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O processo de tomada de decisão e a orientação vocacional

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO 1 O PERCURSO ESCOLAR DOS ADOLESCENTES EM PORTUGAL

1.5 O processo de tomada de decisão e a orientação vocacional

Mas entre todas estas funções, destacam-se as ações de orientação escolar e profissional, nomeadamente para alunos do 9º ano e posteriormente no 12ºano. A Orientação Vocacional é o apoio à elaboração e implementação de projetos de vida que integram as várias dimensões da existência humana. Trata-se de ajudar o adolescente a adquirir e maturar os «valores culturais e ao mesmo tempo de ordem

cognitiva, relacionados com a transmissão e aquisição de uma componente curricular humanística e científica (espírito crítico, abertura ao futuro, participação na mudança, gosto pelo conhecimento)», (Projeto Educativo da Escola Secundária José Régio, anexo XIII).

Esta perspetiva implica um conceito de desenvolvimento humano como um processo de interação dinâmica do indivíduo com o meio, que se constrói ao longo de toda a vida. No entanto, há ocasiões que se tornam particularmente relevantes em termos de tomada de decisão. Uma dessas ocasiões refere-se à transição do ensino básico para o ensino secundário, quando os jovens são confrontados, no 9º

ano de escolaridade, com a necessidade de optarem por uma formação entre várias. Tratando-se de um processo de construção, e não de descoberta de vocações

«acalentadas», precisa de ser elaborado.

Por isso, durante o processo de Orientação Vocacional, procura-se que o jovem se torne mais autónomo, considere os seus desejos vocacionais de um modo mais realista e conheça mais claramente os seus polos de interesse. O papel do profissional de orientação não é definir o «caminho» mais indicado para o jovem, mas sim apoiá-lo na construção do seu próprio projeto de vida (Teixeira, 2008:12). Incontestavelmente, a escola fornece uma experiência organizadora central na maior parte da vida dos adolescentes, oferendo-lhes oportunidades, permitindo-lhes aperfeiçoar competências e explorar as escolhas vocacionais. As ações dos pais no sentido de cooperarem com outros agentes educativos, em particular com a escola, no sentido de conhecerem melhor o seu educando, recolherem informação, ajudarem seu filho ou filha e contribuírem para a resolução de problemas, ajuda no sucesso do respetivo percurso escolar. Os pais devem ter contacto mais direto e constante não apenas com o diretor de turma, mas, através deste, com os professores e o s SPO (serviços de psicologia e orientação). É em contexto escolar que também os professores, assumem um papel fulcral no modo como os jovens encaram a escolha vocacional, sendo, muitas vezes, principais promotores de motivação e apoio nessa escolha e «em alguns casos, apoia-los no desenvolvimento de um projeto profissional» (Konigstedt e Taveira,2010:305). Os professores apresentam podem ser promotores de autonomia e responsabilidade. Estes influenciam através da colaboração com outros agentes educativos, tais como os pais, os diretores de turma e os psicólogos para uma implementação bem-sucedida das decisões vocacionais dos filhos. Também o grupo de pares exerce uma influência predominante sobre o processo de decisão.

Serão, então, as pessoas significativas para os jovens, nomeadamente, os pais, professores e amigos, e a influência que todos estes exercem, que irá refletir- se no modo com o adolescente encara as tarefas de Orientação Escolar e Profissional, não excluindo, obviamente e como já referimos anteriormente outros fatores.

Por outro lado, a Orientação Vocacional, pretende dar a conhecer a realidade sobre as oportunidades do mundo do trabalho, bem como consciencializar os alunos acerca das aptidões e habilidades necessárias requeridas para o exercício das diversas profissões e ainda, orientar o aluno para a escolha vocacional que melhor lhe ajuste «tendo em vista a preparação do ser humano para o desenvolvimento de

novas habilidades, de novas aprendizagens, ou seja, aprender a aprender» (Silva,

Noce & Andrade 2003:7).

Segundo Azevedo, do 9º ano para o 10º ano, a opção vocacional dos alunos reveste-se de dois tipos de expectativas: as expectativas escolares e as expectativas profissionais. As expectativas escolares, incluem a preferência quanto à via ou área de estudos e percurso académico, enquanto que as expectativas profissionais incluem a profissão desejada, a preferência profissional e finalmente a perceção das oportunidades profissionais e das características profissionais valorizadas pelos empregadores (Azevedo,1991:3).

De referir é também o facto de o nível socioeconómico do agregado familiar condicionar o percurso escolar e duração desse mesmo percurso. O que se verifica é que alunos oriundos de famílias pertencentes a níveis socioecónomicos mais elevados apresentam, em regra, um ritmo de aprendizagem mais rápido (riqueza de vivências, de contactos sociais e acesso a informação diversa), de uma forma mais eficaz, o que segundo o estudo de Cunha «as variáveis familiares são aquelas que

apresentam maior impacto nos percursos vocacionais na adolescência» (Cunha

2011:7). Como tal, estes alunos desejam ingressar assim no ensino superior. Assim, poderá dizer-se acerca do adolescente de 14-15 anos de idade, que está prestes a concluir o 9ºano de escolaridade e que ainda não tomou uma decisão (estado inicial) acerca do seu futuro escolar ou profissional, que ele está confrontado com o problema da escolha da carreira ou, simplesmente, que está indeciso. Daqui decorre, naturalmente, que a decisão nunca é o problema; o problema é a “não- escolha” (indecisão). De facto, decidir é um passo ou etapa fundamental na resolução de um problema.

É inegável que muitos adolescentes nas nossas Escolas Secundárias, procuram os SPO - Serviços de Psicologia e Orientação, porque querem ajuda para realizarem uma escolha escolar ou profissional. Estes adolescentes geralmente

sentem incerteza, dúvida, hesitação, perplexidade e vacilação, podendo-se concluir que eles têm um problema de (in) decisão. «No contexto atual de incertezas, o

psicólogo, e, particularmente o psicólogo de orientação, tem a função de transpor para o plano educacional uma visão realista do mundo atual e de transmitir uma perspetiva integrada de desenvolvimento pessoal e social» (Teixeira,2008:12)

O que se passa em muitos casos é que estes adolescentes propuseram-se atingir um determinado objetivo e sentem-se incapazes de o atingir pelos seus próprios meios, ou então já fizeram uma escolha mas estão inseguros e pedem uma aprovação externa acerca da sua decisão. Aqui, o papel do SPO - Serviços de Psicologia e Orientação, essencial na disponibilidade de informação sobre o mundo escolar e profissional, que pode dar aos adolescentes, ajudando-os a desenvolver outro tipo de competências e de estratégias para resolver o seu dilema. É necessário tomar em consideração os valores, os interesses, as habilidades e experiências do adolescente – em suma, as suas características individuais, entre outras. Por exemplo, as particularidades únicas e excecionais de jovens com Síndrome de Asperger, revelam-se aspetos positivos, concomitantemente com os deficits, ao nível da interação social ou emocional (incluiu a dificuldade de estabelecer ou manter conversas e interações, partilha de emoções e interesses com os outros), da falta de interesse nas outras pessoas, as dificuldades de fingir e envolver-se se em atividades sociais apropriadas à idade e problemas de adaptação a diferentes expectativas sociais) e finalmente ao nível da comunicação não-verbal – (contato anormal dos olhos, postura, expressões faciais, tom de voz e gestos, bem como a incapacidade de entender esses sinais não-verbais de outras pessoas), (DSM – 5, 2013:809). A cada dia deparamo-nos, com as dificuldades por parte dos adolescentes para fazer opções. Mas se para os adolescentes, por si só já é um processo difícil, para os adolescentes com Asperger, é ainda mais por isso a necessidade de uma orientação vocacional adequada. Por isso, a prática de Orientação Vocacional, deverá valorizar o adolescente como um todo, centrando-se, invariavelmente, nas suas próprias particularidades, nos seus interesses e aptidões, que nos jovens com Asperger, sabemos assumem as mais distintas áreas de interesse. A tomada de decisão, deverá propor aos alunos (a todos, incluindo os com Necessidades Educativas Especiais), um conjunto de atividades através das quais, partindo de acontecimentos do dia-a-dia, possam ter consciência, acerca do que

significa tomar decisões. Desta forma, adquirem progressiva noção dos principais conceitos que configuram a tomada de decisão e da necessidade de decidir. Ora, uma das principais tarefas da Orientação Vocacional é, então, apoiar o adolescente neste sentido, servindo-lhe de suporte e propiciando uma facilitação da escolha vocacional com o objetivo «de transpor para o plano educacional uma visão realista

do mundo atual de transmitir uma perspetiva integrada de desenvolvimento pessoal e social» (Teixeira,2008.12).

1.6 A orientação vocacional no jovem com Necessidades