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CAPÍTULO III O PROJETO: VAMOS PEGAR O MUNDO COM AS NOSSAS

4.2. Recolha de dados Procedimentos e instrumentos aplicados

4.2.3. Inquérito por entrevista

Para Carmo e Ferreira (2008), o inquérito por entrevista deve ser utilizado nos casos em que o investigador tem questões relevantes, cuja resposta não se encontra na documentação disponível (p.144), o que se enquadra no nosso estudo, uma vez que não pudemos recolher todos os dados a partir do visionamento de filmes e fotografias e de registos escritos e pictográficos sobre o festival.

Faltou-nos sentir o ―pulsar‖ dos intervenientes: o tom da voz, as expressões faciais na retroação sentida do festival (agora com algum distanciamento); a multiplicidade de olhares sobre o que ficou retido na memória e sobre o que foi projetado no agora ou no futuro, a partir do evento.

Acreditamos que as entrevistas são uma técnica que nos trouxe esse outro olhar, para uma compreensão mais aprofundada dos pensamentos e sentimentos dos entrevistados sobre o festival.

4.2.3.1. Inquérito por entrevista às crianças

Como afirmam Graue e Walsh (2003) na investigação com crianças são as crianças que detêm o saber […] e que sabem mais do que elas próprias sabem que sabem (pp. 76,139).

Entrevistar crianças não é o mesmo que entrevistar adultos, mas o nosso conhecimento que advém dos longos anos de prática profissional, como educadora de infância, ajudou-nos a encontrar as melhores estratégias para o fazer.

Uma das sugestões feita pelos mesmos autores (op. cit, 2003) é que a entrevista aos pares ou em pequenos grupos poderá ser uma estratégia extremamente útil, uma vez que as crianças ficam mais descontraídas quando estão com um amigo em vez de a sós com o adulto. Ajudam-se uns aos outros nas respostas (p. 141).

Crentes em termos maior sucesso com esta estratégia apontada pelos autores, todas as crianças e alunos (da amostra da população) foram entrevistadas em pequenos grupos, de acordo com proximidades etárias.

O espaço escolhido para as entrevistas foi intencional: a sala de atividades do jardim de infância, espaço reconhecido por todas as crianças e que se traduziu para

as crianças do 1º ciclo num retorno ao seu jardim de infância, e para as crianças do jardim de infância num espaço conhecido e afetivo, sem elementos intimadores.

Trataram--se de entrevistas em situação de ambiente natural das crianças, de forma a fazer despontar significados que, de modo espontâneo, foram expressos verbalmente e pictograficamente por elas.

Outra sugestão apontada por estes autores e da qual nos servimos (op.cit, 2003) foi a utilização de objetos. Utilizámos fotografias, filmes e outros artefactos (marionetas criadas para o festival, portfólio de grupo) para ativar a memória e material de desenho para permitir um ambiente mais lúdico com a realização de representações plásticas.

Utilizámos um guião de entrevista que serviu como orientação, sem termos pretendido que fosse rígido.

4.2.3.2. Inquérito por entrevista aos adultos

Como referem Bogdan e Biklen (1994) a técnica da entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo (p. 134).

Para o inquérito por entrevista aos adultos utilizámos como instrumento entrevistas de carácter semiestruturado que possibilitaram a interação entre nós e os entrevistados encorajando-os a expressarem livremente as suas ideias. Este tipo de entrevista não é totalmente aberto […] e o entrevistador, [….] tanto quanto possível, ―deixará andar‖ o entrevistado para que este possa falar abertamente (Quivy e Campenhoudt 1992, p. 194). De igual modo, possibilita estabelecer previamente uma estrutura, simplificando assim grandemente a análise subsequente(Bell, 2002, p. 122). Ao utilizarmos este instrumento tivemos como objetivo recolher uma grande quantidade de informação sobre o objeto de estudo, pois […] este método é especialmente adequado na reconstituição de um processo de acção, de experiências ou de acontecimentos passados (op. cit., p. 195).

Embora a nossa primeira opção tenha sido a entrevista presencial, acabámos por considerar metodologicamente viável a possibilidade de responderem à entrevista por escrito. A professora supervisora de estágios da Escola Superior de Educação de Santarém e a Presidente da Junta de Freguesia do Vale de Santarém adotaram essa possibilidade ao alegarem a ocupação extrema da agenda. A aluna estagiária do curso de educação de infância respondeu à entrevista por escrito, por razões que se prenderam com a distância que envolvia o entrevistador e a entrevistada, a qual impossibilitou a presença dos envolvidos nesta ação.

Construímos um guião de entrevista que foi adaptado a cada entrevistado e grupos de entrevistados de modo a permitir que fossem dadas respostas livres e, simultaneamente, nos proporcionasse elementos de reflexão e análise ricos para o nosso estudo.

As entrevistas passaram por vários processos que passamos de seguida a elencar:

i. Redação das entrevistas semiestruturadas fundadas nos objetivos que delineámos para esta investigação;

ii. Aferição da sua explicitação por uma colega, de modo a tornar-se num documento que os sujeitos entrevistados compreendessem;

iii. Após o passo anterior, seguimos para o contacto direto a quase todos os entrevistados. Excluíram-se as alunas estagiárias de educação de infância da Escola Superior de Educação de Santarém, por se encontrarem a residir e a trabalhar longe das localidades onde trabalhamos e residimos cujo contacto foi realizado via correio eletrónico;

iv. Seguidamente, apresentámos o estudo e seus objetivos aos entrevistados (adultos e crianças) e a intenção de fazerem parte do nosso grupo de entrevistados.

v. Após a anuência dos mesmos foram divulgados os objetivos das entrevistas; vi. Paralelamente à construção dos guiões da entrevista semidirecta, foram

elaborados dois documentos que serviriam para a cedência de autorização da entrevista; um para os encarregados de educação das crianças a entrevistar e outro para a anuência das próprias crianças entrevistadas.

Depois de possuirmos as autorizações dos encarregados de educação e das próprias crianças a entrevistar, formulámos um pedido de autorização formal à Diretora do Agrupamento de Escolas e Ministério da Educação, para aplicação dos inquéritos por entrevista às crianças nos estabelecimentos de ensino, que são os procedimentos a cumprir para a realização de estudos de investigação em meio escolar.