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Parte II Estudo empírico

3. Metodologia

3.4. Instrumentos utilizados

No desenvolvimento do estudo foram utilizados os seguintes instrumentos: (1) Questionário de informação sociodemográfica; (2) Breve Questionário Portátil sobre o Estado Mental – 10 itens (10-item Short Portable Mental Status Questionnaire, SPMSQ); (3) Inventário de Luto Complicado (ILC); e (4) Entrevista semiestruturada sobre o processo vivencial do luto.

(1) ‘Questionário de informação sociodemográfica’

Este questionário pretendeu recolher informações sociodemográficas tais como: género, idade, estado civil, escolaridade, número de filhos, data de nascimento, localidade geográfica,

há quanto tempo faleceu o ente querido, circunstâncias da sua morte, instituição que reside ou frequenta, toma de medicação antidepressiva, soníferos ou ansiolíticos, e tempo de toma de medicação. Este questionário encontra-se presente no protocolo e foi aplicado antes da realização da entrevista semiestruturada.

(2) ‘Breve Questionário Portátil sobre o Estado Mental – 10 itens’

O Breve Questionário Portátil sobre o Estado Mental consiste (10-item Short Portable Mental

Status Questionnaire, SPMSQ; Pfeiffer, 1973, traduzido e adaptado por Rodrigues, 2008) num

conjunto de 10 questões de resposta rápida (1 a 10) com a finalidade de avaliar a presença ou não de défice da função cognitiva, permitindo definir se a pessoa está apta para continuar a responder ao protocolo do estudo ou se é necessário obter respostas por um informante qualificado. A avaliação deste instrumento é baseada segundo os erros: 0-2 erros (funcionamento mental normal); 3-4 erros (defeito cognitivo ligeiro); 5-7 (defeito cognitivo moderado); 8 ou mais erros (defeito cognitivo grave) (Rodrigues, 2008). É de referir duas exceções relativas ao número de respostas erradas, sendo aceite mais um erro na pontuação se a pessoa tiver frequentado até ao ensino básico e menos um erro se a pessoa tiver frequentado o ensino secundário ou superior. Em situações que se erre em mais do que quatro questões, o que constitui um critério de exclusão, o entrevistado não poderá continuar a prestar mais informações. No entanto, estudos evidenciam que, por vezes, quando o avaliado erra mais de quatro respostas pode dever-se a falta de informação ou a ansiedade devida à confrontação inicial com o entrevistador. Desta forma, mesmo que ocorram os quatro erros, deve ser deixado ao critério do entrevistador se a entrevista poderá ou não prosseguir.

Escolheu-se este instrumento devido à sua brevidade e por se encontrar validado para a população portuguesa. O instrumento foi validado através da validação do Questionário de Avaliação Muldimensional de Idosos (Older Americans Resources and Services Program - OARS), que avalia a capacidade funcional em cinco áreas fundamentais. O OARS é composto por duas partes, a parte A, que consiste na avaliação de cinco áreas funcionais, e a parte B, que avalia a utilização e a necessidade percebida de serviços. A aplicação da parte A inicia-se com o instrumento de avaliação cognitiva utilizado, o SPMSQ, em particular na componente

Multidimensional Functional Assessment Questionnaire que avalia em termos funcionais as

áreas de saúde mental, recursos sociais, recursos económicos, saúde física e atividades de vida diária. A versão original do questionário OARS foi traduzida para português por Rodrigues

(2008), sendo denominada de Questionário de Avaliação Funcional Multidimensional de Idosos (QAFMI). Esta versão portuguesa foi aplicada a 303 idosos (147 residentes em lares e 155 utentes da resposta social centro dia) no distrito de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Leiria, Guarda e Viseu. Em relação às suas propriedades psicométricas, para verificar a coerência interna e a validade de construção da adaptação da versão portuguesa, foi realizada uma análise fatorial dos itens subjetivos (alfa de Cronbach superior a 0,80, o que indica uma boa consistência interna), agrupando-os tal como na versão original.

(3) ‘Inventário de Luto Complicado’ (ILC)

Este instrumento foi criado por Prigerson e colaboradores, em 1995, com a finalidade de avaliar sintomas que possam indicar a presença de luto não complicado (Inventory of

Complicated Grief, ICG; Prigerson et al., 1995, traduzido e adaptado por Frade e Rocha, 2010).

É composto por 19 itens relacionados com as dificuldades por vezes sentidas pelas pessoas após acontecimentos de vida difíceis. O ILC caracteriza-se por ser numa escala tipo Likert com quatro hipóteses de resposta: (0 = “nunca”; 1 = “raramente”; 2 = “às vezes”; 3 = “muitas vezes”; 4= “sempre”). A pessoa deve escolher a alternativa que melhor descreve como se sente em relação a uma situação de luto. A avaliação de sintomas de luto é feita através da contagem dos números atribuídos nos 19 itens. Se a pessoa apresentar (ICG total> 25) indica a presença de luto complicado.

Em 2010, Frade e Rocha traduziram e validaram o ILC para a população portuguesa. Para verificar a coerência interna e a validade de construção desta adaptação da versão portuguesa foi realizada a análise fatorial, revelando um satisfatório ajustamento global. Aplicada a 127 estudantes universitários, foram 55mpacto f avaliadas as características gerais da escala, a fidelidade (alfa de Cronbach igual a 0,91, o que indica uma boa consistência interna) e validade (5 fatores explicaram 68,9% da variância, e correlações com a sintomatologia depressiva (r = 0,50) e traumática (r= 0-53). Os resultados revelaram boas propriedades psicométricas da versão portuguesa do ILC.

(4) ‘Entrevista semiestruturada sobre o processo vivencial do luto’

A entrevista é um método de recolha de dados através da comunicação verbal entre duas pessoas, o entrevistador e o respondente (Fortin, 2009). Uma das características principais da

entrevista semiestruturada é a utilização de um roteiro previamente elaborado, que serve de eixo orientador ao seu desenvolvimento. Não é exigido uma ordem rígida nas questões, sendo que o entrevistador vai adaptando as questões no decorrer da entrevista (Fortin, 2009). A entrevista semiestruturada sobre o processo vivencial do luto (adaptado de Sousa, 2013) focaliza-se no processo de superação do luto, sobre o qual existe um roteiro com três pontos principais: 1) Sente-se, neste momento, em luto?; 2) Gostaria que me falasse um pouco acerca de si: da sua vida, das suas origens, do que fazia para se divertir, de todo o meio que o envolveu antes da perda dessa pessoa significativa; e 3) Fale-me acerca do que sentiu após a perda do seu ente querido (dentro da família, dos amigos, da profissão, condição de saúde, situação socioeconómica): ‘O que mudou na sua vida?/ Como fez (ou faz) a superação da dor? (sentimentos de dor experienciados) / Que estratégias adotou (ou adota) para viver no dia-a- dia?/ Que tipo de apoios físicos ou humanos recebeu (ou recebe)?/ O que mais gosta e o que menos gosta de fazer depois dessa perda?’.

De seguida, passa-se a descrever como foi realizada a análise e o tratamento dos dados.

3.5. Análise e tratamento dos dados

Depois de realizadas as entrevistas semiestruturadas, passou-se à transcrição de cada uma. Esta foi uma tarefa morosa e difícil, pois muitas vezes não se compreendiam certas partes devido às características do discurso oral das participantes. Dado que estes apresentavam erros gramaticais, entre outros aspetos, foram feitas algumas alterações na transcrição com o intuito de facilitar a sua leitura e compreensão, sem se modificar os discursos. Por exemplo, nas palavras com erros, colocou-se em parêntesis retos a palavra escrita corretamente (meti [metia]); em casos de expressões ou palavras não compreendidas foi colocado [impercetível]; em situações como a falta de uma palavra para uma melhor compreensão, colocou-se entre parênteses essas palavras (´E ele (marido) apareceu-nos`); nas palavras que não se tinha conhecimento do respetivo significado, colocou-se em parêntesis retos o seu eventual significado (´Das tricanas [raparigas do povo ou do campo]`); outra regra adotada foi o uso deste sinal [?] em expressões ou palavras que não se compreendiam.

As transcrições foram posteriormente conferidas com as gravações originais, o que implicou múltiplas audições e leituras. De maneira a preservar a confidencialidade e o anonimato das participantes, todas as transcrições foram codificadas com recurso à sigla “ID” e com o número referente à ordem em que foram realizadas (de ID1 a ID14) (Anexo 6).

Para análise destes dados obtidos utilizou-se como método a análise de conteúdo, que possibilita ao investigador analisar e categorizar os elementos dos textos (Caregnato & Mutti, 2006). Para simplificar a interpretação dos dados relativos ao segundo ponto da entrevista (vida adulta antes da perda), organizaram-se os dados por categorias e subcategorias, com recurso a uma tabela para facilitar a análise (Anexo 7). Referente às perguntas sobre as vivências após a perda do cônjuge procedeu-se à classificação dos dados com recurso a uma tabela (Anexo 8). Primeiramente foram selecionados os discursos referentes a cada pergunta e, de seguida, por discurso, identificou-se o conceito significativo (o que era mais importante) e qual a informação adicional (informações presentes no discursos ou não). Esta organização e interpretação dos discursos possibilitou, através da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) e da classificação de Nd (não definível da CIF), a classificação dos dados. Foram, utilizadas duas das quatro naturezas de Nd desenvolvidas por Cieza e colaboradores (2005): nd-sm (saúde mental não definível) e nd-qv (qualidade de vida não definível).

V CAPÍTULO - APRESENTAÇÃO E LEITURA DOS RESULTADOS

Este capítulo incide na apresentação e leitura dos resultados obtidos no presente estudo, dividido em duas partes. Numa primeira parte, apresenta-se a caracterização geral da amostra, nomeadamente as informações sociodemográficas, os dados relativos à vida antes da perda, e os resultados do Inventário de luto Complicado. Numa segunda parte, procede-se à apresentação e leitura de quatro análises: (i) análise por pergunta, ID, unidades de classificação e subunidades de classificação da CIF; (ii) análise por componentes, ID, unidades de classificação e subunidades de classificação da CIF; (iii) análise por perguntas, componentes, e unidades de classificação e subunidades de classificação da CIF; e (iv) análise das unidades de classificações mapeadas no presente estudo e as da Checklist geral CIF.