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2 CAPÍTULO II – A OCUPAÇÃO FUNDIÁRIA E A COLONIZAÇÃO AGRÍCOLA DO

3.5 Infraestruturas

Analisar a infraestrutura disponível para os assentados da reforma agrária – tanto em termos coletivos, quanto nas áreas dos lotes e as voltadas para as atividades produtivas – é fundamental para entender as condições do meio em que estes trabalhadores se encontram. Esses aspectos serão retratados de forma pormenorizada nesse subitem, observando se os créditos obrigatórios dos programas de reforma agrária foram liberados para os beneficiários, ou se as infraestruturas coletivas (como estradas, posto de saúde e escolas) foram construídas, ou ainda se as condições do lote em termos de qualidade química e física e condições de habitações estão em níveis adequados para abrigar uma família.

Segundo os dados disponibilizados pela UAVA/INCRA a liberação dos créditos de sua responsabilidade ocorreu em todos os assentamentos e em 100% dos lotes, com exceção do o projeto Ilha do Coco, que teve apenas 44% dos lotes com recebimento total dos créditos e 50% dos lotes com recebimento parcial dos créditos, totalizando 94% de lotes com recebimento crédito (parcial ou total). É de responsabilidade do INCRA a liberação de recurso referente ao apoio inicial, ao material de construção e o crédito de recuperação24. Observou-se

24 O valor de cada crédito deste ocorre em função da época, para os três assentamentos da década de 1990 (Volta

Grande, Ilha do Coco e Martins I) o apoio inicial era entre R$ 355,00 e R$ 600,00 reais, o material para construção variava entre R$ 629,00 e R$ 2500,00 reais e a recuperação dos materiais de construção no valor de

que em todos os assentamentos analisados houve um intervalo de tempo significativo entre o acesso das famílias aos lotes e a liberação do recurso, com uma demora no aporte de recursos, criando um fator limitante para o desenvolvimento dos beneficiários que, muitas vezes, dependem deste recurso para iniciar suas atividades agrícolas.

Além disso, o acesso a financiamentos privados foi praticado por 54% dos beneficiários entrevistados do projeto Santa Emília, por 58% dos entrevistados no projeto Volta Grande, por 50% dos entrevistados no projeto Ilha do Coco e por 27% dos entrevistados no projeto Martins I. Em sua grande maioria, esses financiamentos são feitos através de bancos. A destinação destes recursos foi, em sua maioria, a compra de gado, tanto leiteiro quanto de corte, alcançando aproximadamente 71% dos casos. Já a melhoria das infraestruturas na propriedade, como cerca, curral, represa e pasto, representaram 14%. Outras questões, como tratamento de saúde dos beneficiários, representaram 10% do gasto dos recursos, sendo que em um caso o recurso foi utilizado para uma festa de quinze anos. Nesse sentido, observa-se que, do montante de assentados que acessou algum tipo de crédito, a maioria destinou o recurso para a melhoria das condições na propriedade ou para o aumento da produtividade, pela compra de matrizes de produção. É certo, portanto, afirmar que houve um uso consciente dos recursos adquiridos.

Outro importante fator de infraestrutura produtiva que deve ser oferecido pelo Estado é a assistência técnica. Nas entrevistas com os técnicos da UAVA em Barra do Garças, constatou-se que, atualmente, não existe nenhum tipo de assistência técnica destinada aos assentamentos rurais, e nenhum outro órgão fornece esse tipo de serviço de maneira continuada. Segundo a lei nº 12.188 de 2010, que institui a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária – PNATER, os assentados da reforma agrária são beneficiários desta política. Entretanto, o que se observou na pesquisa foi a inexistência desta prática nos assentamentos, tanto é que, nos assentamentos Santa Emília e Martins I, 100% dos entrevistados afirmaram nunca terem recebido qualquer tipo de assistência técnica. No assentamento Volta Grande, 17% dos entrevistados afirmaram terem recebido, poucas vezes, a visita de um técnico do INCRA no lote. No assentamento Ilha do Coco, 10% dos entrevistados afirmaram terem recebido assistência técnica esporádica do INCRA. Questionados sobre a qualidade da assistência desempenha pelo órgão, os assentados afirmaram ser de boa qualidade, apesar de não ser continuada.

R$ 5000,00, sendo este último igual para o assentamento Santa Emília, que se diferenciava apenas no valor do apoio inicial que era de R$ 2400,00 reais e o material de construção no valor de R$ 5000,00 reais.

As infraestruturas coletivas como escolas, posto de saúde e telefonia pública estavam presentes apenas no assentamento Martins I. Isto ocorria em virtude da grande distância entre este projeto e o seu munícipio sede, Água Boa, além de estar localizado em uma região de empresas agrícolas com um alto número de famílias residentes, como o caso da empresa

Banco Safra, que empregava, inclusive, alguns assentados deste projeto. Desta forma, essa

estrutura auxiliava não apenas o assentamento em si, mas toda a região. Como já mencionado nos subitens anteriores, esse projeto contava com uma escola (até o 3º ano do ensino médio), um posto de saúde, um orelhão público e um tanque comunitário de leite, tudo isso garantido pela prefeitura municipal, segundo os próprios entrevistados. Todos os demais assentamentos contavam com a infraestrutura coletiva nos municípios sede: o projeto Volta Grande, em Araguaiana, o projeto Ilha do Coco, em Nova Xavantina e o projeto Santa Emília, em Toricoeje, distrito de Barra do Garças, localizado a 15 km do assentamento. Apesar de não haver estruturas próprias dentro dos assentamentos, o acesso era facilitado, principalmente para as crianças, que possuíam transporte escolar disponibilizado pelas prefeituras municipais. Em termos de habitação, os assentamentos analisados apresentaram boas condições de moradia. O Quadro 6 apresenta o padrão construtivo das casas dos beneficiários, em sua grande maioria, formadas por paredes de alvenaria, com telhas de barro e piso de cimento. A grande maioria possui água canalizada e o escoamento sanitário é feito em fossas. Essas boas condições se devem, em grande parte, aos créditos de habitação liberados pelo INCRA.

Quadro 6. Estruturas das casas dos beneficiários nos projetos de assentamento rural, Vale do Araguaia, MT, 2014

Estrutura da Casa Total (%)

Paredes Alvenaria 88 Madeira 12 Telhas Barro 58 Amianto 42 Piso Cimento 64 Cerâmica 34 Água (canalizada) 92 Fossa 96

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Uma análise de forma mais detalhada demostrou que, no projeto Santa Emília, 92% das casas foram construídas há menos de 10 anos. Já nos projetos Volta Grande, Ilha do Coco e Martins I, a maioria das casas foi construída num período entre 10 a 20 anos, correspondendo a 75%, 80% e 80% dos entrevistados. Estes valores, quando cruzados com a

época de criação dos assentamentos, indicam uma construção tardia, após a implementação dos projetos. Quando questionados sobre a satisfação com as condições da casa, 50% dos entrevistados se mostraram insatisfeitos com a moradia, em sua maioria pela necessidade de acabamento ou aumento de cômodos.

Em relação às estruturas do lote, os entrevistados afirmaram considerar o nível de fertilidade do solo bom em 70% dos casos, ótimo em 26% e péssimo em 4%. Sobre o tamanho da área do lote, 70% consideraram suficiente para a subsistência de uma família.

O acesso à energia elétrica foi observado em 100% das casas; 80% dos beneficiários consideraram razoáveis as estradas; a presença de mercados para compra e venda de produtos agropecuários foi considerada insatisfatória por 62% dos entrevistados; e o relevo do lote foi considerado satisfatório por 86% dos entrevistados.

Destarte, observa-se que a situação dos beneficiários quanto à infraestrutura local se apresenta, em termos gerais, satisfatória, com habitações de boa qualidade, acesso a água e luz em todos os assentamentos. Todavia, em termos de infraestrutura coletiva, exceto o projeto Martins I, os demais não dispunham no assentamento, sendo necessário deslocar-se do assentamento para usufruir.

3.6 Quem sai e quem fica? A evasão nos assentamentos rurais de reforma