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Instrumento de avaliação da consciência sintática e procedimentos de

O processo de construção do Instrumento de investigação da consciência sintática de alunos de 3º, 4º e 5º anos do EF ocorre em duas etapas. A primeira consiste no levantamento dos estudos e dos instrumentos existentes na literatura no que se refere à investigação da consciência sintática. Essa pesquisa dá suporte para a elaboração da versão preliminar do instrumento, aplicada em situação de coleta-piloto para investigar as habilidades sintáticas dos alunos, bem como para verificar a produtividade do formato do instrumento.

Em relação aos conteúdos sintáticos selecionados para análise, a versão inicial do instrumento tem como base os estudos desenvolvidos por Chomsky (1969), Slobin (1966), Clark (1971), Horgan (1978), Karmiloff-Smith (1979) no âmbito da aquisição de estruturas sintáticas. Esses autores apresentam em suas pesquisas análises relevantes sobre a relação entre a maturidade cognitiva e o desempenho em algumas estruturas de natureza sintática: influência do princípio da distância mínima na compreensão da frase; uso de estruturas passivas; uso de expressões “antes de” e “depois de” na frase; uso de orações adjetivas. No que se refere às categorias operativas do instrumento, os materiais de avaliação da consciência sintática existentes (Capovilla e Capovilla, 2006; Alexandre, 2010; Costa, 2010; Sim-Sim, 2010), bem como a análise crítica das tarefas (Correa, 2004) dão suporte para a seleção das categorias operativas e do seu formato.

De algum modo, todos os estudos apresentados na fundamentação teórica contribuem para a definição da metodologia do instrumento, uma vez que revelam procedimentos a serem incluídos ou evitados ao longo do

91 processo de construção e também de aplicação do instrumento. A pesquisa de Navarro e Rodríguez (2014), assim como a análise de Correa, por exemplo, apontam a importância de se controlar a variável memória de trabalho em materiais de investigação direcionado a crianças.

Com aporte nesses fundamentos, o instrumento inicial é elaborado para dois formatos de aplicação: oral e escrito. Os dois apresentam a mesma estrutura, distinguindo-se apenas pelo formato de aplicação. O instrumento é constituído de sete momentos, cada qual correspondente a uma tarefa. A tarefa de produção de frases e de um texto tem aporte em uma imagem apresentada à criança no momento da aplicação. Após a observação da figura a criança responde a perguntas com base na imagem (momento 1); em seguida, é solicitado à criança que descreva o que está acontecendo na figura (momento 2). Na tarefa de identificação do item sintático (momento 3) uma frase é apresentada à criança acompanhada de perguntas cujas respostas tem como foco elementos sintáticos da frase. Na tarefa de julgamento do item sintático (momento 4) é apresentada à criança uma imagem acompanhada de duas frases para julgamento. A tarefa consiste em julgar qual entre as duas frases apresentadas melhor representa a imagem. A tarefa de correção é constituída de seis frases com presença de erros sintáticos. Nessa tarefa a criança deve identificar o erro, explicar o motivo da inadequação e apresentar a forma correta (momento 5). A tarefa de julgamento de sentenças ambíguas (momento 6) contempla seis frases cujas estruturas sintáticas são caracterizadas pela presença de ambiguidade. Acompanham as frases ambíguas da tarefa perguntas propostas com a finalidade de verificar se a ambiguidade é ou não percebida pela criança. A última tarefa visa estimular a manipulação dos elementos linguísticos na estrutura sintática a partir de atividades de operações: adição, redução e permuta (momento 7).

Concluída a versão preliminar do instrumento, procedeu-se à aplicação dessa versão inicial em 6 alunos de cada ano escolar em investigação (3º, 4º e 5º anos do EF), totalizando 18 alunos. Cabe ressaltar que de 6 alunos por nível, 3 desenvolveram o teste em formato oral e os outros 3 em formato escrito. Os alunos participantes da coleta-piloto são de uma escola pública estadual da região metropolitana de Porto Alegre.

92 Os resultados alcançados e as análises decorrentes da aplicação piloto são apresentados nos apêndices (Apêndice I). Esses dados constituíram informações importantes para o aprimoramento da proposta inicial do material, resultando na reelaboração do instrumento de investigação da consciência sintática. Por meio dessa coleta-piloto, foi possível verificar as dificuldades das crianças, conforme o nível escolar, em cada conteúdo sintático estabelecido e em cada tarefa proposta. Isso ajudou a ampliar o quadro de casos sintáticos e a selecionar as categorias operativas produtivas. Nesse processo, a produção escrita dos alunos foi de especial importância, na medida em que revelou informações importantes sobre as dificuldades das crianças no que tange ao uso dos elementos linguísticos na estrutura sintática.

Com base no levantamento teórico dos estudos e dos instrumentos sobre consciência sintática, bem como nos resultados da aplicação-piloto, deu- se início a construção da versão final do Instrumento de avaliação da consciência sintática de alunos de 3º, 4º e 5º anos do EF. Essa versão final (Apêndice II) é constituída de quatro categorias operativas (tarefas), cada qual com dez blocos de atividades correspondentes a conteúdos sintáticos, definidos como blocos sintáticos.

As categorias operativas - tarefas - são quatro, três no plano frasal e uma no plano textual. No plano frasal tem-se: 1) tarefa de identificação (TI); 2) tarefa de julgamento (TJ); 3) tarefa de correção (TC); e no plano textual, tem- se: 4) tarefa de julgamento no plano textual (TJPT). Cada tarefa é composta por dez blocos, em que cada um equivale a um conteúdo sintático. Todos os dez blocos de cada tarefa contemplam, por sua vez, duas questões: uma de uso do item sintático, denominada neste trabalho de Uso Sintático (US); e uma de justificativa da resposta referente ao US, chamada de Consciência Sintática no Uso (CSU). Desse modo, é possível avaliar o sujeito no que tange ao uso e à consciência sintática no uso dos itens de sintaxe em investigação.

Os conteúdos sintáticos são: bloco 1 – SN pronome pessoal reto na 3ª pessoa do singular com função de SN sujeito anafórico; bloco 2 – SP agente da passiva; bloco 3 – SNO - oração reduzida de infinitivo com verbo dizer na oração principal e SN sujeito antecedente de verbo no infinitivo; bloco 4 – SOAdj constituinte do SN sujeito e próximo desse SN; bloco 5 – SOAdvl com emprego das expressões “depois de” e “antes de”, sendo a ordem de narração

93 dos fatos não correspondente à ordem real dos acontecimentos; bloco 6 – relação de causa e consequência - oração coordenada ou subordinada; bloco 7 – concordância do adjetivo em gênero de acordo com o substantivo que ele qualifica, atribuindo uma propriedade; bloco 8 – concordância do verbo em número de acordo com o substantivo (SN sujeito) da frase; bloco 9 – coerência temporal entre o tempo verbal dos verbos empregados e o tempo da narração; bloco 10 – posicionamento de SAdj, gerando ambiguidade.

A seguir são descritas cada uma das categorias operativas que compõem o instrumento.

A tarefa de identificação no plano frasal é dividida em blocos, um para cada conteúdo sintático. Cada bloco é constituído de uma questão de US e uma de CSU, bem como de uma frase referência cuja estrutura contempla o respectivo item de sintaxe. A questão de US apresenta uma pergunta cujo foco é a identificação do elemento sintático do respectivo bloco; na questão de CSU dessa tarefa, a pergunta é “Como é que tu sabes?”, sendo a mesma para todos os blocos e tendo como objetivo obter informações sobre o conhecimento linguístico do aluno sobre o tópico de sintaxe em avaliação.

A tarefa de julgamento no plano frasal contempla um segmento linguístico, às vezes composto por uma frase, às vezes por duas ou mais, definido como “contexto sintático de referência”. Além disso, são apresentadas duas alternativas de frases para que o sujeito possa julgar qual delas corresponde ao que é dito no contexto de referência. Após efetuar o julgamento – uso sintático – os alunos devem responder à pergunta “Como tu sabes que essa é a frase?”, equivalendo à questão de CSU. A diferença entre as duas frases para julgamento sempre recai sobre o tópico sintático em investigação no respectivo bloco, de modo a permitir avaliar as condições de julgamento dos sujeitos.

Em relação à tarefa de correção no plano frasal, essa apresenta um contexto sintático de referência e uma frase de estrutura correta, mas cujo sentido não corresponde ao da frase referência. Cada bloco é composto por duas etapas: na primeira (TCA), o aluno deve identificar (US) o que não está combinando entre as frases, depois deve explicar por que não combina (CSU); na segunda etapa (TCB), o aluno deve ajustar a frase (US) de modo que ela apresente o mesmo sentido da frase referência e, em seguida, justificar por que

94 ela tem que ficar assim (CSU). A tarefa de correção, portanto, é mais complexa, apresentando duas questões de US e duas de CSU: a) O que não combina com a frase que eu falei? (US); b) Por que não combina? (CSU); c) Como é que tem que ficar a frase? (US); d) Por que a frase tem que ficar assim? (CSU). Cabe destacar aqui que não se trata de um erro gramatical na frase, mas de um ajuste a ser feito considerando o contexto de referência e o respectivo tópico sintático em investigação no bloco.

Considerando o interesse em investigar a consciência sintática dos alunos sob a perspectiva do texto, a tarefa de julgamento no plano textual apresenta as mesmas características da tarefa de julgamento, distinguindo-se dessa por utilizar como contexto de referência um texto curto de aproximadamente sete linhas. O texto foi elaborado pela autora do instrumento e se caracteriza pela história de um menino chamado Jorge. Sua estrutura apresenta os conteúdos sintáticos selecionados para o desenvolvimento do trabalho, sendo possível, assim, verificar o desempenho dos alunos quanto ao US e à CSU desses elementos no plano textual.

O quadro, a seguir, apresenta os casos sintáticos selecionados para a elaboração do instrumento, bem como as categorias operativas que o constituem.

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Quadro 1 – Casos sintáticos e tarefas para a elaboração do instrumento Tarefas /

Casos sintáticos Tarefa de identificação tarefa de julgamento no plano textual Tarefa de julgamento da frase e Tarefa de correção 1. SN Pronome pessoal reto na 3ª

pessoa do singular com função de SN sujeito anafórico.

Identificação do SN sujeito anafórico Julgamento da frase que apresenta o SN sujeito anafórico

Ajuste da frase quanto ao SN sujeito anafórico

2. SP agente da passiva Identificação do SP agente da passiva Julgamento da frase que apresenta o SP agente da passiva

Ajuste da frase quanto ao SP agente da passiva

3. SNO - oração reduzida de infinitivo com verbo dizer na oração principal e SN sujeito antecedente de verbo no infinitivo.

Identificação do SN sujeito antecedente do verbo no infinitivo

Julgamento da frase que apresenta o SN sujeito antecedente do verbo no infinitivo

Ajuste da frase quanto ao SN sujeito antecedente do verbo no infinitivo

4. SOAdj constituinte do SN sujeito e próximo desse SN.

Identificação da relação entre o SN sujeito da oração principal e o verbo e ou adjetivo da oração correspondente

Julgamento da frase que apresenta a relação entre o SN sujeito da oração principal e o verbo e ou adjetivo da oração

correspondente

Ajuste da frase quanto ao SN sujeito da oração principal e o verbo e ou adjetivo da oração correspondente

5. SOAdvl com emprego das expressões “depois de” e “antes de”, sendo a ordem de narração dos fatos não correspondente à ordem real dos acontecimentos.

Identificação da correspondência entre os eventos citados e a realização

cronológica dos eventos.

Julgamento da frase que apresenta a

correspondência entre os eventos citados e a realização cronológica dos eventos.

Ajuste da frase quanto à correspondência entre os eventos citados e a realização cronológica dos eventos.

6. Relação de causa e consequência - oração coordenada ou subordinada

Identificação da relação causa e consequência na oração.

Julgamento da frase que apresenta a relação causa e consequência na oração.

Ajuste da frase quanto à relação de causa e consequência na oração.

7. Concordância do adjetivo em gênero de acordo com o substantivo que ele qualifica, atribuindo uma propriedade.

Identificação da concordância de gênero entre o N adjetivo e o substantivo que ele qualifica.

Julgamento da frase que apresenta a concordância de gênero entre o N adjetivo e o substantivo que ele qualifica.

Ajuste da frase quanto à concordância de gênero entre o N adjetivo e o substantivo que ele qualifica.

8. Concordância do verbo em número de acordo com o substantivo (SN sujeito) da frase.

Identificação da concordância de número entre o verbo e o SN sujeito.

Julgamento da frase que apresenta a concordância de número entre o verbo e o SN sujeito.

Ajuste da frase quanto à concordância de número entre o verbo e o SN sujeito. 9. Coerência temporal entre o tempo

verbal dos verbos empregados e o tempo da narração.

Identificação da concordância temporal entre os verbos e o tempo assumido na narração.

Julgamento da frase que apresenta a concordância temporal entre os verbos e o tempo assumido na narração.

Ajuste da frase quanto à concordância temporal entre os verbos e o tempo assumido na narração.

10. Posicionamento de SAdj, gerando ambiguidade

Identificação do N que é qualificado pelo SAdj.

Julgamento da frase que apresenta o posicionamento adequado do SAdj de modo a evitar a ambiguidade sintática

Ajuste da frase quanto à posição do SAdj evitando a ambiguidade.

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2.5 Manual de aplicação do instrumento de investigação da consciência