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3 QUADRO TEÓRICO

4. CAMINHOS METODOLÓGICOS

4.1 Instrumentos da Pesquisa

O trabalho de pesquisa contou com vários instrumentos a fim de proporcionar um leque maior na leitura do contexto estudado. Antes e durante o contato experiencial com os Tapeba, realizei estudos acerca de documentos produzidos pela/sobre a etnia indígena em questão, como para a escola diferenciada e para a formação docente indígena.

Entre tais documentos, consegui obter vídeos produzidos pelos(as) alunos(as) da escola, os quais tinham como foco senhoras anciãs de referência da comunidade contando como foi o tempo da infância e da adolescência, assim como se dá o manejo de ervas medicinais para a cura de doenças.

Além dos vídeos citados, também tive acesso a vários livros produzidos por tapebanos(as) versando sobre sua cultura, artesanato, plantas medicinais e modo de vida. Ainda encontrei e analisei livros produzidos por pesquisadores(as) da área e distribuídos na escola, abordando temas como o artesanato, a cultura e as aves mais encontradas em território Tapeba.

Desse modo, pude conhecer melhor aspectos específicos culturais, educacionais e simbólicos, além da história vivida por eles(as), enquanto povo, o que ajudou na sinalização de formas de lidar com eles(as) e com o assunto tratado nesta pesquisa.

Em seguida, dei início à observação participante, com base na pesquisa engajada e no método etnográfico. De acordo com Góis (1993), a observação participante é concebida como necessária para a apreensão das características singulares e compreensão do cotidiano do local estudado, obtendo-se pela inserção ativa do pesquisador no contexto social, de forma a fazer parte dele.

Parto da ideia de que é na vivência que o entendimento acontece. Dessa forma, a observação participante tornou-se um passo fundamental nesse caminhar, já que os autores sociais, incluindo pesquisadores e participantes da pesquisa, estão em relação, em convivência, o que favorece a confiança entre as partes e a revitalização do espaço social do pesquisador na medida em que este aprende a se colocar no lugar do(a) outro(a), modificando- o(a) e sendo modificado (MINAYO, 2007). Como instrumento de trabalho essencial nas observações participantes, contei com um Diário de Campo, o qual serviu como uma fonte de registros da vivência e dos apontamentos.

Diante disso, afirmo que a maior coleta de dados se deu a partir da relação, do estar com eles, dentro de suas realidades. As entrevistas, as narrativas e o Círculo Dialógico foram muito importantes, porém, o contato diário tem seu maior destaque. Assim sendo, a minha convivência com a comunidade se deu de forma ativa e cotidiana.

Aos poucos, fui tornando-me despercebida, saindo da figura de pesquisadora e encontrando-me apenas como mais uma entre eles(as). A todo o momento, tentei não me limitar ao papel de observadora, mas transitei por vários papéis - auxiliando os(as) professores(as), sendo aluna, membro da comunidade e pesquisadora. Dessa forma, contei com o apoio de todos os atores sociais envolvidos, estabelecendo relações pautadas na confiança e no respeito, o que corroborou para uma participação mais qualificada e inteira da minha parte.

Para a coleta das informações necessárias a esta pesquisa, utilizei entrevistas semi- estruturadas com os professores. A entrevista, além de fonte de informações pertinentes ao objeto de pesquisa, é uma forma privilegiada de interação social. Ela permitiu uma comparação das informações apreendidas, observadas, assim como abriu a possibilidade para novas posições. Com isso, percebi que houve a possibilidade de se obter uma configuração que se adequou à demanda da pesquisa, ao mesmo tempo em que possibilitou o surgimento de várias formas de abordar os indivíduos, pois “trata-se de trabalhar com a percepção do vivido, com os significados e motivações, atitudes e valores” (MINAYO, 1993, p. 133).

palavras-chave relacionadas ao objetivo do estudo. Procedendo dessa forma, pude dar lugar ao novo, evitando discursos prontos acerca do que se pretendia investigar, além de ter sido um espaço onde encontrei vocábulos característicos da comunidade, auxiliando no meu diálogo com eles.

Escutar lideranças de destaque na comunidade, além dos(as) professores(as), favoreceu a ampliação da percepção do objeto estudado. Pensando dessa forma, optei por realizar narrativas orais com a pajé e o cacique na tentativa de aprofundar questões previamente identificadas por meio das entrevistas com os professores e das observações, a fim de ampliar e iluminar essas perspectivas.

De acordo com Figueiredo, “o conhecimento, advindo das narrativas [...], assume o papel de ‘spots’ para ver o mundo e modo de autoconstrução” (2007, p.171). As narrativas orais não se resumem à história pessoal do indivíduo, elas estão relacionadas à comunidade local assim como à sociedade como um todo.

Como o cacique e a pajé são símbolos centrais em uma comunidade indígena, suas narrativas são preciosidades, encaradas como fontes vivas de saberes. Vale acrescentar que o encontro com tais personalidades não se resumiu a uma manhã, tarde ou noite, mas a horas durante alguns dias, a saber, durante uma etapa do curso do misi-pitakajá. Escutei suas palavras e vi suas ações concretizarem-se de forma suave e espontânea. Desfrutei de suas companhias, viajei por seus ensinamentos.

Como outro passo dado em busca da coleta de dados, realizei o Círculo Dialógico (FIGUEIREDO, 2012), assim denominado por ser resultado da aliança entre o Círculo de Cultura proposto por Paulo Freire e o Círculo Dialógico-Afetivo Ecobiográfico, sinteticamente chamado de Círculo Ecobiográfico, abordagem construída por Ferreira (2011). A escolha pelo Círculo de Cultura deveu-se ao fato de que este favorece uma reflexão, a qual é facilitada por temas geradores retirados do discurso dos atores sociais envolvidos no momento da entrevista (e anterior a ela) e das narrativas orais, ocorrendo participação conjunta deles nessa ocasião. Dessa forma, pretendíamos a realização de um diálogo na luta por uma reflexão-ação que proporcionasse o fortalecimento de grupos-sujeito educativos autônomos e zelosos com suas singularidades ambientais (FIGUEIREDO, 2007).

Já a opção por se trabalhar com o Círculo Ecobiográfico aconteceu por ser uma proposta metodológica composta por vários momentos e formas de linguagens que procuram favorecer a entrada no universo do objetivo a ser explorado, como exemplo, desenhos, canções, poemas e fotografias.

Acredito, dessa forma, que o Círculo Ecobiográfico teve grande importância pelo fato de mostrar recursos e um modo de proceder metodologicamente de grande potencial e apropriado ao que me propunha e pensava fazer. Por ser uma forma de se “trabalhar a relação dos sujeitos com o lugar e o seu processo formador na relação com o entorno, consigo e com os outros” (FERREIRA, 2011, p.102), e ter como característica a flexibilidade de adaptação, segundo sua própria idealizadora, busquei direcionar as atividades propostas a fim de adequá- las ao cumprimento dos objetivos desta pesquisa.

O Círculo Ecobiográfico exige uma inserção ativano meio estudado, a fim de que seja estabelecido um vínculo de confiança entre as partes construtoras da pesquisa, fato facilitado pela escolha do método etnográfico. O referido Círculo tem como marca sua característica dialógica.

Desse modo, aliei elementos desses métodos de pesquisa na tentativa de construir uma série de possibilidades de informações que permitisse levar em conta várias opiniões sobre o mesmo assunto e obter mais dados sobre a realidade (MINAYO, 2007) – fato que se mostrou bastante produtivo.

A partir desse momento, apresento as atividades realizadas no Círculo Dialógico de forma detalhada. O Círculo ocorreu com quatro professores da escola do Trilho em um encontro no mês de março de 2012, dando o fechamento, mas não o fim, às atividades de pesquisa. Utilizei diferentes instrumentos de modo a contemplar os objetivos, o que aconteceu de forma sensível e traduzida em diversas linguagens.