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Inserção urbana da sede da Fundação Iberê Camargo

Posicionado sobre um lote pequeno, íngreme e densamente arborizado, este marco na paisagem gaúcha emerge como uma verdadeira escultura em concreto armado e nessa perspectiva, relaciona-se com a paisagem local pelo seu fechamento em um bloco “monolítico” e com poucas aberturas. Como pode ser observado nas Figuras 15 e 16, em vez de abrir o prédio e buscar total transparência e interação junto a extensa vista do lugar, o arquiteto propôs diversas pequenas janelas que enquadram a paisagem vizinha, interagem com as exposições tomadas em suas rampas, e ao mesmo tempo, asseguram o necessário controle de luminosidade para o ambiente interno; ou seja, é como se o entorno também fosse uma obra de arte dentro do museu.

Figura 15: Fachada FIC

Fonte: Fernando Guerra, 2014. Disponível em: <https://goo.gl/13uJKP>;

Figura 16: Aberturas que enquadram a paisagem, FIC

Fonte: Fernando Guerra, 2014. Disponível em: <https://goo.gl/13uJKP>;

A base da edificação, elevada cerca de um metro em relação à Avenida Padre Cacique, constitui-se por uma plataforma retangular que abriga parte das áreas do programa de necessidades, como um auditório para 120 pessoas, biblioteca, ateliês, depósitos, setor administrativo, centro de documentação e pesquisa, além do sistema de ar-condicionado, rede de tratamento de esgotos e um tanque de retenção de água com condições de, se necessário, absorver índices pluviométricos iguais aos de uma enchente que ocorrera na cidade em 1941, a maior já registrada no Rio Grande do Sul. Construído na mesma cota e

interligado ao museu por meio de uma rampa, encontra-se também o estacionamento para cem veículos, instalado sob a via pública em área cedida pela prefeitura. Inclui-se ainda uma passarela subterrânea que conecta os dois lados da pista a fim de proporcionar maior segurança aos visitantes (ROSSO, 2008).

Na pequena área plana do terreno, sobre esta plataforma, verticaliza-se o volume principal, irregular, constituído pelo térreo, com recepção, chapelaria e livraria, e mais três pavimentos destinados às salas expositivas que totalizam 1.300 metros quadrados. Como verificado nas Figuras 17 e 18, cada andar organiza-se de forma lógica e clara: uma sequência de três ambientes clássicos para mostras, formando um “L”, cujas extremidades encontram-se escadas, elevadores, sanitários e acessos às rampas de circulação; no espaço restante, implanta-se o átrio do prédio, um vazio que se confina em toda a altura da edificação. A cobertura, último piso do museu, tem acesso apenas para manutenção. Vale destacar as nuances do corpo principal, constituído por paredes retas e quase ortogonais nas faces sul e oeste, e por superfícies onduladas à norte e à leste.

Figura 17: Planta do Pavimento Térreo

Figura 18: Planta do 2º Pavimento

Fonte: SERAPIÃO (2008), com edição do autor.

Umas das mais emblemáticas características do projeto corresponde o percurso continuo em rampa entre as diversas salas do prédio, que, em alguns trechos, solta-se do volume principal e marca a fachada do edifício, como pode ser observado na Figura 19.

Figura 19: Rampas em balanço marcam a fachada do edifício, FIC Fonte: Fernando Guerra, 2014. Disponível em: <https://goo.gl/13uJKP>;

Segundo MACIEL (2007), para que a área de visitação entre pisos fosse ininterrupta e atingisse os demais pavimentos contornando o átrio com inclinação de 8,73%, duplicou-se percursos em rampa, formando-se assim, uma galeria que ora abre-se para o átrio e acompanha a sinuosidade do vazio interno, ora destaca-se do edifício e cria espaços mais íntimos e recolhidos, pontuados por pequenas aberturas de luz no teto e na parede. As soluções de circulação ainda conduzem o visitante, ao chegar no prédio, a subir de elevador até o último andar, e de lá, descer pelas rampas, percorrendo de cima para baixo as nove salas de exposição distribuídas nos três andares superiores.

Dentre os elementos construtivos do museu, destaca-se a estrutura sem pilares, vigas e lajes, na qual paredes autoportantes, executadas em concreto armado em toda a sua extensão, suportam o carregamento e garantem a estabilidade do conjunto. Além disso, nota-se, nas partes aparentes do prédio, o emprego de concreto branco, pela primeira vez aplicado no país, confeccionado a partir de cimento branco, agregados claros e armação galvanizada que, conforme SIZA, “ressaltaria a construção em relação ao verde da encosta”. Internamente, paredes e forros de gesso possibilitam a passagem de instalações, ao mesmo Figura 20: Circuito contínuo de visitação, FIC

Fonte: Fernando Guerra, 2014. Disponível em: <https://goo.gl/13uJKP>;

tempo que funcionam como isolantes termo acústicos, por meio da formação de um colchão de ar que é preenchido por lã de rocha.

De acordo com SERAPIÃO (2008), um controle inteligente de monitoramento gerencia a temperatura e a umidade interior do edifício, assegurando a proteção do acervo. Quanto a eficiência energética, o sistema de ar-condicionado, com entradas e saídas discretamente posicionadas em vãos baixos e compridos, no rodapé e no forro, produz gelo à noite, quando o valor da energia elétrica é mais barato, para refrigerar o ambiente durante o dia, diminuindo os custos da operação. Além disso, a superfície branca e refletiva do concreto e a proteção com mantas radiantes também são responsáveis pelo controle térmico e o baixo consumo de energia do prédio.

3.3 NOVA SEDE DO MUSEU DA IMAGEM E DO SOM DO RIO DE JANEIRO

Figura 21: Projeção Museu de Imagem e Som do Rio de Janeiro Fonte: Diller Scofidio + Renfro

Por fim, o correlato prédio do Novo Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, ainda que em obras, também merece destaque enquanto estudo de caso nesta pesquisa, considerando seu programa de necessidades e, principalmente, sua inserção urbana num lugar que, assim como a Rua XV de Novembro, em Curitiba, carrega parte da história e da memória local: a Praia de Copacabana, um dos cartões postais mais conhecidos no mundo. A sede contará com 9.800 metros quadrados e, além de disponibilizar para o público o acervo da instituição, abrigará também o acervo do Museu Carmem Miranda, hoje localizado no bairro do Flamengo (VASQUEZ, 2014).

Mapa 3: Inserção urbana do MIS Rio de Janeiro