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INTEGRAÇÃO E INTERSETORIALIDADE

Na sua interface com os recursos hídricos, a Lei 11.445/07 traz no artigo 4º a diretriz que “os recursos hídricos não integram os serviços públicos de saneamento”, e segue no parágrafo único afirmando que a utilização dos recursos hídricos pelos prestadores de serviços de saneamento depende de outorga para captação e diluição e para disposição ou diluição de esgotos e outros resíduos líquidos, nos termos da Lei 9.433/97.

No artigo 19º, parágrafo 3º, a Lei estabelece que os planos de saneamento básico devem ser compatíveis com os planos das bacias hidrográficas em que estiverem inseridos.

Ainda sobre as interfaces, o artigo 44º trata do licenciamento ambiental de unidades de tratamento de esgotos sanitários e de efluentes gerados nos processos de tratamento de água, o parágrafo segundo traz a diretriz que

a autoridade ambiental competente estabelecerá metas progressivas para que a qualidade dos efluentes de unidades de tratamento de esgotos sanitários atenda aos padrões das classes dos corpos hídricos em que forem lançados, a partir dos níveis presentes de tratamento e considerando a capacidade de pagamento das populações e usuários envolvidos.

Este parágrafo é particularmente importante porque as licenças ambientais exigem como pré-requisito a existência de outorga do direito de uso da água para o lançamento de efluentes tratados no corpo receptor. Por outro lado, a Resolução CONAMA nº 357/05, no seu artigo 42º, estabelece que “enquanto não aprovados os respectivos enquadramentos, as águas doces serão consideradas classe 2, (...), exceto se as condições de qualidade atuais forem melhores, o que determinará a aplicação da classe mais rigorosa correspondente”.

Diante da quase total ausência de enquadramento dos corpos d’água no País, particularmente na Bahia, de acordo com a Resolução CONAMA 357/05, todos eles são então considerados como classe 2, o que torna a Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO, no corpo receptor, restritiva para um máximo de 5 mg/L, o que não pode ser alcançada pelos tratamentos primário e secundários convencionais, cuja média dos melhores resultados para o efluente tratado se aproxima de 30 mg/L, uma vez que a maioria dos tratamentos secundários completos se aproxima de eficiências de remoção de matéria orgânica de 95% (Von Sperling, 1995).

Considerando que a capacidade de diluição de corpos d’água de pequena vazão, intermitentes ou já poluídos à montante do ponto de lançamento praticamente não existe, os efluentes resultantes das estações de tratamento de esgotos teriam que ter uma qualidade que inviabilizaria a totalidade dos sistemas de esgotamento sanitário, a não ser que se implantassem tratamentos terciários, cuja necessidade e quantidade de investimentos são no mínimo discutíveis, numa realidade em que não se tem sequer a coleta de esgotos em todos os domicílios.

Neste sentido, a Lei 11.445/07, no seu artigo 44, caput, estabelece que o licenciamento ambiental considere “etapas de eficiência, a fim de alcançar progressivamente os padrões estabelecidos pela legislação ambiental, em função da capacidade de pagamento dos usuários”. Diz ainda no parágrafo primeiro que a autoridade ambiental competente estabelecerá procedimentos simplificados de licenciamento para o saneamento, e no segundo parágrafo dá a diretriz de que esta mesma autoridade ambiental

lançamento de esgotos domésticos “in natura” a montante do ponto de mistura; a coleta e o tratamento dos esgotos irão melhorar a qualidade da água a médio prazo. Do ponto de vista do Órgão de gestão das águas e o de meio ambiente na Bahia, em determinado momento de solicitação de outorgas de direito de uso para o lançamento de efluentes e licenciamento de tratamento de esgotos domésticos, dificilmente se poderia executar saneamento, o que é um contrasenso. Esta posição evoluiu de 2007 até setembro de 2008, se estabelecendo o enquadramento emergencial das bacias prioritárias para o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, com a adoção de metas progressivas de qualidade. Concedeu-se outorgas preventivas e licenças de implantação de sistemas de esgotamento sanitário sem a permissão de construção das estações de tratamento de esgotos, até que sejam realizados os enquadramentos (Portarias Nº. 034 e 035/08-DG, INGÁ). Dificilmente todos os enquadramentos sairão a tempo de evitar prejuízos às obras do PAC, o que deve ser evitado.

Em relação à integração da política de saneamento com outras políticas públicas, o inciso VI do artigo 2º., em que estão descritos os princípios fundamentais da Lei, estabelece a “articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza, de proteção ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social voltadas para a melhoria da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico seja fator determinante”. Também no artigo 48º., que trata da Política Federal de Saneamento Básico, o parágrafo único estabelece que

as políticas e ações da União de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate e erradicação da pobreza, de proteção ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social voltadas para a melhoria da qualidade de vida devem considerar a necessária articulação, inclusive no que se refere ao financiamento, com o saneamento básico.

Não se observa até agora, no entanto, iniciativas promovendo esta necessária integração.

O saneamento não deve ser visto apenas do ponto de vista da intervenção física no ambiente em que vivem as pessoas. Ao contrário, é necessária uma intervenção integrada, considerando as dimensões física, social, econômica, política e cultural do ambiente.

Discutindo o significado e as bases da promoção da saúde, Souza e Freitas (2006), fazem uma distinção importante entre o que eles consideram intervenção baseada na prevenção de doenças e aquela que promove a saúde. Para Souza e Freitas (2006), o saneamento preventivista é uma intervenção de engenharia no ambiente, aqui considerado como mero espaço físico, voltada para a saúde, aqui compreendida como a ausência de doenças, colocando obstáculos na transmissão das doenças e assegurando a salubridade ambiental.

Na intervenção preventivista, as prioridades são a obra física em si, para que seja terminada nos prazos estabelecidos e os sistemas de coleta, transporte, tratamento e disposição final funcionem, na maioria das vezes fazendo adaptações tecnológicas às características físicas das áreas de intervenção, com a responsabilidade das ações concentrada exclusivamente nas mãos dos engenheiros e sua equipe de educação ambiental. A educação sanitária e ambiental é percebida como uma ferramenta para ensinar novos hábitos e costumes à população, cuja participação no processo é limitada, na maioria das vezes apenas legitimando decisões já tomadas (Souza, Freitas e Moraes, 2007).

Por outro lado, o saneamento entendido como promoção à saúde está voltado para a sustentabilidade dos sistemas de engenharia e ações associadas para a sua adaptação ao contexto geral onde são executadas, visando à saúde, aqui entendida como qualidade de vida, e erradicação da doença pelo combate integral às suas causas e determinantes, buscando articulação entre instituições e a população, visando o fortalecimento da mesma, compartilhando com ela e com outros setores técnicos envolvidos a responsabilidade pelas ações e decisões. A educação sanitária e ambiental é aqui entendida como ferramenta voltada para a promoção do ser humano (Souza, Freitas e Moraes, 2007).

essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País.

No seu artigo 6º., a mesma Lei estabelece que “Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde - SUS: II - a participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico”. Ainda na mesma linha de integração, no artigo 7º,

As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde-SUS são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: X – integração, em nível executivo, das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico.

No seu artigo 15º., estabelece que

A União, os estados, o Distrito Federal e os municípios exercerão, em seu âmbito administrativo, as seguintes atribuições: III – acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e das condições ambientais; VII - participação na formulação da política e da execução das ações de saneamento básico e colaboração na proteção e recuperação do meio ambiente; e XV – propor a celebração de convênios, acordos e protocolos internacionais relativos à saúde, saneamento e meio ambiente.

Ainda na linha da integração entre políticas, a mesma Lei estabelece, no seu artigo 16º, que

À direção nacional do Sistema Único de Saúde-SUS, compete: II - participar na formulação e na implementação das políticas: b) de saneamento básico; III -

acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e das condições ambientais; IV - participar da definição e mecanismos de controle, com órgãos afins, de agravos sobre o meio ambiente, ou dele decorrentes, que tenham repercussão na saúde humana.

Na mesma linha, agora se referindo à competência estadual, o artigo 17º. estabelece:

À direção estadual do Sistema Único de Saúde-SUS, compete: V - participar, junto com os órgãos afins, do controle dos agravos do meio ambiente que tenham repercussão na saúde humana; VI - participar da formulação da política e da execução de ações de saneamento básico.

Agora em relação à competência municipal, o artigo 18º. Estabelece que

À direção municipal do Sistema Único de Saúde-SUS, compete: IV - executar serviços: d) de saneamento básico; VI - colaborar na fiscalização das agressões ao meio ambiente, que tenham repercussão sobre a saúde humana, e atuar, junto aos órgãos municipais, estaduais e federais competentes, para controlá- las.

Considerando a mesma linha de integração, o Código de Defesa do Consumidor, Lei Federal 8.078, de 11/09/90, no seu artigo 22º., estabelece que

Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Aqui o foco é na qualidade dos serviços de saneamento.

Continuando a discussão em relação a diretrizes para integração de políticas públicas, o Estatuto das Cidades, Lei Federal 10.257, de 10/07/01, no seu artigo 2º., estabelece que

A política urbana tem por objetivo ordenar o desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao

aplicação dos recursos e na demora da universalização de serviços essenciais à qualidade de vida e ao desenvolvimento sustentável, como o saneamento (Moraes, 2008).

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