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No que se refere à complexidade das organizações e suas relações com o mercado por vezes paradoxal faz-se necessário analisá-las, também, para além de suas rentabilidades. Uma organização não pode ser vista apenas pelo lucro que dela aufere seu proprietário/acionista.

A idéia de se ter um olhar mais crítico sobre questões que a priori não eram muito exploradas dentro das ciências administrativas como os Estudos Críticos em Administração traz

à luz fatores que a partir da década de 1990 começam a ganhar corpo dentro do campo das organizações.

No entendimento de Davel e Alcadipani (2003, p.74) esse movimento “refere-se a uma forma de atuação que favorece a reflexão, o questionamento e a renovação de situações e estruturas que impedem o desenvolvimento progressivo da autonomia e da responsabilidade das pessoas”.

Portanto, analisar a organização para além da performance econômica torna-se imprescindível neste mercado competitivo e globalizado em que as empresas atuam. Obviamente, não se trata de fechar os olhos para o lucro, mas pensar a organização em todo seu contexto histórico, trazendo à tona questões relevantes sob a perspectiva humana rechaçando quaisquer possibilidades de retrocesso que, segundo Davel e Alcadipani (2003, p.75), “possam atrapalhar o desenvolvimento pessoal e coletivo no âmbito organizacional”.

Diante disso, torna-se importante para a organização manter em seu quadro profissionais que percebam a importância de, também, olhar para questões como cultura, aprendizado e tomada de decisões dentro do âmbito organizacional para que se possa perseguir melhores resultados operacionais através de uma melhora no clima organizacional.

No entendimento de Motta e Vasconcelos (2006, p.292 319),

Os grupos que detêm mais poder na organização (normalmente os dirigentes) definem os padrões oficiais a serem seguidos pelos outros grupos – valores e as formas de ação socialmente aceitos nesse sistema – e instituem mecanismos de controle social a fim de que esses padrões sejam efetivamente obedecidos.

Figura 1: Cultura organizacional: duas visões

Neste sentido, de acordo com Motta e Vasconcelos (2006, p.292) a cultura organizacional foca o aspecto interno e relacional das organizações (grifo dos autores).

Portanto para os autores, o tema cultura organizacional foi, desde os anos 80, objeto de importantes estudos acadêmicos. [...] Alguns autores consideram que a organização – empresas, entidades públicas, etc. – tem uma cultura que muda com o passar do tempo. A cultura seria, assim, uma característica da organização. Outros consideram que a organização não tem uma cultura, ela é uma cultura, ou seja, ela seria a expressão cultural dos membros da organização.

Parece claro que há um vácuo na prestação de serviços à população que as organizações e o governo não conseguem atingir e esse “vácuo” está sendo preenchido por instituições sem fins lucrativos.

Drucker (1997, p.XIII) traz a concepção de que o governo não possui capacidade para executar as mais variadas tarefas sociais impostas por uma sociedade cada vez mais dependente de organizações e/ou entidades que possam de alguma forma melhorar qualitativamente a vida das pessoas.

O autor sugere que as instituições sem fins lucrativos são, hoje, “vitais para a qualidade de vida na América, para a cidadania e sustenta os valores da sociedade e da tradição americanas”. Pode-se inferir que as mesmas questões sociais que preocupam os cidadãos americanos, também o são aos cidadãos brasileiros.

O enfoque proposto por Hudson (1999, p.XII) é de que “esse setor consiste em organizações cujos objetivos principais são sociais, em vez de econômicos. A essência do setor engloba instituições de caridade, organizações religiosas, entidades voltadas para as artes, organizações comunitárias, etc”.

O mesmo autor (1999, p.XIII) ainda destaca que, a administração é igualmente importante para o sucesso dessas organizações. [...] A administração era vista como parte da cultura do mundo dos negócios. [...]. O crescimento e a abordagem cada vez mais profissional dessas organizações mudaram completamente esse ponto de vista.

Drucker (1997, p.XIII) chama atenção para o fato de que:

Há quarenta anos ninguém falava de ‘organizações sem fins lucrativos’, nem de um ‘setor sem fins lucrativos’. Os hospitais viam a si mesmos como hospitais, as igrejas como igrejas, os Escoteiros como Escoteiros e assim por diante. De lá para cá, passamos a usar a expressão ‘sem fins lucrativos’ para todas essas instituições. Ela é negativa e nos diz somente aquilo que essas instituições não são, mas pelo menos mostra que compreendemos que todas essas instituições, quaisquer que sejam suas preocupações específicas, têm algo em comum.

E agora começamos a compreender o que é esse ‘algo’. Não é o fato dessas instituições serem ‘sem fins lucrativos’, isto é, não são empresas. Também não se trata do fato delas serem ‘não governamentais’. É que elas fazem algo muito diferente das empresas ou do governo. As empresas fornecem bens ou serviços. O governo controla.

Na mesma linha de pensamento Hudson (1999, p.8) chama atenção para o fato de que, “o setor sem fins lucrativos é uma definição negativa que enfatiza a intenção de não gerar lucros – quando na prática muitas dessas organizações precisam de superávit financeiro para repor seu capital e para financiar novas atividades”

Complementando a idéia de organizações sem fins lucrativos entende Hudson (1999, p.10) que,

As visíveis limitações do setor público como supridor eficiente de serviços estão convencendo governos em todo o mundo a delegar responsabilidades para o gerenciamento de serviços. Escolas, hospitais, universidades, atendimento a jovens e outros serviços estão tento de operar cada vez mais como organizações independentes sem fins lucrativos do que pelas regras do serviço público. Essas organizações estão descobrindo que precisam competir entre si pela obtenção de fundos e usuários e que precisam diversificar suas fontes de financiamento para complementar as doações governamentais.

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