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Bertrand Sampaio de Alencar, Maio/2008

Outros programas governamentais de incentivo à coleta seletiva realizada por organizações de catadores e à reciclagem vêm sendo desenvolvidos, a exemplo do Programa Fome Zero da Petrobrás, que prioriza a estruturação de redes solidárias de organizações de catadores e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com foco na infra-estrutura física e operacional de organizações de catadores nas principais regiões metropolitanas.

O traço característico da avaliação das políticas públicas é naturalmente o fato de que as recentes ações governamentais e legais efetivadas não permitem uma melhor análise, até mesmo porque o próprio Governo Federal ainda não avaliou os resultados obtidos com estas políticas públicas.

A partir da avaliação das políticas públicas, evidencia-se que de fato a ação política do MNCR foi em parte eficiente, eficaz, legítima e manteve um desempenho com impactos positivos nos resultados obtidos, na perspectiva dos catadores e da sociedade.

Pode-se afirmar com base na avaliação efetuada que o resultado destas políticas públicas, caso sejam mantidas, permite-nos falar em sustentabilidade no contexto atual.

Observa-se também que a ação pública está direcionada a um certo protagonismo federal, em detrimento de um descompromisso estadual e, pior, uma incompreensão municipal com a questão dos catadores.

A incompreensão da maioria dos gestores públicos municipais com a questão dos catadores e o desconhecimento da emergência do processo de organização em curso e, sobretudo, o descompromisso com os benefícios advindos da reciclagem e que rebatem diretamente nos custos, na produtividade e na qualidade dos serviços de limpeza pública, indicam por um lado riscos inerentes à necessária transparência pública e, por outro, uma visão política limitada e clientelista, independente de matizes ideológicas e partidárias.

LEAL (2004, p.29) apresenta uma contribuição a esse debate considerando que houve uma alteração fundamental com a postura de inversão de prioridades do investimento público. Salienta que a formulação de políticas públicas direcionadas aos menos favorecidos e o reconhecimento dos direitos sociais e da cidadania são elementos imprescindíveis à democracia. Mas adverte que, apesar destes avanços, as administrações locais tiveram enormes dificuldades em dar continuidade aos processos instaurados e na própria legitimação destes processos. A autora identifica como alguns desses constrangimentos a crise econômica, o refluxo do processo de mobilização popular e a ruptura de alianças que lhes deram sustentação.

O papel equivocado do poder público municipal é perceptível em MOTA, VALENÇA & SILVA (2004) quando identificam o Estado com o papel de mediador, sob o discurso da assistência social ou da preservação ambiental, entre a ação das organizações de catadores e o mercado. Diríamos que além de mediatizar esta relação, há uma insuspeita intenção de tutela (inclusive política) destas organizações, atingindo os catadores em seus princípios de autonomia e auto-gestão e, de manutenção do status quo privado que opera os serviços de limpeza urbana nas principais cidades brasileiras.

4. ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO

Neste capítulo são apresentados e analisados os resultados dos levantamentos efetuados em campo nas cooperativas e no setor produtivo da reciclagem, considerando-se para tanto as dimensões de análise produtiva e social.

A seguir são apresentados os estudos de caso da CAEC e da PRORECIFE como parte empírica da tese, cujo conteúdo está segmentado por alguns antecedentes ao processo de organização, uma descrição dos catadores quando ainda não estavam organizados, a apresentação dos dados levantados e, uma discussão e análise dos resultados obtidos nos trabalhos de campo para cada caso, cujos elementos foram obtidos em entrevistas diretas e consultas bibliográficas.

4.6.COOPERATIVA DE AGENTES ECOLÓGICOS DE CANABRAVA CAEC (SALVADOR, BAHIA)

4.6.1. Antecedentes

A CAEC – Cooperativa de Catadores Agentes Ecológicos de Canabrava foi fundada em maio de 1993, a partir de iniciativa da LIMPURB, por catadores remanescentes do antigo Lixão de Canabrava que por 25 anos foi o principal destino final dos resíduos sólidos da cidade de Salvador.

A independência e posterior consolidação da CAEC em relação à LIMPURB e ao lixão de Canabrava aconteceu a partir do programa Reciclar para Crescer, integrante do projeto Eco-Cidadania75, parceria entre o setor público, empresas privadas e entidades não- governamentais, cuja instituição gestora foi o PANGEA, responsável também pelo processo de incubação que, em princípio estava previsto para um período de dois anos.

A CAEC foi pautada nos princípios da economia solidária, constituindo e afirmando valores e práticas autogestionárias, de participação democrática e de desenvolvimento de uma cultura de solidariedade. O programa era bastante amplo e envolvia a integração de ações estruturantes capazes de produzir significativos avanços no setor da reutilização e reciclagem de resíduos sólidos, com resultados na geração de trabalho e renda, tendo sido definido quatro linhas de ações: i) geração de trabalho e renda; ii) melhoria habitacional; iii) desenvolvimento

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Convênio No 016/2003 entre o Estado da Bahia, através da SECOMP e o PANGEA em 27/08/03, publicado no Diário Oficial no dia 28/08/03.

comunitário; e, iv) preservação do meio ambiente. Nesta área específica, o projeto teve como objetivo geral “contribuir para o programa de combate à pobreza na cidade de Salvador através (sic) de ações de geração de trabalho e renda nos princípios da economia solidária” (MTE/SNES, 2005, p. 46-51).

Em seguida, a partir de projeto elaborado pelo PANGEA – Centro de Estudos Socioambientais76 com apoio financeiro inicial da organização italiana COSPE – Cooperação para o Desenvolvimento dos Países Emergentes, a qual captou recursos financeiros junto à União Européia (UE) foi possível vencer esta dificuldade inicial de implementação da CAEC. De acordo com Antônio Bunchaft77, coordenador do PANGEA, ao processo de organização da CAEC precedeu uma série de atividades de capacitação e treinamento que a entidade estava ministrando em conjunto com a Prefeitura de Salvador. Naquela oportunidade houve um conflito ético e conceitual entre técnicos da Prefeitura e do PANGEA, resultando numa separação em dois grupos que tomaram caminhos distintos. Dos 100 catadores que participaram da fundação, somente 47 continuavam na cooperativa em 2004. Atualmente este quantitativo representa 235 cooperados, distribuídos na sede e em dois núcleos setoriais.

Durante os três primeiros meses da atividade produtiva, os então 100 cooperados da CAEC não conseguiam arrecadar mais do que R$ 60,00 (sessenta reais) por catador, o que afastou vários catadores da cooperativa. Dois anos e meio após a criação da CAEC os então 47 cooperados conseguiam obter uma renda média de R$ 300,00 (trezentos reais) por mês e já dispunham de alguns benefícios como cesta básica, vale transporte e refeição, possibilitados em função dos programas de financiamento obtidos pelo PANGEA (NUNES, 2004 p.37). Naquele ano, a quantidade de material coletado era em média 40 toneladas/mês. Em março/2008 a renda média estava em R$ 376,00 (trezentos e setenta e seis reais), os 165 cooperados catavam cerca de 212 ton/mês e além dos benefícios referidos, passaram também a recolher o INSS.

4.6.2. Os Catadores no Lixão da Canabrava

Os catadores de materiais recicláveis do Lixão da Canabrava, conhecidos como badameiros, iniciaram suas atividades no mesmo ano em que a Prefeitura de Salvador passou

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O PANGEA – Centro de Estudos Socioambientais é uma OSCIP – Organização da Sociedade Civil para o Interesse Público, de utilidade pública municipal e estadual, criada em 1996 por profissionais de diversas áreas preocupados em desenvolver ações voltadas para o desenvolvimento sustentável e justiça social.

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a depositar todos os resíduos sólidos coletados na cidade de forma inadequada naquele sítio, após os protestos que fizeram-na fechar o famoso vazadouro de Alagados, em 1973.

De 1974 até 1998, os badameiros lutaram para sobreviver no lixão da Canabrava numa precária situação que não difere muito dos grandes vazadouros a céu aberto existentes no Brasil. A problemática desses habitantes ao assumirem uma condição sub-humana na luta pela sobrevivência se estendia até suas relações sociais e familiares: o caráter conflitante e desajustado dessas relações ampliava a dimensão de seus problemas. Vivenciava-se, portanto, a exclusão social numa das suas piores expressões da prática cotidiana.

Por sua importância enquanto maior vazadouro de lixo do Estado da Bahia e um dos maiores do Nordeste, o lixão da Canabrava foi objeto de estudo de diversos autores. Segundo BRAGA (2003, p.2), durante este período o bairro da Canabrava (o bairro denomina-se Nossa Senhora da Vitória, desde o ano 2000) viveu o estigma social de ser o quarto de despejo da cidade. Não obstante, tornou-se o espaço de trabalho de vários moradores que sem oportunidade de emprego, tornaram-se catadores e passaram a sobreviver no e do lixão.

Inicialmente proposto pela LIMPURB (o órgão responsável pela limpeza urbana de Salvador) para funcionar por nove anos, o lixão da Canabrava esteve em operação no período de 1974 a 1998, quando foi desativado. Desde o primeiro dia de operação que os catadores, uma parcela originária do lixão anterior e, a maioria, do próprio bairro da Canabrava e de bairros pobres localizados nas imediações (Pau da Lima, Sete de Abril, Nova Brasília, Marotinho, Novo Marotinho, São Quadros e São Rafael), foram trabalhar no local. Em 1981, atuavam cerca de 300 catadores e vários intermediários (donos de depósito) já haviam se instalado no local.

De acordo ainda com BRAGA (2003, p.4), preocupados com as condições sanitárias locais, médicos e técnicos do distrito sanitário de Pau da Lima, iniciaram em Canabrava no ano de 1992 o Projeto Saúde, Meio Ambiente e Luta contra a Pobreza (SMALP), com o apoio de instituições internacionais e, especialmente, da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e do governo italiano. Dentre as ações realizadas, várias delas na área de saúde, estavam a construção da unidade de tratamento e reciclagem de lixo e a realização de oficina de papel artesanal.

Em seguida, no ano de 1994, foi iniciado pela LIMPURB o projeto de biorremediação da área degradada e a transformação do lixão em aterro sanitário celular. Naquela oportunidade houve uma primeira tentativa de organização dos então 700 catadores adultos e 330 crianças e adolescentes da Canabrava. Os adultos foram deslocados para uma área distante da operação de descarga dos resíduos e passaram a receber uma quantidade limitada

de resíduos sólidos para catar. As crianças foram colocadas nas escolas e os adolescentes em cursos profissionalizantes. Os resultados destas iniciativas, em parte, obtiveram sucesso, na medida em que o Programa Criança Canabrava chegou a receber um prêmio da UNICEF.

A partir da perspectiva de implantação de um aterro sanitário metropolitano pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER) e da iminência de proibição da entrada dos catadores no novo local de destinação final, foram desenvolvidas diversas atividades de capacitação para o que seria o processo definitivo de organização dos catadores da Canabrava. Naquele momento, houve um embate entre técnicos da LIMPURB e do PANGEA, os quais envolveram os catadores participantes do programa de capacitação, o que gerou uma divisão no grupo. Uma parte dos catadores resolveu ficar sob os auspícios da LIMPURB que apoiou a formação de uma cooperativa no local (Coopcicla). O outro grupo resolveu sair do lixão da Canabrava para formar a CAEC, com apoio do PANGEA, indo se instalar inicialmente num galpão alugado no bairro de São Marcos e passando a catar de forma organizada diretamente nas ruas.

Em 1998, a Prefeitura de Salvador em parceria com o governo do Canadá implantou no local o Parque Socioambiental de Canabrava, instalando no local estação de transbordo, unidade de compostagem e triagem de materiais recicláveis, parque e área de lazer e uma usina termelétrica piloto para a geração de energia elétrica. O lixão da Canabrava deixaria de existir definitivamente. A privatização integral dos serviços de limpeza urbana também contribuiu para o desenho deste novo modelo de gestão adotado em Salvador.

4.6.3. Situação Atual: Os Catadores Organizados na CAEC

De acordo com levantamentos realizados no período de outubro/2007 a março/2008, procurou-se elaborar, a partir do quadro referencial definido no marco teórico, uma análise dos dados e informações relativas à origem, perfil e trajetória do catador organizado (estudo do indivíduo), da estrutura física e operacional e da gestão (estudo da organização), dos princípios de economia solidária, da inserção no MNCR (estudo de movimentos sociais), dos demais elementos que apontam para o modelo de sustentabilidade proposto, com base nos princípios sócio-econômicos do desenvolvimento como liberdade e dos ganhos ambientais que a coleta seletiva e o incentivo à reciclagem, praticados pela CAEC, têm gerado à sociedade.

Os resultados obtidos com o levantamento em campo dos dados e informações da CAEC são apresentados a seguir e descrevem os elementos relativos à origem, perfil e

trajetória do catador organizado e, do modelo de sustentabilidade proposto, com base nos princípios da economia solidária e do desenvolvimento como liberdade.

4.6.3.1. Apresentação dos Dados de Campo

Inicialmente foram entrevistados o coordenador geral e o gestor da incubação, ambos do PANGEA. Estas entrevistas seguiram roteiro baseado em formulário específico e foram gravadas com a utilização de equipamento tipo MP3.

Atualmente encontram-se associados à cooperativa 238 catadores, sendo que todos trabalham sem distinção e 165 do total trabalham no galpão-sede da CAEC e os demais no núcleo da Rua do Comércio, em Salvador e no núcleo do município de Lauro de Freitas que fica na Região Metropolitana de Salvador (RMS). O estatuto da cooperativa não admite afastamento por mais de quinze dias. Apesar de questionado, os informantes não souberam precisar o número exato de catadores do município de Salvador, da Região Metropolitana e do Estado.

O PANGEA implantou e coordena a Rede Cata Bahia, formada com apoio financeiro da Petrobrás e do Wal-Mart, em parceria com empresas, entidades não-governamentais, órgão públicos, condomínios e shoppings, a qual está composta por 10 (dez) associações e cooperativas de catadores de 9 (nove) municípios baianos, pois duas entidades de Salvador integram a rede, que está integrada por cerca de mil catadores.

A distribuição de homens e mulheres é praticamente a mesma na cooperativa, com 51% e 49%, respectivamente.

De acordo com os entrevistados a possibilidade de sustentabilidade da cooperativa depende de algumas medidas como a formulação de políticas públicas dirigidas aos catadores a partir da remuneração pela prestação dos serviços que as entidades de catadores efetuam nas cidades, coibir o ingresso de empresas que praticam uma competição desleal com as cooperativas e associações de catadores, ampliar a atuação das entidades de catadores na coleta seletiva nos municípios, agregar valor com ações voltadas a uma maior profissionalização destas entidades de catadores para poder competir no mercado. A profissionalização é fundamental neste contexto, sobretudo com a possibilidade de ampliação do fornecimento de materiais recicláveis por grandes geradores, a exemplo do Shoping Iguatemi, de Salvador, que impôs a alocação de pessoal qualificado e de equipamentos adequados à realidade da coleta seletiva em um grande centro comercial. Importante ressaltar que esta é a visão na perspectiva dos gerentes da incubadora da CAEC.

Quanto à perspectiva de todos os catadores estarem organizados em cooperativas e associações, os entrevistados entendem que esta ação depende do poder público e das empresas. As estratégias que apontam para que isso aconteça envolve a conjunção de políticas públicas com medidas direcionadas ao incentivo ao empreendorismo, alfabetização e capacitação em áreas como associativismo e reciclagem e muita disciplina.

Com relação ao tempo indispensável para incubação ou apoio à organização e gestão de associações e cooperativas de catadores por parte de empresas, poder público, ONG, instituições, etc., admitem que é necessário entre três a cinco anos para fechar um ciclo completo de incubação, porque identificam três formas de atuação: assistencialista absoluto (que denominam de “cooperativa pró-forma”), assessoria (grupo amadurecido) e a incubação

stricto senso. Nesta última, identificam cinco responsabilidades básicas: administrativa,

financeira, comercial, institucional e operacional. Em um ano é necessário passar as atividades ligadas ao associativismo e à financeira. Após cinco anos de incubação do PANGEA, as três primeiras responsabilidades estão atendidas, são de total responsabilidade dos catadores. Em três anos é possível atingir as responsabilidades citadas. O PANGEA possui atualmente cinco técnicos no apoio à CAEC e é responsável pelo operacional ainda, em função das exigências do mercado. O mercado está sempre muito presente no discurso do gerente atual do PANGEA (“acompanhar a velocidade do mercado”). O atual gerente admite um tempo máximo de sete anos para concluir o processo de incubação.

Os entrevistados acreditam que as necessidades básicas dos cooperados estão atendidas, pois recebem alimentação no trabalho (o que segundo os entrevistados reduziu bastante o índice de conflito na cooperativa), assistência social, atendimento médico particular, maior facilidade para os filhos irem à escola, acesso mais facilitado à saúde pública, programa de alfabetização e recolhimento do INSS. Neste particular, a cooperativa enfrenta dificuldades iniciais para a implementação do INSS, pois houve várias reações por parte dos catadores. Caso haja acidente de trabalho e nos casos de gravidez, a cooperativa contempla no seu estatuto a exigência de remuneração por um mês, no máximo. Os entrevistados entendem que a parte legal da cooperativa deve estar totalmente organizada.

Importante ressaltar que houve uma elevada rotatividade de cooperados no ano de 2007, quando entraram 100 novos catadores e saíram 25, a maioria por falta de profissionalismo, segundo os entrevistados. A maioria dos que saíram atuavam fora da sede da cooperativa e não se adequaram às regras dos contratos junto a shoppings e mercados.

Todos os meses há uma reunião plenária. Foi criado a “Voz do Povo”, uma ausculta mensal que antecede à reunião principal realizada pelo Conselho de Ética, o que reduziu

vários conflitos nas plenárias. Nas reuniões semanais ocorrem consultas sobre problemas disciplinares, pois esta é uma exigência relevante para os entrevistados. Existem, além do Conselho de Ética (não exigido no estatuto da entidade), o Conselho Fiscal, que se reúne uma vez por ano e, o Conselho Administrativo, que se reúne a cada dois anos. O mandato da diretoria é bianual, de acordo com o estatuto da CAEC.

Não menos importante como contribuição à análise da economia solidária na entidade é que a maior diferença de classe existente na cooperativa em termos da renda individual é de somente 10% acima da renda média, cuja função é exercida pelo Coordenador de Frente de Serviços, tendo em vista a responsabilidade que este cargo encerra. Os cargos operacionais, administrativos e os demais recebem a mesma renda. Os catadores não aceitaram que o cargo administrativo recebesse o mesmo valor por terem um certo trauma da época em que a CAEC era “administrada” pela LIMPURB, quando os catadores eram oprimidos, segundo os entrevistados.

Os materiais recicláveis coletados na CAEC são vendidos para as seguintes indústrias de reciclagem locais e regionais: Bahia PET (garrafas PET), Gerdau (metal ferroso), Tomra Latasa (latas de alumínio), Ondunorte (papel), Penha (papelão), RRW (plásticos diversos), CIV (vidro), dentre outras. Como referido anteriormente, a cooperativa está iniciando, com financiamento do BNDES, uma unidade produtiva de garrafas de água sanitária para disponibilizar à venda no mercado.

A CAEC solicitou à FASE, organização não-governamental do Rio de Janeiro, uma avaliação da gestão da cooperativa, nos moldes de uma auditoria externa, denotando assim preocupação com a aplicação dos recursos financeiros recebidos de instituições públicas, não- governamentais e privadas.

Segundo o coordenador da CAEC, muitos catadores estão com problemas financeiros, pois mantém celular e uma conta elevada e ao mesmo tempo, paradoxalmente, não dispõem de sanitário em casa. Vários catadores estão com problemas com agiotas, por pedirem empréstimos e não poderem pagar. Estas questões aparecem adiante nas entrevistas com os catadores.

A influência do nível educacional e cultural do grupo é decisiva para diminuir o tempo de incubação, segundo os entrevistados. Este aspecto foi constatado no início da formação do da cooperativa, quando houve muitos conflitos, com substancial redução a partir das capacitações realizadas. No ano passado (2007) não ocorreu qualquer conflito na cooperativa.

Os catadores de rua são muito mais desunidos que os catadores de lixão e demora mais, segundo o gerente, para organizá-los em forma de cooperativa ou associação. Há um

hábito de trabalhar sozinho, de forma autônoma, sem chefe e que dificulta o processo de organização. No lixão são formados grupos familiares, muitas vezes para proteger os materiais recicláveis. Este é um traço característico da CAEC, tendo em vista que o grupo inicial da CAEC era formado por catadores do lixão da Canabrava.

O caso do Shopping Iguatemi de Salvador é sintomático com relação a essa dificuldade decorrente da cultura individualista no trabalho desenvolvida pelo catador. Ao solicitar que catadores de rua das imediações fossem contratados para trabalhar naquele centro comercial, de um total de mais de cem catadores consultados, somente cinco deles teve

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