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Pontos a serem melhorados quanto à atuação do Ils

6 A ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LIBRAS NO ENSINO SUPERIOR

6.3 Práticas de atuação do intérprete no ensino superior: um campo (des)conhecido

6.3.1 Atuação diária do Ils

6.3.1.5 Pontos a serem melhorados quanto à atuação do Ils

Durante as observações e entrevistas, refletiu-se sobre o quanto, ainda, precisa-se aperceber de pequenas situações e atitudes, que poderiam deixar o aluno surdo mais relaxado, seguro e incluído no ambiente acadêmico.

Uma simples pergunta ao intérprete sobre o aluno surdo pode ser o gerador de uma série de conflitos. As tensões aumentam se o Ils responder pelo aluno surdo, “Professor dirige uma pergunta sobre a Libras e o Ils responde. Mas, eu posso responder, eu sou surdo.”

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(Entrevista AS1). É compreensível que o aluno surdo se posicione desta forma, pois, a maioria das perguntas que os professores fazem sobre o surdo, gira em torno da língua de sinais, da cultura e da comunidade surda. Deste modo, acredita-se que, o aluno surdo teria mais condições de responder a estas questões, pois elas compõem o seu cotidiano e são intrínsecas a sua realidade.

Outra questão pontual, mas, polêmica, são as conversas que o Ils tem com os alunos ouvintes em sala de aula. Na maioria das vezes, o Ils opta por falar, ao invés de sinalizar, e, isto cria um grande desconforto para o aluno surdo: “conversar com outro ouvinte, oralmente, e, eu, ali do lado, é falta de respeito comigo. Eu pergunto sobre o que é que eles conversavam, o Ils pede desculpa e explica. Mas, se eu tiver algo a perguntar para o ouvinte, é tarde, ele já se foi.” (Entrevista AS1). Percebe-se, nesta abordagem, a necessidade que o surdo tem de participar de todas as falas e de todas as conversas.

Se o aluno surdo está incluído, o ambiente precisa estar acessível, linguisticamente. A partir desta vertente, surge outra questão: o intérprete deve sinalizar para o surdo, mesmo em horários de intervalos e descanso? Embora, ainda, seja cedo para responder, de fato, o surdo tem direito de partilhar de todas as informações que circundam o seu ambiente acadêmico, e, organizacionalmente, o intérprete foi contratado para tal.

Outro ponto bastante citado refere-se à memorização dos conteúdos das aulas anteriores, por parte do intérprete. O aluno surdo tem a consciência de que o intérprete não tem, necessariamente, que aprender e lembrar-se de tudo o que foi visto nas aulas passadas, mas, mesmo assim, há uma cobrança, no sentido de que, se o intérprete lembrasse, poderia contextualizar melhor a interpretação. “O Ils esquece o que foi ministrado na aula passada, eu tenho que lembrar a ele. Há um acordo com os sinais. O intérprete esquece a matéria porque ele não estuda.” (Entrevista AS1). Nesta fala, identifica-se um teor de cobrança, sobre a aprendizagem dos conteúdos feita pelos intérpretes, mas, de acordo com Sander (2000), quanto menos se lembrar da própria interpretação, mais neutro se permanecerá. Desta feita, questiona-se: não seria interessante que os intérpretes recordassem dos conteúdos interpretados?

Esta é uma questão bastante complexa, e, durante as observações das aulas, percebe-se que, a maioria dos intérpretes contextualizavam, positivamente, as aulas, sempre fazendo relação com o que foi dito na aula anterior. Para se fazer esta relação, usa-se a construção frasal: “LEMBRAR ANTES AULA...”. Desta forma, vai se retomando o assunto e

a interpretação flui. Esta retomada não acontece com intérpretes substitutos. E, este ponto crítico é citado, de maneira recorrente, durante as entrevistas. Observa-se uma insatisfação, tanto por parte do aluno surdo, quanto por quem está substituindo o intérprete ausente.

Aula de cálculo é ótima, consigo entender algumas coisas sem o intérprete, mas, se o Ils faltar na aula teórica, mesmo que venha uma pessoa para substituir, há um prejuízo. Eu fico magoado. O Ils falta porque bateu o carro ou ficou doente. (Entrevista AS1).

Esta sensação de perda torna-se pior, quando, ao invés de uma aula teórica ou prática, o intérprete falta em dias de avaliação, pois, o intérprete, que está a substituir, não conhece os sinais usados, desconhece os conteúdos, e, inúmeras vezes, não possui afinidade com a área. Infelizmente, o maior prejudicado é o aluno surdo, que, além de tudo, em determinadas situações, não conta com a compreensão do professor, pelo que se foi observado.

O pior prejuízo que eu já tive, devido à falta de intérprete, foi numa prova, em que o Ils não compareceu. Eu conversei com o professor para me propor a uma segunda chamada, e, ele afirmou que não havia esta possibilidade. Então, eu tirei nota baixa. (Entrevista AS1).

Esta insatisfação quanto às substituições, não é exposta, apenas, pelos surdos. A maior parte dos intérpretes entrevistados afirma que, sentem uma insatisfação, aliada a um misto de insegurança, quando são chamados para realizar substituições, e, ao chegar à sala de aula, são informados de que o aluno fará uma apresentação de seminário. “Ficamos à deriva, sem saber que rumo tomar, nossa bússola não funciona, tudo é complexo, andar por terras desconhecidas...” (Entrevista I4). Uma das soluções, apontadas pelos intérpretes entrevistados, é informar ao professor e ao aluno surdo que o ILS substituto não domina o assunto, e, assim, solicitar ao surdo maiores informações sobre a sua apresentação, antes que ela aconteça, a fim de amenizar os prováveis prejuízos, decorrente da fala do aluno surdo.

Sabe-se que, são muitas as situações que permeiam a prática e a atuação dos intérpretes de Libras, no ensino superior. São ocasiões pontuais, que necessitam de um norte, em que, é preciso apontar um caminho. Adiante, seguem algumas recomendações, oriundas, tanto dos relatos dos entrevistados, quanto da observação, considerando, ainda, reflexões sobre a atuação deste profissional.