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CAPÍTULO 1. A FORMAÇÃO DA GLEBA JORGE TEIXEIRA DE OLIVEIRA E A

1.2 INSPEÇÃO DA GLEBA: MOVIMENTO MST

Então, como planejado, em dia não precisado do segundo semestre de 1999, inicia-se a viagem que iriam levá-los, inicialmente, às terras de domínio do Sr. Sebastião Conti Neto e outros, já que ele havia franqueado ao INCRA e aos visitantes as instalações da sua fazenda, propiciando o necessário para atender aos objetivos da missão, que, como visto, era o de conhecer e inspecionar a área oferecida como futuro assentamento dos acampados de Urupá.

O deslocamento da Comissão foi feito pela BR-364, sentido Porto Velho/Acre, indo em direção ao distrito de Mutum Paraná, a l65 Km da capital, passando pelo distrito de Jaci- Paraná, ramal 31 de Março e Jirau. Do distrito de Mutum-Paraná seguiu viagem pelo ramal rodoviário de chão, até a sede da fazenda do Conti Neto, adiante 30 km. Lá pernoitaram todos. Mário Lúcio e Zacarias, servidores do INCRA, regressaram na manhã seguinte para a sede da Autarquia, em Porto Velho, ficando de voltar para recambiá-los dias depois. (NASCIMENTO. Depoimento, 26/12/ 2013).

Durante esse tempo, a Comissão inspecionou parte da GJTO andando pelas divisas, caminhos e ligações entre ela e a propriedade particular do Sr. Conti Neto, que lhe servia de apoio. Embrenharam-se mata à dentro por caminhos, picadas, divisas, rios, igapós e igarapés. Da gleba inspecionada colheram, em locais diversos e de diferentes topografias, várias amostras de solo, sementes e frutos de árvores encontrados pelo caminho, além de produtos agrícolas recebidos de alguns poucos posseiros encontrados nos locais visitados.

A primeira viagem de inspeção foi comandada pelo Técnico Agrícola do INCRA, Mário Lúcio Gomes Nascimento, mineiro, transferido de Brasília para trabalhar e residir, em 1977, na região de Mutum Paraná e Nova Mamoré, inicialmente no Projeto Sidney Girão. O seu trabalho era fazer vistorias nos seringais e terras devolutas da União, visando estabelecer

29 Entrevista concedida por NASCIMENTO, Mário Lúcio Gomes. Mário Lúcio Gomes Nascimento: entrevista

limites e arrecadação de terras devolutas para fins de reforma agrária. Profundo conhecedor dos seringais de onde foi desmembrada a área para constituir a GJTO, foi o escolhido para acompanhar e orientar os visitantes do MST na inspeção da Gleba.

Sobre essa visita consignou o nosso entrevistado, Mário Lúcio Gomes Nascimento:

Declinar nomes eu acho que eu peco, pois eu sou muito ruim de memória e já faz muitos anos. Mas eu me lembro de que a primeira visita nós fizemos, que ela foi determinada pelo Presidente, Dr. Antonio Renato, com o Eustáquio, que era o meu chefe da Divisão. Foi determinado para eu levar o primeiro grupo que era do MST. [...] nós chegamos, colocamos eles lá, fizemos o acampamento e retornamos. Viemos embora para cá. Eles ficaram acampados fazendo reconhecimento, e marcaram o dia de a gente ir buscá- los. Não sei dizer quanto tempo, mas foi coisa de pelos menos cindo dias, estiveram lá dentro na região. Aí demos pra eles o mapa da região, com os pontos de referências dos rios, né, eram os rios porque tinha mata densa (NASCIMENTO. Depoimento, 26/12/2013).

Encerrada a vistoria, na data aprazada, a Comissão de Vistoria retornou ao acampamento de Urupá, e, na sequência, reuniu-se com a Coordenação do MST, relatando o que viram. Como de regra, foi realizada uma assembleia para a avaliação dos relatos da visita. Submetidos à apreciação dos acampados, principais interessados na proposta escrita do INCRA, consignada no expediente nº 139/2000, ela foi de pronto rechaçada. De consequência, optaram, definitivamente, permanecerem acampados ali mesmo, “num canto da área”, resistindo, até que não fosse mais possível o diálogo, ainda que sabedores das possíveis e deletérias implicações de um despejo judicial, na iminência de acontecer.

Visando confirmar ou não a noticiada desistência do MST pela GJTO oferecida, localizamos o Sr. Luiz Roberto Oliveira, Coordenador Estadual do MST, em Rondônia, encarregado, à época, (1999), pelas negociações entre os posseiros sem-terra e proprietários da Fazenda Urupá, INCRA e Governo do Estado, graças à matéria intitulada “Sem terra e seguranças trocam tiros em fazenda de RO”, veiculada no Diário do Grande ABC, de 15.10.1999, anteriormente citada.

A partir daí, contando agora com o auxílio da Comissão Pastoral da Terra de Porto Velho, foi possível localizar o mencionado Coordenador do Movimento, no município de Ouro Preto do Oeste (RO), ainda militando no MST, em Rondônia por telefone, ele nos confirmou integralmente os relatos acima, discorrendo sobre a formação da “Comissão de Inspeção” à GJTO, a realização da assembleia, a apresentação dos relatórios e das informações sobre as potencialidades da terra, localizada nas proximidades de acampamentos existentes próximos de Mutum Paraná. Adiantou-nos, mais, que, segundo as diretrizes do

MST, a escolha do lugar do assentamento, a permanência deles no local, a resistência, a decisão de lutar pela terra, o “levantamento das lonas” é decisão dos próprios acampados, só deles que, democraticamente, escolhem o lugar de ficar, permanecer, morar. A decisão, disse, nesses casos, não é do MST, mas, sim, dos ocupantes. Ao movimento incumbe, apenas, a organização, assistência e coordenação das ações estratégicas e políticas, orientadas sempre em direção ao bem comum dos camponeses sem-terra.

Instado a declinar, para registro histórico da visita, os nomes dos membros da comissão encarregados da inspeção, o coordenador Luiz Roberto disse não se lembrar. Desligou o telefone e não mais atendeu a nenhuma das diversas ligações telefônicas que lhe fiz, na sequência, na Secretaria do movimento em Ouro Preto do Oeste (RO). Também não respondeu a nenhum dos e-mails com pedido de informações sobre a ocupação da Fazenda Urupá, infelizmente. O nosso interesse, — dissera-lhe ao telefone —, era unicamente colher informações sobre o surgimento do Núcleo União Bandeirante, no município de Porto Velho. Justifiquei: havia informações que, logo após a visita de inspeção e recusa da Gleba indicada, lideranças de outros acampamentos da região de Ariquemes, Mirante da Serra, Rio Crespo e Jaru (RO), dissentindo-se das diretrizes do MST, se empenharam no recrutamento de camponeses sem-terra, principalmente em Jaru e Ouro Preto do Oeste (RO), com promessas de ocuparem a GJTO, em acampamentos organizados por eles mesmos, com o conhecimento e auxílio do INCRA.

A Gleba em estudo, com 104 mil hectares de área livre, oferecida como alternativa para assentar todos os ocupantes da Fazenda Urupá, e outros, foi recusada, frustrando as ações da autarquia fundiária, conforme declarações do INCRA:

Esse pessoal, então, nós naquela esperança de que eles iam aceitar para dar uma solução para o problema agrário e depois de uns quinze dias nós cobramos e eles disseram que o Movimento Nacional não aceitou, não queria a área. [...] nós achamos que estava solucionado, etc., já tinha recursos alocados para compra de lona, pra isso, pra aquilo, pra cesta básica, etc., mas não deu certo (GODINHO. Depoimento, 26/12/2013).

Assim, permaneceram acampados na invasão. Posteriormente, o Governo do Estado de Rondônia, unindo esforços e em parceria com o INCRA, entabularam negociações com o proprietário da Fazenda Urupá e levaram a bom termo a aquisição do imóvel, por compra e venda, destinando-o a projetos de assentamentos de sem-terra, como parte do programa de reforma agrária do Governo Federal.