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CAPÍTULO III – Geopolítica da Amazónia

III.3. Integração da Amazónia Legal

Na certeza de “que é o fator econômico a causa principal da pretensa defesa ecológica e preservação da cultura indígena”346, para repelir e prevenir futuras tentativas de bloqueio

económico a coberto de protecção ambiental e humanitarismo faccioso, deverá o Brasil proceder ao mapeamento económico e ecológico para o delinear e efectivar de uma estratégia de integração da região Amazónia Legal ao todo do conjunto territorial brasileiro, aproximando-a dos centros de poder político e económico nacional, bem como das parcelas amazónicas dos demais países condóminos do complexo constitutivo da Amazónia Global. Para tal, será necessário fazer do desafio da integração da Amazónia um Objectivo Nacional Permanente, com a consequente adopção de políticas e estratégias de ocupação aplicadas com continuidade, incidindo as mesmas no levantar de uma rede de vias de comunicação que vertebre internamente a região em causa, ao mesmo tempo que a articula com a totalidade do conjunto nacional e complexo amazónico – nomeadamente através da construção de estradas, utilização dos muitos quilómetros navegáveis que a rede hidrográfica oferece naturalmente, bem como com a sua optimização tendo por base a realização de obras que possibilitem a

345 No ano de 2010 as 10 maiores economias do mundo foram: 1º- EUA, 2º- China, 3º- Japão, 4º- Alemanha, 5º- França, 6º- Itália, 7º- Reino Unido, 8º- Brasil, 9º- Espanha, e 10º- Canadá. Ver: Cfr., “As 10 maiores economias do mundo em 2010”, disponível em: http://girouniversal.wordpress.com/2010/08/19/as-10-maiores-economias- do-mundo-em-2010/. Acesso a: 17/Jan./2013; 17:30.

multiplicação dos quilómetros navegáveis vencendo as quedas de água que interrompem a transitoriedade do curso dos rios com potencial para se transformarem em vias hídricas de conexão intra-regional, regional, nacional e inter-regional.

Tal estratégia de integração deveria contemplar também uma política de estímulo à migração interna de populações oriundas de áreas demográficas mais saturadas, para a região amazónica, com prioridade para as sub-regiões da Amazónia Ocidental e da Calha Norte, uma vez que a humanização da Calha Sul, ao Leste do meridiano de Manaus, se apresenta bem adiantada347. Em simultâneo, a região terá que ser igualmente dotada de um conjunto de infra- estruturas básicas capazes de promover as condições necessárias à elevação do Índice de Desenvolvimento Humano da população local de forma a optimizar a sua capacidade de produção. O mesmo se pode afirmar quanto à necessidade de criação das infra-estruturas necessárias à exploração do potencial energético conhecido e prospectivado que, a existir, poderiam permitir dotar a região do indispensável suporte energético para estabelecimento de uma base industrial de transformação dos recursos naturais nesta existentes.

Assim, no plano da integração inter-regional, o Brasil, enquanto detentor da maior parcela do complexo amazónico e maior potência regional348, deveria assumir a liderança na reabilitação do Pacto Amazónico, procurando promover a superação da falta de consenso entre os países signatários, para que possam ser estabelecidas as conexões terrestres que facilitem as comunicações e permitam a integração inter-regional das respectivas parcelas amazónicas marginalizadas, que fazem da região um alvo vulnerável aos interesses das Grandes Potências e das suas empresas multinacionais.

Do ponto de vista dos interesses do Brasil, a prioridade da aposta num sistema de comunicação inter-regional amazónico passaria, muito especialmente, pelo estabelecimento de ligações com os países andinos, através dos quais poderia vir a ter acesso aos portos da vertente sul-americana banhada pelo Oceano Pacífico, o que possibilitaria a redução das distâncias e dos preços de transporte de mercadorias para o macro mercado do Oriente.

347 Cfr. PEREIRA, Carlos Patricio Freitas (2007), Op. Cit., nota 38, p. 285.

348 Segundo a académica Sandra Balão, “o Brasil é hoje a potência regional da América do Sul”, sendo que “essa classificação não resulta apenas da sua localização geográfica ou da sua reserva de recursos mas, sobretudo, da sua capacidade de comércio e do seu posicionamento na cena política internacional”. In: BALÃO, Sandra Maria Rodrigues, (2011), Op. Cit., nota 22, p. 265.

De entre as ligações possíveis, perfilam-se como geopoliticamente mais vantajosas para o Brasil, a conclusão/modernização da ligação ferroviária Santos-Arica, ligando o Brasil ao Chile, e aos portos deste no Pacífico, assim como a preferencial opção pela conclusão da auto- estrada BR-364 acordada entre o Brasil e o Peru na década de 1960, o que permitiria a concretização da chamada ligação norte com o Peru, tendo o assunto sido retomado em contactos bilaterais ocorridos em 2005. O traçado daquela via rodoviária, que ao longo do segmento brasileiro estabelece a conexão Cuiabá – Porto Velho – Rio Branco – Cruzeiro do Sul, desenhar-se-ia preferencialmente no sentido de ir ao encontro do segmento peruano via Pucalpa, transpondo aí o rio Ucayali, continuando de seguida em direcção ao porto de Callao por uma via terrestre já existente. Tal traçado teria a vantagem de, conjuntamente com a construção da auto-estrada Transacreana, possibilitar a integração do Estado do Acre no processo produtivo brasileiro, assim como reduziria em milhares de quilómetros a distância entre a Amazónia e o Oceano Pacífico, deixando o escoamento da produção brasileira para o grande mercado oriental, via porto Callao, a cerca de 17.000 km de distância.

Contudo, enquanto se mantiver o boicote norte-americano à ligação do segmento brasileiro com o peruano, (que já dura há cerca de cinquenta anos), o transporte das mercadorias brasileiras com destino ao mercado oriental continuará a ser expedido a partir do porto de Santos no Sudeste brasileiro, percorrendo uma distância que assim se mede em cerca de 25.000 km.

Por outro lado, dada a continentalidade do principal pólo de desenvolvimento da Amazónia Brasileira – Manaus –, muito distante dos principais portos das vertentes oceânicas do Pacífico e do Atlântico, a integração da unidade geopolítica Amazónia Legal com a macrounidade Amazónia Global também teria, na perspectiva brasileira, de tomar a direcção de uma saída para as Caraíbas. Nesse sentido, a auto-estrada brasileira BR-174, partindo de Manaus, no Estado do Amazonas, e cruzando o Estado de Roraima, possibilitaria o escoamento da produção local pelas Caraíbas, via portos da Venezuela e das Guianas, atenuando a continentalidade de Manaus.

Já no plano da integração intra-regional, o processo daria um passo decisivo com a realização da via hídrica Araguaia-Tocantins no Estado do Pará, a qual, estendendo-se por 2.800 km, transformar-se-ia na via de integração dos Estados de Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Maranhão e Pará, agregando assim a sub-região da Amazónia Central, assegurando

igualmente a existência, à continental Brasília, de um porto para escoamento dos produtos locais.

III.4. Segurança349 e Defesa350 da Região

Tendo em conta que “a geopolítica demonstra que a segurança e o desenvolvimento de uma nação são interdependentes”351, é possível admitir como hipótese que, no médio-longo prazo,

não se garanta a Segurança da Amazónia Legal se não se promover simultaneamente o desenvolvimento económico e social da mesma, através da aplicação de uma estratégia de ocupação e integração da região às várias escalas, particularmente entre os litorais dos Oceanos Atlântico e Pacífico, como a “arma” mais eficaz para a Segurança da região.

Por outro lado, e considerando-se ainda que sem “a vertente da segurança (…) não há desenvolvimento económico nem político”352, também tenderá a ser difícil alcançar o

349A Política de Defesa Nacional (PDN) do Brasil “define segurança como a condição que permite ao país a preservação da soberania e da integridade territorial, a realização dos seus interesses nacionais, livre de pressões e ameaças de qualquer natureza, e a garantia aos cidadãos do exercício dos direitos e deveres constitucionais”. No seguimento daquela definição de Segurança estabelecida pela PDN do Brasil, esta mesma política passa a considerar que a “segurança está relacionada à percepção de ameaças que, eventualmente, podem se transformar em agressões”, acrescentando que “tais ameaças podem ter origem e implicações no âmbito externo ou interno de um Estado-Nação e manifestarem-se como agressões ao Poder Nacional em todos ou parte dos seus campos”. Consequentemente, para a PDN do Brasil, “prover segurança implica, pois, proporcionar as condições que neutralizem os efeitos dessas ameaças, para garantir o progresso e o desenvolvimento das nações”. Ver: MINISTÉRIO DA DEFESA, SECRETARIA DE POLÍTICA, ESTRATÉGIA E ASSUNTOS INTERNACIONAIS (2007), “Doutrina Militar de Defesa”, disponível em: www.arqanalagoa.ufscar.br/pdf/doutrina¬_militar_de_defesa.pdf., pp. 17-18. Acesso a: 10/Mar./2013; 10:25. 350 Para a PDN do Brasil “Defesa é o ato ou o conjunto de atos realizados para obter, resguardar ou recompor a condição reconhecida como de segurança”. No seguimento daquele conteúdo atribuído ao termo Defesa, a “PDN [do Brasil] define Defesa Nacional como o conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase na expressão militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas”. No entanto, e “embora as Forças Armadas sejam vocacionadas prioritariamente para a defesa externa”, a PDN do Brasil também considera que “algumas ameaças de origem interna devem constituir-se em objectos de estudo” no âmbito da Defesa Nacional. Independentemente da origem interna ou externa da ameaça, ao colocar a ênfase na expressão militar que o conjunto de medidas e acções do Estado assumirá na defesa do território, soberania e interesses nacionais, a PDN do Brasil assume claramente que “a capacidade militar é a essência da Defesa Nacional” do país, “devido ao seu poder de coacção e efeito dissuasório” a exercer sobre as ameaças potenciais ou manifestas. Do que fica exposto da conceptualização que a PDN do Brasil faz de Segurança e de Defesa, em jeito de conclusão, poder-se-á afirmar que “a Defesa guarda correspondência com os níveis de segurança”, evidenciando a estreita correlação que se estabelece entre Segurança e Defesa. Ver: MINISTÉRIO DA DEFESA, SECRETARIA DE POLÍTICA, ESTRATÉGIA E ASSUNTOS INTERNACIONAIS (2007), Op. Cit., nota 349, pp. 18-19.

351 PEREIRA, Carlos Patricio Freitas (2007), Op. Cit., nota 38, p. 302.

352 MOREIRA, Adriano (2002), Teoria das Relações Internacionais, Coimbra: Livraria Almedina, 4ª edição, p. 448.

desenvolvimento353 daquela região sem que, no curto prazo, se garanta um nível mínimo de segurança que permita ganhar o tempo necessário para pôr em marcha uma estratégia de ocupação, integração e crescimento354, a qual se perspectiva seguramente longa em face da gigantesca dimensão do desafio, e suas inerentes exigências de toda a ordem.

Assim, a par da implementação da estratégia de ocupação, integração e desenvolvimento, será imperativo que o Brasil disponha de uma capacidade militar adequada às ameaças que possam vir a pender não só, mas também, sobre a Amazónia Legal, respaldando a força do seu aparelho bélico com a participação em alianças regionais.

Não obstante o Brasil possuir as Forças Armadas mais numerosas e bem equipadas no contexto regional do subcontinente Sul-Americano, há que ter em consideração que as ameaças poderão emanar de Grandes Potências provenientes de outras geografias. O Brasil terá de colmatar um conjunto de lacunas no seu aparelho militar de forma a assegurar um eficaz poder de dissuasão compatível com uma hipotética ameaça colocada por Grandes Potências.

Devido a orçamentos reduzidos355, especialmente quando comparados com os das principais potências militares do mundo356, os três ramos das Forças Armadas Brasileiras apresentam

353 Por conceito de Desenvolvimento dever-se-á entender a “transformação das estruturas demográficas, económicas e sociais que, geralmente, acompanha o crescimento. A noção [de desenvolvimento] põe a tónica no aspecto estrutural (industrialização, urbanização, assalariamento, institucionalização etc.) e qualitativo (transformação das mentalidades, dos comportamentos, etc.) da evolução a longo prazo”. No entanto, a concepção de desenvolvimento poderá assumir uma feição mais normativa, como por exemplo “quando os economistas «terceiro-mundistas» falam de crescimento sem desenvolvimento ou de «desenvolvimento do subdesenvolvimento», [os quais] procuram mostrar que o crescimento não se traduz, nos países dominados da periferia, por um autêntico progresso económico e social”. Outro exemplo de uma concepção mais normativa de desenvolvimento dá-se “quando outros economistas ou sociólogos preconizam um desenvolvimento sem crescimento, [os quais] procuram mostrar que a transposição do modelo de desenvolvimento ocidental encerra os países do Terceiro Mundo na armadilha da dependência, enquanto que um verdadeiro desenvolvimento pressupõe que cada país conserve o controlo das condições materiais da reprodução da sua sociedade e da sua cultura”. Do que fica dito sobre o conceito de Desenvolvimento, conclui-se que “não existe, portanto, uma definição unívoca deste termo”. Ver: ECHAUDEMAISON, Claude-Danièle (1998), Dicionário de Economia e

Ciências Sociais, Paris: Editions Nathan, p. 101.

354 Já por sua vez o conceito de Crescimento coloca a tónica no “aumento sustentado da produção de um país [ou região] durante um período longo”, tomando-se geralmente “o PIB (…) como indicador de crescimento” e, de um modo muito geral, “podem apontar-se como principais factores de crescimento: o aumento da população activa e da qualificação da mão-de-obra, a acumulação de capital a melhoria da divisão e da organização do trabalho, o progresso técnico e as inovações”. Consequentemente, no seguimento do que fica dito sobre os conceitos de Crescimento e Desenvolvimento, destacamos que “alguns autores qualificam o crescimento de fenómeno quantitativo e o desenvolvimento de fenómeno qualitativo”, distinguindo-se assim um do outro. Ver: ECHAUDEMAISON, Claude-Danièle (1998), Op. Cit., nota 353, p. 87.

355 Cfr. PEREIRA, Carlos Patricio Freitas (2007), Op. Cit., nota 38, p. 303.

356 Para uma comparação entre os orçamentos das principais potências militares, ver: THE INTERNATIONAL

determinadas lacunas que contribuem para a diminuição da sua capacidade de intervenção, com oportunidade, em qualquer região da Amazónia Legal357. No ramo da Marinha, “o quadro é de carência de recursos financeiros para seu programa prioritário”358 de reforço e

modernização da Esquadra, fazendo-se sentir na substituição de navios apropriados às exigências da região amazónica, afectando também o ritmo de desenvolvimento do programa nuclear, retardando assim a construção do primeiro submarino nuclear brasileiro, o qual conferiria ao país assinalável poder de dissuasão359.

Por sua vez, o ramo da Força Aérea, dispondo de uma rede de bases aéreas, aeródromos e pistas de aterragem adequadamente distribuída pelas capitais estatais e principais cidades da região por um lado, não possui, por outro, os meios aéreos necessários e suficientes para fazer pleno uso daquela infra-estrutura, uma vez que se apresentam em número escasso, obsoletos e baseados principalmente na sub-região da Amazónia Leste, ferindo a capacidade de prontidão e a interoperacionalidade entre as forças dos três ramos360.

Quanto ao Exército, as Forças de Acção Rápida, concentradas no triângulo Goiânia – Rio de Janeiro – São Paulo, encontram-se dependentes de meios de transporte aéreo, ao passo que as forças dispostas ao longo da linha de fronteira carecem de mobilidade, limitando-se estas a missões de presença, vigilância, informação e colonização, reflectindo-se sobre este ramo a insuficiência da Força Aérea em meios aéreos de transporte. Estas forças de fronteira, em caso de agressão, dada a impossibilidade de coordenação e apoio mútuo entre si, serão facilmente batidas por partes ou simplesmente evitadas, fazendo-se necessária a revisão desta ordem de batalha, assim como a de todo um dispositivo dispendioso mas ineficaz361.

Em termos práticos, o Exército Brasileiro encontra-se confrontado com a dicotómica questão entre a adopção de uma estratégia de presença362 ou, pelo contrário, uma estratégia de

357 Cfr. PEREIRA, Carlos Patricio Freitas (2007), Op. Cit., nota 38, p. 303. 358 Idem, p. 303.

359 Sobre o alcance e significado que a construção do primeiro submarino nuclear teria para o Brasil, nomeadamente no que à capacidade de dissuasão do país diz respeito, leiam-se as seguintes palavras do General brasileiro Carlos Pereira: “Quando mostrarmos tecnologia que se concretize na construção de um submarino nuclear, teremos logrado apreciável poder de dissuasão e conquistado o prestígio de nação desenvolvida nos campos militar e da ciência e tecnologia”. In: PEREIRA, Carlos Patricio Freitas (2007), Op. Cit., nota 38, p. 303.

360 Cfr. PEREIRA, Carlos Patricio Freitas (2007),Op. Cit., nota 38, p. 303. 361 Cfr. idem, pp. 303-304.

362 De acordo com o significado que o General Carlos Pereira atribui à expressão Estratégia de Presença, a mesma poderá ser conceptualizada como uma estratégia assente numa significativa e visível presença das Forças Armadas Brasileiras na região amazónica, materializada através de toda uma estrutura e infra-estrutura militar

dissuasão363 para a Amazónia364. Porém, sabendo-se que o Comando Militar da Amazónia, responsável pela Segurança e Defesa de uma região equivalente a 58,9% do território nacional dispõe de um efectivo correspondente a apenas 10% do total disponível365, e considerando-se que “na atual conjuntura, qualquer ameaça à consecução da soberania só poderá advir (...) sob liderança de potência nuclear”366, para defesa da Amazónia Legal, actualmente não restará ao

Brasil “alternativa diferente da adoção da guerrilha de longo prazo”367, a exemplo da

experiência vietnamita, pois “somente realizaremos [i.e. o Brasil e as suas Forças Armadas] a dissuasão estratégica se formos capazes de mostrar aos possíveis agressores, mesmo aos mais poderosos, nossa vontade férrea de lutar e nossa capacidade militar de oferecer uma resistência longa e que exigirá, do adversário, um preço alto, em vidas e em recursos materiais”368.

Numa estratégia de dissuasão que terá, necessariamente, que se basear numa capacidade efectiva de manter uma guerra de guerrilha de longo prazo, o Brasil teria as vantagens do conhecimento do terreno e da adaptação do combatente ao meio ambiente amazónico, tendo este vindo a receber instrução para a condução de uma guerra de guerrilha em ambiente de selva em centros criados para o efeito, os quais têm recebido prioridade. Para conservar tal que contemple um Comando Militar estruturado sobre uma densa rede de bases militares amplamente distribuídas pelo espaço daquela região, cobrindo-o convenientemente. Tal rede de bases militares teria, por sua vez, de dispor de todo um conjunto de meios materiais e humanos adequados a uma tal estratégia de presença, com particular destaque para um numeroso efectivo de soldados que permitisse marcar presença em toda a amplitude da vasta região amazónica. Assim, uma estratégia de presença com tais características permitiria preencher os vazios de poder gerados pela ausência da presença do Estado Brasileiro em determinadas áreas da sua região amazónica, obviando desta feita, por antecipação, aos questionamentos que tais vazios de poder têm vindo a levantar relativamente à autoridade e soberania do Estado Brasileiro sobre aquela sua parcela territorial. 363 O conceito de Estratégia de Dissuasão refere-se a uma estratégia que visa dissuadir, isto é, inibir potenciais agressores de desencadearem uma eventual agressão militar, tendo por objectivo evitar que a grande prova de força venha efectivamente a ocorrer. Para tanto, para que a operacionalização de uma estratégia de dissuasão possa ser bem-sucedida, será necessário que quem a adopte disponha de um aparelho bélico credível, dotado dos meios materiais e humanos necessários para infundir na mente do potencial agressor um forte sentimento de dúvida quanto às suas probabilidades de sucesso no conflito ou que, mesmo em caso de projecção de um cenário de vitória, o potencial agressor possa vir a considerar que os ganhos a obter não compensarão o elevado preço a pagar em vidas e recursos materiais. Ver: Cfr. CENTRO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS DA ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO (Set./Out./Nov./Dez./2002), “Dissuasão não-nuclear: limites e aplicabilidade”, Rio de Janeiro: A Defesa Nacional/Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, vol. 88, nº 794, pp. 5 e 6. Assim, com base no conteúdo do conceito de Estratégia de Dissuasão apresentado e no significado que Carlos Pereira lhe atribui quando o utiliza por oposição ao conceito de Estratégia de Presença, entendemos que aquele autor se está a referir à possibilidade de se poder alcançar o desejado efeito dissuasor sobre um potencial agressor, sem que o aparelho bélico credível tenha de estar, necessariamente, presente, a tempo inteiro e em toda a força, na região amazónica, podendo o mesmo vir a ser mobilizado para a região posteriormente, em caso considerado de necessidade.

364 Cfr. PEREIRA, Carlos Patricio Freitas (2007), Op. Cit., nota 38, p. 304. 365 Cfr. idem.

366 PEREIRA, Carlos Patricio Freitas (2007), Op. Cit., nota 38, p. 304. 367 Idem, p. 304.

vantagem, deverá o Brasil “evitar a ingenuidade de instruir militares de nações amigas, potencialmente agressoras, em todos os estágios dos cursos de guerra na selva”369, uma vez