Processo Penal em geral, passa-se a, descrever os princípios que regem o Tribunal do Júri, sendo eles o princípio da plenitude da defesa, o princípio do sigilo das votações e o princípio da soberania dos veredictos, tratados de modo sintético para melhor elucidação de cada um deles.

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O princípio da plenitude da defesa visa a não garantir apenas uma ampla defesa para o acusado, indo avante e contemplando uma defesa plena, completa, se possível perfeita, para assim garantir que todos os meios possíveis sejam utilizados (Art. 5°, XXXVIII, ―a‖, CF/88). Távora (2011, p. 755) a classifica da seguinte forma:

A plenitude de defesa revela uma dupla faceta, afinal, a defesa está dividida em técnica e autodefesa. A primeira, de natureza obrigatória, é exercida por profissional habilitado, ao passo que a última é uma faculdade do imputado, que pode efetivamente trazer a sua versão dos fatos, ou valer-se do direito ao silêncio. Prevalece no Júri a possibilidade não só da utilização de argumentos técnicos, mas também de natureza sentimental, social e até mesmo de política criminal, no intuito de convencer o corpo de jurados.

A plenitude da defesa implica no exercício da defesa em um grau ainda maior do que a ampla defesa. Uma expressão mais intensa e mais abrangente seria defesa plena. Sendo um aspecto primordial o pleno exercício da defesa técnica, pelo profissional habilitado, ao qual não precisará restringir-se a uma atuação exclusivamente técnica, podendo utilizar de argumentação extrajurídica, invocando razões de ordem social, emocional, de política criminal, entre outras que sentir necessário, sempre com a fiscalização do juiz-presidente, que poderá até dissolver o conselho de sentença e declarar o réu indefeso quando entender ineficiente a atuação do defensor, com base no artigo 497, V do Código de Processo Penal (CAPEZ, 2012).

O réu possui assegurado o exercício absoluto de sua defesa, sem restrições, e devido aos traços exclusivos inerentes ao Tribunal do Júri, essa garantia torna-se plena, conforme sintetiza Reis e Gonçalves (2011, p. 60):

Como em todos os processos criminais, o réu tem assegurado o exercício irrestrito de sua defesa (autodefesa e defesa técnica). Em virtude das peculiaridades do procedimento do júri, no entanto, tal garantia é exercida em sua plenitude, uma vez que a inexigência de motivação da decisão enseja o sopesamento de elementos morais, religiosos, de política criminal etc., estranhos aos demais procedimentos, nos quais se prioriza o julgamento técnico-jurídico e, ainda, em razão da estrita observância do princípio da oralidade e de seus consectários (concentração e imediatidade).

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Na possibilidade de o réu, no interrogatório em plenário, apresentar tese defensiva distinta de seu advogado, existe um entendimento de que as duas devem ser levadas ao conhecimento dos jurados. No entanto, o Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido de que devem ser quesitadas apenas as teses sustentadas pela defesa técnica, prevalecendo esta para o conhecimento dos jurados (TÁVORA, 2011).

Assim, o advogado não necessita de delimitar a sua defesa em uma atuação apenas técnica, mas sim utilizar de alegações fora das legislações utilizadas, buscando o convencimento dos jurados. Evidentemente que a defesa praticada será fiscalizada pelo juiz presidente que poderá dissolver o conselho e marcar novo dia para o julgamento, nomeando novo defensor conforme o demonstrado no artigo 497, inciso V do Código de Processo Penal Brasileiro que trata das atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri.

Assim sendo, o réu terá uma defesa mais ampla, podendo fazer uso de meios jurídicos e sociais, visto que quem faz o julgamento é a sociedade e não o Juiz de direito. Desta maneira a defesa deve ter o foco de convencer os jurados da inocência do réu, utilizando o que for necessário para tal, conforme argumenta Nucci (2013, p. 93):

Os vocábulos são diversos e também o seu sentido. Amplo quer dizer vasto, largo, muito grande, rico, abundante, copioso; pleno significa repleto, completo, absoluto, cabal, perfeito. O segundo é, evidentemente, mais forte que o primeiro. [...], no Tribunal do Júri, onde as decisões são tomadas pela íntima convicção dos jurados, sem qualquer fundamentação, onde prevalece à oralidade dos atos e a concentração da produção de provas, bem como a identidade física do juiz, torna-se indispensável, que a defesa atue de modo completo

e perfeito – logicamente dentro das limitações impostas pela

natureza humana. [...], júri sem defesa plena não é um tribunal justo e, assim não sendo, jamais será uma garantia ao homem.

Além do mais, incumbe ao juiz zelar pelo efetivo exercício da defesa técnica para com o acusado, e a ele é conferido o poder-dever de declarar o réu indefeso e dissolver o Conselho de Sentença, caso entenda como insuficiente o desempenho de seu defensor conforme cita o artigo 497, V do Código de Processo Penal:

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dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor” (REIS; GONÇALVES, 2011, p. 60).

Desta forma, resta demonstrada a importância de uma defesa plena, pois o desfecho no Tribunal do Júri ocorre pelo voto dos jurados, e esses devem ser convencidos com uma defesa perfeita, pois o que for apresentado na defesa é o que irá separar uma condenação de uma absolvição.

O princípio do sigilo das votações, localizado na legislação no art. 5º, inciso XXXVIII, alínea ―b‖, é assegurado pela Constituição Federal, impondo uma proteção aos jurados, evitando a conversa entre eles durante o trâmite do júri. Visa-se a garantir que o jurado expresse seu voto com tranquilidade e sem pressão externa, podendo este decidir com a sua convicção sobre o caso, de forma justa e imparcial. Neste sentido Nassif (2001, p. 27) relata:

Assegura a Constituição o sigilo das votações para preservar, com certeza, os jurados de qualquer tipo de influencia ou, depois do julgamento, de eventuais represálias pela sua opção ao responder o questionário. Por isso mesmo a jurisprudência repeliu a ideia de eliminação da sala secreta, assim entendida necessária por alguns juízes com base na norma da Carta que impõe a publicidade dos atos decisórios (art. 93, IX, CF).

Portanto o princípio do Sigilo das Votações não sofre influência do artigo 93, IX, da Constituição Federal, que trata da publicidade dos julgamentos. Sobre o tema demonstra Capez (2012, p. 649):

O sigilo nas votações é princípio informador específico do Júri, a ele não se aplicando o disposto no art. 93, IX, da CF, que trata do princípio da publicidade das decisões do Poder Judiciário. Assim, conforme já decidiu o STF, não existe inconstitucionalidade alguma nos dispositivos que tratam da sala secreta (CPP, arts. 485, 486 e 487).

O sigilo das votações abrange o voto e o local ao qual será praticado. Para evitar intimidação dos jurados, as votações acontecem em uma sala especial, com a presença apenas das pessoas indispensáveis para a realização do ato processual, sendo eles, o juiz, os jurados, o membro do Ministério Público, o advogado e os

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auxiliares da justiça, conforme a redação anterior do artigo 481 do Código de Processo Penal (TÁVORA, 2011).

A nova redação do artigo 485 do Código de Processo Penal, com o advento da Lei n.º 11.689/2008, dispõe que, ao final das contendas e “não havendo dúvida a

ser esclarecida, o juiz presidente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação”. Ainda, o §1º do referido artigo, relata

que “na falta de sala especial, o juiz presidente determinará que o público se retire,

permanecendo somente as pessoas mencionadas no caput deste artigo”. Deixando

claro que se não dispor de sala própria para a votação, cabe ao magistrado ordenar o esvaziamento do plenário, mantendo apenas as pessoas indispensáveis para à votação dos quesitos (TÁVORA, 2011).

Para assegurar que se satisfaça o sigilo, visando a cumprir o disposto na Constituição Federal, é correto que o juiz se previna para suspender a divulgação dos demais votos assim que for definida a votação de cada quesito, evitando que o sigilo seja violado por uma ocasional votação unânime. Nesse sentido leciona Távora (2011, p. 786):

Para assegurar o sigilo e cumprir a Constituição é adequado que o juiz se acautele para suspender a divulgação dos demais votos assim que se definir a votação de cada quesito, evitando que seja o sigilo violado por uma eventual votação unânime. Nesse sentido, por nós defendido antes da Lei n.° 11.689/2008, as novas redações dos parágrafos 1º e 2º, do art. 483, CPP, estabelecem que: (1) ―a resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos‖ relativos à autoria e à materialidade delitiva ―encerra a votação e implica a absolvição do acusado‖; e, (2) ―respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados‖ tais quesitos, ―será formulado quesito com a seguinte redação: ‗O jurado absolve o acusado?‘‖. Em síntese, não mais haverá unanimidade, na expectativa de que indiretamente o sigilo não seja quebrado, de sorte a evitar-se qualquer tipo de pressão ou ingerência na atividade dos juízes do povo.

Portanto, quando a decisão se dá por unanimidade dos votos ocorre a quebra deste sigilo, pois é visível o voto de todos no sentido julgado. Por essa razão se defende que a divulgação dos resultados obtidos na votação se interrompa assim

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que o quarto voto idêntico for demonstrado, pois se subentende que sendo apenas sete os jurados a mudança do resultado após o quarto voto igual é impossível (CAPEZ, 2012).

Conforme o demonstrado por Nassif (2001, p. 27):

O Sistema, que reputo aperfeiçoamento em relação ao americano e ao inglês, encontra uma contradição: a decisão unânime dos jurados compromete a ideia de sigilo, pelo que merece seja repensada a ordem de que sejam declarados, o número de votos afirmativos e o

de negativos (art.488, ultima parte, CPP). Parece-me correta a

sugestão de que, alcançada a maioria de uma das opções (sim ou não), o magistrado encerre a verificação das respostas.

Tal compreensão parece de acordo com o disposto no artigo 489 do Código de Processo Penal, que versa que ―as decisões do Tribunal do Júri serão tomadas

por maioria de votos, impulsionando o princípio do sigilo das votações‖.

O princípio da Soberania dos Veredictos, conforme o disposto no art. 5º, XXXVIII, ―c‖, da Constituição Federal garante que a decisão tomada pelo Tribunal do Júri, não possa ser alterada, reformada ou cancelada por outro órgão da justiça. Em exceção haverá apelação, e se provida o máximo que o tribunal poderá fazer será determinar novo julgamento, mas o órgão julgador será novamente o Tribunal do Júri, composto por outros jurados que não participaram da primeira decisão. Nesse sentido Távora (2011, p. 786) afirma que:

A soberania dos veredictos alcança o julgamento dos fatos. Os jurados julgam os fatos. Esse julgamento não pode ser modificado pelo juiz togado ou pelo tribunal que venha a apreciar um recurso. Daí que em hipótese de julgamento manifestamente contrário à prova dos autos, a apelação provida terá o condão de cassar o julgamento e mandar o acusado a um novo júri. Note-se que o tribunal não altera o julgamento para condenar ou absolver o acusado, ou mesmo para acrescer ou suprimir qualificadora. Como a existência do crime e de suas circunstâncias é matéria fática, sobre ela recai o princípio da soberania dos veredictos, não podendo seu núcleo ser vilipendiado, senão por uma nova decisão do tribunal popular. Contudo, em prol da inocência, tal princípio não é absoluto, admitindo-se que o Tribunal de Justiça absolva de pronto o réu condenado injustamente pelo júri em sentença transitada em julgado, no âmbito da ação de revisão criminal.

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A soberania dos veredictos envolve a impossibilidade de o tribunal técnico alterar a decisão dos jurados pelo mérito. Visto que se trata de um princípio relativo, pois no caso da apelação das decisões do Júri pelo mérito o Tribunal pode anular o julgamento e decretar a realização de um novo, se entender que a decisão dos jurados afrontou manifestamente a prova dos autos (CAPEZ, 2012).

Essa faculdade é regrada pelo Código de Processo Penal que, em seu artigo 593, relata das possibilidades de apelação e elenca em quais oportunidades é possível recorrer de uma sentença do Tribunal do Júri:

Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: [...]

III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;

b) for à sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;

c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;

d) for à decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. [...]

Portanto são quatro os pressupostos para a acolhida da apelação em desfavor às decisões do Tribunal do Júri, de acordo com o artigo 593, inciso III do Código de Processo Penal;

O primeiro pressuposto elencado é o de nulidade posterior ou anterior à pronúncia. Quando anterior à pronúncia, ela já foi analisada na própria decisão ou em recurso interposto contra ela, operando-se, por consequência sua preclusão. Mas quando a nulidade for posterior, pode ser relativa ou absoluta, se relativa deve ser arguida logo após o inicio do julgamento, em seguida ao pregão das partes, sob pena de considerar-se sanada, se surgir durante o julgamento, o protesto deve ser feito em seguida à ocorrência, sob pena de convalidação, pois, a falta do oportuno protesto impede o levantamento da nulidade relativa como questão de preliminar do recurso, sendo imprescindível a demonstração do efetivo prejuízo, no entanto se a nulidade for absoluta, não existe necessidade de arguição, nem da comprovação de prejuízo, pois é insanável e o ato viciado jamais poderá ser convalidado, portanto, mesmo sem a formulação do protesto, a questão poderá ser discutida na apelação,

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e após o provimento do apelo ocorre à anulação do julgamento tendo o processo retornado a fase em que foi verificada a imperfeição (CAPEZ, 2012).

Sobre o tema sintetiza Avena (2011, p. 1159):

Nulidades absolutas: poderão ser arguidas na apelação fulcrada, no art.·593, III, ‖a", do CPP, Independente de terem ocorrido antes ou depois da pronúncia, pois são insanáveis.

Nulidades relativas: poderão ser arguidas na apelação fulcrada nessa alínea apenas quando ocorrentes depois da pronúncia e desde que não tenham precluído pela falta de arguição oportuno

tempore.

O segundo pressuposto tratado na legislação, é o da decisão do juiz-presidente que contraria a lei ou a decisão dos jurados, pois no que versa a lei, o juiz possui a obrigação de cumprir as decisões do Tribunal do Júri, sendo a horizontalidade uma das características do órgão, sem a existência da supremacia do juiz togado sob os jurados, apenas atribuições de funções diversas entre eles, sendo de praxe que os jurados decidam sobre o fato e o juiz-presidente apenas aplique a pena, de acordo com a decisão sem alterar ou modificar o que foi julgado, mas, todavia, existe a possiblidade do juiz incidir em erro na sentença, sendo o error

in procedendo, não relativo ao mérito (CAPEZ, 2012).

O provimento da apelação não incide em novo julgamento, mas apenas faz uma retificação da sentença, conforme disserta Avena (2011, p. 1159):

O provimento desta apelação não implica novo julgamento pelo júri, mas tão somente retificação da sentença que contrariar a lei ou a decisão dos jurados (art. 593, § 1.0, do CPP). Exemplo: condenado o

réu por homicídio qualificado, fixa-lhe o juiz, na sentença, pena de 12 anos de reclusão em regime semiaberto. Esta sentença contraria o

disposto no art. 33, § 2. °, a, do Código Penal, que estabelece o regime inicial fechado para condenados à pena de prisão superior a oito anos, podendo, então, ser retificada pelo tribunal diante de apelação do Ministério Público fulcrada no art. 593, III, b, do CPP.

Ainda o terceiro pressuposto trata de quando houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança, sendo que após o provimento do apelo, será ajustada a espécie a pena ou medida de segurança que couber ao acusado, conforme demonstra Capez (2012, p. 771):

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Provido o apelo, a pena ou medida de segurança será ajustada à espécie. Compreende as seguintes hipóteses: a) aplicação da pena privativa da liberdade com violação ao critério trifásico para sua fixação (CP, art. 68, caput); b) aplicação da pena acima ou abaixo do considerado justo ou ideal. No primeiro caso, a sentença poderá ser anulada por vício formal, já que implica error in procedendo. No segundo caso, há error in judicando, de maneira que basta ao tribunal corrigir a pena aplicada, sem precisar anular o julgamento.

O disposto no artigo 593, § 2. ° do Código de Processo Penal, trata de um equívoco do magistrado na quantificação da pena imposta, maximizando ou minimizando o patamar da pena, a apelação com fulcro neste artigo, se provida importará em retificação da decisão (AVENA, 2011).

O quarto e último pressuposto de suma importância é o de que quando a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos do processo, sendo esta a decisão que não encontra amparo em nenhum elemento de convicção colhido sob o crivo do contraditório, somente cabendo apelação com base nesse fundamento uma única vez no processo, não importando por qual das partes tenha sido arguido, pois se os jurados decidiram por duas vezes, o veredicto contrario à prova se mantém, pois visto que os jurados de ambos os conselhos de sentença partilhavam de uma mesma opinião frente ao fato concreto, sendo injustificável uma segunda anulação pela mesma razão (CAPEZ, 2012).

Desta maneira, se existe provas que dão amparo à decisão do conselho de sentença, não se pode anular o julgamento com base nesta alínea, conforme relata Avena (2011, p. 1160):

Somente é manifestamente contrária à prova dos autos a decisão dos jurados que se dissocia, integralmente, de todos os segmentos probatórios aceitáveis dentro do processo. Assim, se houver provas que amparem a decisão do Conselho de Sentença, não se anula o julgamento com base nesta alínea d, não importando o fato de existir número maior de elementos apoiando a tese rejeitada pelos Jurados. Se provida pelo tribunal a apelação embasada nesta alínea d, o réu será submetido a novo julgamento pelo júri (art. 593, § 3. °, 1.ª parte, do CPP), sendo que, também aqui, incidem os termos da Súmula 206 do STF, proibindo que, no julgamento posterior, participem jurados que atuaram no anterior.

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Nesse contexto, cabe a lembrança de que tanto a defesa quanto a acusação podem recorrer da decisão prolatada pelos jurados, pois para ambos podem ocorrer prova manifestamente contrária às provas dos autos. Conforme observa Mirabete (2006, p. 496):

A soberania dos veredictos dos jurados, afirmada pela Carta Política, não exclui a recorribilidade de suas decisões, sendo assegurada com a devolução dos autos ao Tribunal do Júri para que profira novo julgamento, se cassada à decisão recorrida pelo princípio do duplo grau de jurisdição. Também não fere o referido princípio a possibilidade da revisão criminal do julgado do Júri, (LXXXI) a comutação de penas etc. Ainda que se altere a decisão sobre o mérito da causa, é admissível que se faça em favor do condenado, mesmo porque a soberania dos veredictos é uma ―garantia constitucional individual‖ e a reforma ou alteração da decisão em benefício do condenado não lhe lesa qualquer direito, ao contrário beneficia.

Portanto, o veredicto do Tribunal Popular do Júri é soberano, pois possui reexame no que concerne ao mérito e as decisões só podem ser revistas pelo próprio Tribunal do Júri.

Na revisão criminal a utilização desse princípio pode acabar absolvendo um réu condenado, se restar provado que a decisão foi arbitrária, não existindo anulação no caso, mas sim absolvição modificando diretamente o julgamento de mérito da decisão dos jurados, conforme o entendimento de Capez (2012, p. 650):

Além disso, na revisão criminal, a mitigação desse princípio é ainda maior, porque o réu condenado definitivamente pode ser até absolvido pelo tribunal revisor, caso a decisão seja arbitrária. Não há anulação nesse caso, mas absolvição, isto é, modificação direta do mérito da decisão dos jurados. Nesse sentido, o Tribunal de Justiça de São Paulo: ―Tratando-se de decisão do júri, a revisão é pertinente, quando a decisão se ofereça manifestamente contrária à prova dos autos, de forma dupla. Primeiro, porque o veredicto do júri, por se revestir de garantia constitucional da soberania, só poderá ser anulado, quando proferido de forma arbitrária, absolutamente distorcida da prova. Segundo, porque a própria natureza da revisão sempre pressupõe decisão manifestamente contrária à evidência dos autos‖ (RT, 677/341).

Deste modo conforme demonstrado neste princípio, as decisões do Tribunal do Júri possuem soberania, e mesmo assim estão passiveis de reforma de sentença

(33)

ou ate anulação da mesma, sempre observando o que trata a legislação, buscando constantemente a resolução dos litígios da forma mais imparcial e correta possível.

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2 A INFLUÊNCIA DA MÍDIA SOBRE OS JULGAMENTOS REALIZADOS PELO TRIBUNAL DO JÚRI NO BRASIL

No segundo capítulo serão abordados diretamente os fatos ligados à influência da mídia sobre os julgamentos realizados pelo Tribunal do Júri no Brasil, dando um enfoque para a relação entre mídia e direito penal no Brasil e a manipulação dos dados envolvendo casos penais pela imprensa de massa, relatando brevemente sobre a parte histórica da mídia para que possa ser entendido de uma forma mais sucinta a evolução dos meios de comunicação e os reais motivos e consequências desta evolução.

Também não se deixa de mencionar sobre os meios empregados pela mídia de massa para escolher e elaborar as notícias antes de expor para a sociedade, mantendo o foco na exploração do medo, expondo algumas leis casuísticas formuladas com base na pressão exercida pela mídia que foram promulgadas no fervor de momentos sensíveis da sociedade, mostrando algumas consequências advindas destas leis.

Na sequência dispõe sobre a influência da mídia de massa sobre a formação do convencimento dos jurados nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ponto no qual podemos ver evidenciado o poder da mídia na manipulação da opinião pública, dando o chamado efeito de real para as notícias e difundindo seus ideais para a sociedade, demonstrando então alguns casos reais da influência e a sua repercussão social, utilizando como exemplo os casos Isabela Nardoni, menino João Hélio e Suzane von Richthofen.

2.1 A relação entre mídia e direito penal no Brasil e a manipulação dos dados envolvendo casos penais pela imprensa de massa

Historicamente o jornalismo, após passar da primeira fase artesanal, passou a predominar o jornalismo literário e político que surgiu em meados dos anos 60 e prevaleceu durante grande parte da história, e que possuía como característica a combinação de fatos e opiniões em uma narrativa era literária. Essa fase é conhecida pela busca da conscientização das questões políticas e sociais da época

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e ficava apenas em segundo plano a intenção de obter lucros econômicos, pois os veículos midiáticos possuíam financiamento e apoio de partidos políticos. O jornalismo literário se configurava como uma forma de expressão de idéias revolucionárias e de transformação social (TRAQUINA, 2004).

No século XVIII a imprensa já possuía maior participação social, conforme a observação de Batista (2002, p. 01):

Quando a imprensa, no século XVIII, acossada e censurada pelas burocracias seculares e religiosas do Antigo Regime, se engaja na revolução burguesa, participa intensamente do esforço pela deslegitimação racional das velhas criminalizações de linhagem inquisitorial e pela abolição das penas corporais cruéis e desproporcionais. Na fundação histórica do direito penal liberal,

portanto, tendia a imprensa – afinada com o pensamento ilustrado,

filosófico e jurídico – à limitação e ao controle do poder punitivo, larga e espetaculosamente exercido pelo absolutismo, e pagava por isso.

Em meados do século XIX até o inicio do século XX, o jornalismo mudou suas concepções, passando a distribuir um jornal mais barato, e que pode ser adquirido pela população das mais diversas classes sociais. Os jornais deixam de relatar somente os fatos, e acrescentam opiniões radicais ao seu conteúdo, passando da fase político-literária, para outra de cunho comercial. Nesta fase, o jornalismo modifica a sua estrutura e altera o enfoque para a busca do lucro, a procura de agradar aos públicos para manter seus níveis de audiência, e também aos anunciantes para obter maiores ganhos com as propagandas, aflorando uma necessidade cada vez maior de obter credibilidade frente aos públicos alvo (BUDÓ, 2006).

A mídia, ao perceber o fascínio histórico causado pelo crime e pela violência na população, passou a transmitir os fatos para toda a sociedade, intermediando de uma maneira cada vez mais intrusiva a relação entre a população e o Direito Penal, buscando beneficiar as classes dominantes e manipulando a realidade dos acontecimentos, a fim de transformá-los em uma forma de sensacionalismo para o entretenimento do público (WOJCIECHOWSKI, 2015).

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Quando criado, o Júri já causou polêmica, quanto à sua representatividade e de forma principal, na capacidade dos jurados sobre a tomada de decisão nas questões consideradas pelos juristas como de ―alta relevância técnica‖, que os juízes e leigos, julgadores do referido fato não poderiam dispor de capacidade para seu julgamento imparcial. Especialmente quando um crime de grande repercussão social passa a ser julgado, existindo sob ele uma imensa publicidade por interesse ou má-fé da mídia, (STRECK, 2001, pg. 90).

Devido à grande influência que a mídia exerce nas pessoas, ela tem sido considerada por doutrinadores como o quarto poder, tendo em vista a sua capacidade de manipulação da opinião pública, conforme salienta Andrade (2007, p. 78):

Hoje, não há qualquer duvida sobre a influência da ―boa‖ mídia no pleno processo democrático e de aprimoramento cívico de uma nação. Dentre as suas elevadas funções, citam-se a vigilância dos poderes constituídos e a divulgação de informações efetivamente relevantes para o público. Esta realidade hoje verificada é decorrência da história recente, na qual a imprensa (e depois a mídia) organizou o espaço público, o Estado e o mercado.

Em virtude desta influência a mídia ganhou força nas últimas décadas, devido à popularização de outros meios de comunicação, como por exemplo, a internet. A velocidade da informação atinge patamares até então inimagináveis, e possui participação ativa na formação da opinião pública. Os responsáveis diretos pelo desenvolvimento desta concepção, que nem sempre coincide com a verdade fática, são os veículos de informação, uma vez que o que geralmente é repassado ao público são opiniões, conforme observa Bizzotto (2015).

A questão que vem à tona é de que se é possível pensar com velocidade, se os jornalistas, ao buscar o ―furo jornalístico‖, tem tempo na afobação de anunciar os fatos, de pesar suas consequências, se não estão agindo como ―Fast-thinkers‖, que pensam mais rápido do que sua própria sombra, pois pensam com ―idéias feitas‖, que são idéias aceitas por todo mundo, banais, convencionais, comuns. As ―idéias feitas‖ são emitidas de modo que todos já compreendem o problema como resolvido. A comunicação acaba por ser instantânea, pois de certo modo ela passa a não

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