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5. A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

6.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS

O primeiro passo para a realização desta pesquisa foi o contato e a apresentação do projeto deste estudo ao Núcleo de Educação Permanente da Secretaria Municipal de Caxias do Sul (NEPS). A partir da aprovação do NEPS, parecer 518/2018 (Anexo A), o projeto de dissertação foi cadastrado e aprovado na Plataforma Brasil, conforme a apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), CAAE 08832819.0.0000.5341, parecer número 3.196.458. O percurso seguiu-se pelo contato telefônico e encontro presencial com a coordenação do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil Intersetorial Mosaico Aquarela e apresentação dos objetivos da pesquisa.

Em conjunto com a equipe técnica do Serviço, a coordenação selecionou famílias que atendiam aos objetivos e critérios propostos pela pesquisa. O técnico de referência13 de cada

família foi responsável por agendar dia e horário para a realização de cada entrevista. As entrevistas foram realizadas em salas de atendimento do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil Intersetorial Mosaico Aquarela. Em cada entrevista realizada houve uma apresentação breve da pesquisadora e da pesquisa, seguida da leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo B). As entrevistas tiveram a duração média de 37 minutos, foram gravadas em dispositivo digital, e transcritas na íntegra.

Optou-se por entrevistas semiestruturadas, uma vez que esta técnica de coleta de dados permite o detalhamento das questões abordadas, visto que o pesquisador introduz o tema com uma pergunta norteadora e o sujeito tem liberdade para discorrer sobre a temática sugerida, dentro de uma conversação informal (MINAYO, 2001).

13 O técnico de referência é um dispositivo estratégico clínico-político que desempenha a função de gestão e

cuidado nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Trata-se de um profissional que se torna referência de determinado usuário e seus familiares (INSTITUTO FRANCO BASAGLIA, 2003).

69 As perguntas de uma entrevista permitem gerar reflexões e práticas discursivas que convidam o participante à produção de sentido. Por isso, o roteiro orientativo das entrevistas buscou articular o conhecimento prévio que foi levantado na revisão de literatura com os objetivos do projeto desta pesquisa, e foi construído seguindo os eixos temáticos apresentados no Quadro 2.

Após a realização das entrevistas, foi agendada nova visita ao CAPSIj, com a finalidade de consultar os prontuários das crianças das famílias que participaram deste estudo. Optou-se por conhecer os prontuários em um segundo momento para garantir que as informações não interviessem na escuta e condução das entrevistas. As informações coletadas permitiram enriquecer a caracterização dos participantes da pesquisa, apresentada no Quadro 1.

Quadro 2: Roteiro orientativo das entrevistas

Eixo Foco - convite para: Exemplos de introdução das

questões: (1) Compreensão da situação de saúde mental da criança e sua família - Descrever a criança/adolescente em suas características, potencialidades e dificuldades;

- Explicitar elementos relativos ao dia-a-dia familiar,

organização e rotina.

a) Fale-me um pouco sobre o

sujeito x. Como ele é?

b) Como é o dia-a-dia de vocês com o sujeito x?

(2) Compreensão sobre as estratégias de cuidado

- Descrever a história da criança em torno das

dificuldades manifestas e da trajetória familiar desde então.

a) Vocês comentaram que o

sujeito x tem essas

características. Quando começaram a perceber?

b) E o que fizeram a partir desse momento?

(3) Compreensão sobre os direitos, serviços e agentes que interagem com a família no processo de cuidado

- Explicar o tipo de

cuidado/apoio/atenção que tem recebido nos diversos âmbitos sociais;

- Analisar o cuidado recebido e as dificuldades encontradas.

a) Como é na escola? Que tipo de auxílio vocês recebem?

b) E no CAPSIj? c) E no CRAS?

d) Poderia ser diferente? O quê?

70 6.4 ANÁLISE DE DADOS

Os estudos centrados nas representações sociais têm por objetivo compreender a construção de teorias na interface entre explicações cognitivas, investimentos afetivos e demandas concretas que emergem das ações no cotidiano. Por se tratar de teorias de senso comum, as técnicas de análise buscam desvendar as associações de ideias subjacentes na produção destas formas de conhecimento (SPINK, 2013).

Para isso, esta pesquisa realizou a análise de dados por meio do método de análise de discurso através da técnica de associação de ideias, proposta por Spink (2013). Esta técnica se propõe a compreender como determinadas informações são associadas pelos sujeitos e produzem as formas de compreensões de mundo. Para isso, a técnica determina uma sequência de passos para o trabalho de interpretação, sendo que neste trabalho utilizou-se a técnica de mapas de associações de ideias14. A técnica de mapas se trata de um instrumento de visualização

que permite sistematizar o processo de análise das práticas discursivas (SPINK, LIMA, 2013). Após a transcrição da entrevista, seguida da leitura flutuante, foram destacados os principais trechos relacionados aos objetivos da análise deste estudo. Para a construção destes mapas, respeitando-se a sequência de enunciação, foram transcritos os trechos em colunas correspondentes aos núcleos de sentido que emergiram dos objetivos da pesquisa e da leitura das entrevistas. A construção dos mapas se deu em um processo interativo entre a análise dos conteúdos e identificação dos núcleos de sentido emergentes das entrevistas. Dessa forma, o processo de análise levou à uma redefinição dos núcleos de sentido durante o seu processo de construção, que foram organizados em três principais eixos, conforme apresentado no Quadro 3 (SPINK, LIMA, 2013).

A construção dos mapas possibilitou visualizar a associação de ideias em cada coluna (núcleo de sentido) e o processo de análise buscou compreender a organização do discurso das entrevistas. Portanto, a partir do processo de análise da organização do discurso das entrevistadas, foram identificados três principais eixos, organizados em duas dimensões associativas em cada, conforme apresentado no Quadro 3. O título escolhido para as dimensões associativas são trechos das próprias entrevistas.

14 Os mapas não são apresentados neste trabalho, uma vez que sua finalidade é permitir a visualização das

71 Quadro 3 - Processo de análise das representações sociais

Eixos Dimensões associativas

Núcleos de sentido

Representações das cuidadoras sobre si mesmas

“A minha função é essa” Obedecer orientações

“Ele que vai terminar comigo” Exaustão

Representações das cuidadoras sobre as crianças

“Ela parecia perfeita” Normalidade e Anormalidade.

“Um CID ali me deram” A partir das intervenções educativa, médica e assistência social.

Representações sobre as formas de cuidado

“Um lugar especializado pra

ver o que ela tem” Serviços (saúde, escola e assistência institucional)

“Se olhar bem, ela tá meio sedada”

Medicalização

Fonte: elaborado pela autora

De maneira atenta e minuciosa, o processo de análise em representações sociais busca abranger a consonância do conhecimento individual com o conhecimento social: não é a pertença de um sujeito a um determinado grupo que faz com que ele se comporte socialmente como o faz, mas a sua representação mental dos fatos sociais, isto é, a estrutura e condições sociais delimitam a experiência de seus membros e, assim, as representações mentais dos membros de um grupo refletem uma estrutura social. As experiências e memórias afetivas de cada participante influenciam e delimitam sua compreensão sobre o mundo, que nesta pesquisa tomou forma em representações sociais de famílias de crianças em sofrimento psíquico grave.

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