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PARTE II INVESTIGAÇÃO

3. METODOLOGIA

3.3. INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS

Durante a investigação, a etapa da seleção das técnicas de recolha de dados a utilizar não deve ser depreciada, pois a concretização dos objetivos do trabalho de campo, dependem delas (Aires, 2015). Nos estudos de caso, os métodos e técnicas de recolha de informação visam obter informação suficiente e pertinente e o investigador deve recolher e organizar dados de múltiplas fontes, e de forma sistemática (Dooley, 2002).

Bogdan e Biklen (1994), consideram a observação participante, a entrevista não estruturada e a análise documental, como sendo técnicas de recolha de dados mais comuns na investigação qualitativa.

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Aires (2015) divide em dois grandes blocos as técnicas de recolha de dados predominantes na metodologia qualitativa: (1) técnicas diretas (que contemplam a observação participante, entrevistas qualitativas e histórias de vida); (2) técnicas indiretas (onde se incluem documentos - diários, cartas, etc., e documentos oficiais - registos documentos internos, dossiers, estatutos, registos pessoais, etc.).

Segundo Meirinhos e Osório (2010), o caso em estudo, o seu contexto, o problema, as proposições e as questões orientadoras, devem ser indicadores para o investigador das melhores técnicas e materiais a selecionar, bem como, da informação a recolher.

De seguida, são abordadas de forma breve, algumas técnicas de recolha de dados, como a observação, questionário, entrevista e análise documental.

3.3.1. Observação

A observação “constitui uma técnica básica de pesquisa” (Aires, 2015, p. 25), onde a recolha de dados é feita por contacto direto com cada situação, de forma sistemática. “A observação científica (…) permite-nos obter uma visão mais completa da realidade de modo a articular a informação proveniente da comunicação intersubjetiva entre os sujeitos com a informação de carácter objetivo” (Aires, 2015, p. 25). Pode ser participante ou não participante, sendo que o método de observação participante é interativo e necessita que o investigador se envolva nos fenómenos que observa (Meirinhos & Osório, 2010). Segundo Gil (2008), a observação participante (ou ativa), consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada. O observador assume o papel de um membro do grupo. Para Yin (2005) a observação participante é uma forma peculiar de observação. O autor considera que o investigador não adota uma posição de observador passivo, podendo assumir uma variedade de papéis no estudo de caso, sendo possível participar em acontecimentos em estudo. De forma oposta, a observação não participante caracteriza-se pela assunção de um papel de observador passivo, por parte do investigador, o observador não participa na vida social do grupo que observa (Aires, 2015). O investigador entra em contacto com o grupo ou comunidade em estudo sem se incorporar nele, apenas participa sem se envolver. Na opinião de Bogdan e Biklen (1994) existe ainda uma situação de alternância entre os dois tipos de observação, uma continuidade entre a observação não participante e a observação participante. Nesse caso, a participação do investigador não é absoluta, pode variar de acordo com a necessidade e as circunstâncias.

Meirinhos e Osório (2010) aludem ao facto da observação participante não ser de aplicação simples, requerer aprendizagem de modo a permitir ao investigador desempenhar, simultaneamente, o papel de investigador e de participante.

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3.3.2. Entrevista

A entrevista é uma das técnicas mais comuns e importantes num estudo de caso (Yin, 2005; Aires, 2015). “A entrevista é um dos mais poderosos meios para chegar ao entendimento dos seres humanos e para a obtenção de informações nos mais diversos campos” (Amado, 2013, p. 207).

Pode ser utilizada conjuntamente com outros métodos de recolha de dados ou constituir o método privilegiado da recolha. Em qualquer das situações, permite ao entrevistador desenvolver de forma intuitiva uma ideia sobre o modo como os sujeitos interpretam aspetos do mundo (Bogdan & Biklen, 1994).

Aires (2015) afirma que a entrevista implica um processo de comunicação, onde consciente ou inconscientemente, o entrevistador e o entrevistado podem influenciar-se mutuamente. “A entrevista compreende, assim, o desenvolvimento de uma interação criadora e captadora de significados em que as características pessoais do entrevistador e do entrevistado influenciam decisivamente o curso da mesma” (p. 29).

Segundo Amado (2013), uma entrevista é um método de excelência de recolha de dados, onde o entrevistado transfere informação pura, para o investigador. É uma conversa intencional com objetivos claros, onde as emoções e influências interpessoais devem ser acauteladas, através de um bom plano de investigação. De acordo com o mesmo autor a entrevista pode classificar-se, quanto à estrutura, de quatro formas distintas: (1) entrevista estruturada ou diretiva - centra-se num tema restrito e determinado. As questões são pré-determinadas. O investigador controla o ritmo da entrevista seguindo um padrão standard e direto e não expressa as suas opiniões. Todos os entrevistados respondem às mesmas perguntas, seguindo a mesma ordem. As respostas são fechadas tornando a sua análise rápida e eficiente; (2) entrevista semiestruturada ou semidiretiva - conduzida com base em tópicos específicos, organizados num guião de forma lógica, e a partir dos quais se criam as questões. O entrevistado tem grande liberdade de resposta. As questões não são colocadas de forma rígida, pelo que o entrevistado tem liberdade nas resposta enfatizando o que, na sua opinião, tem maior significado. Devido às suas características, este tipo de entrevista é um dos principais instrumentos de pesquisa de natureza qualitativa; (3) entrevista não estruturada ou não diretiva - tem um formato estímulo/resposta, esperando que a resposta seja subjetivamente sincera. As questões não têm um esquema fixo de categorias de resposta e a sua ordem pode ser alterada – respeita-se a lógica do discurso do entrevistado; (4) entrevista informal - conversação. Bogdan e Biklen (1994) consideram apenas três tipos de classificação da entrevista quanto à sua estrutura: estruturada, não estruturada ou semiestruturada.

Yin (2005) alerta para o cuidado que se deve ter, em relação ao uso de gravações, quando se faz uma entrevista. Enumera vários aspetos a que o investigador deve atender, nomeadamente, a autorização do sujeito e o seu grau de conforto.

O entrevistador não deve pressionar o entrevistado, nem fazer com que este último se sinta incomodado.

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Boas entrevistas revelam paciência. Se não souber porque é que os sujeitos respondem de uma determinada maneira, terá de esperar para encontrar explicação total. Os entrevistadores têm de ser detetives, reunindo partes de conversas, histórias pessoais e experiências, numa tentativa de compreender a perspetiva pessoal do sujeito. (Bogdan & Biklen, 1994, p. 139)

3.3.3. Questionário

O questionário é também um instrumento de recolha de informação. Para Meirinhos e Osório (2010) o questionário “baseia-se na criação de um formulário, previamente elaborado e normalizado” (p. 62). Os autores destacam que esta técnica está mais associada à investigação quantitativa, não estando muito representada na investigação qualitativa. Para Gil (2008), o questionário é definido como “a técnica de investigação formada por questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores, comportamento presente ou passado, etc.” (p. 121). O mesmo autor alerta para os seguintes cuidados a ter na elaboração de um questionário: constatação da sua eficácia para verificação dos objetivos; determinação da forma e do conteúdo das questões; quantidade e ordenação das questões; construção das alternativas; apresentação do questionário e pré-teste do questionário.

3.3.4. Recolha documental

A análise documental é utilizada em muitas investigações e pode desempenhar várias funções: complementar a informação obtida por outros métodos de recolha, “validar” e contrastar outra informação, reconstituir acontecimentos importantes e relevantes para o estudo (Aires, 2015). Para Yin (2005), a função mais importante dos documentos é “corroborar e valorizar as evidências oriundas de outras fontes” (p. 109).

Da recolha documental fazem parte documentos oficiais (internos e externos) e documentos pessoais. Os documentos oficiais são os que contêm informação sobre as organizações, registos sobre os estudantes e o seu percurso escolar, etc. Os documentos pessoais são produzidos pelos próprios sujeitos do estudo e incluem cartas, diários, memorandos, autobiografias, crenças, entre outros, e têm uma vertente mais íntima. Este tipo de elementos, podem revelar-se de extrema importância para a análise de processos educativos (Aires, 2015; Bogdan & Biklen, 1994). Para além destes documentos Bogdan e Biklen (1994), consideram ainda registos sobre os alunos e ficheiros pessoais que acompanham os estudantes ao longo de todo o seu percurso escolar e que contêm toda a informação relativa ao seu percurso (relatórios, notas, advertências, informações de outras instituições frequentadas anteriormente pelo aluno, etc.).

Como qualquer outra técnica, a recolha documental tem vantagens e desvantagens. Yin (2005) aponta as seguintes vantagens: pode ser consultada sempre que necessário, não é resultado do estudo de caso, é exata e tem ampla cobertura no tempo e no espaço. Como desvantagens o autor indica: pode ter

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fraca capacidade de recuperação, seletividade e visão tendenciosa, podem existir dificuldades/impossibilidade de acesso.

Kripka, Scheller e Bonotto (2015) destacam, também, o facto das fontes documentais facilitarem a obtenção de dados com qualidade, quantidade e com menor custo, evitando constrangimentos dos sujeitos.