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Parte I – Enquadramento Teórico

Capítulo 2 – Da Inteligência à Inteligência Emocional e Competência Emocional

2.2. A Inteligência Emocional

Na história do homem e na sua organização social, o fator emocional esteve sempre presente. Ainda que não conheça um lugar de destaque, segundo LeDoux (2000), a emoção está intimamente ligada à evolução da espécie humana, permitindo perceber o que fomos, o que somos e para onde caminhamos.

Ao falar da emoção, Damásio (1995) mostra que é impossível separá-la da razão, posição corroborada por Goleman (1995), que interpreta a emoção como um sentimento em que os raciocínios que dela derivam são estados psicológicos e também biológicos orientados para a ação. Neste sentido, coloca-se em evidência uma energia emocional como fator que irá determinar comportamentos e decisões. Outros autores têm vindo a dar contributos importantes em torno da emoção, é o caso Filliozart (1997), que a retrata da seguinte forma: “a emoção é um movimento em direção ao exterior, um impulso que nasce no interior de nós próprios e fala ao que nos rodeia, uma sensação que nos diz quem somos e nos coloca em relação com o mundo. (…) A vida emocional está estreitamente ligada à vida relacional” (Filliozart 1997, p.28).

São vários os contributos para uma discussão em torno do conceito de emoção, leia- se, por exemplo, “a emoção torna o pensamento mais inteligente, e a inteligência permite pensar e usar as emoções de modo mais apurado” (Cunha et al., 2010, p. 252) Os indivíduos emocionalmente inteligentes “são os que usam a razão para compreender as emoções (as suas e as dos outros) e lidar com elas, e que recorrem às emoções para interpretar a envolvente e tomar decisões mais inteligentes” (Cunha et al., 2010, p. 252).

Não há dúvida de que as emoções exercem um papel muito importante na regulação da vida do ser humano, acompanham o Homem em todas as ações nas quais está envolvido, sejam de âmbito familiar, profissional ou no ciclo de amizades. Por este motivo, Caruso e Salovey dizem que “nenhuma decisão acontece sem emoções” (Caruso e Salovey, 1995, p. 17).

De acordo com Goleman, “as nossas emoções guiam-nos quando temos de enfrentar situações e tarefas demasiado importantes para serem deixadas apenas a cargo do intelecto”. Deste modo, “para o melhor e para o pior, a inteligência pode não ter o mínimo valor quando as emoções falham” (1997, p. 22), acrescenta, ainda que “as emoções conduzem à acção” (Goleman, 1997, p.23).

Nesta mesma linha de explanação, Goleman et al. (2002, p.47) consideram que as emoções “são cruciais para a sobrevivência, são a forma do cérebro nos alertar para algo de

urgente e nos proporcionar um plano de ação imediata: lutar, fugir, ficar imóvel.” Enfatizam, também, que em situações limite, “são os centros emocionais – o cérebro límbico - que comandam o resto do cérebro” (Goleman et al., 2002, p. 47).

No mesmo sentido, Damásio afirma que “no que de melhor têm, as emoções indicam-nos uma direção, levam-nos ao local apropriado do espaço de tomada de decisões onde podemos tirar o melhor partido dos instrumentos da lógica.” Para o autor, as emoções “ajudam-nos na tarefa de prever um futuro incerto e planear os nossos atos em conformidade” (Damásio, 2011, p. 17).

Da emoção à inteligência emocional existe uma linha muito ténue, mas, apesar de existir inúmera literatura e alguma controvérsia em torno do conceito de inteligência emocional, este tem vindo a beneficiar de uma vasta divulgação. São muitos os autores que apresentam e defendem a inteligência emocional mas foi Goleman que, com a publicação do livro Inteligência Emocional, conseguiu dar mais notabilidade a este conceito. Apresentou duas ideias chave: o sucesso pessoal, familiar e profissional parece depender mais do quociente emocional do que do quociente intelectual e a inteligência emocional não é estável, antes de ser desenvolvida (Sternberg, 1999). Gardner (1999) refere ainda a respeito do mesmo livro que Goleman (1995) descreve um conjunto de capacidades que têm que ver com o conhecimento e controlo das emoções e a sensibilidade para o próprio ou para os estados emocionais dos outros.

Não há uma definição simples para a inteligência emocional, nem um teste que produza um resultado da mesma. Em vez disso, Goleman (1995) descreveu características, tais como equilíbrio emocional, alegria, simpatia, sensibilidade aos sentimentos dos outros, empatia, sociabilidade, confiança, baixa ansiedade e outras características semelhantes, como típicos de pessoas emocionalmente inteligentes. Apresenta inúmeros exemplos de êxitos de pessoas com uma inteligência emocional elevada, e de fracassos de pessoas com pouca inteligência emocional. Em geral, os dados que Goleman (1995) apresenta demonstram pouca ou nenhuma correlação entre as características da inteligência emocional e o QI, ou avaliações semelhantes da capacidade cognitiva (Novak, 2000).

A inteligência emocional surge, como dizem Almeida, Guisande e Ferreira (2009), como um conjunto de capacidades mentais que facilitam o reconhecimento dos padrões, das emoções e consequente capacidade para raciocinar e resolver problemas, dando corpo a uma nova modalidade de crescimento intelectual.

outras com um QI mais modesto se portam surpreendentemente bem, Goleman (2002) responde que a diferença reside frequentemente nas capacidades a que ele chama de inteligência emocional, que inclui o autocontrolo, o zelo e a persistência, bem como a capacidade de cada um se motivar. Todas estas habilidades podem ser ensinadas às crianças, dando-lhes uma melhor possibilidade de utilizar o potencial intelectual, seja ele qual for, uma vez que a nossa herança genética dotou cada um de nós com um conjunto de estruturas emocionais que determinam o nosso carácter (Goleman, 2002).

Goleman (2002) argumenta ainda que o mundo tem ignorado um conjunto extremamente significativo de competências e habilidades, que dizem respeito às pessoas e às emoções, salienta mesmo que foi dada uma grande ênfase e importância ao puramente racional, medido pelo QI, mas a inteligência pode não ter o mínimo valor quando as emoções falam. Ao contrário do QI, com os anos todos que lhe foram dedicados, a inteligência emocional é um conceito relativamente novo e, tendo em conta que quem defende os testes de QI refere que estes, não podem ser substancialmente alterados em função da experiência ou da educação adquirida, as competências emocionais cruciais são aprendidas e aperfeiçoadas pelas crianças, se assim forem ensinadas. Para este autor, quociente de inteligência e inteligência emocional não são competências opostas mas sim competências separadas. Ao contrário dos testes de QI, não há forma de medir a inteligência emocional, em todo o caso, gerir as emoções é um trabalho a tempo inteiro. Grande parte do que se faz, sobretudo nos tempos livres, é uma tentativa para controlar o estado de espírito (Goleman, 2002). Esta aprendizagem emocional começa nos primeiros momentos da vida e continua pela vida fora, todas as pequenas trocas entre pais e filhos têm uma carga emocional, e é a partir da repetição destas mensagens que se formam e se desenvolvem as capacidades emocionais.