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O posicionamento da autora acerca das práticas realizadas no cotidiano escolar nos leva a refletir sobre a diferença linguística e cultural das línguas expostas ao sujeito surdo e concordamos que esta metodologia deve ser repensada para que o atendimento ocorra de forma integral, em virtude de estarmos nos referindo a dois sistemas linguísticos distintos.

Compreendemos também a importância do educador no âmbito escolar de criar oportunidades para que o ensino de Língua Portuguesa na escola regular se concretize de maneira efetiva, pois sabemos que esta se refere a uma segunda língua que precisa ser significada. Para tanto, uma opção, é contar com o apoio dos integrantes da comunidade escolar e, principalmente, com o apoio dos intérpretes, que são peças importantes nesse processo, como veremos no tópico a seguir.

2.4 O papel do intérprete de Libras

O atendimento ao aluno surdo na escola inclusiva deve vir acompanhado de adaptações básicas como, por exemplo, a introdução do intérprete de Libras em sala de aula; a presença de um instrutor de Libras e o próprio professor de Libras para que o acesso à língua brasileira de sinais chegue aos demais alunos dessa escola.

Tendo em vista que o surdo é um sujeito que produz cultura de acordo com as experiências visuais, é necessário que a escola promova uma educação alicerçada na sua diferença cultural, pois o sujeito surdo possui uma identidade linguística diferenciada e a

escola deve respeitar essa particularidade, bem como o uso dessa língua, não permitindo, portanto, como única propositura de inclusão do(a) aluno(a) surdo(a), a condição do intérprete.

Segundo Quadros (2004, p.27), o intérprete de Libras “[...]é o profissional que domina a língua de sinais e a língua falada do país e que é qualificado para desempenhar a função [...]”, ou seja, deve ser o profissional que vai mediar a comunicação entre duas ou mais pessoas que não compartilham a mesma língua.

Compreendemos que a presença do intérprete no âmbito educacional não é garantia de inclusão do aluno surdo e nem solução para os problemas desse sujeito nesse espaço, contudo, a introdução desse profissional vem a contribuir, consideravelmente, para o desenvolvimento de práticas inclusivas realizadas pela escola; neste contexto corroboramos o posicionamento de Lacerda e Lodi (2014, p. 17) segundo o qual espera-se que, à medida que a “[...]condição linguística do sujeito surdo seja respeitada, aumentem as oportunidades dele [sic]

desenvolver-se e construir novos conhecimentos de maneira satisfatória [...]”, ademais, espera-se também que, aos poucos, toda a comunidade escolar seja capaz de interagir com o surdo através da Libras sem a necessidade da presença do intérprete.

De acordo com o disposto no Art. 17 do Decreto 5.626 de dezembro de 2005, a formação do tradutor e intérprete de Libras – Língua Portuguesa – deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras – Língua Portuguesa.

No Art. 18, o Decreto citado estabelece ainda que, nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, a formação de tradutor e intérprete de Libras – Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de:

I – cursos de educação profissional;

II – cursos de extensão universitária; e

III – cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por secretarias de educação.

Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III.

Essa formação e convalidação dos certificados dos intérpretes de Libras, conforme explicitado acima, é importante para assegurar o direito do surdo de acordo com o disposto no decreto.

Ressalte-se que, como intervenção na sala de aula regular, os intérpretes de Libras utilizam o alfabeto manual da Libras, como apoio para o processo de ensino-aprendizagem da língua de sinais tanto para o surdo como para os alunos ouvintes, como forma inicial de introduzir a língua.

Figura 01 – Alfabeto Manual em Libras

Fonte: vamos-aprender-o-alfabeto-da-Libras-compartilhemcurta-Libras-avante-/1284028691666333/ O alfabeto manual da Libras é utilizado para fazer a datilologia da língua em diversas situações cotidianas, para tanto, podemos citar: expressar nomes de pessoas; de lugares; de rótulos ou até palavras em que não existem sinais convencionados em Libras. É uma forma de apresentação da ortografia de uma palavra em Língua Portuguesa.

Outro fator importante a ser mencionado é que, como qualquer língua, a língua de sinais não é universal e que, portanto, cada país possui a sua língua com suas especificidades que são próprias da sua comunidade e dotadas da cultura em que está inserida. Isso se refere também às variações linguísticas existentes dentro de um mesmo país, assim como ocorre com as línguas orais, as línguas de sinais também estão expostas a essas variações, pois trata-se de uma língua viva, em que os sujeitos são protagonistas.

Ademais, dentre as funções do intérprete de Libras, no ambiente escolar, também enquadra-se a introdução da língua de sinais aos(às) alunos(as) surdos(as) que nunca tiveram contato com a referida língua, em que são apresentados os 05 (cinco) parâmetros, que são constituídos por: Configuração de mãos; Ponto de Articulação; Movimento; Direcionalidade e Expressão, a saber: cada sinal da Libras é elaborado através da combinação destes cinco parâmetros, portanto, uma língua visuoespacial.

Nesse sentido, no capítulo que segue, discutimos acerca da Aquisição da Linguagem do surdo no espaço virtual através de ferramentas virtuais, com a colaboração do intérprete de Libras.

3 O ATENDIMENTO AOS ALUNOS SURDOS NA SALA DE AULA EM TEMPOS DE PANDEMIA COVID-19

Neste capítulo, voltamos os nossos olhares ao contexto vivenciado pela pandemia da Covid-19, direcionando a educação ao ERE, inferindo sobre a necessidade da realização de atividades remotas, aliada à utilização das TDIC através das FVNexA, que emergiram de forma considerável no intuito de atender, com eficácia, a uma grande parcela da sociedade que não possui acesso às FVA