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Integração escolar de alunos imigrantes

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.4. Política de integração de imigrantes em Portugal

1.4.4. Língua e integração

1.4.4.1. Integração escolar de alunos imigrantes

Ao nível da integração de crianças e jovens imigrantes no sistema de ensino do país recetor, a Diretiva 77/486/CEE do Conselho das Comunidades Europeias, de 25 de julho de 1977, foi das primeiras medidas políticas adotadas a nível europeu naquele sentido, postulando, no 2.º artigo, que:

Os Estados-membros tomarão, em conformidade com a sua situação nacional e com o seu sistema jurídico, as medidas adequadas a fim de que no seu território seja proporcionado, aos menores referidos no artigo 1.º, um ensino de acolhimento gratuito que inclua, nomeadamente, o ensino, adaptado às necessidades específicas desses menores, da língua oficial ou de uma das línguas oficiais do Estado de acolhimento. Os Estados-membros tomarão as medidas necessárias para a formação inicial e contínua dos docentes que assegurem este ensino.

Note-se que esta Diretiva focava já a formação de professores, inicial e contínua, como um eixo essencial para a concretização do ensino da língua oficial a alunos imigrantes. No seu 3.º artigo, defendia o ensino da LM e cultura de origem dos alunos, em cooperação com os Estados de origem.

O Livro Verde – Migração e mobilidade: Desafios e oportunidades para os sistemas da UE, da responsabilidade da Comissão das Comunidades Europeias (2008), vem dar continuidade à atuação da referida Diretiva, questionando formas de a concretizar numa sociedade diferente da inicialmente considerada, com um avultado número de imigrantes originários de países terceiros. Neste documento, podemos ler o seguinte, relativamente às vantagens do ensino da LM dos alunos:

Há alguns indícios de que reforçar a língua de origem se pode revelar uma vantagem em termos educativos. Para além de ser valiosa para o capital cultural e a auto-confiança dos filhos dos migrantes, a fluência na língua de origem pode também constituir uma aptidão fundamental para a sua futura empregabilidade. Importa também considerar que, para determinadas famílias migrantes, o eventual regresso ao país de origem constitui uma opção desejável, e que o ensino na língua de origem viria facilitá-lo (CCE, 2008, p. 12).

conhecimento consolidado e explícito das LMs para a apropriação de novas línguas e, particularmente, as potencialidades da transferência linguística enquanto estratégia de apropriação da língua de acolhimento.

Quanto à aprendizagem da língua maioritária, é dito, no mesmo documento, que:

Cientes da importância da aprendizagem da língua do país de acolhimento como factor fundamental para a integração, todos os Estados-Membros adoptaram já disposições específicas em apoio da mesma, por exemplo, aulas de língua para os alunos migrantes recém-chegados (que por vezes são também facultadas a alunos oriundos da imigração que, embora nascidos no país de acolhimento, ainda não dominam a língua). Outras práticas promovem um domínio linguístico tão precoce quanto possível – testes iniciais de competência linguística para todas as crianças, aprendizagem da língua na educação pré-escolar, e formação específica dos professores para o ensino da língua do país de acolhimento como segunda língua (CCE, 2008, p. 12).

A importância da aprendizagem da língua de acolhimento, neste caso a LP, por alunos imigrantes é particularmente relevante devido ao facto de ser a língua em que são veiculados os conhecimentos em todas as disciplinas (à exceção das disciplinas de LEs, mas até nestas tem a sua importância). Assim, a LP surge como objeto de estudo e como meio de comunicação que permite o acesso a outros saberes.

No que se refere especificamente às medidas adotadas pelo Estado português nesta matéria, podemos situá-las já neste novo século, em reação à nova situação migratória que, como referimos, se caracteriza pela distância linguística e cultural da LP, ao contrário do que acontecia com as tradicionais comunidades imigrantes provenientes de países de expressão portuguesa (PALOP e Brasil). De entre as várias medidas adotadas, destacamos o Despacho Normativo n.º 7/2006 (ME/ DGIDC), relativo ao ensino básico, que, como consta do seu Sumário,

Estabelece, no âmbito da organização e gestão do currículo nacional, princípios de actuação e normas orientadoras para a implementação, acompanhamento e avaliação das actividades curriculares e extracurriculares específicas a desenvolver pelas escolas e agrupamentos de escolas no domínio do ensino da língua portuguesa como língua não materna.

Esses princípios de atuação convertem-se na realização de avaliação diagnóstica aos alunos para os quais a LP não é LM e consequente distribuição destes por níveis de proficiência linguística, de acordo com o QECR, sendo definidos três níveis – Iniciação (A1, A2), Intermédio (B1) e Avançado (B2, C1). Inicialmente, os alunos que se inserissem nos níveis de Iniciação e Intermédio beneficiavam de uma aula semanal de apoio de PLNM, com a duração de noventa minutos, no âmbito da área curricular não disciplinar de Estudo Acompanhado, sem dispensa de frequência da disciplina de Língua Portuguesa. Os alunos cuja proficiência linguística em LP correspondesse ao nível Avançado eram considerados aptos a acompanhar o currículo nacional. Com a recente eliminação do Estudo Acompanhado (Decreto-Lei n.º 94/2011), os alunos dos níveis de Iniciação e Intermédio passam a frequentar a disciplina de PLNM em alternativa à de Língua Portuguesa, estando dispensados desta.35 É esta, aliás, a situação verificada no ensino secundário, regulada pelo

Despacho Normativo n.º 30/2007 (ME/ DGIDC).

Foram produzidos, entretanto, vários documentos orientadores e de apoio à atividade docente no âmbito do PLNM, nomeadamente:

- Português Língua Não Materna no Currículo Nacional. Documento Orientador. Programa para integração dos alunos que não têm o Português como Língua Materna (Perdigão, 2005);

- Português Língua Não Materna no Currículo Nacional. Orientações Nacionais: Perfis linguísticos da população escolar que frequenta as escolas portuguesas (Leiria, Queiroga & Soares, 2005);

- Português Língua Não Materna no Currículo Nacional. Orientações Nacionais: Diagnóstico de competências em Língua Portuguesa da população escolar que frequenta as escolas portuguesas (Pascoal & Oliveira, 2005); - Linhas Orientadoras para o trabalho inicial em Português língua não materna

– Ensino Secundário (ME/ DGIDC, 2007b);

35

Cf. Ofício-Circular OFCIRC/DGIDC/2011/GD/7, disponível em http://www.dgidc.min- edu.pt/outrosprojetos/index.php?s=directorio&pid=118#i.

- Orientações Programáticas de Português Língua Não Materna (PLNM) – Ensino Secundário (Leiria, 2008);

- Testes de diagnóstico de Português Língua Não Materna. Introdução Geral (Mateus, 2009a);

- Teste de diagnóstico de Português Língua Não Materna. Alunos do primeiro e do segundo anos do Ensino Básico (Mateus, 2009b);

- Teste de diagnóstico de Português Língua Não Materna. Alunos do terceiro e do quarto anos do Ensino Básico. Alunos do quinto e do sexto anos do Ensino Básico (Mateus, 2009c);

- Teste de diagnóstico de Português Língua Não Materna. Alunos do terceiro ciclo do Ensino Básico. Alunos do Ensino Secundário (Mateus, 2009d).

O II PII, que já apresentámos anteriormente, contempla algumas medidas direcionadas às crianças e jovens imigrantes em idade escolar. Na área de intervenção 2, referente à Cultura e Língua, prevê as seguintes medidas (Presidência do Conselho de Ministros, 2010, pp. 13-14):

- Medida 8: Consolidação do Programa Português Língua não Materna;

- Medida 12: Reforço da expressão da diversidade cultural em todos os domínios e actividades, com incidência na cultura.

Na área de intervenção 4, Educação, prevê as seguintes medidas (Presidência do Conselho de Ministros, 2010, pp. 18-21):

- Medida 23: Reforço da formação para a interculturalidade na formação contínua de professores;

- Medida 24: Definição e implementação de recomendações para a constituição de turmas equilibradas e adequar as estratégias das escolas no acolhimento dos alunos estrangeiros e descendentes de imigrantes;

- Medida 25: Melhoria dos dados estatísticos sobre a diversidade cultural nas escolas;

- Medida 26: Diversificação das ofertas educativas e formativas;

- Medida 27: Integração de agentes de mediação intercultural em contexto escolar no âmbito do Programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária;

- Medida 28: Acesso de estudantes estrangeiros aos apoios da acção social escolar em todos os graus de ensino;

- Medida 29: Divulgação dos recursos pedagógicos interculturais junto das escolas;

- Medida 30: Divulgação de boas práticas no acolhimento, apoio e integração de estudantes descendentes de imigrantes;

- Medida 31: Apoio ao acolhimento e integração de estudantes estrangeiros e descendentes de imigrantes em Portugal;

- Medida 32: Iniciativa «SEF vai à Escola».