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INOVAÇÕES INCREMENTAIS: EM QUE E QUANTO, COMO E PARA QUEM INOVAR?

4 DESAFIOS ECONÔMICOS DO MERCADO DE BAIRRO DE SALVADOR

4.1 INOVAÇÕES INCREMENTAIS: EM QUE E QUANTO, COMO E PARA QUEM INOVAR?

No contexto heterogêneo do mercado de bairro de Salvador a decisão de inovar dos minimercadistas não parte de uma mesma realidade: além das idiossincrasias internas a cada firma - o modo particular como essa se organiza e se relaciona com seus capitais físicos e humanos-, há também a particularidade do ambiente externo a esse tipo de habitat dos agentes econômicos. Nesse sentido, a combinação de estratégias para responder aos problemas econômicos intrínsecos às inovações incrementais - Em que e quanto inovar? Como inovar? Para quem inovar? - é resultante de estímulos (vivencias) internos e externos aos minimercados.

A resposta a cada um dos mencionados problemas tangíveis às inovações stricto sensu do mercado de bairro da capital baiana parte do princípio da escassez dos

recursos e das ilimitadas necessidades dos agentes econômicos que realizam aquele segmento do pequeno varejo alimentar. Trata-se de um problema comum à economia: o problema da alocação de recursos escassos frente às infinitas necessidades humanas.

Pautando-se nessas restrições econômicas21, têm-se que:

 Em que e quanto inovar? Quais inovações serão implementadas no minimercado (produto, processo, marketing e/ou organização) e em que proporção essas deverão ser colocadas em prática para melhor disposição de produtos aos consumidores? A resposta depende do perfil consumidor, da sua utilidade e da sua satisfação, bem como depende das vias distribuidoras (indústria e atacado) dos bens e serviços apresentados22.

 Como inovar? Quais recursos (próprios ou de terceiros) permitem a incorporação das inovações incrementais nos minimercados?

 Para quem inovar? A qual público é destinado o esforço da prática inovativa stricto sensu? Seguindo o ensinamento de Rizzieri (2015, p.12) sobre para quem produzir, “fatalmente, para os que têm renda” proporcional às inovações de um determinado minimercado.

À luz das observações realizadas nas instalações dos minimercados dos bairros representativos nobres e periféricos da cidade do Salvador é possível apresentar consideráveis respostas sobre os problemas econômicos inerentes às inovações incrementais. Cabe destacar que todos os proprietários dos minimercados - como é característica geral dos empresários - empregam as inovações incrementais tentando potencializar seus lucros e o bem estar dos seus clientes.

21 A tríade de problemas econômicos inovativos aqui discorrida é uma adaptação dos problemas econômicos básicos ensinados por Rizzieri (2015).

22 O subcapítulo 5.2 delineará sobre a influência dessas vias distribuidoras na resolução desse problema econômico.

Nos minimercados predominantemente comprometidos a atender um padrão consumidor sofisticado e exigente, em que e quanto inovar? As inovações assistidas nos bairros representativos Pituba, Graça e Barra apontam a busca constante dos proprietários dos minimercados em implementar todo o rol de inovações (produto, processo, marketing e organização).

As gôndolas do mercado de bairro centrado em atender as classes A e B dispõem, mesmo que em pequeno estoque, de produtos e marcas variadas de maior valor agregado. A renda do público alvo desse perfil de minimercado ao ser predominantemente elevada concede aos proprietários menor aversão ao risco de inovar. A esse perfil de proprietário o estudo da dinâmica do mercado é o seu cotidiano, pois o seu público-alvo é mais propenso a adaptar-se às novas e sofisticadas tendências do mercado.

Nesse tipo de estabelecimento a presença de inovação de processo é intrínseca às operacionalizações cotidianas. Inova-se em automação e informatização como organismos condutores de melhores desempenhos e de atratividade de um público atento ao atendimento formalizado, o qual proporciona maior economia de tempo.

O marketing assistido nos bairros nobres realiza-se consideravelmente na faixada do estabelecimento, no apresentar dos produtos, no uniforme dos colaboradores e nos serviços prestados. A impecabilidade dos minimercados dirigidos às classes A e B da grande metrópole consiste em uma manifestação das inovações incrementais rotulada marketing. Através da imagem límpida predominante23 nos minimercados voltados àquelas classes realiza-se um excelente marketing sem recorrer à grande mídia.

A organização formalizada presenciada em alguns minimercados dos bairros nobres representativos responde também ao problema econômico em que inovar. Consiste sua prática na materialização das novas tendências do mercado bem como no amparo dessas tendências.

23 Predominante no sentido do mercado de bairro das classes de elevado poder aquisitivo abraçar, na sua grande maioria, instalações sofisticadas. Alguns estabelecimentos caracterizados como mercado de bairro de perfil simples - sem inovações tendenciosas do mercado - também podem ser encontrados em alguns bairros nobres, como fora assistido nos bairros Pituba e Barra.

As instalações dos minimercados assistidos nos bairros Pituba, Graça e Barra permitiram identificar a inovação incremental organização como um elemento cerne ex ante e ex post às demais inovações incrementais. Hipoteticamente, a importância da busca por inovar-se organizacionalmente reside na melhor gestão dos produtos e serviços de alto valor agregado a disposição dos consumidores.

As inovações incrementais concretizadas nos bairros de alto padrão de consumo de Salvador são proporcionais a esse padrão. A atuação do público-alvo via demanda por atendimento diferenciado e sofisticado é determinante à incorporação de inúmeros mecanismos de apreensão a esse perfil consumidor.

A realidade das instalações dos minimercados dos bairros periféricos de Salvador, confrontada com o que outrora fora apresentado no problema econômico em que e quanto inovar inerente à realidade dos bairros opostos, mostra uma dinâmica de mercado lenta, embora de forte apreço à população para a qual esse tipo de varejo é orientado.

A maioria dos estabelecimentos observados nos bairros periféricos representativos - Alto das Pombas e Engenho Velho da Federação - inova em produtos e marcas proporcionais à renda preponderante do seu público consumidor - classes C e D. As gôndolas do mercado de bairro periférico apontam inovações incrementais “superficiais”, ou seja, tênues implementações de melhorias, visando atender ao ínfimo segmento do consumidor às novas tendências do mercado.

A operacionalização nessa manifestação do pequeno varejo alimentar dado à tímida inovação de processo é pouco ou não desenvolvida. O segmento das novas tendências tecnológicas verificado está na adoção das máquinas destinadas à utilização dos cartões de débito e crédito. A automação voltada à gestão de estoques e à gestão financeira pouco foi percebida nos estabelecimentos.

O marketing nos minimercados periféricos apresenta-se timidamente na sagacidade do proprietário do estabelecimento em melhor apresentar um produto que acredita ser promissor a uma maior margem de lucro, como, por exemplo, a disposição de bebidas

de marcas conhecidas juntamente com um bem complementar de marca conhecida e que desperta a atenção do seu público. A faixada da maioria dos minimercados assistidos mostrara-se pouco atrativa. Poucos são os estabelecimentos que utilizam uniformes visando o marketing. Alguns utilizam carros de som propaganda pelo bairro ao prestarem serviços delivery.

Como fora hipoteticamente apresentado, os minimercados dos bairros periféricos de Salvador residem em um tempo tecnológico lento, o que torna a inovação organizacional pouco aparente. Uma vez que essa inovação incremental é uma pré e pós-condição das demais inovações, a dinâmica emergente nos minimercados das periferias de Salvador é pouco dependente da inovação voltada à organização interna.

O próximo problema econômico a ser inferido é como inovar nos minimercados de Salvador. Não diferente de outros segmentos da economia, a implementação de melhorias no mercado de bairro depende da formalização, do planejamento, da sagacidade e do refinamento das tendências do mercado. Além disso, para inovar é preciso de recursos próprios ou de terceiros, alocando-os de maneira a potencializar o retorno financeiro e o bem estar do público-alvo. Esse, por sua vez, é decisivo aos retornos das melhorias incorporadas, pois é a fonte de receita. O ato de inovar, independentemente do nível tecnológico ou organizacional, remete-se a atratividade e fidelidade do consumidor, seja esse de baixa, média ou alta renda.

O comparativo entre os tipos de bairros da capital baiana permite identificar maior formalização na implementação de melhorias nos minimercados orientados a atender as classes A e B, bem como o planejamento e o refinamento das novas tendências do mercado. As instalações desses minimercados dizem muito sobre a receptividade das inovações incrementais adotadas. A grande maioria dos minimercados visitados nos bairros nobres é formal e dotado de uma agenda estratégica voltada a alocar melhor o investimento realizado nas suas instalações como um todo.

O tímido tempo tecnológico percebido no mercado de bairro periférico de Salvador permitiu captar rasas formalidades na receptividade das melhorias adotadas. O planejamento é evidente na preocupação dos proprietários dos minimercados em estarem sempre presentes nos estabelecimentos verificando as demandas e

contingências desses. Quanto ao refinamento das novas tendências do mercado, dado o poder aquisitivo do público para o qual os minimercados das periferias de Salvador são orientados, esse é minimamente contemplado, apesar do esforço de algumas lojas em dispor em suas gôndolas de marcas famosas que estão sempre a inovar e são comuns ao consumo das diferentes classes sociais.

Comum em responder o problema econômico como inovar é a sagacidade dos proprietários dos minimercados. A percepção cotidiana aguçada das suas realidades é o que o impulsionam a dinamizar, a elevar a expectativa de vida dos seus negócios mesmo diante da escassez de recursos.

A qual público é destinado o esforço da prática inovativa stricto sensu dos minimercados de Salvador é a última problemática econômica a ser discorrida conforme as observações captadas nos bairros representativos nobres e periféricos da capital.

Os proprietários dos minimercados inovam conforme as suas realidades locais; inovam para quem tem renda para usufruir dos seus esforços inovativos. Sem ser observada a renda dos indivíduos o risco do não retorno das incorporações de novos produtos e/ou marcas, processos, marketing e organização torna-se maior.

O mercado de bairro nobre inova para um público consumidor que dispõe de maior poder aquisitivo para contrair os seus produtos de maior valor agregado, materializados não só pelo que são, mas também pela forma como são apresentados àquele público.

As padarias sofisticadas encontradas em alguns minimercados exemplificam a concretização do valor agregado dos produtos. O famoso pão francês, comum a mesa de qualquer família, difere-se do pão francês encontrado nos minimercados das periferias por ter como um dos seus valores agregados melhor forma e qualidade na preparação. O público que busca por melhor qualidade desse produto, aparentemente comum, dispõe de melhor renda; para esse público é que as melhorias de processo são voltadas.

Responder a tais problemas econômicos relativos às inovações incrementais dinamizadoras do mercado de bairro da capital baiana é um dos desafios cotidianos dos proprietários do pequeno varejo alimentar em quaisquer dos seus formatos. O ritmo frenético da cidade do Salvador e as mudanças do padrão de consumo dos residentes dos bairros é um desafio inerente as problemáticas econômicas inovativas.

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