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O olhar dos alunos sobre as AT

No documento A assembleia de turma e a hora do cidadão (páginas 121-124)

Ocorrências registadas por categoria nos Diários de Turma

1.2.1. O olhar dos alunos sobre as AT

Procurámos o ‘olhar’ dos alunos na análise de conteúdo realizada ao inquérito por entrevista aplicado. Como tal voltamos a relembrar que as entrevistas foram feitas apenas a 16 alunos que, por sua vez, foram divididos em três grupos de acordo com o critério de heterogeneidade de género. Para além disso, cada grupo era formado por crianças que criavam muitos conflitos, poucos ou praticamente nenhuns. Apresentamos então os grupos formados:

Grupo A - Um grupo só do sexo masculino formado pelos seguintes elementos: DC6, JM8, LF11, RP19 (muito pouco conflituosos), DM5 (pouco conflituosos) e GG e ON18 (muito conflituosos);

Grupo B - Um grupo só do sexo feminino formado pelos seguintes elementos: MP15 e SL20 (muito pouco conflituosas) e AM2 e AA3 (pouco conflituosas);

Grupo C - Um grupo misto formado pelos seguintes elementos: MV13, LC10 e OG17 (muito pouco conflituosos), CR4 (pouco conflituosa) e JM9 (muito conflituoso).

Este critério aplica-se a toda a entrevista realizada aos alunos que tem como base o guião de entrevista em anexo (Anexo 20). Tendo em conta o guião, vamo-nos focar apenas na análise das questões realizadas acerca das AT. Destacamos ainda que as respostas dos alunos procuram reforçar a utilidade deste dispositivo, bem como comprovar todas as aprendizagens adquiridas. Deste modo, não encontrámos

111 necessidade em transcrever as entrevistas, uma vez que nos queremos focar no essencial, apresentando as respostas dadas com o maior rigor possível. Considerando também o facto de os alunos terem sido entrevistados em grupos influenciou de algum modo as repostas de certos alunos, ou seja, muitos dos alunos limitavam-se a responder que tinham a mesma opinião que determinado colega. Por esta razão, não apresentaremos as respostas de todos os alunos. Contudo, sempre que se justificar apresentaremos as respostas dos alunos organizadas em quadros e devidamente categorizadas, de modo a perceber de forma eficaz as diferentes perspetivas.

Para além disso, gostaríamos de referir que a estrutura do guião de entrevista é diferente da estrutura da análise, ou seja, durante a entrevista as questões colocadas aos alunos começaram pelo tema dos conflitos e só depois as crianças foram interrogadas em relação às AT. Na presente análise, a ordem é inversa, uma vez que pretendemos partir do todo para o particular, ao contrário da entrevista, em que as primeiras questões tiveram que ser acerca dos conflitos pois algumas das crianças desconheciam o termo, face ao pouco uso durante a mediação das AT.

Assim começamos por evidenciar as respostas face à primeira questão, relativamente à importância atribuída à realização das AT (Anexo 21). Como podemos verificar, à questão: ‘Foi importante a realização das Assembleias de Turma? Porquê?’, todos os alunos responderam afirmativamente, podendo enquadrar as justificações apresentadas em três categorias distintas. Maioritariamente os alunos revelaram que as AT foram importantes na melhoria dos comportamentos, como no exemplo: “Sim, para nos ajudar a portar bem” (MP15), bem como na resolução de conflitos, como por exemplo: “Sim, porque assim resolvemos os problemas que estão escritos no DT” (SL20). Para além disso, os alunos destacam ainda dois factores pertinentes, o primeiro referente às aprendizagens, como: “Sim, porque foi importante lermos o que aprendemos para não nos esquecermos” (ON18); e o segundo referente à planificação da professora, como demonstra a evidência: “Sim, porque ajuda a professora a fazer as tarefas da escola” (AM2). Posto isto, é possível depreender que os alunos exploraram mais as AT para a resolução de conflitos, no entanto, conseguiram identificar mais duas das vantagens deste dispositivo, o facto de cimentar as aprendizagens realizadas ao longo da semana e ser um recurso útil na planificação da professora titular, tendo em conta as motivações das crianças escritas na coluna «O que gostaríamos de fazer».

112 Relativamente à segunda questão: ‘O que é que aprenderam com as Assembleias de Turma?’, os alunos apresentaram respostas muitos semelhantes dentro dos grupos, como tal, apresentamos apenas uma resposta para cada grupo de modo a revelar todas as aprendizagens realizadas pelos alunos. Assim, os elementos do Grupo A revelaram que aprenderam a relativizar mais os conflitos e a dar mais valor à amizade, tal como demonstra a seguinte evidência: “Aprendi que é mais importante a amizade do que os conflitos, devemos continuar com a amizade e não escrevermos nunca mais os conflitos” (ON18). Por sua vez, os alunos do Grupo B aprenderam a não utilizar a agressividade física durante os conflitos, mas escrever no DT os incidentes caso não os consigam resolver de forma autónoma, como revela a resposta dada pela aluna MP15: “Aprendi que não devemos lutar e escrever no DT”. Por último, as crianças do Grupo C, apresentam respostas muitos semelhantes ao grupo anterior, como tal gostaríamos de destacar um caso específico, o do aluno JM9, que responde que: “Aprendi a pensar antes de bater”. Esta evidência será também comprovada durante a análise dos conflitos, no entanto, gostaríamos de dar principal destaque a esta resposta, tendo em conta que o aluno em questão recorria com muita frequência à agressividade física quando as opiniões dos outros eram diferentes das suas, sendo um grande obstáculo durante as brincadeiras com os outros colegas. Assim, é possível inferir que as AT ajudaram a diminuir a impulsividade e consequentemente as manifestações de agressividade do aluno JM9.

A terceira e última questão realizada aos alunos acerca das AT foi: ‘Estão contentes pelos facto de a professora continuar a fazer as Assembleias de Turma? Porquê?’. Perante esta pergunta, todos os alunos responderam afirmativamente justificando-se que, desta forma, passaria a ser a professora titular a ajudar a resolver os problemas para poderem continuar a ter um bom comportamento como revelam as evidências: “Sim, porque agora fica ela a ajudar-nos a resolver os problemas” (JM8) e “Para continuarmos a ter um bom comportamento” (CR4). Acrescentam ainda que o facto de a professora titular dar continuidade ao dispositivo possibilita aos alunos continuarem a ser eleitos para a mesa da Assembleia, tal como refere a aluna MP15: “Sim, para continuarmos a escolher o presidente, o vice-presidente e o secretário”. Revelando um grande entusiasmo pela recompensa/responsabilidade assumida.

Em suma, podemos fazer um balanço positivo das respostas dadas pelos alunos acerca do dispositivo implementado, indo ao encontro, nomeadamente, dos objetivos

113 definidos. Assim, é possível inferir que as AT ajudaram na mediação dos conflitos, destacando-se principalmente pela diminuição da agressividade física e melhoria das relações interpessoais através do valor atribuído à amizade.

No documento A assembleia de turma e a hora do cidadão (páginas 121-124)