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A INTELIGÊNCIA DE ENXAME EM ANIMAIS E HUMANOS – UM NÍVEL ADICIONAL DE TOMADA DE

2.5 INTELIGÊNCIA DE ENXAME

2.5.2 HUMANOS E ANIMAIS – REVISITANDO O CONCEITO DE INTELIGÊNCIA DE ENXAME

2.5.2.4 A INTELIGÊNCIA DE ENXAME EM ANIMAIS E HUMANOS – UM NÍVEL ADICIONAL DE TOMADA DE

Um dos aspectos mais interessantes da Inteligência de Enxame é que, ao contrário do que acontece com os estudos sobre a inteligência e a cognição dos animais, os seus mecanismos

podem ser compreendidos em detalhes. A simulação computacional do comportamento de in- divíduos e de suas interações pode conduzir a abstrações e modelos sobre como soluções para problemas cognitivos podem emergir como resultado da Inteligência de Enxame (Camazine, et al., 2001; Couzin & Krause, 2003; Axelrod & Hamilton, 1981). Isso faz da IE uma grande oportunidade de colaboração entre Matemática, Computação e Engenharia e outras ciências, tais como Psicologia, Sociologia, Economia e Biologia, reafirmando o caráter inerentemente inter e multidisciplinar da Computação Natural que será discutido na Seção 2.5.3.

Grande parte dos trabalhos sobre a Inteligência de Enxame em animais considera os inverte- brados, especialmente os insetos sociais e micetozoários (slime moulds) (Camazine, et al., 2001), em função de sua simplicidade, abertura e tratabilidade experimental discutidas, no contexto das sociedades de insetos, na Seção 2.1, existindo também alguns trabalhos recentes tratando dos vertebrados (Couzin & Krause, 2003). Em contrapartida, existe uma literatura muito rica sobre o tema no contexto dos humanos (Kerr & Tindale, 2004). Parece supreen- dente que outras espécies de vertebrados, especialmente os primatas não-humanos e cetáceos, tenham contribuído pouco para as discussões sobre a Inteligência de Enxame. Pode ser que is- so seja consequência do fato de que a busca por encontrar os limites cognitivos do indivíduo ainda domina os debates sobre a cognição desses grupos taxonômicos.

Nesse contexto, os estudos desenvolvidos por psicólogos podem ser aplicados aos animais, fornecendo elementos interessantes para a compreensão dos benefícios cognitivos da vida em grupo.

Outra questão relacionada é o debate sobre a influência da diversidade na Inteligência de En- xame, que é largamente difundido nas Ciências Sociais (Jackson, et al., 2003), mas ainda in- cipiente na literatura sobre animais. Em se tratando de animais, os estudos apontam evidên- cias para a existência de tradições e cultura (Laland & Janik, 2006) em muitas populações, ha- vendo, inclusive, resultados experimentais que sustentam a existência de personalidade nos animais (Sih, et al., 2004). Em alguns animais, notadamente os insetos sociais, destaca-se a diversidade comportamental em indivíduos com características e tarefas similares, discutida na Seção 2.5.2.2. Tem-se, pois, considerando-se todos esses elementos, um alicerce para sus- tentar um debate sobre a diversidade interindividual em animais similar à existente em huma- nos: até mesmo pessoas muito parecidas apresentam uma diversidade comportamental vasta e evidente e elucidar mecanismos gerais, caso eles de fato existam, pode contribuir para o pro- gresso dos estudos sobre Inteligência de Enxame.

Há muitas evidências, teóricas e experimentais, que indicam que a Inteligência de Enxame possui um bom desempenho quando (Kerr & Tindale, 2004; Wolfers & Zitzewitz, 2004; Laughlin, et al., 2003):

1. Há diversidade de opiniões;

2. Há independência entre as opinões;

3. Há um incentivo para a manifestação da verdade; e

4. As estimativas dos indivíduos são permeadas por imprecisão e não por um viés siste- mático.

Apesar de existirem alguns critérios para que a Inteligência de Enxame seja bem utilizada, a procura por condições em que ela porporciona benefícios superiores àqueles advindos de ou- tras abordagens continua sendo um importante desafio. Como exemplo, tem-se o desenvolvi- mento de modelos que exploram as condições precisas em que grupos podem superar o de- sempenho de especialistas e em que grupos nos quais há diversidade de abordagens para a so- lução de problemas podem superar o desempenho de grupos de indivíduos especialistas (Hong & Page, 2004). Um questionamento interessante que permanece é o seguinte: como a violação dos quatro critérios supracitados impacta no desempenho da Inteligência de En- xame?

A constatação de que, sob certas circunstâncias, o julgamento de um grupo diversificado pode superar o desempenho de um especialista, ou mesmo de um pequeno grupo de especialistas (Laughlin, et al., 2003), tem levado à especulação de que o progresso da Inteligência de En- xame pode tornar os especialistas obsoletos (Surowiecki, 2004). No entanto, isso parece im- provável. É mais provável que o perfil do especialista mude: o novo especialista deverá domi- nar os mecanismos necessários para implementar a IE e utilizá-la como mais uma ferramenta de diferenciação.

Os líderes e especialistas precisam aprender os meios para a utilização da Inteligência de En- xame e é improvável que a liderança seja substituída por uma coletividade autodirigida: a In- teligência de Enxame, nesse contexto, é, na verdade, um mecanismo que fornece orientação adicional para a tomada de decisão.

Em insetos sociais, por exemplo, os indivíduos podem ser coletivamente capazes de resolver problemas cognitivos. No entanto, mesmo quando eles chegam a uma solução, uma única formiga ou abelha nunca vai possuir a informação global (ou solução).

gência de Enxame em benefício próprio para ganhar, por exemplo, uma vantagem competitiva em negócios, por meio de uma melhor previsão da evolução do mercado (Wolfers & Zitzewitz, 2004). A questão fundamental é que todo o mecanismo que faz emergir a Inteligên- cia de Enxame, coleta de dados, processamento e solução, pode ser utilizado por um especia- lista, ou por um time de especialistas.

Tem-se, portanto, uma diferença fundamental entre animais e humanos: em animais, a Inteli- gência de Enxame é o mecanismo que capacita um grupo, fazendo emergir uma solução para um determinado problema; em humanos, a Inteligência de Enxame pode atuar dessa maneira, mas pode ser também utilizada como uma ferramenta de diferenciação e apoio para a tomada de decisão.

2.5.3 A INTELIGÊNCIA DE ENXAME NO CONTEXTO DA COMPUTAÇÃO NA-