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CAPÍTULO III METODOLOGIA

1.2 Instrumento

O instrumento utilizado para a recolha das perceções dos professores relativamente às práticas de liderança dos seus diretores foi o Leadership Practices Inventory - Observer, 4ª edição, de James M. Kouzes e Barry Z. Posner, Anexo I, cuja validação e tradução para português foi realizada pelos autores. A permissão para a sua utilização na presente investigação foi concedida pelos mesmos, como consta do Anexo II.

O instrumento foi desenvolvido a partir de intensas pesquisas iniciadas em 1983, onde se procurava que as pessoas relatassem as suas melhores experiências de liderança e as qualidades que mais admiravam nos seus superiores. A análise de diferentes estudos, quer qualitativos, quer quantitativos, permitiu demonstrar que, apesar de cada experiência de liderança ser única, elas na prática seguiam padrões em tudo muito semelhantes, e que estas práticas para além de serem observáveis e apreendidas não eram exclusivas de um conjunto de pessoas, de organizações, de países, ou de um determinado momento histórico, como demonstraram as investigações mais recentes e o alargamento das investigações aos diferentes pontos do globo (Kouzes & Posner, 2009).

Os comportamentos identificados por Kouzes e Posner organizam-se em torno de cinco práticas e dez mandamentos, de acordo com a distribuição presente na Figura 17.

Práticas Mandamentos

Mostrar o caminho 1. Clarificar valores, encontrar a própria voz e estabelecer ideais comuns. 2. Dar o exemplo ao agir de acordo com as ideais comuns.

Inspirar uma visão conjunta 3. Conceber o futuro, ao imaginar possibilidades excitantes e enobrecedoras.

4. Atrair os outros numa visão comum ao apelar às aspirações comuns. Desafiar o processo 5. Procurar oportunidades ao tomar a iniciativa e procurar formas

inovadoras para melhorar.

6. Experimentar e correr riscos ao proporcionar constantemente pequenas vitórias e aprendendo com a experiência.

Permitir que os outros ajam 7. Fomentar a colaboração ao criar confiança e facilitando as relações. 8. Dar força aos outros aumentando-lhes a determinação e desenvolvendo

as competências.

Encorajar a vontade 9. Reconhecer contributos mostrando gratidão pela excelência individual. 10. Celebrar os valores e as vitórias criando um espirito de comunidade. Figura 17. Práticas e mandamentos do Leadership Practices Inventory. Fonte: Kouzes e Posner (2009, p. 48).

Apresentado inicialmente na sua primeira edição de 1988, sob a forma de uma escala de Likert de cinco níveis, foi posteriormente alterado, na sua segunda edição, para uma escala de Likert de dez níveis, onde se associam os valores ordinais a valores qualitativos, de acordo com a seguinte ordem: 1 – Quase nunca; 2 – Raramente; 3 – Pouco; 4 – De vez em quando; 5 – Ocasionalmente; 6 – Às vezes; 7 – Com certa frequência; 8 – Geralmente; 9 – Com muita frequência; 10 – Quase sempre.

O Leadership Practices Inventory é constituído por 30 declarações, «seis declarações por cada uma das cinco práticas de liderança», que procuram medir o nível de concordância dos respondentes com cada uma delas; quando utilizado nas suas duas versões, self e

observer, constitui uma ferramenta de 360º.

A pontuação de cada inquérito é realizada através do somatório dos valores das seis declarações que integram cada uma das cinco práticas de liderança como consta da Figura 18.

Domínios Declarações do questionário

1. Mostrar o caminho 1, 6, 11, 16, 21 e 26

2. Inspirar uma visão conjunta 2, 7, 12, 17, 22 e 27

3. Desafiar o processo 3, 8, 13, 18, 23 e 28

4. Permitir que os outros ajam 4, 9, 14, 19, 24 e 29

5. Encorajar a vontade 5, 10, 15, 20, 25 e 30

Figura 18. Declarações que constituem as práticas do LPI. Fonte: Kouzes e Posner (2003).

Assim cada prática de liderança poderá obter valores entre os 06 pontos de valor mínimo e os 60 pontos de valor máximo, correspondendo a um aumento da pontuação, uma perceção de maior utilização de uma determinada prática (Kouzes & Posner, 2002).

1.2.1 Fiabilidade e consistência interna

A análise da fiabilidade e consistência interna de uma determinada medida psicológica é uma necessidade aceite pela comunidade científica (Maroco & Garcia-Marques, 2006). Qualquer medida que tenha por base a aplicação de uma escala ou de um teste a um, ou a vários indivíduos é o resultado de dois componentes, o verdadeiro resultado por um lado e por outro lado o erro da medida, entendendo-se por erro a variabilidade dos resultados obtidos no processo de medição (Hair Jr et al., 2005). Quanto menor for o índice de erros, maior será a fiabilidade dos dados recolhidos através dele. Por fiabilidade entende-se assim a capacidade de um teste ou instrumento em ser consistente, obtendo os mesmos resultados sempre que aplicado a um alvo estruturalmente semelhante (Maroco & Garcia-Marques, 2006). Apenas os dados obtidos através de um instrumento podem ser considerados fiáveis ou não fiáveis, no entanto, se um instrumento obtém consistentemente os mesmos resultados pode-se inferir que é fiável (Maroco & Garcia-Marques, 2006).

A consistência interna entre um conjunto de variáveis permite medir a correlação que se espera obter entre a escala utilizada e outras escalas hipotéticas do mesmo universo. O índice de alpha de Cronbach é uma das medidas mais utilizadas para a verificação da consistência entre as diferentes variáveis de um instrumento, podendo ser aplicado a escalas de itens com dois ou mais valores (Maroco & Garcia-Marques, 2006).

Em relação à consistência interna da escala, foi obtido um coeficiente Alpha de

Cronbach de α .975, para a globalidade das 30 declarações. Quando submetidas a uma análise

de fiabilidade as cinco práticas obtiveram índices entre α .87 e α .91, de acordo com a Tabela 1, onde se apresentam também os valores de referência divulgados pelos autores.

Tabela 1

Alpha de Cronbach, valores de referência e valores obtidos neste estudo.

Práticas de Liderança Valores referência LPI Observer* Valores do Estudo

Mostrar o caminho .88 .87

Inspirar uma visão conjunta .92 .89

Desafiar o processo .89 .90

Permitir que os outros ajam .88 .90

Encorajar a vontade .92 .91

*Fonte: Kouzes e Posner (2002).

Os valores reportados por este estudo encontram-se em consonância com os valores reportados pelos próprios autores para a versão Observer do Leadership Practices Inventory utilizado nesta investigação. De acordo com Hair et. al. (2005), o limite inferior para a aceitabilidade da confiabilidade corresponde a α .70, podendo no entanto aceitar-se valores de α .60, em estudos exploratórios. Os valores dos índices de Cronbach deste estudo encontram- se claramente acima dos valores mínimos aceitáveis.

Sempre que o Leadership Practices Inventory foi sujeito a «Teste-retest12» a sua fiabilidade tem sido sistematicamente reportada com valores em torno de α .90, ou superior (Kouzes & Posner, 2002).