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Esta seção da pesquisa procura estudar as interfaces do saneamento com o meio ambiente, principalmente no que se refere à poluição das águas superficiais e subterrâneas com a ausência do adequado manejo das águas servidas. A poluição dos mananciais impacta negativamente a biodiversidade e onera o tratamento da água para o abastecimento humano, causando um efeito “bumerangue” para as prestadoras de serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário (Revista BIO, 2008).

A população urbana brasileira é de 83% do total (Tucci & Mendes, 2006), mudando o perfil de rural para urbana num curto período de tempo, a partir dos anos 60 do século passado. Neste cenário, as capitais dos Estados brasileiros se transformaram em grandes metrópoles. Estas regiões metropolitanas possuem um núcleo principal e várias cidades circunvizinhas, sendo a taxa de crescimento da cidade núcleo pequena e a da periferia muito alto. Este processo se repete nas cidades que são pólos regionais de desenvolvimento. Cidades acima de 1 milhão de habitantes crescem a uma taxa média de 0,9% anual, enquanto os pólos regionais de população entre 100 e 500 mil, crescem a taxas de 4,8% (IBGE, 1998). Esta realidade está reproduzindo nas cidades de médio porte, todos os processos de urbanização inadequados e

de grande impacto ambiental que ocorreram nas regiões metropolitanas (Tucci & Mendes, 2006).

A ocupação desordenada do espaço urbano causa a poluição das áreas de mananciais de abastecimento humano, comprometendo a sustentabilidade hídrica das cidades. À medida que a população aumenta e se concentra em áreas urbanas, explora ao limite a disponibilidade hídrica e produz efluentes sanitários, industriais e pluviais. Esses efluentes não são tratados, inviabilizando o uso da água dos rios. Mesmo em áreas com grande disponibilidade hídrica como a cidade de São Paulo, ocorre permanente racionamento da água, já que após seu uso a água retorna contaminada aos rios, inviabilizando os mananciais próximos. Com a ocupação, as áreas urbanas são impermeabilizadas e o escoamento dos pequenos riachos canalizados, causando aumento da erosão do solo e o aumento da magnitude e freqüência da ocorrência das inundações com grandes prejuízos (Philippi Jr., 2005).

Com ambiente amplo e densidade populacional baixa, os meios rurais, de uma maneira geral, não sofrem tão drasticamente com a falta de saneamento ambiental. No ambiente esparso, a poluição é diluída, ficando o problema mais localizado, mas não deixa de existir. A família ou uma pequena comunidade rural bebe e usa a água, alimenta-se de produtos locais e adquire produtos beneficiados na cidade. Tudo isso gera esgoto ou lixo que é destinado ao meio (Philippi Jr., 2005).

Na maioria das situações, é a área rural que exporta água para abastecimento urbano. Em pequenas cidades, muitas vezes a captação se faz diretamente em rios ou riachos que correm nas proximidades. Em situações de semi-árido, com rios intermitentes ou centros maiores afastados de grandes rios, se faz necessária a construção de barragens (Philippi Jr., 2005).

A captação direta em águas correntes produz pouco impacto sobre o meio ambiente, quando devidamente planejada. Em regiões densamente povoadas com saneamento precário, a cidade a montante pode poluir as águas que serão usadas a jusante. Quando este procedimento se repete, pode haver comprometimento do sistema hídrico em grandes extensões (Tucci & Mendes, 2006).

deve-se considerar as cargas industrial e pluvial destas mesmas cidades. A carga orgânica doméstica remanescente na região da bacia do Paraná é de 2.179 toneladas de DBO5 por dia

(34,1% do total do País) e se concentra principalmente no rio Tietê (48% do total), onde se localiza a Região Metropolitana de São Paulo (Tucci & Mendes, 2006).

Em razão da baixa cobertura do esgotamento sanitário nas grandes cidades - apenas 15% do esgoto doméstico brasileiro é tratado (não existe avaliação da redução da carga ou a eficiência desse tratamento) – grande carga não-tratada de esgotos é jogada in natura nos rios, sem que as cidades sejam responsabilizadas pelo dano ambiental resultante (Tucci, 2005).

Quanto à natureza do atendimento, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2000) informa que 4.097 (42%) dos 9.848 distritos possuem rede coletora, mas que apenas 1.383 deles têm estações de tratamento (14% do total). Do total de volume coletado de esgotos, apenas 35% recebem algum tipo de tratamento, resultando em cerca de 9.400.000 m3 de esgotos brutos encaminhados diariamente aos corpos de água do país, considerando-se somente aquele coletado por rede.

Avaliando o saneamento como serviço destinado às populações e os recursos hídricos a partir de uma perspectiva ambiental, pode-se pensar que as ações de saneamento atuam, nessa relação, ora como demandas ora como impactos nos recursos hídricos.

O Quadro 1.3.1 a seguir procura sistematizar esse primeiro nível de relações. Enxergando os recursos hídricos como um setor institucional, as relações se verificariam em aspectos diferentes dos anteriores e nos diversos níveis federativos brasileiros, federal, estadual e municipal.

Quadro 1.3.1 – Demandas e Impactos das ações de saneamento sobre os recursos hídricos. Fonte: Caderno Setorial de Saneamento do Plano Nacional de Recursos Hídricos, 2007.

Nesse particular, ao se avaliarem as relações entre o saneamento e os recursos hídricos, podem-se identificar importantes interfaces com outras políticas públicas, caracterizando uma tripla intercessão. Ainda que a mais direta dessas vinculações se perceba com a política ambiental, devem-se valorizar na análise as relações dessas áreas com outras importantes, como sugerido a seguir:

• Na relação com a área ambiental, localizam-se, entre outras interfaces, todo o aparato legal relacionado com os padrões de qualidade das águas, os programas de recuperação da qualidade da água, as intervenções em tratamento de esgotos sanitários, os programas voltados para o manejo dos resíduos sólidos urbanos, o monitoramento da qualidade das águas superficiais e subterrâneas e o licenciamento das intervenções em saneamento. Em particular, devem-se mencionar as intercessões do temário dos conselhos de meio ambiente com a matéria do saneamento.

• Na política urbana, verificam-se importantes interfaces com os conceitos de infra- estrutura urbana, planejamento urbano e desenvolvimento urbano, a partir da visão das intervenções em saneamento e de sua relação com os recursos hídricos, sejam os cursos de água e aqüíferos localizados nas áreas urbanas, sejam os mananciais ou os corpos receptores dessas áreas. Ademais, localizam-se as intervenções voltadas para a área habitacional, na qual uma eventual deficiência na consideração da infra-estrutura sanitária e dos impactos nos recursos hídricos determina uma grave lacuna.

tratamento, a utilização de mananciais cada vez mais distantes, encarecendo os sistemas de abastecimento de água, em situações extremas, a inviabilização de mananciais, a escassez de mananciais nas regiões metropolitanas.

No quadro 1.3.2, a seguir, Christofidis (2006) aponta os desafios e faz recomendações na gestão das águas, defendendo uma atuação integrada entre o Governo, a sociedade e o meio científico.

Quadro 1.3.2 – Desafios e recomendações na gestão das águas. Fonte: Christofidis (2006)

Aumento Populacional

Aumento na Demanda Hídrica

Usos Múltiplos da Água

Recursos Hídricos

Valor Econômico

·Diferentes olhares setoriais

·

Alterações na qualidade da água

·

Limitações na disponibilidade hídrica Riscos à Saúde Humana Conflitos entre Usuários Qualidade Minimizar Riscos Quantidade Suprir Demandas Atuação Integrada

·

Governo

·

Sociedade

·

Meio Científico

CONFIGURAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

No quadro 1.3.3 a seguir, Christofidis mostra de forma esquemática os desafios da gestão integrada dos recursos hídricos e da saúde, fazendo recomendações para se ter uma efetiva integração entre as duas gestões, tendo como proposta identificar e viabilizar as interfaces entre elas.

Quadro 1.3.3 – Desafios e recomendações na gestão integrada de recursos hídricos e saúde. Fonte: Christofidis (2006)

A integração das políticas de meio ambiente, recursos hídricos, saúde e saneamento está prevista na Lei 11.445/07, que estabelece diretrizes para a Política Nacional de Saneamento. A plena implantação das medidas previstas na Lei é, portanto, premissa para se alcançar a universalização do saneamento e o conseqüente desenvolvimento sustentável relacionado à saúde e à manutenção da biodiversidade nas águas superficiais e subterrâneas. As dificuldades a serem superadas para a universalização serão analisadas no capítulo seguinte.

GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS HÍDRICOS E SAÚDE

Diretrizes Gerais e Linhas de Ação

Quantidade

·

Planejamento

·

Outorga de Usos

·

Usos Insignificantes Qualidade

·

Controle de Doenças

·

Saneamento Ambiental

·

Classificação das Águas

·

Mobilização dos Atores

·

Gestão Participativa

·

Educação Ambiental

·

Formação de Multiplicadores

·

Contemplar o Todo Considerando as Especificidades das Partes Seguindo um Objetivo Comum

Proposta :

Identificar e Viabilizar a Implementação das

Interfaces Existentes entre a Política Nacional de Recursos

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