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Inovação em Sustentabilidade Ambiental nas Lavanderias Domésticas

2.8 A Inovação e o segmento das Lavanderias Domésticas

2.8.1 Inovação de Processo nas Lavanderias Domésticas

2.8.1.1 Inovação em Sustentabilidade Ambiental nas Lavanderias Domésticas

A inovação em sustentabilidade ambiental vem sendo discutida pelas empresas, como diferencial para melhora de competitividade e imagem da empresa junto ao mercado consumidor. Mas, a sustentabilidade ambiental no setor de serviços tem sido abordada com ações de curto prazo, muitas delas isoladas, mas, que não refletem um planejamento e visão a longo prazo necessários à implementação de estratégias que direcionem a cultura da empresa rumo aos objetivos de sustentabilidade.

O ambiente atual fornece condições mercadológicas mais favoráveis ao tema sustentabilidade se comparado com o passado e pode propiciar uma abordagem de mercado diferenciada, afetando a competitividade das micro e pequenas empresas. Mas, a abrangência a curto prazo, característica dessas empresas, conflita com a visão a longo prazo necessária às ações de inovação em sustentabilidade. Observa- se, de maneira geral, melhorias incrementais nas pequenas empresas, porém a inovação em sustentabilidade requer usualmente um posicionamento mais radical e de transformação organizacional. O comportamento inovador constante e

necessário, como o posicionamento destas empresas, e a capacidade de formar redes de relacionamento podem ajudar a superar essas dificuldades.

O conceito de sustentabilidade está atrelado à busca em atender às necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de futuras gerações em atender suas próprias necessidades (PIEMONTE, 2010). Para Bos-Brouwers (2010), atualmente, a inovação em sustentabilidade está focada em fornecer evidências do envolvimento das empresas no Triplo P (people, planet and profit ou pessoas, planeta e lucro), basicamente nas grandes empresas, geralmente multinacionais, e negligenciando o importante papel das pequenas e médias empresas.

O autor citado refere que existem diferenças significativas no processo de inovação entre grandes e pequenas/médias empresas. Assim, o conceito de sustentabilidade irá abranger requisitos de viabilidade econômica, ecologia, justiça social e aceitabilidade cultural. Mas, o autor observa que as pequenas empresas praticamente não publicam relatórios de sustentabilidade, inviabilizando a obtenção de dados representativos sobre suas atividades e os resultados obtidos, nem tampouco têm uma estratégia formal e escrita.

Com relação à linha de abertura de novos clientes e mercados, Heiskanen; Kasanen e Timonen (2005) discutem a participação do consumidor na avaliação e desenvolvimento das inovações em sustentabilidade das novas tecnologias e serviços que têm potencial para reduzir o uso de recursos naturais. Os autores exploram o uso compartilhado de produtos (ex.: produtos para lavanderias), como um modo de minimizar os efeitos ambientais ou mudar o foco de produtos para serviços, como por exemplo, o uso de lavanderias em lugar de adquirir produtos de lavagem.

Na mesma linha de lavanderias compartilhadas, Roy (2000) estudou a utilização compartilhada de serviços, exemplificando com o caso das lavanderias centrais para vários consumidores em lugar de maquinas de lavar em casas individuais versus lavanderias comerciais. O estudo considerou a comparação entre um centro de lavagem para residências vizinhas e uma grande lavanderia doméstica comercial, utilizando métricas de energia primária, água e detergente consumido (por quilo de

roupa lavada). Em razão da eficiência maior em termos de escala e operadores especializados, a lavanderia comercial reduziu em dez vezes o consumo de água e, aproximadamente, 16 vezes o consumo de detergentes em comparação com o centro de lavagem. Um fator médio de três vezes em termos de redução do impacto ambiental global (uso de recursos e poluição por quilo de roupa lavada) foi alcançado.

Shove (2002) estudou a sustentabilidade, sistema de inovação e as lavanderias e justifica a escolha das lavanderias domiciliares3, como exemplo do elevado consumo de água no oeste da Europa e Estados Unidos da América, chegando a 20% do total da água doméstica utilizada nos países. O total de uso médio por máquina é de 274 vezes por ano por residência no Reino Unido e 392 vezes nos Estados Unidos da América. A autora cita que as máquinas de lavar são customizadas e os detergentes coloridos para combinar com as tradições e preferências nos diferentes mercados. No Brasil, esses costumes e tradições são trazidos às lavanderias domésticas pelos próprios funcionários, assim como a operação de lavagem prévia (manual) das roupas e a forma de lavar em suas casas (ex.: nível de espuma alto, cheiro nas roupas, viscosidade elevada dos produtos, entre outros).

Na linha de mudanças de hábito nas lavanderias domiciliares com foco em sustentabilidade, Laitala; Klepp e Boks (2012) estudaram as mudanças de hábito de lavagem na Noruega. Estas mudanças, como já foi referenciado, influenciam diretamente os hábitos dos operadores das lavanderias domésticas, acabando por refletir no modo de lavar e avaliar a qualidade final da roupa lavada.

Os autores supracitados relatam problemas do cotidiano que ocorrem nos lares e também nas lavanderias domésticas comerciais: os tipos de têxteis são separados em lotes diferentes de lavagem, impedindo o enchimento total da máquina e aumentando o consumo; a quantidade utilizada de detergentes é influenciada pela dosagem manual com baixa precisão (o que ocorre também em muitas lavanderias domésticas sem automação na dosagem) e problemas de identificação do tipo de tecido nas etiquetas das peças.

3 Lavanderias domiciliares são as que se encontram dentro dos lares, ao contrário das lavanderias

Os mesmos autores, em outro trabalho sobre o mesmo tema, afirmaram que as práticas de lavagem estão em constante mudança, sendo influenciadas pelas normas sociais, culturais e morais. Observam também que, apesar das tecnologias em lavagem de roupa terem melhorado, o tempo de lavagem não reduziu.

Ao abordarem as lavanderias domiciliares (que operam nas residências das famílias), Heiskanen; Kasanen e Timonen (2005) estudaram o consumo sustentável, como um dos focos das políticas ambientais e das novas inovações tecnológicas que melhoram a ecoeficiência do consumo. Os autores exemplificam que a atitude de consumo sustentável pode levar ao menor uso de produtos e melhora na eficiência energética. Os domicílios do passado mantinham equipamentos antigos, com baixa eficiência. Os autores concluem que, hoje, o volume de roupa a ser lavada é maior, com maior variedade de tecidos e maior frequência no uso de equipamentos de lavagem, pois os equipamentos são menores (para se adaptarem aos espaços dos domicílios atuais).

Com relação aos insumos de lavagem, Laitala; Boks e Klepp (2011) enfatizaram que os detergentes estão tornando-se cada vez mais amigáveis ao meio ambiente em razão sobretudo das mudanças em suas formulações, utilizando matérias-primas mais sustentáveis, proporcionando inclusive processos de lavagem a temperaturas mais baixas com redução da energia.

Gallucci (2012) aponta que, no segmento das lavanderias brasileiro, o termo sustentabilidade ambiental vem sendo tratado com foco no processo produtivo (produtos para lavar e outros procedimentos). Mas a autora alerta sobre a biodegradabilidade das embalagens plásticas utilizadas na entrega das roupas e acrescenta que a tendência é que as lavanderias terão seus processos revistos sob a ótica da sustentabilidade ambiental, desde as fontes de energias utilizadas, passando pela produção limpa e instalações, até a entrega final das peças ao consumidor.

No Brasil, o segmento das lavanderias domésticas vem tendo algumas iniciativas no sentido de amenizar o impacto ambiental da atividade de lavagem de roupas:

a) A rede nacional de lavandeiras Lavasecco adotou o conceito de sustentabilidade baseado nos três "R" (reduzir, reutilizar e reciclar), utilizando sacolas retornáveis feitas com garrafas PET reutilizadas na entrega e recepção de roupas, porta- tíquetes em papel reciclado, substituindo o plástico e cabides ecológicos de papelão certificado (VEJA SÃO PAULO, 2010);

b) A Prilav Lavanderia (MT) atuou nos custos da cadeia produtiva, com secagem natural das roupas, com prazo de entrega superior a 24 horas, utiliza energia eólica nos exaustores e reaproveitamento de sacolas plásticas (SEBRAE, 2015).