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4 AS DISCIPLINAS E SUAS INTER-RELAÇÕES

4.1 INTEGRAÇÃO E INTERDISCIPLINARIDADE

Entre as várias questões frequentemente levantadas por aqueles envolvidos com os cursos de arquitetura e urbanismo – docentes e discentes – a que envolve a ausência de integração, por parte do estudante, nos conhecimentos das diversas áreas presentes na formação é, provavelmente, uma das mais constantes, presente já de longa data, como atestam diferentes estudos e a documentação da ABEA – Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura, permanecendo, ainda, com grandes dificuldades de ser enfrentada (TEIXEIRA, 2005, p. 9, grifo nosso).

A citação acima introduz a importância atual do tema em questão neste subitem. Estamos entendendo o conceito de integração conforme a conceituação de Fazenda, já apresentado na introdução e no início deste capítulo.

O processo de integração e interdisciplinaridade são distintos na sua concepção pedagógica do ensino-aprendizagem. Aprender é um ato social, dinâmico, e acima de tudo um processo de interação, em que as vertentes se afastam e se aproximam. Essa postura pedagógica está relacionada com o ensino construtivista em que aprender não é um enfoque apenas ligado a concepção dos componentes curriculares de maneira isolada ou tradicionalista em relação ao ensino- aprendizagem. A visão de um ensino com interação pedagógica faz parte dos componentes curriculares numa visão tanto interdisciplinar como de integração.

A necessidade de definir o método pedagógico, especialmente ligado a formação do ensino-aprendizagem, vai de encontro a existência de duas vertentes que ora são vistas como próximas, no caso, a integração sendo elemento da interdisciplinaridade, e ora a integração sendo a junção dos componentes curriculares numa soma de conteúdo, ou seja, conhecimento caminhando ao lado de outro componente curricular.

Discorrendo sobre interdisciplinaridade, Japiassu (1976) aponta:

A interdisciplinaridade, sem cessar invocada, levada a efeito nos domínios diversos, quer se trate de pesquisa, de ensino ou de realizações ou de ordem técnica, não é uma questão evidente, que possa dispensar explicações e analises aprofundadas, mas um tema que merece ser levado em consideração e constituir um dos objetos essenciais da reflexão de todos quantos veem na fragmentação das disciplinas científicas um esfacelamento dos horizontes do saber [...]. O fenômeno interdisciplinar pode ser considerado como uma das manifestações mais significativas das mutações que afetam e alteram, em nossos dias, as démarches do pensamento e as formas do discurso intelectual, por mais racional que seja (JAPIASSU, 1976, p.42).

Fazenda (2011, p. 51) aponta que o termo “interdisciplinaridade” não possui ainda um sentido único e estável. A autora também acrescenta que “trata-se de um neologismo cuja significação nem sempre é a mesma e cujo papel nem sempre é compreendido da mesma forma”. E afirma ainda que, “embora as distinções terminológicas sejam inúmeras, o princípio delas é sempre o mesmo” (Ibid. loc. cit.). Este princípio que a autora cita é a colocação de Japiassu (1976, p. 74) dizendo que “a interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas, no interior de um projeto específico de pesquisa".

A posição de Yared (2008, p. 165) é que o mesmo define interdisciplinaridade como sendo, “o movimento (inter) entre as disciplinas, sem a qual a disciplinaridade se torna vazia; é um ato de reciprocidade e troca, integração e voo”.

De acordo com as colocações dos autores acima, nós podemos concluir com a afirmação de Fazenda (2011, p. 11), considerando a “integração como um momento na interdisciplinaridade”. Para explicar esta afirmação, a autora complementa informando que “a integração refere-se a um aspecto formal da interdisciplinaridade” (Ibid., loc. cit.), e que este aspecto formal seria, “a questão de organização das disciplinas num programa de estudos” (Ibid., loc. cit.), ou seja, está ligada ao que se põe em prática em uma estrutura curricular em um curso de graduação. Com relação ao exposto acima, Fazenda (2011) complementa:

Admitindo‑se que interdisciplinaridade seja produto e origem, isto é, que para efetivamente ocorrer seja necessário essencialmente existir, ou melhor, que a atitude interdisciplinar seja uma decorrência natural da própria origem do ato de conhecer, necessária se faz num plano mais concreto sua formalização, e, assim sendo, pode‑se dizer que necessita da integração das disciplinas para sua efetivação (FAZENDA, 2011, p. 10, 11).

A interdisciplinaridade é um método pedagógico, mas acima de tudo uma visão socioantropólogica sobre o aprender e o ensinar, ou seja, a visão de olhar o componente curricular do meio acadêmico com uma visão crítica, reflexiva, dialógica, social e de conhecimento de mundo com a realidade circundante do mundo social. A mesma pode ser considerada como um jogo tecido e costurado pelo saber científico relacionando por vários saberes do fazer ciência e ao mesmo tempo relacionando com o mundo social e real, ou seja, é um saber da prática pedagógica que se faz nas relações diversas do conhecimento.

Heuckhausen (1972, apud Fazenda (2011) propõe cinco tipos de relações interdisciplinares em ‘ordem ascendente de maturidade’ conforme segue:

Interdisciplinaridade Heterogênea — Este tipo é dedicado à combinação de programas diferentemente dosados, sendo necessário adquirir uma visão geral não aprofundada, mas superficial (poderia dizer-se de caráter enciclopédico), dedicado a pessoas que irão tomar decisões bastante heterogêneas e precisarão de muito bom-senso. Ex.: professores primários ou assistentes sociais. Pseudointerdisciplinaridade — Para realizar a interdisciplinaridade, partem do princípio de que uma interdisciplinaridade intrínseca poderia estabelecer-se entre as disciplinas que recorrem aos mesmos instrumentos de análise. Ex.: uso comum da matemática. Interdisciplinaridade Auxiliar — Utilização de métodos de outras disciplinas. Admite um nível de integração ao menos teórico. Ex.: Pedagogia ao recorrer aos testes psicológicos, não somente para fundar suas decisões em matéria de ensino como também para colocar à prova as teorias de Educação, ou avaliar o interesse de um programa de estudos. Interdisciplinaridade Complementar — Certas disciplinas aparecem sob os mesmos domínios materiais, juntam-se parcialmente, criando assim relações complementares entre seus domínios de estudo. Exemplo: Psicobiologia, Psicofisiologia. Interdisciplinaridade Unificadora — Esse tipo de interdisciplinaridade advém de uma coerência muito estreita dos domínios de estudo de duas disciplinas. Resulta na integração tanto teórica quanto metodológica. Ex.: biologia + física = biofísica (HEUCKHAUSEN, 1972, apud FAZENDA, 2011p. 57-58, grifo nosso).

Fazenda (2011) também aponta o “desenvolvimento da sensibilidade” como sendo “a primeira condição de efetivação da interdisciplinaridade” e para acontecer a interdisciplinaridade tem que haver integração das disciplinas.

Fazenda (2011) considera “integração como um momento de organização e estudo dos conteúdos das disciplinas” e que, para a efetivação de um trabalho interdisciplinar, tem que haver interação em regime de “coparticipação, reciprocidade, mutualidade”, ou seja, integração é “uma etapa necessária para a interdisciplinaridade (p. 46)”.

Portanto, a integração pode ser considerada uma forma de operacionalização. É como se a interdisciplinaridade fosse o objetivo a ser alcançado através da integração. No nosso caso em estudo, verificamos como o “trabalho interdisciplinar” apareceu no resultado dessa integração de conteúdo dos componentes curriculares, como é esta organização e qual a posição dos professores dos componentes curriculares do semestre procurando alcançar a interdisciplinaridade.

5 INTEGRAÇÃO E INTERDISCIPLINARIDADE NO ENSINO DE ARQUITETURA NO

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