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Conforme Raud-Mattedi (2005) na sociologia econômica de Durkheim e Weber as instituições organizam as relações sociais e as atividades econômicas (id, ibid:130). Isto acontece não apenas porque as instituições regulamentam os conflitos de interesse, mas, principalmente porque ‘permitem a definição mesma dos interesses individuais’

(Trigilia, 2002:76-77). Raud-Mattedi (2005) afirma que isto pode ser aplicado tanto para Durkheim como para a sociologia weberiana, com a diferença de que, se para Durkheim as instituições determinam o comportamento para Weber elas apenas o orientam - o respeito a uma regra social consiste numa ação social que pode ser orientada a fins, a valor, pelo afeto ou pela tradição. Neste sentido não é a norma em si que explica a ação social, mas a apropriação que o ator faz da instituição. É a visão de mundo do ator que condiciona o interesse. Conforme Raud- Mattedi (idem) o investimento da obra de Weber está em mostrar como os interesses e meios para satisfazê-los são situados historicamente, já que devem ser legitimados pelos valores existentes na sociedade (id,

ibid:132).

Na reflexão sobre as instituições Durkheim (2004) dialoga com os liberais e Spencer criticando a afirmação de que a sociedade estaria baseada unicamente no contrato mercantil. Ele mostra que a estabilidade do sistema de troca generalizada, ponto fundamental da sociedade moderna, depende do respeito às regras pré-estabelecidas. A viabilidade do contrato como relação mercantil generalizada, depende de um fundo institucional composto de um lado, pelo costumes mentais e comportamentos enraizados na repetição da troca ao longo do tempo e, de outro lado, pelas regras jurídicas, que nada mais são que a cristalização de costumes mentais (Raud-Mattedi, 2005: 130).

O respeito ao indivíduo, norma social típica da sociedade moderna está expresso nos sentimentos de simpatia que os seres humanos sentem um em relação ao outro. Este respeito fundamenta a condenação coletiva da injustiça e é nesse contexto que a consciência social rebela-se contra o contrato injusto (idem: 134). Embora Durkheim

afirme que um princípio de justiça é difundido pelas regras morais, o qual orienta a vida econômica de maneira geral e influencia o estabelecimento de contratos e preços (id, ibid), a maneira como este princípio de justiça se estabelece é resultado de embates simbólicos e de um processo de legitimação (Douglas, 1996) no qual entram em disputa atores desiguais (Bourdieu, 2005).

Ao abordar a relação direito e mercado, Weber sustenta o seu papel menos importante do que as convenções. O direito é respeitado essencialmente em função de uma convenção social que reprova a desobediência civil (Raud-Mattedi, 2005). De maneira geral, conforme Raud-Mattedi, na perspectiva weberiana os interesses estão condicionados pela visão de mundo, a economia de mercado só se mantém no quadro de uma sociedade que incentiva a busca de lucro e onde reina a ética do trabalho (idem). Neste sentido os interesses precisam de valores para formulação de seus objetivos e legitimação dos meios empregados para persegui-los. Esta reflexão está base da Nova Sociologia Econômica (Theret, 2003).

Com relação à moral, Durkheim adota uma postura ao mesmo tempo normativa e analítica. Ele adverte para os riscos da modernidade ao constatar o estado de anomia da sociedade cuja esfera econômica é pensada como autônoma, ou seja, não está regulada moralmente (Durkheim, 2004). Ele analisa particularmente a moral profissional. Voltando à discussão com os liberais e Spencer, embora Durkheim reconhecesse o perigo de que a divisão do trabalho pudesse reduzir o indivíduo ao papel de máquina, considera que aí se encontrava um reducionismo das interpretações econômicas já que por elas o ser

humano era percebido apenas como meio de gerar riqueza e não como ser humano em sua condição racional e sensível.

Durkheim observa que onde o direito restitutivo é muito desenvolvido, há para cada profissão uma moral profissional. No interior de diferentes grupos profissionais há uma opinião difusa dentro do agregado do grupo, mesmo sem estar munida de sanções, faz-se não

obstante obedecer. Há usos e costumes comuns a uma mesma ordem de funcionários e que nenhum deles pode infringir sem incorrer na censura das corporações (Durkheim, 2004: 217).

Durkheim faz referência à origem religiosa do contrato e da propriedade privada: a propriedade é sagrada porque o indivíduo é sagrado na sociedade moderna (Durkheim, 1983). A confiança no mercado fica assegurada pelas regras morais - mesmo que as pessoas não se conheçam diretamente - pelo respeito aos mesmos valores fundamentais, os direitos do indivíduo (Raud-Mattedi, idem:134). Também as regras morais difundem um princípio de justiça que orienta a vida econômica de maneira geral e que influencia o estabelecimento de contratos e preços. Conforme Raud Mattedi (idem), Durkheim teve o mérito de chamar a atenção para a ética no mercado, que pode se revelar mais forte do que a pura lógica econômica.

Com relação à coerção, Durkheim observa a diminuição do papel do Direito repressivo acompanhada do aumento da ação do direito restitutivo, que não existia originalmente. A intervenção social não tem

mais por efeito impor a todo mundo certas práticas uniformes, mas consiste muito mais em definir e regular as relações especiais das diferentes funções sociais (...) (Durkheim, 2004:191).

Tanto Durkheim como Weber consideram o papel do Direito não apenas como regra coercitiva, antes, como instrumento facilitador no sentido de assegurar as regras de confiança entre os atores. Durkheim observa em particular que o contrato precisa do Direito, já que este é para ele fato social exterior, anterior e passível de exercer coerção nas consciências individuais e também porque encerra uma dimensão coletiva de longo prazo. Ele assegura a confiança, permite economizar tempo social e reduzir os conflitos no mercado, na medida em que define os direitos e os deveres de cada um (Raud-Mattedi, idem: 135).

Conforme Weber, na economia o Direito regulamenta as relações mercantis pela efetiva limitação jurídica das trocas ou limitação de lutas de concorrência (Weber, 1999: 50-51). Segundo Weber, as pessoas respeitam as regras jurídicas por uma variedade de motivos, indo do utilitário ao ético (Raud-Mattedi). No quadro da economia moderna do qual participa o Direito, este último permite a calculabilidade e previsão das ações.