• Nenhum resultado encontrado

PARTE II INVESTIGAÇÃO

3. METODOLOGIA

3.4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ADOTADOS

O presente trabalho assenta numa investigação qualitativa, incluindo cinco estudos de caso, em que os participantes envolvidos são alunos de uma turma do 10.º ano de uma escola do distrito de Setúbal. O estudo centra-se na resolução de tarefas compostas por duas componentes distintas. Uma de natureza exploratória, com o auxílio da calculadora gráfica e uma outra de natureza demonstrativa que abarca conteúdos teóricos no domínio de funções. Deste modo, pretende-se avaliar a forma como a utilização das novas tecnologias influenciam a formulação de conjeturas, bem como o processo de demonstração das mesmas.

O objetivo geral deste estudo é analisar a capacidade de demonstração Matemática de alunos do 10.º ano de escolaridade, num contexto de utilização da calculadora gráfica, que se espera ser alcançado através das respostas às seguintes questões de investigação:

1. Qual o entendimento que os alunos têm de demonstração? Qual a importância que lhe atribuem?

2. De que modo os alunos formulam conjeturas? Que tipo de raciocínio desenvolvem ao utilizar a calculadora gráfica na sua atividade com funções?

3. Qual o impacto da utilização da calculadora gráfica sobre o processo de demonstração?

3.4.1. Critérios de seleção dos participantes

A seleção dos alunos foi efetuada tendo em atenção o objetivo da investigação, ou seja, analisar a forma como os alunos organizam o seu raciocínio lógico-dedutivo independentemente dos seus resultados, bem como, verificar se a utilização da calculadora tem o mesmo tipo de impacto em alunos com diferentes níveis de aproveitamento. Assim, os alunos foram escolhidos de modo a garantir a heterogeneidade do grupo, incluindo sujeitos de ambos os sexos, métodos de trabalho diversificados, capacidade de compreensão e raciocínio distinta, bem como níveis de aproveitamento diversificados. Para além dos critérios mencionados, a escolha dos participantes recaiu apenas sobre os que se voluntariaram. Após a primeira fase de seleção, onde foi tido em conta o interesse e disponibilidade dos alunos para participar no estudo, foram selecionados cinco alunos para integrar a investigação. Para tal, foram consideradas as classificações obtidas no 1.º período e as avaliações realizadas durante o 2.º período. Foi também tido em consideração, a observação realizada em sala de aula até ao momento da recolha de dados. Esta observação permitiu analisar o interesse e motivação pela disciplina, as

70

intervenções e o empenho demonstrado. Neste processo, também foi tida em atenção a opinião da professora titular da turma. A participação de todos os alunos que integraram o estudo, foi devidamente autorizada pelos respetivos encarregados de educação (ver Anexo 6).

3.4.2. Estratégias de recolha de dados

A recolha dos dados desta investigação foi efetuada através de observação participante e não participante, análise de documental do material produzido pelos alunos durante as sessões de trabalho e da realização de entrevistas semiestruturadas.

1.4.2.3. Observação

A turma que os participantes do estudo integram, foi acompanhada pela investigadora na quase totalidade das aulas. Durante essas aulas, foi efetuada observação não participante, a qual ajudou à caracterização dos alunos e da relação destes com a Matemática, como por exemplo, motivação, interesse, participação, raciocínios aplicados em situações concretas no decorrer das aulas, organização, forma de comunicar bem como, outros aspetos que se tenham mostrados relevantes para a seleção dos alunos (trabalhos de casa, trabalhos de realização facultativa propostos pela professora titular e trabalho autónomo). Também, durante a realização das tarefas, este tipo de observação permitiu percecionar eventuais bloqueios e o modo como foram ou não superados. Permitiu, também, compreender de modo mais aprofundado, o raciocínio dos alunos ao longo da realização das tarefas.

Ao longo das sessões de trabalho, foi privilegiada a observação não participante, no entanto, em alguns momentos, nomeadamente, quando a investigadora se apercebia que os alunos não conseguiam avançar na resolução das tarefas, optou-se por uma observação participante. Este tipo de observação permitiu evidenciar alguns processos de raciocínio utilizados pelos alunos, que de outro modo o aluno poderia não transmitir.

1.4.2.4. Entrevista semiestruturada

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas a cada um dos alunos participantes, seguindo o guião que pode ser observado no Anexo 2. Uma entrevista inicial e outra após a realização de cada uma das tarefas. As entrevistas iniciais visaram compreender qual a área da Matemática de que os alunos mais gostam, o entendimento que têm de demonstração e a utilidade da demonstração. Por sua vez, as entrevistas pós-tarefa tentavam aferir qual a relação dos alunos com a calculadora gráfica durante a realização da tarefa, opinião sobre a tarefa e as dificuldades sentidas na realização da mesma. As entrevistas iniciais foram realizadas nos dias 25, 26 e 27 de março, enquanto que as pós-tarefa foram realizadas após cada uma das tarefas.

71

1.4.2.5. Recolha documental

A análise documental afigurou-se como um método importante, na medida em que todas as resoluções em papel, foram recolhidas para análise e compreensão dos raciocínios lógicos, de cada um. Para um maior e melhor conhecimento dos alunos, foram também recolhidos documentos junto da diretora de turma. A análise destes documentos permitiu compreender o percurso escolar de cada um, bem como conhecer outras características de cariz mais pessoal (idade, zona de residência, habilitações académicas dos pais).

1.4.3. Sessões de trabalho

A recolha de dados decorreu de forma global em três sessões de trabalho, para resolução das tarefas propostas. As sessões de trabalho em que se realizaram as tarefas tiveram, cada uma, a duração aproximada de 100 minutos. A primeira sessão de trabalho decorreu no dia vinte e oito de março, com o início às onze horas e vinte minuto tendo sido realizada a tarefa “Relação geométrica entre o gráfico de uma função e o da respetiva inversa”, que pode ser consultada no Anexo 3. A segunda sessão de trabalho decorreu no dia dois de abril, às dezasseis horas e vinte minutos e foi realizada a tarefa “Sentido da concavidade de um gráfico de uma função real de variável real”, que se encontra no Anexo 4. Por último, os alunos realizaram a tarefa sita no Anexo 5, “Coordenadas do vértice de uma função quadrática”, na terceira sessão de trabalho que decorreu no dia quatro de abril, com início às onze horas e vinte minutos. Todas as sessões decorreram numa sala de aula da escola. Para garantir que os alunos trabalhavam individualmente e de forma autónoma na tarefa, bem como para facilitar a recolha de dados, os participantes foram colocados estrategicamente em mesas relativamente distanciadas. No momento em que as tarefas foram distribuídas aos alunos, foi também informado que deviam escrever todos os seus raciocínios e justificações dos mesmos. Durante a resolução das tarefas, a investigadora reduziu a sua intervenção ao mínimo, participando apenas quando os alunos revelavam bloqueio na resolução da tarefa. Muitas das intervenções foram feitas recorrendo a questões que levassem os alunos a tentar pensar de outra forma e ultrapassar a dificuldade.

1.4.4. Tarefas

Para esta investigação foram propostas três tarefas, tendo todas elas como objetivo principal demonstrar um dado resultado. Tal resultado seria (ou não) percecionado pela observação, na calculadora gráfica, do gráfico de várias funções levando à formulação de conjeturas. Todos os alunos envolvidos na investigação realizaram as mesmas tarefas. Todas as propostas foram elaboradas de acordo com o programa de Matemática A do 10.º ano de escolaridade, estando como tal, adaptadas ao que se espera que um aluno, neste nível de ensino, consiga realizar. A sequência com que foram aplicadas esteve relacionada, não só com o seguimento do programa, mas também com o grau de dificuldade que aumenta da primeira para a terceira tarefa. Nas duas primeiras tarefas, a observação dos

72

gráficos permite criar uma conjetura que se pretende que os alunos demonstrem em seguida. A última tarefa induz primeiramente a uma conjetura, que cairá com um outro exemplo, revelando-se difícil criar uma nova conjetura, havendo neste caso necessidade da demonstração analítica do resultado pedido.

Com a primeira tarefa, pretendia-se que os alunos demonstrassem analiticamente, mas a partir da uma análise gráfica, a relação existente entre o gráfico de uma função e o da respetiva inversa, isto é, sempre que uma função real de variável real, f, admite inversa, os gráficos cartesianos da função e da sua inversa são a imagem um do outro pela reflexão axial de eixo de reflexão 𝑦 = 𝑥.

A segunda tarefa tinha como objetivo demonstrar que o sentido da concavidade do gráfico de uma função quadrática, definida pela expressão 𝑓(𝑥) = 𝑎𝑥2, 𝑎 ≠ 0, é voltada para cima se 𝑎 > 0 e é voltada para baixo se 𝑎 < 0. Através da representação gráfica de exemplos concretos de funções do tipo 𝑎𝑥2, 𝑎 ≠ 0, o conceito do sentido de concavidade do gráfico de uma função quadrática num dado intervalo 𝐼 é ilustrado pela comparação dos declives de duas retas definidas por quaisquer três pontos 𝑃, 𝑄 e 𝑅 do gráfico, pertencentes ao intervalo e de abcissas, respetivamente, 𝑥𝑃, 𝑥𝑄 𝑒 𝑥𝑅, com 𝑥𝑃 < 𝑥𝑄 < < 𝑥𝑅 . Como este conteúdo ainda não tinha sido lecionado, foi incluído no enunciado da tarefa.

A terceira e última tarefa tinha como objetivo demonstrar que o vértice do gráfico cartesiano de qualquer função quadrática definida por 𝑓(𝑥) = 𝑎𝑥2+ 𝑏𝑥 + 𝑐, 𝑎 ≠ 0, tem coordenadas (− 𝑏

2𝑎, 𝑐 − 𝑏2 4𝑎). Pretendia-se que o aluno definisse a função f, por uma expressão equivalente da forma 𝑓(𝑥) = 𝑎(𝑥 − ℎ)2+ 𝑘, 𝑎 ≠ 07, com ℎ = − 𝑏

2𝑎 e 𝑘 = 𝑐 − 𝑏2

4𝑎 , e demonstrasse que o vértice do gráfico cartesiano de qualquer função quadrática tem coordenadas (ℎ, 𝑘).

7 Antes de os alunos realizarem a última tarefa a investigadora fez uma revisão do método de completar o

73