Inteligências Múltiplas

Foi muito comum nas décadas passadas a aplicação dos chamados testes de QI (quociente de inteligência) nos processos de admissão de funcionários em empresas e, até mesmo,

para separar estudantes em escolas. Esses testes eram basicamente testes lógico- matemáticos e de linguagem, e verificavam apenas o desenvolvimento destas capacidades nas pessoas. Estudos mais recentes apresentam uma visão de inteligência que analisa os processos mentais e o potencial humano a partir do desempenho das pessoas em diferentes campos do saber.

Para romper com a idéia de que o QI é uma medida única e incontestável da capacidade de aprendizado das pessoas, Howard Gardner propôs a teoria das inteligências múltiplas, como uma alternativa para o conceito de inteligência vista como uma capacidade inata e única que permite uma performance maior ou menor em qualquer área de atuação (GARDNER, 2001).

Segundo Gardner (2001), os processos de ensino e aprendizado devem levar em conta as inteligências múltiplas, tentando fortalecer e estimular as inteligências que um indivíduo apresenta. Os principais princípios dessa teoria são:

os indivíduos devem ser encorajados a usar suas inteligências específicas no aprendizado;

qualquer atividade instrucional deve considerar as diferentes formas de inteligência; e qualquer processo de avaliação do aprendizado deve considerar as diferentes formas de inteligência.

Por estas razões, a teoria das inteligências múltiplas deve ser considerada no desenvolvimento de sistemas pedagógico. O desenvolvimento das tecnologias de hipermídia e o aumento da interatividade entre os usuários e o sistema favorecem o desenvolvimento de aplicações que possuam elementos desta teoria e, portanto, que levem em consideração as peculiaridades de cada aluno (DRYDEN; JEANNETTE, 1997) (SUCESSO, 2000).

2.4.2.1 Apresentação das Inteligências Múltiplas

A teoria das inteligências múltiplas sugere que existem diferentes formas de inteligência que cada indivíduo possui em diferentes graus. Nenhuma inteligência é mais relevante que outra, todas têm a mesma relevância (GARDNER, 2001). Inicialmente, a teoria contempla oito inteligências:

A inteligência lingüística-verbal é a capacidade de se expressar, de pensar e avaliar significados complexos, manipulando a linguagem. Esta seria a principal inteligência

dos poetas, jornalistas e todas as profissões que trabalham com linguagem. Estas pessoas têm facilidade para escutar histórias, poesias e aulas expositivas entre outras. A inteligência lógico-matemática é a facilidade de manipular números, conceitos abstratos, calcular, quantificar, considerar proposições e hipóteses e realizar operações matemáticas complexas. Ela é a principal inteligência dos cientistas, engenheiros, contadores, etc. As pessoas com essa inteligência possuem facilidade para raciocinar cientificamente nas disciplinas acadêmicas, na lógica dedutiva e indutiva, com cálculos, probabilidades, geometria e demais áreas afins.

A inteligência visual-espacial é a capacidade de formar um modelo mental de um mundo espacial e de ser capaz de perceber imagens externas e internas, movimentar objetos através do espaço e produzir ou decodificar informações gráficas. Permite pensar de forma tridimensional. Engenheiros, escultores, cirurgiões têm esta inteligência muito desenvolvida.

A inteligência musical é a capacidade de se expressar através da música e é a capacidade de grandes compositores. Estas pessoas possuem uma grande sensibilidade para as melodias, ritmos e tons. Compositores, maestros, críticos musicais e fabricantes de instrumentos musicais são exemplos.

A inteligência corporal-cinestésica é a capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos utilizando o corpo ou partes do corpo. É a capacidade de dançarinos, atletas, artistas, mas também cirurgiões, etc.

A inteligência interpessoal é a capacidade de entender outras pessoas, de criar empatia com elas e de interagir efetivamente com elas. Conhecer o que as motiva, como elas trabalham, como cooperar com elas. Essa inteligência geralmente é mais desenvolvida em professores, terapeutas, políticos, atores, líderes religiosos.

A inteligência intrapessoal é a capacidade de formar um modelo verídico de si mesmo, e de utilizar esse modelo para se desenvolver ou planejar sua vida. Essa inteligência leva as pessoas a terem consciência das suas reais possibilidades e limitações. Filósofos, psiquiatras, teólogos e pesquisadores de padrões cognitivos são exemplos. A inteligência ecológico-naturalista é a capacidade de compreender os sistemas naturais, mas também aqueles criados pelo homem. As pessoas com essa inteligência podem utilizar eficazmente o meio ambiente para se desenvolver, como por exemplo, caçadores, paisagistas, botânicos e ecologistas.

2.4.2.2 Modelos de Ensino para as inteligências multiplas

Diante da identificação das inteligências de um aprendiz, a escolha do estilo de ensino surge como uma conseqüência e permite a criação dos chamados ambientes inteligentes. Com isso, podem ser reconhecidas e respeitadas as diferenças entre os aprendizes e, assim, criar oportunidades condizentes com as aptidões do aluno (SOUZA et al, 2000a) (CAMPBELL; DICKINSON, 2000). Na Tabela 2, estão descritas algumas características, meios propícios e tecnologias afins para cada inteligência.

Tabela 2: Inteligências Múltiplas e sua influência em processos de aprendizagem.

Inteligência Ambientes propícios Tecnologia de apoio

Lingüística-

Verbal Discussões; Depoimentos; Contar histórias; Brincar com palavras. Texto, Fala; Comunicação verbal com outras pessoas (chat) ou com personagens.

Lógico-

Matemática Problemas abertos a serem resolvidos. Prever e verificar resultados lógicos. Proporcionar oportunidades para pesquisa e observação.

Exercícios, Jogos lógicos, quebra-cabeça, Classificação, Analogia, gráficos, códigos. Resolução de problemas.

Visual-Espacial Estímulos Visuais, Comunicação não verbal. Representações gráficas, fluxogramas, quadros gerais. Mapas conceituais, uso de cores e formas.

Animações, Gráficos, Realidade Virtual.

Musical Música de fundo. Ortografia musical. Utilizar música como estímulos para memorizar ou chamar a atenção. Transmitir emoções através do som.

CDs musicais, atividades musicais, sons, fala.

Corporal-

Cinestésica Teatro, dramatização. Simulações. Jogos de associação espacial, fluxogramas cinestésicos. Observar movimentos espaciais na tela (se sentir dentro do ambiente).

Teclado, Mouse, movimento da cabeça ou qualquer outra atividade cinestésica. Realidade Virtual, simulações, animações, personagens animadas e vídeos. Navegação livre e Interatividade alta.

Interpessoal Aprendizagem colaborativa, gerenciamento de conflitos, respeito e compreensão das

diferenças. Sensível aos sentimentos de outras pessoas. Solidariedade. Desenvolvimento de perspectivas múltiplas. Educação multicultural: dar a possibilidade de conhecer o problema em outros contextos culturais.

Atividades de trabalho cooperativo. Aprendizagem em grupos. Personagens animadas que interajam emocionalmente com o aprendiz. Fala. Temas que salientem aspectos sociais. Interatividade alta.

Intrapessoal Propiciar auto-valorização e capacidade de contribuir com os outros. Atmosfera afetiva, democrática que valorize a diversidade cultural. Trabalho por objetivos. Incorporação de sentimentos ao processo. Encontrar propósitos no aprendido. Desafiar o aluno. Identificar motivações e determinar habilidades para atingir os objetivos da aprendizagem.

Dar liberdade de escolha: uso de

hipertexto ou hipermídia. Elaborar mapas mentais.

Incentivar a procura de parceiros com motivações ou personalidades similares.

Ecológico-

Naturalista Permitir observar, relacionar, classificar, integrar, comunicar percepções do mundo. Propiciar a pesquisa, facilitar a observação, experimentar hipóteses, explorar os ambientes.

Facilitar a pesquisa, construir e analisar. Usar Bases de dados. Oferecer exemplos e cenário de natureza. Navegação Livre.

O modelo das inteligências múltiplas visa respeitar a individualidade e, com isso, obter o máximo de resultado no processo de aprendizagem (GARDNER, 2001). A identificação das inteligências pode ser feita por meio de testes que verifiquem as características do aprendiz, enquadrando estas às inteligências múltiplas de Gardner correspondentes (ANTUNES, 2001).