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5. Recomposição do tecido social

5.3. Inovação Tecnológica

O período temporal delimitado pelo início dos anos 60 e a actualidade contemplou uma reestruturação da economia de Tuías propiciadora de um conjunto de transmutações que alteraram expressivamente o semblante da sociedade da freguesia.

A procura de terreno, pelos centros de decisão de sede urbana, que proporcione a construção de habitações e/ou de empresas industriais, no meio rural, adquiriu solidez, nas últimas décadas. A instalação de equipamentos fabris que possam prescindir das economias facilitadas pela rede infraestrutural e industrial urbana, ou que se revelem inconvenientes na proximidade das grandes cidades devido às propriedades poluentes de que se revestem, levou à ocupação de terrenos incultos e improdutivos e, até mesmo, de espaços agrícolas produtivos.

O Marco de Canaveses, concelho tradicionalmente de pendor ruralista, não se isentou deste processo de conquista de solos pela absorção e inserção de pólos industriais. Na sequência deste alargamento da industrialização urbana foi determinada, nos finais da década de 70, a implantação de uma zona industrial em território municipal. A sua localização pretendeu-se em terrenos de fácil acessibilidade, declives razoáveis e incluídos no perímetro da, à época, vila do Marco. Obtida a aprovação da Direcção do Planeamento Urbanístico de Entre-Douro e Minho, procedeu-se à planificação de um aglomerado industrial na freguesia de Tuías, uma vez que, dada a proximidade da povoação da sede concelhia, e, observada a satisfação dos requisitos impostos pelo empreendimento, foi esta a escolha homologada.

De acordo com o Regulamento instituído para a Zona Industrial, em deliberação da Assembleia Municipal do Marco de 8 de Março de 1983, entre outras determinações, ficou decidido que os lotes industriais se destinavam exclusivamente a estabelecimentos fabris sendo interdita a habitação dentro dos seus limites, mesmo quando integrada em dependências ou edifícios incluídos na unidade fabril. Era expressamente proibida a instalação de indústrias perigosas ou tóxicas. O acesso aos diferentes lotes seria

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assegurado por arruamentos internos da zona industrial, sendo impedido o acesso directo à estrada nacional em lotes contíguos. A criação de parques de estacionamento de veículos, ligeiros ou pesados, ficaria sob o encargo do expediente privado e seria dimensionado de acordo com a importância do respectivo estabelecimento industrial. Estavam, desta forma, criadas as condições para o desenvolvimento de um sector da economia até à data com muito pouca representatividade no município do Marco de Canaveses. O ramo da indústria que, entretanto, adquiriu maior relevância, foi o têxtil, o qual garantiu um número significativo de postos de trabalho na localidade.

Figura 14: Panorâmica aérea da Zona Industrial de Tuías.

A imagem reproduzida na figura 14 permite-nos observar a localização da Zona Industrial, detectável pelo aglomerado de telhados cinzentos situados do lado direito, no centro da fotografia aérea. Uma das preocupações que presidiu ao Projecto foi a preservação do equilíbrio entre espaços verdes e área ocupada pelas explorações fabris, precaução esta que, tal como se pode verificar através da imagem, foi consumada com sucesso. Contudo, uma significativa parcela das zonas anteriormente ocupadas por

campos e arvoredos foi, gradualmente, absorvida por habitações, empresas industriais, comerciais e de serviços, alterando desta forma o semblante paisagístico do território de Tuías cuja aparência denuncia, presentemente, a assimilação de características comuns às periferias urbanas.

As estruturas agrárias também sofreram algumas remodelações, no decurso das últimas décadas, ao nível das formas de exploração e dos produtos cultivados. A baixa rentabilidade da agricultura provocou o abandono das terras, factor que, progressivamente, reduziu os arrendamentos. Diminuíram os caseiros e diminuíram, de igual forma, os senhorios. Os proprietários não tinham muito interesse em arrendar porque ficavam com a terra tomada por um caseiro durante muitos anos, condição que nem sempre era vantajosa. Assim, começaram a explorar directamente a terra e contrataram jornaleiros, muito embora já se detectasse o recurso a este modelo de contrato, apesar de tenuemente, na década de 60. Havia casas de grandes proprietários que utilizavam os serviços dos jornaleiros diariamente. A Casa da Picota já utilizava este molde de exploração agrícola nos finais dos anos 70. Os jornaleiros eram pagos semanal ou mensalmente. Uma outra propriedade, constituída essencialmente por um pomar de significativas dimensões (a Casa de Ambrães), tinha um empregado próprio que, diariamente, cuidava da exploração.

Gradativamente a utilização de máquinas agrícolas no exercício da agricultura foi-se ampliando, circunstância que contribuiu para uma diminuição da necessidade de força humana braçal nas lides campesinas.

Nos anos 90, ainda que em baixa escala, distinguiam-se alguns proprietários agrícolas cuja lavra se destinava exclusivamente à venda dos produtos para grandes superfícies comerciais. A agricultura com objectivos mercantis e praticada de acordo com modelos característicos da indústria adquiriu alguma dimensão na freguesia. Estabelecia-se um protocolo ou contrato comercial com o cliente, usualmente um entreposto mercantil distribuidor dos produtos pelas grandes superfícies comerciais, que fazia a sua proposta de produção. Este encomendava uma determinada quantidade do género agrícola pretendido tendo, o produto cultivado, que obedecer a regras previamente estabelecidas: possuir o tamanho recomendado, não apresentar qualquer anomalia, no caso da fruta o teor de açúcar deveria obedecer a determinados padrões, etc… Um dos proprietários entrevistados cuja exploração se adequava ao modelo supracitado relatou que, na década de 90, recorria à produção de géneros em estufas. Inicialmente cultivava flores (floricultura). Depois, na base de um protocolo que estabeleceu com um entreposto,

alterou a espécie cultivada e iniciou uma agricultura de produtos hortícolas (horticultura). Produzia para comercializar e cultivava, exclusivamente para a empresa cliente, alface, pimento e couve-coração. Actualmente, na freguesia de Tuías, sobrevivem algumas explorações agrícolas que incluem, na sua produção, culturas destinadas ao comércio. Contudo, os géneros que mais se destacam nesta transacção são agora os frutos de espécie citrina e o vinho verde.

Conjuntamente, a formação de activos para as indústrias e para a agricultura consubstanciou-se através da criação de Entidades, ou Escolas, de Formação Profissional que garantem a aprendizagem de domínios profissionais concernentes aos sectores da economia local. A Escola Profissional de Agricultura, na freguesia de Rosém, faculta o aprendizado da actividade agrícola aos jovens que pretenderem expandir os seus conhecimentos nesta área. Em Tuías, o Centro de Serviços e Apoio às Empresas (CESAE) propicia alguns cursos a jovens e adultos desempregados vocacionados, essencialmente, para as áreas de Contabilidade e de Informática. A Multiformactiva é outra escola de formação profissional, com a particularidade de se situar precisamente em plena Zona Industrial. Nesta escola é levada a efeito uma diversidade de aprendizagens através dos variados cursos que na mesma são proporcionados.