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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.3 D ADOS : FONTES , TÉCNICAS DE COLETA E TRATAMENTO

3.3.2 Instrumentos de coleta de dados

Considerando-se algumas das opções mais utilizadas como ferramentas de pesquisa, podemos assinalar as seguintes opções: documentação indireta, documentação direta, observação direta intensiva e observação direta extensiva. A documentação indireta pode ser feita através da pesquisa documental e/ou da pesquisa bibliográfica. A documentação direta é realizada na pesquisa de campo ou em laboratório. A observação direta intensiva é

realizada através de duas técnicas: observação e entrevista. A observação direta extensiva realiza-se através do questionário, do formulário, de medidas de opinião e atitudes e técnicas mercadológicas (MARCONI e LAKATOS, 2003). Richardson (1999) cita três técnicas de coleta de dados: questionário, entrevista e observação. Triviños (1987, p.137) afirma que “[...] todos os meios que se usam na investigação quantitativa podem ser empregados também no enfoque qualitativo”, entretanto, as principais técnicas utilizadas em pesquisas qualitativas são: entrevista semi-estruturada, entrevista aberta/não estruturada ou livre, questionário aberto, observação participante, observação livre, análise documental, história de vida, história oral, focus group/discussão de grupo (TRIVIÑOS, 1987).

Duncan (1986), segundo o artigo citado de Fleury, Shiniashiki e Stevanato (1997a), sugere a triangulação ou “combinação de técnicas quantitativas”, tais como o uso de questionários e a análise de arquivos, “com técnicas qualitativas”, tais como a entrevista pessoal e a observação participante. Nesse sentido, alterna algumas técnicas consideradas mais objetivas com outras mais subjetivas, algumas contendo a visão do nativo, outras do observador externo. No presente estudo, incorporou-se a sugestão de Duncan (1986), combinando-se as quatro técnicas de coleta de dados, tais quais: o questionário; a entrevista pessoal; a observação participante; e análise de arquivos – aqui entendida como documentação indireta por meio de pesquisas documental e bibliográfica.As três técnicas de coleta de dados primários utilizadas na pesquisa foram: questionários mistos, ou seja, com perguntas fechadas e algumas questões abertas; entrevista semi-estruturada e observação participante. A técnica de coleta de dados secundários foi pesquisa documental.

A análise de arquivos – entendida como documentação indireta através da pesquisa documental e pesquisa bibliográfica – é útil não só por trazer conhecimentos que servem de back-ground ao campo de interesse, como também para evitar possíveis 70 TOLDO, Mariesa. Responsabilidade Social Empresarial. Prêmio Ethos Valor. Responsabilidade social das

duplicações e esforços desnecessários; pode, ainda, sugerir problemas e hipóteses e orientar para outras fontes de coleta. É a fase de pesquisa realizada com intuito de recolher informações prévias sobre o campo de interesse (MARCONI e LAKATOS, 2003). A pesquisa documental é caracterizada pelo uso de fontes primárias na coleta de dados, ou seja, está restrita a documentos, escritos ou não, de fontes primárias. “Estas podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno acontece, ou depois”. Como exemplo de dados primários, as autoras citam: documentos de arquivos públicos ou privados, estatísticas (censos), cartas, diários, autobiografias, relatos, etc. A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, jornais, boletins, revistas, livros, monografias, teses, etc. Para Marconi e Lakatos (2003, p. 183), a “pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”.

No que se refere à análise de arquivos, a pesquisa documental foi feita em documentos fornecidos pela própria empresa, de fonte secundária. A pesquisa bibliográfica foi feita em fontes de documentos que engloba a produção midiática municipal, estadual e nacional, sobre a empresa pesquisada, além de um relatório monográfico71 feito por uma estudante sobre a RSE da empresa.

Os questionários visam cumprir ao menos duas funções, conforme expõe Richardson (1999): descrever as características e medir determinadas variáveis de um grupo social. As informações obtidas por meio de questionários, possibilitam a observação de características individuais ou coletivas. O questionário deve ser classificado quanto ao tipo de pergunta e ao seu modo de aplicação. Quanto ao tipo de pergunta, o questionário pode ter perguntas fechadas – (dicotômicas, múltiplas, escalas), que, por sua vez, devem ser empresas: a contribuição das universidades, Peirópolis, 2002.

exaustivas, ou seja, deve incluir todas as possibilidades de resposta, e estas devem ser excludentes – ou perguntas abertas – quando se deseja uma maior elaboração das opiniões dos entrevistados. Além destes dois extremos, o questionário pode ser misto, combinando perguntas fechadas e abertas, proporcionando maior validade ao estudo (RICHARDSON, 1999).

Foram aplicados 4 tipos de questionários na amostra pesquisada. O primeiro foi um questionário misto, semidirigido, construído com base na teoria sócio-cultural ou corrente do “interacionismo simbólico”, e com a finalidade de capturar informações culturais e socioeconômicas dos participantes sobre seus valores morais. O segundo foi um questionário misto, o Defining Issues Test (DIT-1), primeira versão longa, desenvolvido por REST (1986) – que consiste na adaptação de outro modelo, o Moral Judgment Interview (MJI), desenvolvido com base na teoria do desenvolvimento moral por Kohlberg. O terceiro foi um questionário totalmente fechado: o Questionário de Clima Ético (QCE) de Victor e Cullen (1987, 1988), mas na sua versão aperfeiçoada por Rego (2001). E, finalmente, o quarto e último questionário, também fechado, o Instrumento de Avaliação do Comportamento Moral da Organização (IACMO), que foi um instrumento desenvolvido por LICHT (1996), também baseado na teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg, com a finalidade de se obter o nível de comportamento moral que mais frequentemente aparece na conduta da organização, caracterizando o seu nível de desenvolvimento moral modal. Este foi o único instrumento que foi aplicado apenas em alguns membros da gerência e da cúpula diretiva da empresa, não sendo necessária sua aplicação nos níveis hierárquicos inferiores. Os outros instrumentos foram aplicados em todos os níveis, com todos os participantes. A aplicação dos quatro instrumentos foi realizada diretamente e pessoalmente pelo próprio pesquisador. A ordem estipulada, como disposição de aplicação dos questionários, foi a exatamente a ordem de 71 TOLDO, Mariesa. Responsabilidade Social Empresarial. Prêmio Ethos Valor. Responsabilidade social das

apresentação dos instrumentos acima. Optamos assim, para que os dilemas e conteúdos apresentados no DIT não interferissem nas respostas dos participantes no questionário semidirigido, que foi colocado em primeiro. Os instrumentos foram aplicados em uma sala específica da empresa – uma das mais isoladas, silenciosa e tranqüila, ou seja, com as condições necessárias à concentração dos respondentes. O modo de aplicação foi uniforme para todos os participantes, sendo feito com dois participantes por vez. Cada instrumento levou em média 40 minutos para ser respondido, com exceção do último – que levou 30 minutos em média – e do penúltimo, que levou 20 minutos em média. Após a apresentação da pesquisa, quando se informava aos participantes tratar-se de uma pesquisa sobre valores e julgamentos morais compartilhados por integrantes de uma mesma empresa, o pesquisador ou aplicador explicava oralmente as instruções e aguardava em sala, durante o respondimento, para sanar possíveis dúvidas.

A técnica de entrevistas que foi adotada foi a do tipo semi-estruturada, seguindo- se um roteiro de perguntas pré-estabelecidas, orientadas pela estrutura teórica do programa de pesquisa da RSE, e pré-testadas pelo pesquisador. Nesse sentido, Triviños (1987, p. 137) assinala que uma das principais técnicas utilizadas em pesquisas qualitativas é a entrevista semi-estruturada, que é aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. As perguntas são “resultados não só da teoria que alimenta a ação do investigador, mas também de toda a informação que ele já recolheu sobre o fenômeno social que interessa, não sendo menos importantes seus contatos, inclusive, realizados na escolha das pessoas que serão entrevistadas”. Na concepção de Minayo (1994) a entrevista é um procedimento muito usual no trabalho de campo, é por meio dela que o pesquisador busca

empresas: a contribuição das universidades, Peirópolis, 2002.

obter informes contidos na fala dos atores sociais. Não corresponde a uma conversa despretensiosa e neutra, pois se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa, vivenciando uma realidade que está sendo focalizada. A entrevista é assim entendida como uma conversa a dois com propósitos bem definidos, caracterizada por uma comunicação verbal, reforçando a importância da linguagem e do significado da fala; bem como um meio de coleta de informações sobre um determinado tema específico (MINAYO, 1994:57). Seguindo as recomendações de Selltiz (1987), buscou-se a criação de um clima amigável, entre o entrevistador e entrevistado, e a imparcialidade ao se fazer os questionamentos tais quais eles se apresentavam escritos no roteiro. Reforçando essa preocupação, o entrevistador manteve-se, na medida do possível, imparcial, eximindo-se de qualquer explicação adicional que pudesse invalidar as respostas. Procurou-se, isso sim, instigar o entrevistado a falar mais a respeito do que fora solicitado. O registro das respostas foi feito utilizando-se de um gravador digital, para que o armazenamento das informações pudesse ser completo e literal, principalmente em questões abertas.

Também foi utilizada a técnica de observação participante, que segundo Richardson (1989, p. 213) é o exame minucioso e atento de um fenômeno no seu todo ou em algumas de suas partes, é a captação precisa do objeto examinado. A observação torna-se uma técnica de pesquisa à medida que serve a um objetivo formulado de pesquisa, e é sistematicamente planejada, sistematicamente registrada, e ligada a proposições mais gerais. É classificada tradicionalmente como um método qualitativo de investigação. O contato direto do pesquisador com o fenômeno observado foi feito com intuito de obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos. A importância da técnica está na possibilidade de captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, pois estão sendo observados diretamente na própria realidade, conforme corrobora Minayo (1994, p. 60). Já é consenso, com relação à técnica de observação

participante, que este seja um método de pesquisa em Ciências Sociais no qual o pesquisador interage com o grupo social ou organização de forma ativa, podendo tornar-se um colaborador deste (YIN, 2001; BERGER, 1994; BRUYNE, 1997; MINAYO, 1995; THIOLLENT, 1997). Essa técnica se distingue da observação direta sistemática (Bruyne, 1997), porque nela a interação com os membros da organização em estudo se dá através da intersubjetividade, e existe a demanda de explicitação de sentido durante essa interação.

Os membros do grupo, portanto, não são meros objetos de pesquisa, mas atores sociais capazes de explicar suas intenções, desejos e percepções da organização, de forma interativa. Outro ponto importante repousa na possibilidade que essa técnica oferece ao pesquisador de participar das atividades e trabalhos que os sujeitos da pesquisa realizam, o que permite uma percepção diferenciada deles. Um terceiro elemento importante desse tipo de técnica repousa na possibilidade de incorporação de fenômenos inesperados, que surgem para o pesquisador e que confere maiores possibilidades exploratórias que um questionário estruturado ou uma observação calcada em um roteiro pré-estabelecido.

A observação participante não foi realizada com observador oculto. Optou-se por identificar o pesquisador aos membros da organização pesquisada e explicitar formalmente em reunião, junto aos empregados da empresa, que tipo de trabalho estaríamos fazendo e qual seria o seu escopo, principalmente para minimizar fantasias e boatos que interferissem na pesquisa. Houve a preocupação em não dar muitas informações sobre a pesquisa para que isso não interferisse no comportamento das pessoas. As observações se deram de forma assistemática e livre, embora com algumas diretrizes do roteiro (RICHARDSON, 1989). Em meio a esse processo, também houve a preocupação do observador de não se modificar ou ser modificado pelo contexto (MINAYO, 1994).