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DESVENDANDO AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS JAPONESAS

3. A Inserção do Mangá no Brasil

A ligação do Brasil com o Japão é muito próxima. No Brasil, a partir de 1908, chegava no Porto de Santos o navio “Kasato Maru”, com a primeira grande leva de imigrantes, tornando o Brasil a maior colônia de descendentes japoneses fora do Japão, com uma

população de 1,5 milhão de descendentes. Esta “escolha” pelo Brasil não foi ao acaso: “Proibida a entrada na Austrália, discriminados nos Estados Unidos, perseguidos no Canadá e agora limitados também no Hawai e Ilhas do Pacífico, os nossos colonos trabalhadores encontraram no Estado de São Paulo uma rara felicidade e um verdadeiro paraíso”.39

O mangá esteve presente desde o início deste processo de imigração e nas formações destas comunidades devido a sua função pedagógica de manter nas crianças o hábito da leitura do japonês. Da mesma forma esta comunidade que se formou foi responsável por introduzir várias gerações de desenhistas cujas linguagens se aproximavam do mangá.40

Todavia, o mangá até então não chegava às bancas de todo o Brasil, sendo circunscrito as comunidades, da mesma forma, apesar do expressivo número de desenhistas descendentes de japoneses, não havia uma tendência por parte deles em desenhar no estilo mangá. Muitos desenvolveram técnicas próprias41 ou produziram seus desenhos nas indústrias de quadrinhos42. A inserção do mangá no Brasil de forma mais expressiva, com publicações diversas, ocorre paralelamente a um outro fenômeno que foi uma crise no mercado de quadrinhos de super-heróis monopolizados pela Editora Abril Jovem e uma rápida, porém, determinante, quebra no sistema de distribuição de revistas no país, que ocasionou uma ausência de várias revistas em algumas regiões, fazendo com que a outras editoras nacionais conseguissem disponibilizar seus

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Um recorte de um relatório enviado ao Japão, em 1905 pelo seu Ministro plenipotenciário no Brasil, Sr. Suguimura, nos dá claramente as circunstâncias que favoreceram a imigração japonesa e o crescimento da comunidade no Brasil. Fonte: Museu Histórico da Imigração Japonesa, versão on-line.

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A partir do pioneiro Shiyozo Tokutake, o originalíssimo Júlio Shimamoto, passando pelas primeiras gerações com Paulo e Roberto Fukue, Fernando Ikona, cláudio Seto, Keize Minami, Kimio shimizu, Paulo Hamazaki, Francisco Noriyuhi, Roberto Kussumoto, Cláudio Nakaito, Jorge Yasama, Henrique Taiyo Sagawa, as desenhistas: Júlia Takeda, Neide Nakazato e uri Maeda, até os mais recentes como Nelson Yoshimura e Wiliam Kobata. Fonte: Luyten, 2000; Moya, 2003.

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materiais e fisgar um público órfão, antes consumidores de quadrinhos de super-heróis, como falamos no capítulo 3.

Apesar de o mangá ter surgido no Brasil nas comunidades nipônicas no sul e sudeste do país e alguns materiais já terem sido publicados e traduzidos como foi com o “Lobo Solitário”, o fenômeno do mangá não havia conseguido sucesso, nem despertado tanto interesse da população brasileira que não fosse de origem nipônica. Em contraponto, outros veículos da cultura pop japonesa alavacaram muito sucesso, como os Anime (o desenho animado) e os Tokusatsu43 e Sentai44 (também chamados Live-Action), que vem fazendo sucesso no Brasil há mais de 40 anos. Os mangás só começaram mesmo a emplacar depois da febre de animes na televisão devido ao grande sucesso de um desenho animado em particular. Em 1994, chegava ao Brasil45 a série Cavaleiros do Zodíaco46, desenho animado da Toei Animation e da Shueisha, desenvolvido por Massami Kurumada para a revista Shonen Jump, totalizando 114 episódios para a TV, que estourou no Brasil. Nunca um público infantil esteve tão unido sobre um tema, quanto foi com os Cavaleiros. O ibope dos episódios fez surgir uma revista chamada Herói, que entre outros assuntos sobre quadrinhos e desenhos animados japoneses, era dedicada ao tema, todas as capas vinham com as figuras dos cavaleiros. Tanto a revista

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As empresas de Mauricio de Souza e as traduções dos produtos da Disney.

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Tokusatsu, é um gênero de séries criados no Japão pós-guerra, no qual super-heróis lutam contra organizações criminosas, na maioria das vezes alienígenas, na defesa dos cidadãos comuns. O nome vem de "ação real" e por isso, o inglês, “Live-action”, deriva disso pelo fato dos protagonistas serem atores reais, ao invés de desenhos animados. São séries feitas primeiramente para a TV. Há vários sub- tipos com diversas denominações.

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Sentai, são os Tokusatsu em que os personagens principais formam um grupo de cinco. Exemplo: Changeman, Flashman, Maskman, etc.

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As cópias que aqui chegaram foram as que vieram da Argentina e que por sua vez foram as originalmente enviadas para o México.

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Os Cavaleiros do Zodíaco, originalmente, Saint Seiya, eram garotos que vestiam armaduras inspiradas nos signos e constelações astrais e na mitologia grega e que tinham a missão de proteger a Terra e Athena, a personificação da Deusa na Terra dos perigos e conspirações que advinham. Os cinco personagens principais eram: Seiya, da constelação de Pégassus; Shiryu, da de Dragão; Hyoga, da de Cisnes; Ikki, da de Fênix; e, Shum de Adrômeda. Os episódios tiveram três grandes sagas: “Santuário”, “Guerreiros Deuses de Asgard” e “Poseidon”, além de quatro especiais para TV, no Japão, denominados OVA´s.

Herói, de tiragens dignas de mangá, juntamente com o Desenho dos Cavaleiros, foram fenômenos jamais vistos no mercado infantil nacional. Como falado anteriormente, este foi um processo que veio se desencadeando, primeiramente com os tokusatsu, seguido pelos animes e, o essencial para seu sucesso, a publicação dos mangás no original (com a leitura invertida).

O sucesso do desenho animado dos cavaleiros trouxe consigo outros animês de sucessos nos Estados Unidos47 como Dragon Ball, Street Fighter e Sailor Moon48. É interessante notar que os japoneses ao produzirem estes materiais já os preparavam para o mercado estrangeiro, desenvolvendo paralelamente ao nome japonês uma “versão ocidental”, em inglês, da série. Como é o caso de todos estes desenhos e mangás citados anteriormente. Mais o sucesso destes desenhos não fez com que seus respectivos mangás fossem publicados, mais começou a incentivar todo um consumo da linguagem mangá nos veículos paralelos. O que teria então provocado ou incentivado estas publicações?

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Tendo em vista que Cavaleiros do Zodíaco, fora proibido nos EUA, devido a quantidade de cenas violentas e em que aparece sangue, característica marcante dos Shonen Mangá ou mangá para meninos..

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Megasucesso no Japão, este mangá para meninas, foi responsável por desbancar, produções de empresas consagradas como Rei Leão e Jussaric Park, em relação ao Merchandising.

Capítulo 6 .