• Nenhum resultado encontrado

1.6 Tendências recentes da Política de Ciência, Tecnologia e Inovação nos

1.6.3 Intensidade tecnológica e comercio internacional

Na OCDE, as indústrias de alta tecnologia apresentaram, desde a década de 90, gastos em P&D superiores aos de outras indústrias. Em 2006, aquelas responderam por mais do 52% da P&D total da indústria de manufatura. No âmbito nacional, a P&D manufatureira era liderada pela indústria de alta tecnologia na Finlândia, na Hungria e nos Estados Unidos, entretanto, na Alemanha e a República Checa, esses gastos foram realizados principalmente pela indústria de média-alta tecnologia. A indústria de média- baixa tecnologia responde por mais do 30% da P&D manufatureira em Austrália, Grécia e Noruega (OCDE, 2009, p.32).

A capacidade das indústrias de transformar a P&D em produtos e serviços com impacto no desempenho econômico dos países, reflete-se no comportamento das suas exportações, além de ser esse o cenário no qual as políticas recentes de CTI, com foco na competitividade internacional, são postas à prova (IEDI, 2005a). Segundo a OCDE (2010a), o conjunto das economias emergentes de Brasil, Rússia, África do Sul, Indonésia, Índia e China —BRIICS— apresentaram forte crescimento nas exportações de alta e média-alta tecnologia (média de 26% e 25% de crescimento anual, respectivamente) entre 1998 e 2008, lideradas principalmente por China e Índia. Segundo os dados, as taxas médias de crescimento das exportações de alta tecnologia para estes países entre 1998 e 2008 foram de 30% para a China, 22% para a Índia, 16% no caso do Brasil, 14% na Indonésia, 12% África do Sul e 9% na Rússia. Entretanto, a taxa média na OCDE foi de 7,8%69.

Este capítulo apresentou até aqui os avanços na formulação da PCTI desde sua reforma, incluindo suas relações com a política industrial e uma breve revisão das tendências dessa mesma política no âmbito da OCDE, que constitui o principal ponto de referência. O capítulo a seguir passa a analisar o contexto industrial para o qual parte dos objetivos, diretrizes e instrumentos da política foram dirigidos.

69

As implicações futuras que esta tendência teria nessas economias varia para cada caso conforme com as especializações setoriais e as vantagens comparativas

51 Capítulo 2

Evolução da indústria brasileira no período recente: composição setorial e desempenho inovador

Na primeira metade do século XX, o Brasil iniciou um processo de industrialização promovido pelos esforços do Estado que deram origem a um setor produtivo diversificado e com níveis importantes de verticalização nas cadeias produtivas. Apesar da elevada capacidade de produção, a indústria local caracterizou-se por uma baixa inserção exportadora, devido às próprias limitações competitivas decorrentes do protecionismo que caracterizou a substituição de importações implementada por um longo período.

Como apontado no capítulo anterior, a liberalização comercial e financeira iniciada na década de 90, marcou uma etapa de fortes mudanças econômicas, as quais, naturalmente, tiveram fortes implicações na estrutura produtiva e, particularmente, na indústria. Grandes desafios foram colocados para seu crescimento e sua sustentabilidade no longo prazo, dentre eles, a capacidade para se ajustar aos novos parâmetros de competitividade baseados em esforços tecnológicos e de inovação.

O presente capítulo visa apresentar traços gerais da indústria brasileira, focando- se em aspectos da composição setorial e da dinâmica exibida depois da sua introdução no novo contexto concorrencial. Essa dinâmica será observada a partir de seis variáveis, das quais quatro dizem respeito a aspectos relacionados com a produção, e as duas restantes dizem respeito ao comportamento inovador.

Esta discussão é trazida com o propósito de compor o referencial de análise sobre a abrangência e o direcionamento dos recursos de financiamento à PDI e seu potencial para induzir mudanças na indústria com o intuito de aumentar sua competitividade num mercado global.

Na primeira seção é feita uma breve apresentação da trajetória industrial que configurou a estrutura atual e das mudanças observadas nos últimos anos. Especificamente, será feita uma análise da performance setorial para quatro variáveis selecionadas: VTI, VA, perfil exportador e investimento, durante os últimos dez anos de informação disponível. Na segunda seção tem-se uma revisão das principais

52

características do desempenho inovador da indústria, verificados através da taxa de inovação e dos esforços tecnológicos ou de inovação, divulgados na Pintec, do IBGE.

Deve-se advertir que o propósito do capítulo não é aprofundar-se na análise da estrutura industrial brasileira, o que envolveria a análise de outros aspectos como produtividade, emprego, origem do capital, dentre outros. Porém busca-se oferecer um panorama geral da composição setorial da indústria e daquelas alterações recentes, julgadas como de maior relevância para o presente estudo. Algumas referências são feitas ao desempenho das empresas segundo seu porte, mas isto não supõe um enfoque da apresentação.

Para enriquecer a análise do ponto de vista setorial, será aproveitada a classificação proposta pela OCDE (1987), usada por diferentes autores como Erber (2000), Lall (2000) e Nassif (2006). Dita classificação oferece um nível maior de desagregação em relação ao conteúdo tecnológico das atividades industriais, para além de alto, médio ou baixo,e parece mais adequada aos países em desenvolvimento com abundância de recursos naturais e exportadores de produtos ―mais simples‖ (LALL, 2000). O critério básico da categorização são as bases tecnológicas que determinam a competitividade internacional do setor. Desta forma têm-se setores intensivos em recursos naturais, em trabalho, em escala, baseados em ciência e de produtos diferenciados.

Segundo Lall (2000, p. 33), os setores intensivos em trabalho geralmente localizam-se no limite inferior do espectro tecnológico e apresentam poucos requerimentos de habilidades técnicas. Entretanto, os produtos intensivos em escala usam tecnologias complexas e intensivas em capital, porém não se localizam na fronteira tecnológica (esta característica se aplica para alguns setores intensivos em recursos naturais). Neste mesmo grupo há diferenças entre indústrias de processo, como a química, e indústrias de engenharia, como a de automóveis, esta última apresentando maiores requerimentos de aprendizagem, de integração e diversas habilidades técnicas. Os produtos de setores diferenciados apresentam engenharia mais sofisticada, incluindo desenho mais avançado, pesquisa e habilidades de manufatura.Entretanto, os setores baseados em ciência localizam-se na fronteira tecnológica. Por sua vez, os produtos baseados em recursos naturais apresentam vantagens competitivas muito específicas que exigem cuidado nas generalizações, porém, são associados frequentemente aos esforços tecnológicos menores (QUADROS et al., 1999 apud ERBER, 2000).

53

No caso dos dados sobre o padrão de inserção internacional, as informações disponibilizadas já adotam uma classificação diferente,proposta também pela OCDE (2003), que divide os setores industriais conforme com sua intensidade tecnológica: alta, média-alta, média-baixa e baixa. Considera-se que ambas classificações são compatíveis e podem ser integradas para a análise70.

Embora o uso deste tipo de classificações altamente agregativas envolva o risco de ignorar especificidades setoriais próprias do caso brasileiro 71 , considera-se apropriado para o propósito de estabelecer um quadro geral da indústria —que aliás a coloca num contexto mais internacional—, além de se tratar de classificações amplamente aceitas na literatura.Adicionalmente, esta maior agregação será útil neste capítulo para resolver diferenças no nível de detalhamento e agregação dos setores realizados pelas distintas fontes empregadas.