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Inotrópicos Cardíacos e Antagonistas de Canais de Cálcio

No documento Tathiana Mourão dos Anjos (páginas 57-61)

3.5 FÁRMACOS NÃO RECOMENDADOS OU CAPAZES DE CAUSAR REAÇÕES ADVERSAS EM GATOS

3.5.15 Inotrópicos Cardíacos e Antagonistas de Canais de Cálcio

3.5.15.1 Digoxina

A digoxina é um glicosídeo cardioativo cardiotônico e diurético, utilizado para o tratamento de insuficiência cardíaca congestiva, fibrilação atrial e taquicardias supraventriculares. Gatos são mais sensíveis aos seus efeitos tóxicos dose-dependente (PAPICH, 2009). A meia vida desse fármaco é longa nesta espécie (33 horas) (BOLTON; POWELL, 1982). Sinais precoces de toxicidade incluem anorexia, vômito e depressão, que freqüentemente aparecem anteriormente às anormalidades do eletrocardiograma (MACY, 1994). Papich (2009) afirma que os efeitos colaterais da digoxina são exacerbados pela hipocalemia e diminuídos pela hipercalemia, e Viana (2007), que há controvérsia quanto ao uso deste fármaco em gatos com cardiomiopatia hipertrófica. Papich (2009) e Viana (2007) indicam protocolos diferentes para uso desta droga em gatos, o primeiro sugere 0,008-0,01 mg/kg,

administrado por via oral a cada 48 horas, enquanto que o segundo indica 0,005 mg/kg, também por via oral a cada 12 horas.

3.5.15.2 Digitoxina

Assim como a digoxina, este fármaco é um glicosídeo cardioativo cardiotônico e diurético, para o tratamento de insuficiência cardíaca congestiva, fibrilação atrial e taquicardias supraventriculares, que tem os efeitos colaterais exacerbados pela hipocalemia e diminuídos pela hipercalemia (PAPICH, 2009). Segundo Viana (2007), o uso da digitoxina para tratamento da cardiomiopatia hipertrófica em gatos, também é controverso, sendo contra-indico pela maioria dos autores (VIANA, 2007).

Viana (2007) indica para uso da digitoxina, protocolo igual ao da digoxina, enquanto Papich (2009) recomenda para digitoxina dose de 0,02-0,03 mg/kg a cada 8 horas, por via oral, tanto cães como gatos.

3.5.15.3 Verapamil

É um bloqueador de canais de cálcio que promove vasodilatação, cronotropismo negativo e efeitos inotrópicos negativos.

É indicado no controle de arritmias supraventriculares, entretanto o seu uso tem sido reduzido por causa de seus efeitos adversos, sendo estes, hipotensão, depressão cardíaca, bradicardia, bloqueio atrioventricular e anorexia em alguns pacientes (PAPICH, 2009). O autor afirma ainda que o fármaco dessa classe de uso preferido em animais é o diltiazem, porém, este fármaco não é bem tolerado por gatos, portanto, não é recomendado para esta espécie (PAPICH, 2009).

3.5.16 Imunossupressores

3.5.16.1 Azatioprina

Antagonista da purina, cujo metabólito ativo é a 6-mercaptopurina, é um agente imunossupressor. A sensibilidade e efeitos adversos observados com o uso desta droga podem ocorrer devido à deficiência de metabolismo de enzimas tiopurina metiltransferases (TPMT), comum em cerca de 10% dos pacientes humanos, e em alguns gatos. Em cães, a sensibilidade não está relacionada com os níveis de TPMT, entretanto, gatos são particularmente susceptíveis a intoxicações e há relatos de baixas concentrações de TPMT (PAPICH, 2009). Embora utilizada com sucesso para tratar doenças imunomediadas em gatos, relata-se supressão de medula óssea séria em animais tratados com doses iguais as usadas em cães (2,2 mg/kg e 1 mg/kg em dias alternados) (BEALE et al., 1992). Além da toxicidade medular relacionada à dose, são relatadas leucopenia fatal e trombocitopenia em gatos. Portanto, deve ser empregada com cautela em felídeos, que são mais sensíveis aos efeitos do

fármaco sobre a medula óssea. Segundo Viana (2007), vários autores contra-indicam definitivamente o uso de azatioprina em gatos, mas o autor indica a dose de 0,2-0,3 mg/kg, por via oral a cada 48 horas, enquanto que Chandler (2006) recomenda 1,5 a 3,125 mg/gato a cada 48 horas, o que equivale a cerca de um décimo a um oitavo de um comprimido de 25 mg, sendo muito difícil de se conseguir uma dose exata. Já Papich (2009) descreve que a dose de 1 mg/kg a cada 48 horas pode ser usada em gatos, no entanto, recomenda começar com 0,3 mg/kg a cada 24 horas, ajustando-a lentamente após monitoração. Em detrimento da azatioprina, freqüentemente o clorambucil é empregado como alternativa no tratamento de doenças imunomediadas em felinos (CHANDLER, 2006).

3.5.17 Pesticidas

3.5.17.1 Organofosforados e Carbamatos

Essas substâncias fazem parte da formulação de pesticidas de uso tópico, sistêmico e ambiental (NORSWORTHY et al., 2004). Organofosforados comuns são fention, malation, clorpirifós, diazinon, diclorvós, fosmet e propetanfós (NORSWORTHY et al., 2004). São carbamatos fenoxicarb, metomil, bendiocarb, aldicarb, carbaril, carbofurano e propoxur (NORSWORTHY et al., 2004). Todos esses produtos afetam o sistema nervoso por inibir a acetilcolinesterase na junção neuromuscular, resultando no excesso de acetilcolina e prolongada despolarização da membrana pós-sináptica (NORSWORTHY et al., 2004). A reativação espontânea de acetilcolinesterase é muito lenta em gatos jovens, e praticamente inexistente em gatos idosos (NORSWORTHY et al., 2004). Estes efeitos ocorrem mais facilmente na intoxicação por carbamato do que por organofosforado (NORSWORTHY et al., 2004).

Gatos são mais sensíveis e suscetíveis aos efeitos tóxicos dos organofosforados e carbamatos do que as outras espécies, embora o mecanismo para isso seja desconhecido (BOOTHE, 1990 c). Estes efeitos não se relacionam com capacidade metabolizadora hepática, pois os organofosforados são metabolizados por meio de colinesterases localizadas nas terminações nervosas (CHANDLER, 2006). Intoxicação desta natureza em gatos ocorre, especialmente, com o emprego de coleiras contra pulgas à base de diclorvós, sendo associadas duas síndromes ao uso de coleiras impregnadas com organofosforados (CHANDLER, 2006; NORSWORTHY et al., 2004). A doença espinhal pode resultar em ataxia ascendente de membros pélvicos, que ocorre 10 a 14 dias após a colocação de coleiras antipulgas e desaparece em seguida à sua remoção (NORSWORTHY et al., 2004). A coleira pode causar também dermatite local, se ficar muito apertada e úmida ou se for aplicada mais de uma coleira (NORSWORTHY et al., 2004). Habitualmente a remoção da coleira antipulgas resulta em cura, mas alguns gatos precisam de tratamento rigoroso com corticosteróides orais e locais (NORSWORTHY et al., 2004). Os sinais de intoxicação por organofosforados iniciam- se com inquietude, evoluindo para hiperexcitabilidade ou hipoexcitabilidade (NORSWORTHY et al., 2004). São comuns salivação e tremores musculares (fasciculações) (NORSWORTHY et

al., 2004; SOUZA e AMORIM, 2008), seguidos de vômito, diarréia, miose, bradicardia, dor abdominal e micção freqüente. A presença de cianose e tetania generalizada é sinal de toxicose avançada (NORSWORTHY et al., 2004). Uma intoxicação crônica ou retardada se manifesta como paresia ou paralisia, que pode ou não ser reversível (NORSWORTHY et al., 2004). Esses sinais precedem por curto lapso de tempo convulsões, falência respiratória e morte (NORSWORTHY et. al., 2004). Gatos podem tolerar exposições ao fention e clorpirifós durante várias semanas antes da manifestação de intoxicação, sendo a anorexia prolongada o sinal predominante (NORSWORTHY et al., 2004). Com uso de clorpirifós, também existe a possibilidade dos sinais surgirem depois de vários dias de exposição, sendo comuns anorexia, ataxia, paralisia de membros pélvicos e ventroflexão cervical (NORSWORTHY et al., 2004). Para essas duas toxicoses (fention o clorpirifós), pode ser necessário um tratamento com antídoto e apoio nutricional por várias semanas ou meses (NORSWORTHY et al., 2004). Tem- se relatado necrólise epidérmica tóxica em gatos tratados topicamente com enxágües contra pulgas à base de organofosforados (WILKINS, 1980). O malation parece ser um dos mais seguros organofosforados para ser utilizado em gatos (MACY, 1994). Uma pesquisa dos efeitos das coleiras antipulgas em gatos revelou alto número de reações adversas, variando de dermatite a morte (WILKINS, 1980). O tratamento de intoxicação aguda é de suporte, associado à administração do sulfato de atropina na dosagem de 0,1 a 0,2 mg/kg, por via endovenosa lentamente, sendo necessária repetição a cada 10 minutos, e após diminuição dos tremores musculares, a cada 60 minutos (SOUZA e AMORIM, 2008). Segundo Boothe (1990) e Jernigan (1988) os tratamentos associando atropina e cloridrato de pralidoxima (2-PAM) trazem melhores resultados. O cloridrato de pralidoxima é administrado na dose de 20mg/kg, por via intravenosa, podendo ser repetido após 60 minutos (JERNIGAN, 1988). O emprego do sulfato de atropina pode ser requerido após 24 e 48 horas (SOUZA, 2003).

3.5.17.2 Piretrinas e Piretróides

Intoxicações em gatos por estas substâncias são ocasionais e geralmente não são fatais, com exceção da toxicidade por dietiltoluamida (DEET). Entretanto, há alguma evidência de que gatos com menos de um ano de idade podem ser mais gravemente acometidos que os mais idosos (NORSWORTHY et al., 2004). Piretróides podem ser mais tóxicos se estiverem combinados com inseticidas sinérgicos. A intoxicação por piretróides fundamenta-se na sua capacidade de permitir o ingresso de quantidades excessivas de sódio nas células, resultando em excessiva estimulação nervosa (NORSWORTHY et al., 2004), sendo letargia e salivação abundante os sinais clínicos mais brandos (HARVEY, 2000), que podem evoluir para ataxia, tremores, hiperexcitabilidade, desorientação, hipotermia, midríase, vômito, diarréia, convulsões e, raramente, morte (NORSWORTHY et al., 2004). O tratamento para intoxicação por estas substâncias geralmente é feito com administração de diazepam por via endovenosa, na dose de 0,5 a 1,25 mg/kg, para controle de convulsões (NORSWORTHY et al., 2004). Carvão ativado associado a catártico osmótico (sorbitol a 70%) promove a remoção do inseticida residual do trato gastrointestinal (NORSWORTHY et al., 2004). Para remoção da toxina

remanescente da pele é importante banhar o gato com um xampu neutro (NORSWORTHY et al., 2004). O prognóstico é geralmente bom se o paciente for tratado rigorosamente, com exceção da toxicidade causada por DEET ou por combinações de inseticidas.

3.5.18 Tranqüilizantes

3.5.18.1 Clorpromazina

Fenotiazínico tranqüilizante, neuroléptico e antiemético. A clorpromazina inibe a ação da dopamina como neurotransmissor. Sua ação é similar à da acepromazina (PAPICH, 2009). Os felinos podem apresentar reações extra-piramidais como tremores musculares, trismo da musculatura mastigatória, ausência de reflexos posturais, letargia, diarréia e perda do tônus do esfíncter anal (VIANA, 2007). A dose recomendada para felinos segundo Viana (2007), é de 3 mg/kg/q 12 hs/vo ou 0,5 mg/kg/12 hs por via intravenosa, intramuscular ou subcutânea (tranqüilizante).

No documento Tathiana Mourão dos Anjos (páginas 57-61)

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