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Inquérito por entrevista

No documento A assembleia de turma e a hora do cidadão (páginas 99-102)

C APÍTULO II – M ETODOLOGIA

1. Enunciação e justificação do método escolhido

4.3. Inquérito por entrevista

Por último, como técnica de recolha de dados, foram realizados os inquéritos por entrevista, sendo aplicados tanto aos alunos como à professora cooperante.

Os inquéritos por entrevista são, segundo Sousa (2005), “um instrumento de investigação cujo sistema de colecta de dados consiste em obter informações questionando directamente cada sujeito”. O mesmo autor afirma que ao utilizar o inquérito por entrevista é possível que para além das perguntas que surgem no decorrer da conversa, “(…) se efectuem os porquês e os esclarecimentos circunstanciais que possibilitam uma melhor compreensão das respostas, das motivações e da linha de raciocínio que lhes estão inerentes” (p. 247).

Sem dúvida, que a mais valia da entrevista é a sua adaptabilidade, ou seja, “(…) um entrevistador habilidoso consegue explorar determinadas ideias, testar respostas, investigar motivos e sentimentos, coisa que o inquérito nunca poderá fazer” (Bell, 2002, p. 118). No entanto, é imprescindível que durante a colocação das questões, o entrevistador saiba “(…) ouvir, isto é, não interromper a linha de pensamento do entrevistado, aceitar as pausas, e, em geral, aceitar tudo o que é dito numa atitude de neutralidade atenta e empática” (Afonso, 2005, p. 99).

De acordo com as circunstâncias, uma entrevista pode ser classificada em três grandes categorias: livre, semi-dirigida ou dirigida. Designa-se por entrevista livre “(…) quando o entrevistador se abstém de fazer perguntas que visam reorientar a conversa” (Ketele & Roegiers, 1998, p. 21). Neste caso, o entrevistado pode “(…) expressar as suas opiniões e sentimentos com total abertura e liberdade” (Sousa, 2005, p. 249).

89 Contudo, este tipo de entrevista requer “(…) muita experiência e a sua análise exige muito tempo” (Bell, 2002, p. 121).

Já a entrevista semi-dirigida aplica-se “(…) quando o entrevistador tem previstas algumas perguntas para lançar a título de ponto de referência” (Ketele & Roegiers, 1998, p. 21). Neste tipo de entrevista “(…) há uma certa orientação, geralmente no início da entrevista, deixando que o entrevistado siga depois a sua linha de raciocínio, intervindo apenas nos momentos em que o sujeito possa estar a desviar-se do assunto em questão” (Sousa, 2005, p. 249).

A entrevista pode ainda ser dirigida, por vezes também designada por fechada ou padronizada, quando, de acordo com Ketele & Roegiers (1998) “(…) o discurso da pessoa entrevistada constitui exclusivamente a resposta a perguntas preparadas antecipadamente e planificadas numa ordem precisa” (p. 21). Neste tipo de entrevista, “o entrevistador segue um guião previamente estabelecido, com uma série de perguntas predefinidas, de resposta curta e objectiva, quase como se fosse um questionário aplicado verbalmente” (Sousa, 2005, p. 248). Posto isto, para o presente projeto de investigação aplicámos, exclusivamente, a entrevista semi-dirigida, uma vez que formulámos questões com o objetivo de adquirir informação para dar resposta aos objetivos e às perguntas colocadas, dando sempre liberdade de expressão e interrompendo apenas quando as respostas não iam ao encontro das questões colocadas. É importante realçar que Piaget foi um dos pedagogos que utilizou esta técnica exaustivamente durante os seus estudos sobre a inteligência das crianças. Neste sentido, Piaget (1972, citado por Sousa, 2005) refere que:

O bom investigador deve, efectivamente, reunir duas qualidades muitas vezes incompatíveis: saber observar, ou seja, deixar a criança falar, não desviar nada, não esgotar nada e, ao mesmo tempo, saber procurar algo de preciso, ter a cada instante uma hipótese de trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para controlar (p. 249). As entrevistas podem ser feitas individualmente ou em grupo. Sendo que neste último caso, as entrevistas podem “(…) revelar-se interessantes, quer por razões de ganho de tempo, quer porque os efeitos procurados se situam mais ao nível das interacções entre diferentes pessoas do que nos factos precisos” (Ketele & Roegiers, 1998, p. 21). No entanto, esta dinâmica pode levantar alguns problemas específicos. Afonso (2005) defende que por um lado, “a dificuldade decorre do duplo papel a assumir pelo investigador (entrevistador e moderador). Outra dificuldade que pode

90 fragilizar a validade dos dados está relacionada com a influência do colectivo sobre o indivíduo, enviesando, assim, o discurso produzido” (p. 101).

Apesar destas limitações, realizámos os inquéritos por entrevista após duas semanas de terminar o Estágio III e aplicámo-los a 16 alunos da turma, visto que uma das crianças que frequentava o horário normal faltou às aulas nesse dia e as três crianças com necessidades educativas especiais não frequentavam todas ou nenhuma das atividades desenvolvidas no âmbito do projeto. Os alunos foram então divididos em três grupos de acordo com o critério de heterogeneidade de género, ou seja, um dos grupos era composto por crianças do sexo masculino, outro grupo era composto por crianças do sexo feminino e outro era misto, isto é, tendo crianças tanto do sexo masculino como do sexo feminino. Para além disso, cada grupo era formado por crianças que criavam poucos conflitos ou mesmo nenhuns e por crianças que tinham maior facilidade em criar conflitos.

Estas entrevistas realizadas tanto às crianças como, posteriormente à professora, possibilitaram conhecer as diferentes noções que cada um tem sobre o trabalho desenvolvido, visto que “(…) estes processos tornam possível medir o que uma pessoa sabe (informação ou conhecimento), o que gosta e não gosta (valores e preferências) e o que pensa (atitudes e crenças)” (Tuckman, 2005, p. 307). Assim sendo, para elaborar as entrevistas tanto para as crianças como para a professora, a primeira fase consistiu em especificar as variáveis a medir e só depois elaborar as questões com base nas variáveis. Desta forma, foram elaborados dois guiões de entrevista. De acordo com Afonso (2005), o guião deve ser construído:

“(…) A partir das questões de pesquisa e eixos de análise do projecto de investigação. A sua estrutura típica tem um carácter matricial, em que a substância da entrevista é organizada por objectivos, questões e itens ou tópicos. A cada objectivo corresponde uma ou mais questões. A cada questão correspondem vários itens ou tópicos que serão utilizados na gestão do discurso do entrevistado em relação a cada pergunta” (p. 99). No capítulo III serão apresentados os guiões elaborados tanto para os alunos como para a professora, bem como as respetivas respostas, sendo analisadas para uma melhor compreensão, a partir da Análise de Conteúdo elucidada no tópico posterior.

91 5. Descrição dos dispositivos e procedimentos de análise de informação

No documento A assembleia de turma e a hora do cidadão (páginas 99-102)