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Intérprete Educacional no Ensino Superior

3 Tradução e Interpretação: algumas considerações

4.2 Intérprete educacional

4.2.1 Intérprete Educacional no Ensino Superior

O ingresso do aluno surdo no ensino superior tem crescido gradativamente. Em 2009, uma pesquisa realizada pela Federação Nacional das Associações para Valorização de Pessoas com Deficiência (Fenavape) apontou que, o número de surdos no ensino superior passou de mínimos 444, em 2007, para 1.895, em 2009. Uma parte destes alunos surdos, ao se formarem, decide enveredar pelas carreiras de docência67, tornando-se professores, tanto de surdos quanto de ouvintes. Certamente, com estes quase 2 mil alunos surdos, estava a figura do intérprete de Libras.

A inserção do intérprete de Língua de sinais no nível superior, assim como em outros níveis de ensino, vem passando por um processo de ampliação. Cada vez mais, instituições de ensino buscam o trabalho deste profissional em sala de aula. A grande preocupação, enquanto profissionais da área, remete-se à forma como estes estão sendo inclusos nesse cenário da educação. O desconhecimento pela instituição e o núcleo de professores da real função e abrangência do intérprete de Língua de sinais, neste ambiente de trabalho, ainda, é fato reincidente.

A figura do intérprete de Língua de sinais precisa ser reconhecida. Nas experiências diárias, vivenciadas, percebe-se que, a visão atual dessa classe, pelos professores e pelos alunos ouvintes de salas inclusivas, encontra-se em fase de construção. Na grande maioria das vezes, são vistos como mediadores no processo de comunicação, ou seja,

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Em 2006, iniciou-se o curso de Licenciatura em Letras Libras, pela UFSC, em parceria com Instituições Federais de ensino por todo o país.

responsáveis por verter de uma Língua para outra, para que, de fato, os interlocutores se compreendam.

A visão citada contempla um dos atributos do intérprete educacional, porém, a sua atuação não se finda nesta vertente. Perlin (2006) destaca que, quanto mais se reflete sobre a presença do intérprete de Libras, mais se compreende a complexidade de seu papel, as profundidades e dimensão de sua atuação. Percebe-se, então, que tais profissionais são, também, intérpretes da cultura, da Língua, da história, dos movimentos, das políticas da identidade e da subjetividade surda, e apresentam suas particularidades, sua identidade, sua orbitalidade.

Diante dessa temática de estudo, o principal ponto alarmante refere-se à instituição de ensino que, por vezes, credita a responsabilidade do processo de aprendizagem do aluno surdo somente ao intérprete, por este ser o vínculo em sala de aula mais próximo do surdo. Muitas vezes, em face do desconhecimento, a aproximação e a relação professor-aluno ficam limitadas.

De fato, não se pode generalizar a todos os educadores, porém, um grande percentual ainda defende tal ideia. Sabe-se que, vários dos aspectos mencionados são recorrentes em todos os níveis de ensino, todavia, no ensino superior, estes se agravam, uma vez que, a própria dinâmica universitária colabora para que haja este distanciamento entre professor e aluno surdo.

O intérprete é personagem atuante e facilitador no cenário de ensino, porém, o desenvolvimento e o sucesso acadêmico do aluno envolvem, também, outros participantes, tais como, o próprio aluno surdo, o professor, a sua metodologia e os objetivos que este traça, respeitando a diferença linguística.

A atuação do professor pode ser otimizada, dependendo do seu nível de conhecimento e interesse pelo desenvolvimento do seu aluno surdo. Em grande parte, peca pelo desconhecimento, ou seja, a presença do aluno surdo é algo novo, diferente, e instiga o profissional a aprofundar-se em tais temáticas. Em algumas situações, chegam à sala de aula sem saber que irão ter um cliente diferenciado. Porém, não se pode locar a culpa, simplesmente, na instituição de ensino, pois, esta, em alguns eventos, organiza palestras e oficinas que envolvem inclusão, que, por sua vez, não são procuradas por estes mesmos educadores.

Outro participante ativo nesse ambiente é o intérprete de Língua de Sinais. Para executar o seu trabalho de forma clara e efetiva é necessário seguir determinandos aspectos básicos: possuir curso de formação de intérprete, no qual englobam o conhecimento do sujeito “surdo”, a ética profissional, dentre outros conhecimentos específicos; ter competência linguística e referencial do tema, que será interpretado/traduzido, possuir vocabulário expandido, sendo fluente em Língua Portuguesa, para utilizar tais conhecimentos no momento do ato tradutório, tanto para VOZ-SINAL68 como SINAL-VOZ69.

No entanto, sabe-se que, no cotidiano universitário, bem como, em outros níveis de ensino, o tempo de estudo para o tema que será interpretado, praticamente, é resumido; e o intérprete de Língua de sinais tem que realizar seu trabalho sobre uma pressão de urgência e competência que lhe é exigida. (SANTOS; MASSUTI, 2008)

Conhecer termos técnicos e específicos de cada curso, a utilização da datilologia, e o uso de sinais que, muitas vezes, são criados no momento do ato tradutório pelos próprios surdos, para agilizar a entremeação linguística, quando tal “termo” é repetido em várias ocasiões, durante a apresentação do conteúdo pelo professor. Referidos achados, citados sobre a atuação do intérprete, são fatores decisivos, que facilitam o processo de intermediação neste nível de ensino.

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Interpretação da Língua Portuguesa para Libras. 69

5 A PESQUISA

Pesquisar é um trabalho que envolve um planejamento. O sucesso da pesquisa dependerá da escolha do procedimento adequado a ser seguido, do envolvimento do pesquisador com a pesquisa, bem como, da sua habilidade em determinar o melhor caminho para alcançar os objetivos estabelecidos. Portanto, a definição mais adequada de método é “o caminho para se chegar a determinado fim. E método científico, como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento.” (GIL, 1995, p. 27)

Esta seção objetiva apresentar o percurso metodológico seguido na presente pesquisa, compondo-se de um planejamento meticuloso, com reflexões conceituais pertinentes, embasadas em conhecimentos prévios, contribuindo com a reflexão sobre a atuação dos intérpretes de Libras no processo pedagógico no ensino superior, identificando o perfil e observando práticas de interpretação e tradução utilizadas por estes profissionais, durante a sua atuação no ensino superior. Neste sentido, o desenvolvimento do trabalho teve as seguintes etapas:

a) a primeira etapa trata da caracterização da natureza da pesquisa;

b) a segunda traz uma descrição do processo de escolha e do perfil dos sujeitos, como também no campo de pesquisa;

c) a terceira apresenta os instrumentos usados na coleta dos dados; e, d) a quarta seção relata os procedimentos usados na análise.

Durante a realização do trabalho, algumas questões surgiram diante da conjectura encontrada. Com efeito, questões advindas da experiência como intérprete de Libras, já citadas na introdução deste trabalho, emergiram:

a) que fatores movem a instituição no que diz respeito à acessibilidade de alunos com deficiência, e, especialmente, os alunos surdos;

b) como é visto o profissional intérprete de Libras e qual a sua função na inclusão educacional nesta IES;

c) quais os elementos que dificultam ou facilitam a atuação do intérprete de Libras no ensino superior; e,

d) se a formação inicial e acadêmica deste intérprete é elemento decisivo para a qualidade de sua prática.