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A relação entre mídia e direito penal no Brasil e a manipulação dos dados envolvendo casos penais pela imprensa de massa

2 A INFLUÊNCIA DA MÍDIA SOBRE OS JULGAMENTOS REALIZADOS PELO TRIBUNAL DO JÚRI NO BRASIL

2.1 A relação entre mídia e direito penal no Brasil e a manipulação dos dados envolvendo casos penais pela imprensa de massa

Historicamente o jornalismo, após passar da primeira fase artesanal, passou a predominar o jornalismo literário e político que surgiu em meados dos anos 60 e prevaleceu durante grande parte da história, e que possuía como característica a combinação de fatos e opiniões em uma narrativa era literária. Essa fase é conhecida pela busca da conscientização das questões políticas e sociais da época

e ficava apenas em segundo plano a intenção de obter lucros econômicos, pois os veículos midiáticos possuíam financiamento e apoio de partidos políticos. O jornalismo literário se configurava como uma forma de expressão de idéias revolucionárias e de transformação social (TRAQUINA, 2004).

No século XVIII a imprensa já possuía maior participação social, conforme a observação de Batista (2002, p. 01):

Quando a imprensa, no século XVIII, acossada e censurada pelas burocracias seculares e religiosas do Antigo Regime, se engaja na revolução burguesa, participa intensamente do esforço pela deslegitimação racional das velhas criminalizações de linhagem inquisitorial e pela abolição das penas corporais cruéis e desproporcionais. Na fundação histórica do direito penal liberal,

portanto, tendia a imprensa – afinada com o pensamento ilustrado,

filosófico e jurídico – à limitação e ao controle do poder punitivo, larga e espetaculosamente exercido pelo absolutismo, e pagava por isso.

Em meados do século XIX até o inicio do século XX, o jornalismo mudou suas concepções, passando a distribuir um jornal mais barato, e que pode ser adquirido pela população das mais diversas classes sociais. Os jornais deixam de relatar somente os fatos, e acrescentam opiniões radicais ao seu conteúdo, passando da fase político-literária, para outra de cunho comercial. Nesta fase, o jornalismo modifica a sua estrutura e altera o enfoque para a busca do lucro, a procura de agradar aos públicos para manter seus níveis de audiência, e também aos anunciantes para obter maiores ganhos com as propagandas, aflorando uma necessidade cada vez maior de obter credibilidade frente aos públicos alvo (BUDÓ, 2006).

A mídia, ao perceber o fascínio histórico causado pelo crime e pela violência na população, passou a transmitir os fatos para toda a sociedade, intermediando de uma maneira cada vez mais intrusiva a relação entre a população e o Direito Penal, buscando beneficiar as classes dominantes e manipulando a realidade dos acontecimentos, a fim de transformá-los em uma forma de sensacionalismo para o entretenimento do público (WOJCIECHOWSKI, 2015).

Quando criado, o Júri já causou polêmica, quanto à sua representatividade e de forma principal, na capacidade dos jurados sobre a tomada de decisão nas questões consideradas pelos juristas como de ―alta relevância técnica‖, que os juízes e leigos, julgadores do referido fato não poderiam dispor de capacidade para seu julgamento imparcial. Especialmente quando um crime de grande repercussão social passa a ser julgado, existindo sob ele uma imensa publicidade por interesse ou má- fé da mídia, (STRECK, 2001, pg. 90).

Devido à grande influência que a mídia exerce nas pessoas, ela tem sido considerada por doutrinadores como o quarto poder, tendo em vista a sua capacidade de manipulação da opinião pública, conforme salienta Andrade (2007, p. 78):

Hoje, não há qualquer duvida sobre a influência da ―boa‖ mídia no pleno processo democrático e de aprimoramento cívico de uma nação. Dentre as suas elevadas funções, citam-se a vigilância dos poderes constituídos e a divulgação de informações efetivamente relevantes para o público. Esta realidade hoje verificada é decorrência da história recente, na qual a imprensa (e depois a mídia) organizou o espaço público, o Estado e o mercado.

Em virtude desta influência a mídia ganhou força nas últimas décadas, devido à popularização de outros meios de comunicação, como por exemplo, a internet. A velocidade da informação atinge patamares até então inimagináveis, e possui participação ativa na formação da opinião pública. Os responsáveis diretos pelo desenvolvimento desta concepção, que nem sempre coincide com a verdade fática, são os veículos de informação, uma vez que o que geralmente é repassado ao público são opiniões, conforme observa Bizzotto (2015).

A questão que vem à tona é de que se é possível pensar com velocidade, se os jornalistas, ao buscar o ―furo jornalístico‖, tem tempo na afobação de anunciar os fatos, de pesar suas consequências, se não estão agindo como ―Fast-thinkers‖, que pensam mais rápido do que sua própria sombra, pois pensam com ―idéias feitas‖, que são idéias aceitas por todo mundo, banais, convencionais, comuns. As ―idéias feitas‖ são emitidas de modo que todos já compreendem o problema como resolvido. A comunicação acaba por ser instantânea, pois de certo modo ela passa a não

existir, ou é apenas aparente, sendo que os fatos, por sua banalidade, são comuns a todos (BOURDIEU, 1997, p. 40).

Importante salientar que a crítica supracitada, elaborada por Pierre Bourdieu, mantinha o foco na televisão. Hoje em dia pode-se direcionar parte deste foco para o mundo virtual, em especial para as redes sociais como Facebook e Twitter, nos e- mails, e também nos sites dedicados a vídeos como, por exemplo, o youtube. Por mais que essa forma de mídia exerça um papel importante no acesso às informações, a internet parece estimular o nascimento e a propagação dos chamados ―Fast-thinkers‖, sendo visível a inobservância e despreocupação com as fontes e a veracidade daquilo que está sendo reproduzido ou compartilhado (WOJCIECHOWSKI, 2015).

A tecnologia mundial cada vez mais avançada, na qual o tempo e o espaço deixaram de serem obstáculos insuperáveis aos projetos de racionalidade econômica, e com a mídia ocupando os espaços de formação do saber, difunde informações, e quanto maior o número de informações, mais difícil se torna a formulação de concepções críticas dos dados expostos ao público. A exposição excessiva dos fatos resulta em uma espécie de cegueira causada pela distorção dos dados e como consequência torna mais difícil a análise verdadeira dos fatos (BIZZOTTO, 2015, p. 77).

A concorrência entre os meios de comunicação, na busca desenfreada por audiência, acaba gerando certa urgência na coleta e posterior dispersão das informações, tecendo uma rede de informações vazias, simplórias e não condizentes com a realidade. Esta urgência desencadeada pela forte concorrência entre os grupos midiáticos representa um fator agravante da ausência de preocupação formal ou teórica com o que se expõe na mídia, favorecendo a formação de uma sociedade formada por ideias prontas, sem pensamento crítico (WOJCIECHOWSKI, 2015).

Evidentemente, o capitalismo submete a exploração monetária de todas as áreas, e na mídia não seria diferente, pressuposto pelo qual existe o atrito entre direito e mídia, conforme observa Mello (2010, p. 107):

Com o intuito de lhe gerar lucro, a mídia explora o fato, transformando-o em verdadeiros espetáculos, em instrumentos de diversão e entretenimento do público; as notícias não passam por crítico processo de seleção, tudo é notícia, desde que possam render audiência e, conseqüentemente, dinheiro. Mais grave que isso, é o fato de a mídia constituir um poderoso instrumento de formação da opinião pública. Quando um fato é divulgado pelos meios de comunicação, sobre ele, já incide a opinião do jornalista, ou seja, o modo como ele viu o acontecimento é a notícia e, esta visão [...], nem sempre demonstra a realidade. Dessa maneira, o público acredita ser verdade aquilo que foi apresentado na notícia e faz seus julgamentos a partir dela. É fácil notar essa manipulação exercida pelos meios de comunicação, quando um crime vira notícia.

A escolha da notícia obedece a inúmeros valores rotineiros na prática do jornalismo, sendo um destes aspectos a avaliação da lucratividade, que sobrepõe o caráter comercial da informação e deixa de lado o interesse público, abrindo espaço para a inclusão de interesses individuais e, como consequência, para o sensacionalismo, optando pela confusão entre informação e entretenimento, inserindo aspectos engraçados, dramáticos e de conflito, restando notório que o fato, quanto mais negativo, mais probabilidade tem de se transformar em notícia. Portanto, mais do que divulgar acontecimentos, o jornalismo possui o papel de definir quais os fatos que irão repercutir na mídia, e quais não serão sequer conhecidos. Ainda, cabe ao jornalista a escolha do foco que será abordado na divulgação da notícia. Mesmo que de forma inconsciente, quando o foco da notícia são crimes, o senso comum jornalístico prevalece ao escolher a forma de abordagem do fato, trazendo à tona o sensacionalismo e desencadeando a comoção popular (BUDÓ, 2006).

A noticiabilidade de um fato depende de alguns fatores próprios, tais como: novidade, atualidade, curiosidade, capacidade de apelar aos sentidos e, principalmente, do quanto o fato se distância do ordinário e aproxima-se do extraordinário, passando por esta seleção os fatos se tornam notícias (BOLDT, 2013).

Conforme relata Steinberger (apud BOLDT, 2013, p. 66):

nos discursos jornalísticos, há uma especificidade no modo de recortar os fatos. O fato não se confunde com a notícia. É preciso lidar com a substância específica de ―atualidade‖ e com o recorte do acontecimento como fato jornalístico ou noticioso. Isso pressupõe

condições de noticiabilidade, como por exemplo que o fato seja de interesse público, que sua divulgação preste algum tipo de serviço à comunidade receptora, que ele tenha um potencial de sedução apelativa, ou seja, capacidade de despertar a curiosidade e a atenção dos potenciais receptores etc.

A intervenção jornalística na reconstrução da realidade parte da definição do que irá se tornar notícia, nessa fase ocorre o descarte de informações as quais a importância que se dá é reduzida. O principal problema desta seleção está na modificação dos critérios pertinentes à relevância dos fatos, que é substituída pelo interesse do público, sendo este o foco principal da mídia, buscando vencer a concorrência e tentando alcançar a cada dia um número maior de pontos de audiência, e como consequência, agravando a qualidade das notícias na busca pelo ―furo‖ jornalístico (BOLDT, 2013).

Batista (2002, p. 07), observa que existe uma estratégia para a escolha das notícias, pois:

A posição estratégica da questão criminal na mídia está muito

distante da suposição ingênua – ainda que não necessariamente

falsa – de que o sangue sempre aumenta as vendas. O discurso

criminológico midiático pretende constituir-se em instrumento de análise dos conflitos sociais e das instituições públicas, e procura fundamentar-se numa ética simplista (a ―ética da paz‖) e numa história ficcional [...]. O maior ganho tático de tal discurso está em poder exercer-se como discurso de lei e ordem com sabor ―politicamente correto‖.

A noticiabilidade e os valores-notícia são a base para a definição do que pode virar notícia, de acordo com Vizeu (2005, p. 27), os valores-notícia se dividem em cinco grandes categorias. A primeira delas é ―substantiva‖: o fato é ligado a si e aos seus personagens, e divide em grau hierárquico os indivíduos envolvidos no fato. Pesa se o fato possui impacto e interesse social, e soma qual a quantidade de pessoas envolvidas no fato, analisando qual a relevância e possibilidade de evolução e consequências futuras.

A segunda é ―relativa ao produto‖, e se direciona à disponibilidade de materiais e características específicas do produto informativo. Dependendo diretamente da acessibilidade ao fato, que se refere à localização ou a rapidez que a

equipe pode se deslocar até o local onde ocorreu, estando esta relacionada ao potencial de dramaticidade e à capacidade de entretenimento do fato (VIZEU, 2005).

A terceira categoria é ―relativa aos meios de informação‖, e refere-se à quantidade de tempo empregado para veicular uma informação, dependendo menos do assunto tratado e mais de como a informação é veiculada. No telejornalismo, para a avaliação da noticiabilidade do fato, existe a avaliação de se o fato pode disponibilizar um bom material visual, ou seja, imagens que correspondam aos padrões técnicos normais e que ainda possuam um algo a mais, que ilustrem aspectos diversos do acontecimento noticiado (VIZEU, 2005).

A quarta é ―relativa ao público‖, e consiste na imagem que os jornalistas têm do público, obedecendo a dois critérios em relação à audiência: o primeiro deles referente à narrativa do fato que deve ser clara, permitindo a elucidação do fato pelos espectadores; o segundo critério reside na protetividade da notícia, que consiste em evitar informar algo que possa causar pânico desnecessário para os espectadores, como, por exemplo, acidentes sem detalhes, catástrofes naturais, doenças, ou qualquer fato que possa incentivar suicídios (VIZEU, 2005).

A quinta e última é ―relativa à concorrência‖, nesta fase os grupos midiáticos concorrem entre si e buscam por saber antes da notícia. Ela é dividida em notícias com exclusividade e furo jornalístico que estabelece padrões profissionais ou modelos referências a todo o meio jornalístico (VIZEU, 2005).

Portanto, a possibilidade de um fato se transformar em notícia, entra no ensejo de um conjunto de elementos, dos quais os jornalistas utilizam para realizar a seleção do que será noticiado. No desenrolar da seleção das notícias, existem os valores-notícia, que são critérios difundidos no decorrer do processo de produção das notícias, não estando presentes na seleção, mas participando de todas as operações que ocorreram antes e depois da escolha do tema (VIZEU, 2005).

Através do seu papel principal de trazer informações às massas e formar a opinião pública, a mídia acaba por ecoar nos meios de comunicação detalhadamente sobre os fatos e os possíveis autores dos fatos criminosos. Os

crimes dolosos contra a vida acabam sensibilizando a sociedade de forma geral e os sentimentos de indignação, impunidade e insegurança trazem à tona na sociedade o desejo de fazer justiça. O excesso da exposição midiática gera um conceito antecipado, podendo cercear a defesa do acusado, influenciando diretamente na decisão dos jurados, e a exposição da vida pessoal do suspeito, causa constrangimento aos seus familiares, sendo que estes não possuem ligação direta com o crime, conforme complementa Mello (2010):

Holofotes cinematográficos são dirigidos ao suspeito do crime com o intuito de revelar sua identidade e personalidade. Em poucos segundos, sabe-se de tudo, detalhadamente, a respeito da vida desse cidadão e de seus familiares. Tudo é vasculhado pela mídia. Bastam alguns momentos para que eles se vejam em todas as manchetes de telejornais, revistas e jornais. A mídia, assim, vai produzindo celebridades para poder realimentar-se delas a cada instante, ignorando a sua intimidade e privacidade.

O acusado, mesmo sob a proteção do princípio da presunção da inocência, vê os seus direitos de cidadão violados, pois, mesmo sem ter sido devidamente julgado já esta sob o jargão de ―culpado‖, sendo este título erroneamente disseminado pelos meios de comunicação de massa. O acusado passa a sofrer pela excessiva exposição, incluindo ainda o encargo de enfrentar o conselho de sentença, com os jurados já tendo uma posição formada sobre o caso devido à forte exposição midiática, mesmo que ele não possua culpa alguma no caso. Conforme salientam Prates e Tavares (2008, p. 34):

Alguns setores da mídia vistos como supostamente ―justiceiros‖, antes de qualquer diligência necessária publicam o nome de possíveis suspeitos atribuindo-lhes o condão de ―acusados‖ ou mesmo ―réus‖, sem que estes estejam respondendo ainda sequer a um processo. Carnelluti já descrevia o que significava para uma pessoa responder um processo, tendo ou não culpa por um fato: ―Para saber se é preciso punir, pune-se com o processo‖. O cidadão nestas circunstâncias, mesmo que teoricamente acobertado constitucionalmente pelo princípio da presunção de inocência, se vê em realidade apontado como ―culpado‖ pelos meios de comunicação de massa, sofrendo enorme exposição e o encargo de poder enfrentar um Conselho de Sentença maculado por um ―jornalismo investigativo‖ nem sempre ético e harmonizado com a realidade dos fatos ditos ―apurados‖.

No conflito entre justiça e imprensa não se pode deixar de discorrer sobre a divergência que ocorre entre a presunção de inocência e a liberdade de manifestação do pensamento, ou liberdade de imprensa, visto que quando a liberdade de imprensa é utilizada para a divulgação de notícias referentes a crimes de forma imparcial e sensacionalista, expondo o suspeito ou o condenando publicamente, fere-se o direito de presunção de inocência que não pode ser infringido, pois somente pode ser quebrado após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Conforme citado por Silva (2015):

Nessa construção iluminista, a presunção de inocência apresenta-se como afirmação da natureza honesta do homem, e não criminosa, e que qualquer persecução criminal jamais retratará a perfeição dos fatos, mas se restringirá ao provável. Dessa forma, a pairar inicialmente a dúvida sobre os fatos, plausível preservar o estado de inocência do indivíduo, e não presumir-se a sua culpa, que deve ser a exceção à regra. É a gênese do provérbio latino quilibet

praesumitur bonus, donec contrarium probetur (qualquer um se

presume bom, até se provar o contrário), e da imposição ao órgão acusador do ônus da prova, devendo este provar a culpa do acusado, e não o acusado provar sua inocência.

As informações prestadas pela imprensa para a população devem ser imparciais, e a notícia precisa corresponder fielmente aos fatos, não deve possuir a intenção de causar confusão ao público, respeitando o princípio da presunção de inocência do acusado, conforme relata Prates e Tavares (2008, p. 36):

A Constituição Federal determina em seu artigo 5°, LVII: ―ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória‖. A Carta Magna presume a inocência do indivíduo até que se comprove o inverso, mas não obstante a isto os meios de comunicação, em alguns casos, condenam o réu antes mesmo de seu julgamento. O suspeito muitas vezes é julgado pela opinião divulgada pela mídia.

Deste modo, a mídia precisa ter cuidado ao divulgar tais informações visto que os princípios de ética e a presunção de inocência dos acusados devem ser levados em conta. A notícia não pode ser utilizada de forma sensacionalista, violando os princípios constitucionais, visto que mesmo que em alguns casos os acusados venham a ser inocentados no júri, ao serem condenados pela mídia, os resultados podem ser imutáveis.

Neste contexto, a mídia acaba por se tornar um veículo de formação de opinião pública, que contribui para a comoção social e propaga o senso comum, conforme a afirmação de Budó (2006, p.9):

A importância do jornalismo e da mídia em geral na atual sociedade da informação requer, portanto, o seu devido reconhecimento. Quando se trata a percepção do jornalismo como construção da realidade e como forma de conhecimento da realidade pelo público, deve-se notar o quanto a visão do mundo ao redor dos indivíduos certamente é influenciado pelo que é transmitido.

Portanto, sendo que a transmissão da informação passa por um fluxo único, e em uma parte existe a mídia transmitindo as informações e de outro lado está à população apenas recebendo o que lhes é transmitido, sem meio de interação, deste modo, a mídia pode impor da forma que lhe convir a sua própria visão a respeito de todos os acontecimentos que ocorreram ou possam ocorrer, manipulando a informação a seu favor, sendo a própria imprensa quem seleciona os assuntos abordados, realiza pesquisas de opinião sobre os temas em debate, e então divulga para o público com a intenção de formar opiniões, conforme disserta Bourdieu (1997, p. 115):

[...] à imprensa, sobretudo televisiva (e comercial), age no mesmo sentido que a pesquisa de opinião, com a qual ela própria deve contar: embora possa servir também de instrumento de demagogia racional tendente a reforçar o fechamento sobre si do campo político, a pesquisa de opinião instaura com os eleitores uma relação direta, sem mediação, que descarta todos os agentes individuais ou coletivos [...] socialmente delegados para elaborar e propor opiniões constituídas; ela despoja todos os mandatários e todos os porta- vozes de sua pretensão [...] ao monopólio da expressão legítima da ―opinião pública‖ e, ao mesmo tempo, de sua capacidade de trabalhar em uma elaboração crítica [...] das opiniões reais ou supostas de seus mandantes.

Considerando que a opinião foi formada com base no que foi divulgado pela mídia, a opinião que se diz pública na verdade é uma opinião dela própria, provocada e reordenada por dogmas e pensamentos próprios, transformando tais em ―opinião pública‖.

A doutrina, através dos autores que trabalham no marco da criminologia crítica e das teorias garantistas, minimalistas e abolicionistas do sistema penal,

mostram a mídia como articuladora de um papel fundamental, tanto na intensificação da sensação de insegurança, causa que legitima o aumento da repressão penal, tanto pela abordagem excludente e desigual utilizada, que produz um grande preconceito com as classes mais pobres da população, legitimando a seletividade do sistema e imunizando as parcelas da população com maior poder aquisitivo (BUDÓ, 2006).

Sobre o tema disserta Boldt (2013, p. 87):

A mídia, influenciada principalmente por fatores de ordem político-

econômica, oculta determinados ilícitos – ou não os divulga com a

mesma veemência – e mostra os crimes praticados pelas pessoas

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