• Nenhum resultado encontrado

Primeira reunião entre catadores e parceiros para criação da cooperativa PRORECIFE

Bertrand Sampaio de Alencar, Abril/2006

A partir de uma decisão do Comitê de Co-Financiamento e Apoio a Entidades de Catadores de Materiais Recicláveis de direcionar o saldo dos recursos financeiros então existentes para apoiar a criação de uma entidade de catadores em Recife e, da articulação do PANGEA junto à Petrobrás e Wal-Mart, que já estavam financiando o projeto da Rede Cata

Bahia e a CAEC, em Salvador, foram iniciadas as prospecções coordenadas por José Cardoso, líder regional e nacional do MNCR para identificar um grupo de catadores não-organizados.

Duas tentativas foram efetuadas, com um grupo de catadores do bairro de Arruda e com o atual grupo de Caranguejo Tabaiares. As articulações com o grupo inicial estavam bastante avançadas até que a Cáritas, entidade religiosa que havia prestado apoio a esse grupo se contrapôs à proposta por entender que já cumpria esta tarefa e não havia interesse em se articular com outra entidade.

A criação da PRORECIFE também foi pautada nos princípios da economia solidária, constituindo e afirmando valores e práticas autogestionárias, de participação democrática e de desenvolvimento de uma cultura de solidariedade.

4.7.2. Os Catadores da Comunidade de Caranguejo Tabaiares

A comunidade de Caranguejo Tabaiares está situada na Ilha do Retiro, praticamente ao lado do Sport Club Recife e atrás da sede do SEBRAE, fazendo os outros limites com o rio Capibaribe e a Estrada dos Remédios.

Desde 1996 que a comunidade de Caranguejo Tabaiares é considerada uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) da cidade do Recife, o que significa em parte o reconhecimento de que esta comunidade não apresenta as condições necessárias para que seus moradores vivam com dignidade. Esta comunidade praticamente sobreviveu em função da pesca. Mais recentemente eles vêm adotando outras formas de sobrevivência, a exemplo da catação de materiais recicláveis.

O grupo de catadores de Caranguejo Tabaiares era constituído no início por cerca de 40 (quarenta) pessoas da comunidade que catavam nas ruas de forma não-organizada. A partir de um convite para participar de um curso de educação ambiental direcionado à coleta seletiva e reciclagem, realizado pela ASPAN no ano de 2004, em parceria com a instituição canadense Action Re-Buts, dois membros desses catadores passaram a liderar um movimento de organização do grupo de catadores, dentre eles Roberta de Santana Pessoa, atual coordenadora da PRORECIFE. Naquele momento, ela conheceu José Cardoso, liderança do MNCR no Nordeste, que havia sido convidado para ministrar algumas aulas no referido curso e que acabou por estimular mais ainda a organização do grupo.

Noutra direção, mas num sentido convergente, algumas entidades de apoio e integrantes do MNCR (ASPAN, ASCAMAR e PANGEA) passaram a discutir a possibilidade concreta de obtenção de um financiamento junto a algumas entidades públicas (Petrobrás),

privadas (Wal-Mart) e de fomento a projetos sócio-ambientais (Fundação AVINA). Estas articulações ocorreram no Comitê de Co-Responsabilidade Social e Apoio a Entidades de Catadores de Materiais Recicláveis, formado por estas organizações não-governamentais e por empresas de reciclagem com atuação no Nordeste (Frompet, CIV, Bahia Pet, etc.)80.

A partir da decisão do grupo de se organizar em uma cooperativa e com parte dos recursos assegurados, iniciou-se um processo de formalização estatutária com apoio voluntário da ASPAN e participação de todos os catadores interessados durante um período de quase oito meses.

O estatuto da PRORECIFE foi elaborado na ASPAN com assessoria de uma advogada com uma preocupação em informar os catadores do que se tratava aquele documento e, sobretudo, de esclarecer a constituição e o funcionamento de uma cooperativa (que inclusive foi uma decisão dos catadores a forma associativa adotada). Assim, a PRORECIFE foi fundada oficialmente em 22/4/2006.

A cooperativa não possui fins lucrativos e rege-se pelas disposições da Lei No 5.764/71 (Lei de Cooperativas), pelo estatuto e pelos princípios de autogestão. As finalidades sociais a coleta, separação, beneficiamento e comercialização e materiais recicláveis, a difusão da doutrina cooperativista, capacitação na área de resíduos sólidos, prestação de serviços a instituições públicas e privadas, pessoas físicas e jurídicas para a atividade econômica de seus associados, promover a melhoria das condições de trabalho e sócio- econômicas dos cooperados e respectivas famílias e, contribuir com a melhoria das condições sócio-ambientais na sua área de abrangência.

A infra-estrutura física (galpão) foi adquirida em novembro/2006 e o processo de incubação pelo PANGEA começou em janeiro/2007 com a alocação de técnicos para atividades de gerenciamento, logística, assistência social e sócio-educativas. No mesmo período foi iniciado um processo de capacitação em associativismo e cidadania, o qual durou um mês, realizado por técnicas da área social que vieram de Salvador/BA.

80

O Comitê de Co-Responsabilidade Social e Apoio a Entidades de Catadores de Materiais Recicláveis foi constituído pela Fundação AVINA, com apoio de entidades não-governamentais e empresas recicladoras e teve por objetivo, durante o período de dois anos em que esteve ativo, apoiar projetos de organização de catadores no Nordeste. Foram beneficiadas as seguintes entidades: Ascamar (Natal/RN), Astramare (João Pessoa/PB), Coobasf (Feira de Santana/BA), Ascasa (Salgueiro/PE), Asnov (Garanhuns/PE) e ATMR-BJ (Belo Jardim/PE). Na última reunião realizada no Comitê em dezembro/2005, ficou decidido o aporte dos recursos então existentes (no valor de R$ 60 mil) para apoiar a criação da PRORECIFE.

4.7.3. Situação Atual: Os Catadores Organizados na PRORECIFE

A exemplo da CAEC, a seguir são apresentados os resultados obtidos a partir do levantamento de dados e informações na cooperativa PRORECIFE.

4.7.3.1. Apresentação dos Dados de Campo

Foram entrevistados o presidente da entidade, José Cardoso e a coordenadora administrativa, Roberta de Santana Pessoa.

No período das entrevistas trabalhavam 38 (trinta e oito) catadores cooperados na sede da entidade situada no bairro da Imbiribeira, em Recife. Quanto à distribuição entre homens e mulheres, há um predomínio feminino na cooperativa (60%).

A possibilidade de sustentabilidade da PRORECIFE, que passa por dificuldades gerenciais no momento em face do afastamento do PANGEA e que era a entidade responsável pela sua incubação, depende atualmente de vários fatores, segundo os entrevistados. A necessidade de profissionalização para poder ampliar o fornecimento de materiais recicláveis por grandes geradores, a exemplo do Bompreço (pertencente à rede Wal-Mart e que apóia com recursos financeiros e campanhas para doação de materiais recicláveis). A formulação de políticas públicas dirigidas aos catadores a partir da remuneração pela prestação dos serviços que as entidades de catadores efetuam nas cidades também foi ressaltada pelos entrevistados.

No que se refere à perspectiva de todos os catadores estarem organizados em cooperativas e associações, os entrevistados entendem que esta ação depende de vários fatores (estabelecimento de políticas públicas, apoio de empresas de reciclagem, capacitação técnica e alfabetização).

Os entrevistados não acreditam que todas as necessidades básicas dos cooperados estão atendidas. Neste momento estão sem assistência social e não possuem atendimento médico particular. Ambos identificam algumas facilidades para os filhos irem à escola e terem acesso mais facilitado à saúde pública. Participaram de um programa de alfabetização e atualmente não recolhem o INSS. Os catadores da PRORECIFE realizam suas refeições no próprio local de trabalho, o que segundo os entrevistados melhorou a produtividade. Os entrevistados entendem que a parte legal da cooperativa está totalmente organizada.

Houve uma rotatividade acentuada de cooperados do final do ano de 2007 ao mês de abril/2008 em função da crise instalada na entidade.

Como contribuição à análise da economia solidária na entidade, não há diferenças formais de classe existente na cooperativa em termos da renda individual, mas o regime atual permite a quem trabalha mais ser mais bem remunerado.

Os materiais recicláveis são vendidos às indústrias de reciclagem locais e regionais e a alguns poucos intermediários: Frompet (garrafas PET), Açonorte Gerdau (metal ferroso)81, Ondunorte (papel e papelão), CIV (vidro), dentre outras.

Os entrevistados também acreditam que a influência do nível de formação educacional e cultural do grupo é decisivo para diminuir o tempo de incubação. O grupo passou por diversos conflitos no início da formação e pode-se afirmar que não há ainda uma estabilidade neste sentido. Para tanto em agosto/2007 foi formada a primeira turma de 9 (nove) catadores no Programa Mova Brasil, sob o patrocínio da Petrobrás, pelo Programa Fome Zero.

A PRORECIFE mantém um convênio com nove lojas Bompreço (Wal-Mart) em Recife, onde está sendo incentivada a coleta seletiva dos materiais recicláveis, com a empresa de comésticos Natura para recebimento das embalagens pós-consumo, com o Conselho de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Pernambuco (CREA-PE), dentre outras entidades e empresas. As Fotos 6 e 7 a seguir, mostram alguns catadores da cooperativa em ação, o caminhão tipo baú utilizado para coleta em grandes geradores, o galpão e a prensa que a entidade recebeu de doação da empresa Frompet.

Foto 6. Catadores recebendo o material da Natura na PRORECIFE,

Documentos relacionados