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PARTE II – COMPONENTE EMPÍRICA

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA

4.5 Instrumentos e Recolha de Dados

Nesta investigação recorremos a uma variedade de dados, utilizando dados de estrutura onde imperou a análise documental e a de dados dinâmicos com observação direta e indireta, de forma a apropriarmo-nos dos contextos de inserção desta jovem. Estes dados são descritos no capítulo V na caracterização da realidade pedagógica. Abordamos de seguida as características dos instrumentos usados.

4.5.1 Inquérito por questionário

Atendendo ao âmbito do nosso estudo, os instrumentos usados para a recolha de dados foram: inquérito por questionário aos professores e colegas de B, uma entrevista à sua mãe e fichas de levantamento do meio, escola família e jovem. O

inquérito por questionário é usado de cada vez que temos necessidade de informação «cuja observação direta, mesmo que possível levaria demasiado tempo»

(Ghiglione e Matalon,1992). «O questionário é um instrumento de observação não participante, baseado numa sequência de questões escritas, que são dirigidas a um conjunto de indivíduos envolvendo as suas opiniões, representações, crenças e informações factuais sobre eles próprios e o seu meio (Quivy e Campenhoudt,1992).» O inquérito aparece como método para compreender fenómenos como as atitudes, as opiniões, as preferências, as representações, etc., que só são acessíveis de uma forma prática pela linguagem. Através dos inquéritos, realizado aos professores de B. e aos colegas, procuramos uma análise profunda das questões de investigação que iremos cruzar com os dados da entrevista à sua mãe. Antes, o objetivo primordial prende-se com os significados subjetivos que se patenteiam nas experiências de criação, cujo alvo é uma jovem, já identificada como excecionalmente talentosa no desenho.

Também segundo Marques (2006), este estudo pressupõe que o investigador reduza a distância entre a teoria e os dados, entre o contexto e ação usando a compreensão dos fenómenos, na sua globalidade e no seu contexto natural, através da sua descrição e interpretação. É privilegiada essencialmente a compreensão dos comportamentos a partir da perspetiva dos sujeitos da investigação, embora as experiências pessoais do investigador sejam elementos importantes na análise e compreensão dos factos estudados.

Assim neste estudo, o inquérito por questionário, elaborado para os professores é composto por quinze questões divididas em dois grupos de perguntas. O primeiro grupo é composto por três questões e têm como objetivo conhecer as características dos professores inquiridos (sexo, idade, disciplina.); o segundo grupo é constituído por doze perguntas que envolvem a relação as suas crenças nas potencialidades da Arte e nomeadamente do desenho, especificamente para os

alunos com Necessidades Educativas Especiais.(Anexo III).

Ao mesmo tempo quisemos descobrir se esta aluna em específico, com um talento raro para o desenho, desenvolve competências comunicativas com os seus pares, (Anexo II). Assim foi passado um inquérito por questionário aos seus colegas que tinha como objetivo verificar a opinião deles o desenho como meio de comunicação. O inquérito por questionário é composto por dois grupos de perguntas. O primeiro grupo é composto por quatro questões e têm como objetivo conhecer as características dos alunos inquiridos (sexo, idade, escolha da área.); o segundo

grupo é constituído por sete perguntas, sobre o desenho enquanto forma e meio privilegiado de comunicação. Houve o cuidado de elaborar um inquérito por questionário, com o recurso a uma linguagem simples, clara e concisa para que não suscitasse dúvidas nos adolescentes, de maneira a obtermos respostas consistentes. Verificámos se as questões eram claras e possibilitavam aos alunos discorrer sobre o desenho como competência comunicativa de uma adolescente com Síndrome de Asperger.

4.5.2 A entrevista

Depois, recorrendo a outros modos de interrogar diferentes do inquérito por questionário, recorremos à entrevista (à mãe de B.). Na metodologia qualitativa, a entrevista é genericamente uma conversa intencional, geralmente entre duas pessoas, embora possa envolver mais, tendo em vista um objetivo que é a obtenção de informações sobre o entrevistado, as suas vivências e representações. Procura

«compreender aspetos mais complexos das representações e atitudes» (Ghiglione e Matalon,1992).Como em todos os métodos e técnicas de pesquisa, a realização de entrevistas envolve aspetos que o investigador não pode ignorar, nomeadamente os que se prendem com a subjetividade dos sujeitos e os constrangimentos do contexto e das situações em que se inserem. Tuckman (1994) refere, por exemplo, que as entrevistas traduzem os resultados revelados pelos inquiridos, refletindo o seu pensamento. No entanto, estes poderão não ser totalmente fidedignos porque podem ser influenciados pela autoconsciência ou o desejo de causarem boa impressão. Geralmente distinguem-se de acordo com o seu grau de estruturação, entrevistas não estruturadas, semiestruturadas e estruturadas, sendo a semiestruturada a de grande utilização em investigação social (Pardal e Correia, 1995). Numa entrevista semiestruturada ou semidirecta, os investigadores definem uma série de questões-guia, relativamente abertas e pertinentes para o propósito do estudo, que são colocadas pela ordem e na formulação que parecer mais adequada e natural no decurso de conversa. Deste modo, o investigador incentiva o seu interlocutor a falar abertamente, mas sempre que necessário interfere no sentido de encaminhar a entrevista para os seus objetivos. A entrevista semiestruturada com guião, previamente elaborado, foi o instrumento utilizado para a recolha de dados. Segundo Ketele (1995) a informação que se deseja recolher, seguindo este formato, reflete melhor as representações na medida em que a pessoa entrevistada tem mais

liberdade na forma de se expressar e porque se pode recolher a informação num tempo mais curto que numa entrevista livre, na qual não se possui a garantia de se obter uma informação pertinente. Ao mesmo tempo o discurso é sequenciado por partes cuja ordem é, de alguma forma, sugerida. Neste tipo de entrevistas existem alguns pontos de referência orientados para o objetivo que se pretende alcançar, mas há uma orientação moderada. Partimos da realização de uma entrevista exploratória a um sujeito – a mãe de B. (anexo IV). Esta entrevista não foi gravada por vontade expressa da própria, mas transcrita integralmente e sujeita a análise de conteúdo. A conceptualização do desenho, como uma habilidade específica que influenciou a orientação vocacional de B., exprimida pela mãe aquando da entrevista, levou-nos a identificar pistas acerca do papel do desenho como meio de comunicação, interação e aprendizagem que surgiram como dimensões no processo de categorização.