• Nenhum resultado encontrado

CONSIDERAÇÕES SOBRE O MERCADO DE QUADRINHOS NO BRASIL

3. O Mercado Atual de Quadrinhos no Brasil e suas Relações Paralelas

A situação do mercado de quadrinhos, depois da falência da Abril jovem, ficou bem mais distribuído e diversificado. As pequenas editoras cresceram e conseguiram se manter no mercado. Atualmente existem 16 editoras trabalhando com quadrinhos, destas, 11 possuem as histórias em quadrinhos como carro-chefe de suas publicações. São elas: Editora Abril, Brainstore, Conrad, Devir, Escala, Meribérica, Mythos, Nona Arte, Opera Graphica, Pandora Books, Via Lettera, Tendência, JBC, Panini, Trama e a Globo. Excetuando a Abril, a Globo e a Devir, as outras são novas no mercado a maioria surgiu ou se desenvolveu entre 1999 e 2000. A Abril, depois que perdeu os direitos sobre a Marvel Comics e a DC Comics, está publicando apenas as revistas da Disney; A Globo continua com a Turma da Mônica e outras revistinhas infantis de “persoanlidades”; A Conrad e a JBC se dedicam quase que exclusivamente aos mangás; a Tendência publica alguns fumettis; a Panini, detém a maioria dos personagens da Marvel e da DC, dividindo alguns com a Mythos, e a Brainstore, cujo carro-chefe são as revistas underground americanas; A Devir, é a grande editora de RPG e publica alguns quadrinhos nacionais e importados; A Nona Arte publica exclusivamente quadrinhos nacionais e é a que mais se desenvolve na Internet como

editora virtual; A Escala aposta em autores iniciantes e no mangá nacional; A Trama publica mangá nacional e também se dedica ao RPG; A Meribérica publica álbuns europeus de luxo e as outras publicam quadrinhos diversos em forma de pequenos álbuns de tiragens também pequenas.

É interessante notar que a grande maioria destas editoras se dedica a lançar seus produtos não só em bancas mais principalmente em livrarias, já que o número de lojas especializadas em quadrinhos no Brasil é bem reduzido. Destas editoras que fazem o mercado de quadrinhos brasileiro, são lançados por mês aproximadamente, 100 títulos bem diversificados30.

Entre os lançamentos do ano de 2004, podemos destacar a seguinte distribuição, por mês: 28% foram títulos de comics americanos de super-heróis; 22% de mangás japoneses traduzidos com a leitura original; 12% são comics americanos infantis (Disney); 11% foram publicações quadrinhos infantis nacionais (Turma da Mônica); 10% foram fumettis (quadrinhos de faroeste e mistérios); 07% foram quadrinhos infantis nacionais de vários autores; 03% foram mangás nacionais; e, 07% foram de quadrinhos autorais regionais e estrangeiros. É importante ressaltar que estes percentuais se referem ao número de edições lançadas mensalmente em banca de revista, i.é, aquilo que está disponível todo mês. Os números de vendagem não acompanham esta distribuição, pois, apesar dos mangás nacionais corresponderem apenas 03% dos lançamentos mensais, o índice de vendagem foi maior que as publicações da Panini (com 28%) por exemplo.

Para entendermos como se estruturou este mercado e o papel da Abril na publicação dos mangás, precisamos comparar estes dados recentes com algumas observações

relativas ao mercado em anos anteriores que nos mostram o crescimento do mangá e o praticamente congelamento dos comics americanos. Num período de sete anos, o mercado de quadrinhos duplicou em números de edições mensais em banca de revista e em publicações nas livrarias. O mercado de quadrinhos para autores nacionais também é bem diferente, atualmente o número de editoras que se dedicam ao material nacional é bem expressivo. E o interessante de se notar é que das revistas mais vendidas em 1997, no caso os comics de super-herói, as revistinhas da Disney e da Turma da Mônica, não tiveram crescimento significativo, mantendo praticamente o mesmo número de publicações mensalmente em banca durante estes sete anos.

Para analisarmos melhor estes números vejamos a tabela abaixo:

Tipo de Quadrinho Nº de lançamentos mensais em 1997 Percentual do mercado total (%) Nº de lançamentos mensais em 2004 Percentual do mercado total (%) Comic Americano de Super-herói 23 44,23 28 28 Quadrinho Nacional de Super-herói 02 3,84 01 01

Comic Americano Infantil (Disney) 10 19,23 12 12 Fumetti (Faroeste e Aventura) 03 5,76 10 10 Mangá Japonês 01 1,92 22 22 Mangá Nacional - - 03 03 Quadrinho Infantil Nacional (Turma da Mônica) 09 17,30 11 11 Quadrinhos Autorais Nacional 03 5,76 07 07 Outros Quadrinhos Diversos 01 1,92 06 06 Total 52 100 100 100 30

Este não é um número exato porque o tempo de lançamento das edições de revistas em quadrinhos varia de editora para editora, podendo ser quinzenais como os mangás da JBC e Conrad, mensais como as maiorias das revistas publicadas em banca ou bimensais como alguns álbuns especiais.

Fonte: Dados de 1997 retirados de http://www.alanmooresenhordocaos.hpg.ig.com.br e os dados de 2004 foram colhidos em bancas de revista, no mês de dezembro de 2004, na cidade de Recife - PE.

Neste período de sete anos (1997-2004), podemos visualizar como se processou a diminuição do mercado de quadrinhos de super-heróis e a inserção dos quadrinhos japoneses. Enquanto que o primeiro diminuiu sua participação no mercado em 16%, os mangás conquistaram 20% do espaço em banca, conseguindo quase o mesmo número de publicações que os quadrinhos de super-heróis detinham no início, sem contar que a vendagem é em dobro em relação aos comics, devido às tiragens quinzenais. No mesmo período é possível percebermos o nível de crescimento dos quadrinhos nacionais que de 14 publicações no mercado de quadrinhos em 1997, passou a dispor de 22 publicações em banca. Ao mesmo tempo percebemos como o número de publicações de mangás nacionais já está superando, por exemplo, os quadrinhos nacionais de super-heróis, já são três edições de tiragem mensal continua e com uma vendagem também significante.

O segredo do sucesso destas editoras está na produção de pequenas tiragens e no desenvolvimento de outros espaços para os quadrinhos: a livraria. Grande parte das editoras não coloca como meta a presença em banca e aproveitam os espaços menos turbulento das livrarias para estender seus produtos, lançando pequenos álbuns de quadrinhos de tiragens limitadas e de diversos autores. Outra estratégia é associar a vendagem de quadrinhos com outros produtos correlatos, como no mais recorrente: o RPG. Role Playing Game, é um jogo de interpretação, guiado por manuais volumosos e figurativos nos quais estão descritos realidades específicas e toda uma gama de personagens componentes destas realidades.

Entre os diversos ambientes utilizados como pano de fundo das aventuras, estão aqueles onde existem Vampiros, feiticeiros e dragões. As pessoas que jogam este tipo de jogo são indivíduos comumente relacionados com os quadrinhos. Primeiramente pelos próprios elementos constitutivos dos quais ambos são feitos, e segundo, pela

proximidade de faixa etária dos consumidores de ambos, RPG e Quadrinhos, terceiro, normalmente onde se vende material de um, se encontra exposto o outro. Não há como negar esta relação proximal.

Apesar desta relação tão próxima, poucas foram às incursões de uma sobre a outra no mercado brasileiro. Entretanto, no mercado de quadrinhos do Japão, existe uma incessante troca entre estes duas estruturas, a ponto de RPG´s serem transformados em quadrinhos e personagens de quadrinhos serem adaptados para os jogos de RPG. Estas trocas e inter-relações serão novamente abordadas no capítulo 6, nos tópicos 4.2 e 4.3, ao tratarmos da Revista Holy Avenger, que aos moldes dos mangás, mescla estes dois elementos: RPG e Quadrinhos.

Capítulo 5 .

DESVENDANDO AS HISTÓRIAS