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Fonte: CASTRO, Therezinha de, Retrato do Brasil - Atlas – Texto de Geopolítica, p. 15.

No que se refere aos nós – planaltos que permitem circundar um pico alto –, localizados ao Norte da Cordilheira, verificamos que também possibilitam o contacto entre as duas vertentes dado o facto geográfico de se posicionarem de modo favorável, concentrados que estão no anfiteatro amazónico. Assim, os nós de Pasto na Colômbia e de Loja no Equador, ao posicionarem-se, respectivamente, na direcção dos vales de Putumayo e Marañon, uma vez desenvolvidas as vias hidrográficas de ligação daqueles vales ao oceano, apresentam ambos um importante potencial geopolítico de acesso ao Atlântico. Também o nó de Cerro de Pasco no Peru, dividindo-se entre os vales do Marañon e Purus, ao prolongar-se em direcção ao integrante do complexo hidrográfico amazónico rio Madeira, através do nó de Cuzco, possibilita um potencial acesso à vertente oceânica atlântica, ao Norte do subcontinente. A par deste potencial de comunicação entre as duas vertentes oceânicas ao Norte do subcontinente, apresenta-se a Bacia Amazónica, também com o potencial de se constituir numa sub-região de articulação importante entre as geoestratégicas áreas das Caraíbas e o

heartland73 do subcontinente Sul-Americano – o altiplano boliviano. Este potencial, quando explorado em associação com a integração da Bacia Amazónica, oferece a possibilidade de transformar em pólo de atracção aquela zona agora considerada repulsiva, através da dinamização resultante da transfusão das riquezas das zonas geopolíticas neutras do subcontinente de uma vertente oceânica para a outra.

Quanto à segunda zona longitudinal do subcontinente é possível verificar, igualmente, que as Planícies do Orenoco, Amazónica e Platina, servidas por redes hidrográficas tributárias do Atlântico, impelem a América do Sul rumo àquele Oceano, sentido este reforçado pelo declínio geográfico apresentado pelos Planaltos das Guianas e Patagónico. Por sua vez, em sentido inverso e por isso pendendo para o interior, o Planalto Brasileiro apresenta pela sua disposição uma vocação continental ao espraiar-se simultaneamente para Norte e Sul, servindo assim de enlace entre as Bacias Amazónica e Platina. Dada a sua posição e configuração, constatamos igualmente que o Planalto Brasileiro ao envolver a área geopolítica neutra do centro geográfico do subcontinente, não só permitiu no passado a dilatação da extensão do hinterland74 com a marcha para Oeste do colonizador português, como

73 A expressão de Heartland refere-se a um conceito teórico desenvolvido pelo geopolítico inglês John H. Mackinder para classificar uma vasta região situada no “coração da Eurásia”, a maior massa terrestre continental do planeta, a que aquele designaria de “Ilha-Mundo”. O conceito de heartland foi originalmente concebido por Mackinder como um vasto território com enorme potencial para a prática da agricultura e pecuária, devido à sua disponibilidade de terras férteis e abundantes recursos hídricos, da actividade de extracção de matérias-primas, dadas a enormes jazidas de minerais e recursos energéticos, e para assentamento de grupos humanos, apesar de subpovoada. Além de representar uma região rica em recursos naturais, a sua delimitação original, apresentava-a como uma região cercada por extensos acidentes geográficos como cadeias de montanhas, rios de grande dimensão, planaltos, desertos e extensas áreas permanentemente congeladas, constituindo-se assim numa fortaleza natural inexpugnável e impossível de conquistar por uma potência naval exterior à vasta massa terrestre da Eurásia. Posteriormente, este conceito desenvolvido para a Eurásia, passaria a ser aplicado à América do Sul por Golbery do Couto e Silva sob a expressão de “área de soldadura” continental, querendo com ela referir-se à região central do subcontinente Sul-Americano formada pelas regiões do Centro-Noroeste do Brasil, Norte da Argentina e a totalidade dos territórios do Paraguai e da Bolívia, por a considerar possuir algumas das características identificadas por Mackinder na Eurásia, nomeadamente por identificar aquela região central da América do Sul como o coração geográfico do subcontinente. Com efeito, apesar do conceito original de

heartland poder apresentar limitações quando aplicado a outros continentes que não a massa continental euroasiática, a sua aplicação ao espaço geopolítico do subcontinente Sul-Americano, apresenta uma mais-valia explicativa para o entendimento da estratégia brasileira de integração Sul-Americana, especialmente se se considerar a importância dos projectos de infra-estruturas de transporte, comunicações e de energia pensados para cruzar esta região central do subcontinente, assim como para uma melhor compreensão da estratégia de Segurança e Defesa do Brasil no plano regional. Sobre esta questão do alcance, limites e pertinência do conceito de heartland aplicado ao subcontinente à luz dos actuais desafios geopolíticos de integração Sul-Americana e seu valor estratégico, ver: Cfr. OLIVEIRA, Lucas K. e GARCIA, Tatiana S. L. (2010), “O Conceito de Heartland na Geopolítica Clássica: Funcionalidade e Limites para a análise da Região Central da América do Sul”, disponível em: http://www.anppas.org.br./encontros5/cd/artigos/GT17-598-977-20100904053012.pdf.. Acesso a: 07/Jan./2013; 15:13.

74 Para a operacionalização e compreensão do conceito de Hinterland faz-se necessário, antes de mais, operacionalizar os conceitos de Ecúmene e de Núcleo Vital (expressão castelhana que traduz a expressão original inglesa de heartland). Assim, segundo Jose Felipe Marini, o conceito de Ecúmene refere-se à “área que ofrece

actualmente se apresenta como placa incontornável da vertebração do espaço territorial brasileiro, bem como do próprio subcontinente Sul-Americano.

I.1.2. Divisão Política

Apesar do marcante traço que a Cordilheira dos Andes imprime à fisiografia do subcontinente, temos vindo a verificar que, se esta não se mostra favorável à unificação política, também não impõe a desagregação como determinismo geográfico. O traçado das fronteiras políticas que tem contribuído para que as unidades geopolíticas e respectivos povos Sul-Americanos tenham vindo a viver de costas voltadas uns para os outros em dissociação psicossocial, económica e política, encontra também em parte, a par do factor fisiográfico, explicação no Factor Humano.

A fronteira que a linha de Tordesilhas estabeleceu, colocou o território espanhol no subcontinente Sul-Americano voltado maioritariamente para o Oceano Pacífico, possuindo apenas trechos na vertente atlântica com o litoral mais elevado, ao passo que atribuía aos portugueses a melhor posicionada faixa atlântica de 2.800.000 km2 com o litoral menos elevado (Ver Mapa IV). Assim constatamos reflectir-se nas possessões coloniais Sul- Americanas uma analogia no que se refere ao posicionamento das respectivas metrópoles na Península Ibérica possuindo a Espanha, voltada essencialmente para o mediterrâneo, apenas pequenas parcelas no litoral atlântico, compreendendo no seu espaço os territórios mais elevados da meseta, em contraste com as mais baixas altitudes da melhor parcela rectangular ocupada por Portugal à beira Atlântico.

mayores posibilidades para el progreso social, económico y político del Estado”. Complementarmente, Jose Felipe Marini acrescenta que, onde a área ecuménica for “más densa, activa y desarrollada, conforma el núcleo vital del Estado. Nesse Núcleo Vital, ainda segundo o mesmo autor, é onde “se concentra un conjunto de condiciones naturales y culturales que delatan la potencialidad económica y, a veces, política de una área significativa en la vida del país”. Consequentemente, daqui “se deduce, entonces, que en el espacio nacional quedan regiones más regazadas que otras, esperando inversiones importantes de capital que modifiquem su paisaje, y la despiertem de su letargo”. Feitas estas considerações preliminares imprescindíveis para entendimento do conceito de Hinterland, podemos então considerar que “esas regiones [mais atrasadas e letárgicas] coincidem com el hinterland, espacio comprendido entre el núcleo vital del Estado y sus fronteiras”, sendo que “el hinterland puede coincidir com regiones anecuménicas”, ou seja, “zonas excesivamente inhóspitas para ser habitadas por el hombre”. Sobre os conceitos teóricos de Ecúmene, Núcleo Vital, Hinterland e Regiões Anecuménicas, ver: MARINI, Jose Felipe (1985), Op. Cit., nota 6, p. 75. Assim, aplicando aqueles conceitos ao objecto de estudo da presente dissertação, podemos então afirmar que, actualmente, a principal área ecuménica do Brasil localiza-se genericamente na faixa litoral do país, tendo por núcleo vital as Regiões Sudeste e Sul, com as Regiões Norte e Centro-Oeste a constituírem o vasto hinterland brasileiro que, à excepção de algumas bolsas ecuménicas secundárias identificadas nestas duas últimas Regiões, coincide largamente com áreas quasi anecuménicas as quais, se ainda se encontram por integrar à faixa litoral e ao núcleo vital, já vêm exprimindo uma dinâmica geopolítica no sentido da sua integração ao ecúmene e núcleo vital. Estas questões serão tratadas com maior extensão e profundidade no subtópico II.2.2.1.3. da presente dissertação.