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1.6 A BASE AÉREA DE ANÁPOLIS

1.6.3 Instalações, Usos e Impactos

Efetuou-se o levantamento de antigos usos dados às áreas no interior da BAAN assim como, de atividades e usos atuais que possivelmente, ferem a

legislação vigente e aparentam ser potencialmente impactantes para o meio ambiente.

A inspeção foi realizada no interior da área não urbanizada da base e em seu perímetro revelou a existência de uma lagoa de decantação para efluentes líquidos com capacidade cúbica aproximada de 1.500 metros cúbicos. O reservatório encontra-se parcialmente tomado por vegetação invasiva proveniente das margens, além da vegetação flutuante que ocupa completamente a superfície do reservatório.

Figura 02 - Lagoa de Decantação

Constatou-se também, a existência de uma segunda lagoa, desativada, de dimensões semelhantes, situada a 50m da borda sul do reservatório em operação.

Segundo o relato do funcionário do Esquadrão de Infraestrutura (EIE), no cargo há 12 anos, a lagoa desativada era operada regularmente no passado (4 ou 5 anos atrás) quando o morador de uma chácara vizinha, situada logo abaixo na

encosta, constatou uma contaminação em seu poço. Verificou-se que vinha ocorrendo um vazamento e posterior percolação dos efluentes desse reservatório. Ainda segundo o funcionário, o reservatório foi abandonado e optou-se por operar apenas o reservatório até então secundário que permanece em uso até os dias de hoje.

Apesar da proximidade entre os reservatórios, não foi constatada nenhuma nova contaminação e nem houve outra reclamação por parte dos vizinhos que também fazem uso, para a irrigação de hortigranjeiros, das águas do córrego que recebe os efluentes da lagoas de decantação em questão.

Após a implantação da BAAN e da lagoa de decantação de efluentes líquidos, no ano de 1973, a organização cresceu no número de instalações e no efetivo, tendo recentemente, recebido mais um esquadrão aéreo. Ocorreu portanto, nos últimos anos, um incremento na demanda de água tratada e na geração de efluentes líquidos.

O consumo estimado de água tratada varia entre 500 e 600 mil litros por dia, tomando-se por base o volume total bombeado pela Estação de Tratamento de Águas (ETA).

Apesar de não existir uma estimativa das perdas que ocorrem no sistema de distribuição e do volume total que não retorna ao sistema de coleta de efluentes líquidos (irrigação de gramados, perdas por evaporação, etc.), estima-se que o volume total da lagoa de decantação em uso possa ser insuficiente para permitir a ocorrência completa do processo de decantação e degradação aeróbica/e ou anaeróbica.

A existência de apenas um reservatório pode impedir ou dificultar os processos de limpeza periódicos bem como alguma atividade de restauração ou

reparo na estrutura da lagoa. Segundo informações do funcionário do EIE, o reservatório não é limpo há quatro anos.

No lado leste da pista, pode-se observar três conjuntos de nascentes, todos perenes, segundo relato do funcionário do EIE. Enumerando-se as nascentes a partir do sudoeste para o nordeste, o primeiro conjunto não é utilizado para a captação de água da ETA, apesar de apresentar uma vazão semelhante aos dos dois seguintes.

Esse primeiro conjunto de nascentes, localizado numa área de topografia acidentada, forma dois córregos e um deles recebe os efluentes da lagoa de decantação. O córrego em questão tem uma vazão inferior a 1l/s (um litro por segundo), na época de secas. Os dois córregos formados são utilizados pelo vizinho da propriedade mais próxima para irrigar hortaliças e frutas destinadas à comercialização e consumo próprio.

As cabeceiras e os córregos formados estão protegidos por mata de galeria enquanto fluem no interior da área da BAAN.

O segundo conjunto de nascentes, recebe o escoamento de um sistema de calhas que coleta as águas das chuvas junto à parte do pátio de estacionamento e da pista de táxi, numa extensão de mais de 1500 metros.

Considerando-se que parte da captação de água para envio à ETA ocorre à jusante do ponto de escoamento dos sistemas de águas pluviais da pista de táxi, é válido afirmar que a água coletada nesse ponto sofre real risco de contaminação por resíduos de borracha, óleos e combustíveis que venham a ser lavados do pátio de estacionamento e da pista de táxi.

Toda a área que se estende entre o segundo e o terceiro conjunto de nascentes, seguindo o mesma linha do terreno, é tomada por vegetação mais densa

(cerrado stricto sensu), contrastando com o entorno e levando a crer que a profundidade do lençol freático deva ser reduzida.

Figura 03 – Ilustração do trecho de cerrado stricto sensu, entre a 2o e3 o conjunto de nascentes (em segundo plano).

Essa mesma área é protegida de processos erosivos pela vegetação intacta do local e por ter sido “emoldurada” por um sistema de calhas de concreto que coletam as águas da chuva nas proximidades da pista de táxi e as canalizam entorno da terceira nascente, até o lago a aproximadamente 300 m à jusante da ETA.

O segundo e terceiro conjunto de nascentes, ou seja, o 3º e 4º córregos, são responsáveis por uma coleta de um volume de até 600 mil litros de água potável por dia, para toda a BAAN. Não se tem conhecimento de nenhum estudo que tenha sido

feito para dimensionar a captação em relação à vazão total das nascentes, principalmente na época de secas, a fim de evitar o comprometimento do ecossistema integrado aos diversos cursos d’água.

O terceiro e quarto córregos fluem naturalmente para a área do lago construído pela mão do homem e cuja barragem de contenção tem apenas uma distância de 30 ou 40m para a cerca perimetral. A partir da barragem, ainda no interior da BAAN, o córrego formado é protegido por uma mata de galeria até o limite da cerca.

A partir da ETA, ainda na “face leste” da base, sempre considerando-se a pista de pouso como a linha divisória, existe mais um córrego de proporções semelhantes ao quarto mas sem sofrer nenhuma captação no interior da BAAN.

A nascente e as margens são protegidas por vegetação intacta, ainda que haja uma estrada de terra que a cruza, a menos de 50 m à jusante da nascente. Fora dos limites da cerca, o córrego é represado e a água é coletada para uso desconhecido.

Mais adiante, já além dos limites da pista de pouso, existem dois olhos d’água que foram “alargados” em forma de cacimba e a partir desse ponto, moradores vizinhos à cerca perimetral, canalizaram a água em tubos de ¾’ para o uso familiar, provavelmente também como água potável.

A construção de uma cerca de tela de 2 m de altura e com a adição de fios de arame farpado em sua parte superior poderá causar um conflito de uso, uma vez que a captação dificilmente irá continuar acontecendo sem a autorização expressa do comando da base ou então, as custas da destruição parcial da cerca.

A partir desse ponto, ainda em direção nordeste, a vegetação da face leste da base transita entre cerrado ralo e cerrado “stricto sensu”, nas áreas preservadas. No

entanto, em diversas áreas em que a camada de solo foi removida para obtenção de terra, na execução do aterro e construção da pista de pouso, não resta nenhum tipo de vegetação e o terreno está exposto as intempéries desde o ano de 1972. Nesses locais nota-se um processo de laterização do solo, o que vem a agravar mais ainda o processo de degradação dessas áreas (Figura 04).

Figura 04 – Área de solo exposto

Na face oeste da BAAN, enumerando-se as nascentes de nordeste para sudoeste, observou-se que a primeira coincide com o ponto de descarga de um sistema de calhas de concreto que envolve a cabeceira nordeste e parte da lateral oeste da pista. Apesar de ter sido construída uma base de pedras e concreto no final do sistema de calhas, ocorreu um processo de erosão que gerou um sulco de aproximadamente 4 m de profundidade máxima (Figura 05).

Apesar do processo erosivo, a vegetação adensou-se ainda mais no local e toda a superfície superior em torno da erosão bem como o próprio sulco abriga espécies de árvores, arvoretas e arbustos, além de exemplares isolados de fanerógamas, demonstrando que a revegetação natural está em processo adiantado.

Figura 05 – Antiga erosão em processo de estabilização

O exame do fundo do sulco também leva a concluir que, devido ao baixo volume de sendimentos que o curso d’água vem carreando, a voçoroca encontra-se praticamente estabilizada.

Apesar disso, é provável que grandes enxurradas possam, devido à canalização de um grande volume d’água proveniente da área da pista, voltar a causar processos erosivos no interior do sulco. A voçoroca está localizada quase que totalmente no interior da área da BAAN e nesse trecho está envolta pela mata de galeria. Duzentos metros após o início do sulco, o córrego passa a correr em área de terceiros onde a água é aproveitada para o consumo animal (Figura 06).

Figura 06 – Posição da erosão em relação aos limites da BAAN.

A oeste da pista e praticamente ao longo de toda sua extensão, pode-se observar três grandes superfícies, em forma de faixas de 50 a 80 m de largura, paralelas à pista e com extensão total de mais de 2500 m. Essas áreas de solo exposto, a exemplo das demais descritas anteriormente, foram utilizadas para obtenção de terra para o nivelamento de parte da área da pista de pouso. Ali ocorreu a total remoção da camada de solo e a recuperação natural da vegetação mostrou- se inviável e terá que ser executada através de um projeto de recomposição da cobertura vegetal adaptado às condições ora existentes.

O uso atual do solo sobre essas faixas de terreno degradado é restrito à seis pequenas instalações. Aproveitando-se das barreiras de terra existentes em alguns

pontos da área, com o objetivo de conter processos erosivos, construiu-se um estande de tiro de armas portáteis, o que ocasionou a contaminação do barranco existente por trás dos alvos. Nessa área deverá ser estabelecida uma restrição definitiva para outros usos futuros, uma vez que a remoção dos projéteis e fragmentos é custosa e se faz necessária uma avaliação do nível de contaminação do solo.

Outra atividade exercida na área de solo exposto é a de montagem de alvos para serem utilizadas por aeronaves em trajetórias simuladas de “tiro terrestre” e bombardeio. Essas atividades deverão ser consideradas quando da elaboração dos projetos de recuperação do terreno.

A BAAN mantém ainda três instalações em pontos isolados, sobre as faixas de terreno exposto.Uma delas abriga um paiol de munições, a segunda um posto de guarda e a outra é uma instalação de geradores e transformadores para a iluminação da pista de pouso.

No caso do paiol, certamente existem normas internas de segurança das instalações que devem ser cumpridas e que estabelecem faixas de terreno livre de obstáculos e de vegetação a serem mantidas.

O posto de guarda por sua vez, deve estar em uma área livre e com boa visibilidade ao redor das instalações e cercas a fim de prevenir a aproximação de pessoas não autorizadas

No caso da instalação de geradores, o isolamento adequado contra o fogo também é importante, uma vez que o simples aumento de temperatura junto aos disjuntores ou cabos de transmissão é capaz de desarmar o sistema e impedir o pouso seguro de alguma aeronave, por falta de iluminação adequada na pista de pouso

As faixas de superfície degradada das áreas de empréstimo, a oeste da pista, estão envoltas por uma larga área de cerrado preservado, pelo lado oeste, até a cerca perimetral. Esse espaço é coberto por cerrado ralo, cerrado “stricto sensu”. Fora dos limites da BAAN desenvolve-se o pastoreio, a agricultura de subsistência e a agricultura intensiva, com o uso de irrigação, utilizando-se a água de nascentes existentes no interior da base a partir dos córregos formados. Existem, nesse setor da Base, diversas estradas de terra que cruzam as áreas de cerrado e que eram utilizadas por moradores das vizinhanças para encurtar a distância de suas residências até a rodovia pavimentada. Atualmente essas estradas estão sendo interrompidas e desativadas pela construção da cerca perimetral da BAAN.

Observa-se que a pressão antrópica sobre o ambiente, além dos limites da BAAN, vem causando a escassez de áreas cobertas por vegetação nativa preservada, transformando a organização militar numa mancha de verde mais escuro entre as diversas chácaras e propriedades.

Na extremidade sudoeste/sul da base, verifica-se extensa área de campo sujo, cerrado ralo e cerrado “stricto sensu” e, junto à estrada de acesso secundário da BAAN, existe uma cascalheira de onde foi retirada a camada superficial do solo para servir como camada de revestimento das estradas internas de terra. Atualmente o local encontra-se abandonado e uma escassa faixa de vegetação de gramíneas tomou conta da superfície. A profundidade do corte no terreno varia de 0,5 a 1,5 m.

A partir da estrada asfaltada da entrada secundária da base, em direção sudeste, observa-se uma escavação mais profunda no solo, onde foi retirado material para aterros. Essa área possui de 1 a 2 m de profundidade, por 200m de extensão e aproximadamente 50 m de largura. Nesse local, a camada de solo foi

totalmente removida e posteriormente não se desenvolveu qualquer tipo de vegetação no local.

Nesse mesmo acesso secundário, encontram-se as instalações de combustíveis, operados por uma empresa que presta serviços à Petrobrás. O exame dessas instalações deverá revelar a conformidade das mesmas com a legislação ambiental vigente

No setor sudeste da organização, observa-se também uma área de vegetação preservada (Mata Seca) sobre um terreno acidentado onde se abrem dois profundos grotões. Segundo relatos do funcionário do EIE, era possível avistar pequenos primatas, provavelmente macacos-prego, nesta região. Neste local foram observados vários pequenos depósitos irregulares de resíduos sólidos resultantes de reformas e material potencialmente tóxico como o de lâmpadas fluorescentes, por exemplo.

A área localizada à beira do acesso principal da BAAN, (acesso leste) é composta por terrenos que no passado, sofreram intensas movimentações de terra e não apresentam cobertura vegetal de nenhuma espécie. Quando o terreno deixa de ser plano e desce para os dois lados, à medida que se afasta da estrada de acesso, pode-se então observar a vegetação de campo sujo, cerrado ralo e cerrado “stricto sensu”. No lado leste da estrada de acesso, a vegetação sofre os efeitos da ação anual do fogo, proveniente da queima dos campos em terrenos vizinhos. Não foram observados processos erosivos significativos a partir das bordas do terreno o que deve ter sido evitado pelas obras realizadas no terreno e inclui bacias de contenção e curvas de nível.

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