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3. A FORMAÇÃO DA COMUNIDADE DE JACUTINGA (1948 1964)

3.2 INTEGRAÇÃO SOCIAL

Como os primeiros migrantes eram todos de uma mesma etnia e também provenientes de uma mesma região, a religião era a mesma para quase todos os

119 BAACK, 11/07/2009

120 Albino HELLMANN, natural de Nova Trento, Santa Catarina mudou-se para Jacutinga em 1948 aos

16 anos. Colono de origem alemã que concedeu esta entrevista em sua casa no dia 11/07/2009 a Antonio Marcos Korb.

121 Marmeleiro: Município vizinho a Francisco Beltrão. Atualmente distante 30 km de Jacutinga, mas no

período estudado esta distância era maior devido à ausência de estradas.

122 Santa Rosa: Bairro de Francisco Beltrão. No período estudado era a localidade onde foi instalada a

serraria da CANGO e onde muitos colonos faziam sua primeira instalação antes de se locomoverem até as terras que lhe seriam concedidas.

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migrantes, com isso, a integração se deu de uma forma tranqüila. Como já dissemos acima o convívio comunitário se deu num primeiro momento através da religião depois a escola. O comércio, que antes da abertura das estradas era feito mais na base da troca de produtos entre os vizinhos e, somente os produtos de maior necessidade como roupas e sal que eram comprados em Marrecas, antigo nome de Francisco Beltrão.

Ao falarem sobre as condições de vida em Jacutinga, todos os narradores destacam como principal dificuldade, a precariedade das estradas, o que impossibilitava o escoamento da produção, o atendimento médico e as questões ligadas à educação como podemos ver no depoimento de Margarida HELLMANN KORB “não tinha escola não. Quando nós casamos nem igreja não tinha. Tinha alguns que davam aulas pras piazada, não tinha escola nada.”124

No manuscrito da escola de Jacutinga125, está relatado sobre a primeira escola que foi autorizada pela CANGO, a qual funcionava em um galpão construído de madeira lascada e chão batido. O primeiro professor, em caráter provisório, foi o Senhor Blazio Schmitz, conhecido na comunidade como Brás.

Sobre a escola e os primeiros professores, Joana KORB recorda:

“Quando chegamos aqui tinha uma casinha de chão batido e lá tinha umas carteiras uns bancos e lá dava aula. O professor era o Brás Schmitz e depois ele desistiu daí a minha irmã a Lúcia (Korb) deu uns dois ou três meses de aula. Também ela não era estudada, tinha só até a quarta série e depois eu entrei, mas eu entrei contra a vontade pra da aula, eu também dei só 3 meses de aula.”126

E BAACK complementa:

“Depois então não é através da CANGO escolheram um professor que foi o seu Blazio Schmitz, irmão do Paulo Schmitz. Era uma pessoa que gostava de tomar um pouco. Ele era assim bem estudado, mas ele tinha o defeito de tomar umas pinga de vez em quando. Quando que ele lecionava parece que não, mas aos domingos ele tomava muito.”127

A comunidade via a necessidade da escola, mas, ao mesmo tempo, se deparava com o problema de encontrar professores capacitados ou dispostos a lecionar nas condições precárias oferecidas na localidade. As dificuldades eram inúmeras. KORB, que foi professora em Jacutinga no ano de 1951, diz que quando lecionava não havia nenhum material de apoio, o professor ensinava só o que achasse importante os

124 Margarida HELLMANN KORB, natural de Nova Trento, Santa Catarina. Mudou-se para Jacutinga em

1948, aos 15 anos. Concedeu esta entrevista em sua casa no dia 14/11/2008 a Antonio Marcos Korb.

125 Escrito pela professora Cecília JUSTIN HELLMANN que lecionou em Jacutinga de 1953 a 1988. O

manuscrito relata os fatos mais importantes à localidade desde o início da colonização.

126 KORB, J. 11/07/2009. 127 BAACK. 11/07/2009.

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alunos aprenderem não tinha nada. A CANGO não fornecia material. “Ensinava como a gente pensava ser importante. Os mais novos a escrever, a contar até 100, o abc e assim foi indo devagar.”128

Já a professora Cecília JUSTIN HELLMANN, que iniciou sua docência em 1954, na Barra Bonita, próximo do distrito de Jacutinga, diz que quando lecionava já haviam algumas orientações pedagógicas. Sobre as dificuldades do cargo, JUSTIN HELLMANN destaca que:

“Mas eu fui alguma vez a cavalo pra Beltrão, eu que fui professora. Em 54 que comecei a dar aulas na Barra Bonita e daí pra receber o pagamento, recebia a cada 3 meses. Daí eu ia num burro do Miguel e meu irmão no nosso cavalo. Saia de madrugada, duas horas da manhã saia de casa pra chegar meio cedinho em Beltrão, receber aquele dinheirinho, orientações para a escola, fazer algumas compras e vinha carregado daí, chegava de noite em casa, tudo escuro.”129

Segundo BAACK o primeiro professor com experiência para o cargo foi Gregório Junkes, que veio em 1951 de Abdon Batista130, município de Campos Novos no Sul de Santa Catarina “ele veio aí pelo ano acho que de 51 mais ou menos, porque o Edilberto (Baack) casou em 52 e a esposa dele a Genoveva (Junkes) veio junto com eles, irmã do Gregório (Junkes). Daí os pais escolheram ele, já era professor em Santa Catarina da onde ele veio”com isso “ele começou a dar aula”131. No início, era como professor contratado pela CANGO e a partir de 1952, quando Beltrão passou a ser município, as escolas primárias do interior passaram para o domínio municipal. Depois vieram daí mais professores. Os habitantes foram aumentando e os professores também. “Depois que eu tinha 14 pra 15 anos nós pagamos, um grupo de jovens pagamos ele (o professor), nós íamos à noite para estudar, para aprender mais alguma coisa com ele. Então, ele lecionou até que se aposentou aqui.”132

Quanto às relações comerciais no Jacutinga, Lino BAACK destaca que, num primeiro momento, havia o comércio somente com os caboclos que ainda

128 KORB, J. 11/07/2009.

129 Bernardo HELLMANN e Cecília JUSTIN HELLMANN, ele natural de Nova Trento, Santa Catarina

migrou para Jacutinga em 1949 aos 20 anos (Faleceu no final de 2009 aos 80 anos). Ela, esposa de Bernardo Hellmann é natural de Treze Tílias, Santa Catarina, migrou para Jacutinga em 1953 aos 15 anos. Ambos de origem germânica. Entrevista concedida na residência do casal no dia 11/07/2009 a Antonio Marcos Korb.

130 Abdon Batista, emancipado do município de Campos Novos, SC em 26 de abril de 1989. Localizado a

353 km de Florianópolis. FONTE:

http://www.sc.gov.br/portalturismo/Default.asp?CodMunicipio=326&Pag=1

131 BAACK. 11/07/2009 132 Id.

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habitavam nas proximidades de Jacutinga conforme tratado no capítulo 2. Ainda segundo ele, “os caboclos que vinham eles quase não plantavam, então eles vinham, e compravam o milho e o milho era contado em espigas, como diziam ‘mão’, era acho que por 60 espigas, feijão também, trigo.”133 Antes da abertura das estradas o único produto que tinha bom comércio era a batatinha. Conforme destaca BAACK “A única coisa que a gente colocava bem e que dava muito bem era batatinha, batata inglesa, então em Beltrão eles compravam e levavam sempre pro Rio de Janeiro.”

O primeiro ponto comercial a abrir em Jacutinga foi somente após a abertura das estradas em 1952 com o Brás e o Paulo Schmitz fizeram uma bodega.134 Albino HELLMANN diz que “eles comercializavam de tudo, vendiam tudo e também compravam tudo o que o colono tinha produzido (...) e vendiam pra você. O que precisava, qualquer coisa tinha.” Com a abertura das estradas também facilitou o comércio e escoamento da produção, surgindo assim, novas formas de comércio e de relacionamento social e a entrada de novos migrantes.

A recepção pelos migrantes mais antigos (alemães) aos novos migrantes de outras etnias foi relativamente boa. A única ressalva que pudemos constatar é referente ao casamento entre etnias que foram poucos neste primeiro momento. E os que houveram ainda foram recebidos com certas ressalvas como veremos mais a frente.

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