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2.2 Teoria Institucional

2.2.4 Instituição e Processo de Institucionalização

Os processos de institucionalização são histórica e logicamente anteriores aos processos de isomorfismo organizacional (CARVALHO; VIEIRA, 2003; VIEIRA et al, 2001), estes uma das bases teóricas do institucionalismo e do presente estudo, contribuindo, pois, para explicar sua natureza de forma mais completa.

Neste sentido, o neo-institucionalismo atribui às instituições imprescindibilidade para o entendimento da realidade social (CARVALHO; VIEIRA; GOULART, 2005a). Oportuno e relevante, pois, analisar os temas epigrafados, agrupados em virtude da conexão conceitual existente entre ambos.

Um dos primeiros autores a apontar a noção de instituição foi Everett Hughes, definindo-a como “um empreendimento social implementado de maneira esperada e permanente” (PECI, 2006, p. 2).

Selznick, precursor da teoria institucional, ao diferenciar organização de instituição, conceituou a segunda como “produto natural das pressões e necessidades sociais – um organismo adaptável e receptivo” (CARVALHO; VIEIRA; GOULART, 2005a, p. 14). Nesta concepção, a instituição assume caráter específico e permanente, com valor em si mesma, independente dos produtos ou serviços que ofereça (CARVALHO; VIEIRA; GOULART, 2005a).

Já para Scott (1995, p. 33 apud MISOCZKY, 2005, p. 3), “as instituições consistem de estruturas e atividades cognitivas, normativas e regulativas, que dão estabilidade e significado ao comportamento social”.

No entender de Peci e Vieira (2007, p. 7), instituição é um “padrão (que pode se manifestar como prática, papel, objeto, organização e/ou embalagem) durável e persistente, referente à condição epistêmica, moral e de poder”.

Silva e Oliveira (2008) entendem, por sua vez, que o substantivo instituição tanto pode ser usado em referência à organização considerada importante ou relevante ou a um procedimento organizado e estabelecido, regrado e reproduzido a partir de convenções sociais dominantes.

De forma ampla, existem quatro pontos pacíficos no entendimento de instituição: primeiro, o conceito é amplo: abrange costumes, práticas, relações, organizações ou comportamentos; segundo, representa, outrossim, um modelo a ser emulado ou seguido; terceiro, tem relevância na vida comunal ou social; quarto, é usado em referência a organizações consideradas importantes ou relevantes (PECI; VIEIRA; CLEGG, 2006).

De forma sucinta, as instituições são consideradas como um tipo de convenção que assume o status de regra, sendo encontrada em todo o lugar (PECI; VIEIRA; CLEGG, 2006).

Na perspectiva de Berger e Luckmann, base do neo-institucionalismo sociológico, as instituições assumem o papel de mediadoras, ocorrendo toda vez que existir uma “tipificação recíproca de papéis e ações rotineiras por tipos de atores” (MOTTA; VASCONCELOS, 2002, p. 392). Nesta linha, acarretam historicidade, isto é, precisam ser compreendidas em conjunto

com o processo histórico em que foram produzidas, e controle, pois limitam e condicionam a ação humana (PECI; VIEIRA; CLEGG, 2006).

As instituições, pois, envolvem obrigações normativas, sendo que amiúde entram na vida social como fato que deve ser considerado pelos atores (PECI, 2006). Após institucionalizadas, as organizações passam a ser consideradas eficazes e necessárias, pois servem como um loci do exercício de padrões estáveis de comportamento (TOLBERT; ZUCKER, 2004).

Em relação ao processo de institucionalização, a instituição nunca é o estágio final, mas sim um estado provisório, um artifício para delimitar um processo contínuo (CRUBELLATE, 2007).

Todavia, no tocante à institucionalização, poucos são os que se dedicam à sua conceitualização e à sua especificação como processo. Quando muito, a institucionalização é vislumbrada como um estado qualitativo no qual as estruturas são ou não institucionalizadas (ZUCKER; TOLBERT, 2004).

A institucionalização pode ser definida como “o processo pelo qual atores individuais transmitem o que é socialmente definido como real” (MOTTA; VASCONCELOS, 2002, p. 393). Ou, de forma semelhante, como “o processo pelo qual processos sociais e obrigações passam a ter um status de regra no pensamento e na ação social (MEYER; ROWAN, 1983, p. 2 apud PECI, 2006, p. 4).

Tal conceito é identificado com a tradição fenomenológica de Berger e Luckmann, os quais concebem a institucionalização como um processo central na criação e na reprodução de grupos sociais duradouros (ZUCKER; TOLBERT, 2004).

Selznick, defendendo uma perspectiva macro, concebia a institucionalização como um processo organizacional histórico construído pelas pessoas, grupos, interesses e relacionamentos da organização com o ambiente. O output deste processo seria a transformação de uma estrutura técnica (organização) em um organismo social (instituição) (CARVALHO; VIEIRA; GOULART, 2005).

Dito de forma mais objetiva, a institucionalização é algo encarado como verdadeiro para um grupo social, com implicações práticas: gera e molda ações concretas por parte dos atores sociais (MOTTA; VASCONCELOS, 2002).

Como visto, a institucionalização é percebida, pelos principais teóricos, como um processo. Neste sentido, Zucker e Tolbert (2004), adaptando o modelo originalmente proposto por Berger e Luckmann, propuseram uma descrição apurada de sua seqüência. A lógica é unidirecional, deslocando-se de um continuum que se inicia na habitualização, passa pela

objetivação e finda na sedimentação (MACHADO-DA-SILVA; FONSECA; CRUBELLATE, 2005), consoante figura 3.

Figura 3 – Processo de institucionalização

Fonte: adaptada de Zucker; Tolbert (2004)

O primeiro subprocesso – o de habitualização -, é antecedido de um contexto problemático para uma dada organização ou para um conjunto de organizações que envolve a geração de um estrutura e a formação de políticas justamente em resposta ao empecilho contextual enfrentado. O que ocorre é uma inovação, impulsionada por uma série de fatores, como mudanças tecnológicas, legislação e forças do mercado, dentre outras.

Esse rompante inovador, na visão de Zucker e Tolbert (2004), é, de início, individual. Somente quando há o compartilhamento de um arcabouço conceitual é que a inovação passa a ser simultânea, sendo adotada por outras organizações. Neste momento, pode ocorrer a imitação, visto que, na incerteza, as organizações buscam soluções já submetidas ao crivo alheio (DIMAGGIO; POWELL, 2005). A inovação estrutural, então, inicia seu ciclo para tornar-se hábito.

É, exempli gratia, o que Chandler descreve em seu trabalho “Os Primórdios da Grande Empresa na Indústria Norte-Americana” no que toca ao ramo frigorífico estadunidense, quando Gustavus F. Swift, capitão de indústria, adotou uma estrutura baseada na integração vertical, centralização e controle rigoroso em resposta aos problemas de logística, controle da

Mudanças Tecnológicas Legislação Forças do mercado Teorização Monitoramento interorganizacional Impactos positivos Resistência de grupo Defesa de grupo de interesse

produção e distribuição, sendo emulado pelos principais competidores da época, que enfrentavam obstáculos de mesma ordem e grandeza.

É que na fase de habitualização, correspondente ao estágio de pré-institucionalização, a imitação fica circunscrita a um número limitado de organizações similares, dentro de ambientes similares e díspares na forma de implementação (ZUCKER; TOLBERT, 2004).

O hábito, ao longo do tempo, passa a ser mais disseminado e, via de conseqüência, permanente - a fase da objetificação e o estágio de semi-institucionalização -, que envolvem o desígnio de certo grau de consenso social acerca do valor da estrutura. Tal consenso dá-se de duas formas: ou por evidências retiradas de uma gama considerável de fontes comuns (noticiários, observação, informações de mercado) ou por um champion, um indivíduo ou grupo com interesse material na estrutura. Os champions têm a atribuição de realizar duas grandes tarefas de teorização: a definição de um problema organizacional e a justificação de um arranjo estrutural que sirva de solução para o problema decretado (ZUCKER; TOLBERT, 2004).

Por derradeiro, a institucionalização total ocorre com a fase da sedimentação, com a continuidade histórica da estrutura ao longo de gerações. A sedimentação caracteriza-se pela propagação ampliada da estrutura e pela sua perpetuação por período consideravelmente longo de tempo (ZUCKER; TOLBERT, 2004).

As principais características dos estágios de institucionalização, apresentadas com o fito de cotejamento, estão descritas no quadro 4.

Dimensão Estágio pré- institucional Estágio semi- institucional Estágio de total institucionalização

Processos Habitualização Objetificação Sedimentação

Características dos

adotantes Homogêneos Heterogêneos Heterogêneos

Ímpeto para difusão Imitação Imitativo/Normativo Normativo

Atividade de

teorização Nenhuma Alta Baixa

Variância na

implementação Alta Moderada Baixa

Taxa de fracasso

estrutural Alta Moderada Baixa

Quadro 4 – Características dos estágios de institucionalização

Fonte: ZUCKER; TOLBERT (2004)

Machado-da-Silva e Gonçalves (2004), em uma leitura complementar, afirmam que o processo de institucionalização descrito por Zucker e Tolbert (fases de pré, semi e institucionalização total) é apenas uma transposição do modelo de Berger e Luckmann do nível individual para o organizacional.

Ademais, os afixos pré, semi e o adjetivo total poderiam indicar, à primeira vista, uma seqüência que ocorre de fato na prática. Contudo, os lindes entre os estágios, se existentes no ambiente, são de difícil visualização. Ainda, o ímpeto para difusão omite a coerção, que é devidamente tratada no esquema conceitual de mecanismos isomórficos proposto por DiMaggio e Powell (MACHADO-DA-SILVA; GONÇALVES, 2004), mais adiante delineado.

Por fim, importante ressaltar que, imbuídas no processo de institucionalização, estão três premissas, que podem ser tomadas, grosso modo, como sínteses do propalado processo:

a) a institucionalização surge de pequenos grupos ou de processos organizacionais; b) processo e estrutura, conforme formalizados, tendem cada vez mais a se tornarem

institucionalizados e, inclusive, fontes para reinício do processo;

c) a institucionalização aumenta a estabilidade, criando rotinas que moldam o desempenho organizacional (BRONZO; HONÓRIO, 2005).

A institucionalização, desta feita, representa etapa avançada da busca por modelos social e organizacionalmente aceitos. Sua compreensão deve estar atrelada à noção de legitimidade, suscitada na seção vindoura.