• Nenhum resultado encontrado

Inserção urbana do MIS Rio de Janeiro

Concebido como um contraponto estético ao paredão de prédios da Avenida Atlântica, em Copacabana, o edifício do novo MIS, com seus ângulos inspirados nos desenhos do calçadão da praia, implanta-se sobre um terreno de 1.300 metros quadrados, onde antes existia uma boate, e substituirá as instalações do museu aberto em 1965, que atualmente funciona em dois endereços, na Praça 15, região central da cidade Rio de Janeiro, e no bairro da Lapa. A escolha pelo novo local, segundo RATTES (2014), está ligada ao caráter plural do bairro, a facilidade de acesso, ao grande contingente de visitantes e por este ser um lugar que inspirou músicos, escritores, artistas plásticos, pensadores e fotógrafos “cujos trabalhos moldaram a cultura do país”. O espaço museológico, como aponta os organizadores, será igualmente um novo ponto de encontro da cidade e, além de estar ligado à produção e à difusão da cultura, atuará como ambiente da identidade carioca.

A configuração arquitetônica do edifício é assinada pelo estúdio norte-americano Siller Scofidio + Renfro, de Nova York, escolhido em 2009 por meio de concurso internacional, do qual participaram também, dentre outros, os escritórios brasileiros Bernardes e Jacobsen, Brasil Arquitetura, Isay Weinfeld e Tacoa. No Rio de Janeiro, o desenvolvimento do projeto ficou a cargo do escritório Índio da Costa Arquitetura, Urbanismo, Design e Transporte. De acordo com a arquiteta responsável pela proposta vencedora, Elizabeth Diller, o projeto do novo MIS “foi desenvolvido a partir da particularidade do lugar” e tem como um dos seus principais pontos a relação do prédio com a vista da praia.

Nessa perspectiva, os autores do desenho propuseram a edificação na forma de um boulevard vertical de sete pavimentos, percorrido por passarelas externas com vista panorâmica à Avenida Atlântica e à beira-mar. O percurso contínuo, traçado por rampas e patamares sequenciais, ao mesmo tempo que caracteriza a volumetria do prédio e dá acesso aos visitantes do térreo à cobertura, democratiza a vista da praia e surge como um novo ícone arquitetônico da cidade. Para explicar a ideia de como surgiu a inspiração da fachada, utilizou-se a imagem do calçadão de Copacabana dobrado e transformado em elemento vertical, como pode ser observado na Figura 23. A conexão com o Rio ainda se dará, por exemplo, na materialização sutil e inconsciente de alguns hábitos

carioca, como ler jornais em bancas, que foi incorporado ao lobby do edifício e trará notícias em cartaz para que os passantes possam frequentá-lo (GELINSKI, 2014).

Figura 23: Composição da fachada Fonte: Diller Scofidio + Renfro Figura 22: Projeção do Boulevard vertical, MIS Rio

Em seu programa estão contempladas salas de exposição de longa e curta duração, espaços destinados à pesquisa, áreas administrativas, ambientes para atividades didáticas, um cine teatro com 280 lugares, hall de entrada, loja, cafeteria, restaurante panorâmico, bar, boate e um mirante. O prédio contará com oito pavimentos, além de dois subsolos, mezanino e terraço. Como pode- se notar nas Figuras 24, 25 e 26, os andares possuirão espaços amplos, áreas dedicadas ao estudo, e na porção posterior, concentração de espaços servidores, como o núcleo de circulação vertical e ambientes sanitários.

Figura 24: Planta do Pavimento Térreo Fonte: CORBIOLI, 2014, com edição do autor.

Figura 25: Planta do Subsolo

Fonte: CORBIOLI, 2014, com edição do autor.

Figura 26: Planta do 4º Pavimento

Fonte: CORBIOLI, 2014, com edição do autor.

Quanto aos materiais, percebe-se a intenção do emprego de vidros na fachada, além de elementos que referenciam a arquitetura modernista brasileira, como o concreto aparente e cobogós. A face principal, voltada para a Avenida Atlântica, à leste, ganhará painéis metálicos vazados que filtrarão a entrada direta de luz, darão movimento e volume para a fachada e trarão a paisagem para o percurso expositivo. Na face posterior, voltada para oeste, utilizara-se sistema de fachada

ventilada em concreto, revestida por um mural tridimensional que formará mosaicos de Carmem Miranda. O piso do terraço, em referência a obra de Burle Marx nos calçadões da praia, ganhará pedras de petit pavé; é como se a orla de Copacabana se estendesse até o edifício. Vale destacar que a estrutura do prédio compreende um conjunto único em concreto armado, sustentando corpo, fachadas e rampas em balanço.

Figura 27: Projeção do mosaico de Carmem Mirante na fachada posterior, MIS Rio.

A construção da nova sede do MIS, cuja inauguração era prevista para dezembro de 2014, dividiu-se em três etapas: a primeira dedicou-se à demolição do imóvel que antes ocupava o terreno; a segunda, em função do solo frágil, envolveu a execução de um complexo sistema de fundações e estruturas; atualmente, 2017, a obra, parada, encontra-se em sua terceira fase, a de acabamentos, instalações e esquadrias, com mais de 70% dos trabalhos concluídos. Devido à problemas judiciais e à crise financeira que assola o Estado do Rio de Janeiro, o edifício ainda não tem data para ser entregue à população (MORAIS, 2016).

Figura 28: MIS Rio em obras

4. INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A estruturação da cidade, constituída pelo seu traçado urbano e compreendida pela espacialidade das relações sociais nela existentes, tem nas ruas um dos seus principais elementos. Segundo L. CABRAL (2005), nestes espaços é possível identificar a dimensão da vida cotidiana presente em suas diversas formas: enquanto para alguns, a rua simplesmente é percebida como uma via de passagem, para outros, ela revela-se como palco de contínuos acontecimentos, formas de apropriações e temporalidades. Por meio dessa perspectiva, o capítulo que segue tem como objetivo apresentar a área de estudo da presente pesquisa, caracterizada pela Rua XV de Novembro, em Curitiba, um dos logradouros mais tradicionais e simbólicos da capital paranaense.

De acordo com dados do IBGE9 (2017), Curitiba apresenta um território 100%

urbanizado, com área de 435,036 km², contando com aproximadamente 1,9 milhão de habitantes, divididos em 75 bairros. Juntamente com sua Região Metropolitana, forma o conjunto de 29 Municípios que abrigam uma população de 3.223.836 milhões de pessoas, a oitava maior aglomeração urbana do país (COMEC, 2017). A cidade tem no setor terciário sua principal fonte econômica, abrigando diversos segmentos de comércio e prestação de serviços. Destaca- se também o setor secundário, com complexos industriais de grande porte, e a concentração da maior parte da estrutura governamental e de serviços públicos do Estado do Paraná (CHAVES, 2017). No mapa 4, observa-se a inserção da capital na superfície paranaense, bem como no seu contexto regional metropolitano.

Mapa 4: Inserção de Curitiba no Paraná e na R.M.C.