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Quando se fala em EaD online, algumas ideias aparecem como “conceitos-chave” para a compreensão tanto da organização dessa modalidade educacional, como dos processos de ensino e aprendizagem e construção do conhecimento em ambientes online. Entre esses conceitos-chave, destacamos a interação e a colaboração, que são consideradas como indispensáveis nesse processo, mas que aparecem quase que involuntariamente quando há pessoas geograficamente separadas e unidas em torno de um objetivo comum.

A colaboração, segundo Nóvoa (1995), é entendida como um processo de integração e compartilhamento de experiências. Quando esse processo envolve professores, significa que cada um afeta o outro. Nesta pesquisa, a colaboração é abordada, fundamentando-se em Fiorentini (2006, p. 52, grifo do autor), que destaca:

Embora as denominações cooperação e colaboração tenham o mesmo prefixo co, que significa ação conjunta, elas diferenciam-se pelo fato da primeira ser derivada do verbo latino operare (operar, executar, fazer funcionar de acordo com o sistema) e a segunda de laborare (trabalhar, produzir, desenvolver atividades tendo em vista determinado fim). Assim, na cooperação, uns ajudam os outros (co-operam), executando tarefas cujas finalidades geralmente não resultam de negociação conjunta do grupo [...]. Na colaboração, todos trabalham conjuntamente (co-laboram) e se apóiam mutuamente, visando garantir objetivos comuns negociados pelo coletivo do grupo. Na colaboração, as relações, portanto, tendem a ser não hierárquicas, havendo liderança compartilhada e co-responsabilidade pela condução das ações.

Nesse contexto, Pazuch (2014, p. 63) questiona a influência da hierarquia “[...] na relação com o saber a ser produzida e como ocorre esta interferência na presença do outro. Este autor busca em diferentes teóricos que tratam de questões relacionadas aos grupos colaborativos, às relações de poder e às relações sociais fundamentos para discutir as relações hierárquicas e a colaboração e constata que:

[...] a relação hierárquica está atrelada ao movimento que os sujeitos vivem ao longo de suas trajetórias pessoais e profissionais, de participação em grupos sociais, de processos de dominação vividos [...] ou, em específico, na

instituição escolar [...]. Por isso, estar em um grupo dessa natureza, é entender o ser humano, professor que ensina matemática, pesquisador em Educação Matemática, como sujeito que está em “processo” Defendemos esse processo como relações com o saber, em termos matemáticos, tecnológicos e pedagógicos, por meio das lutas que atravessam o sujeito e o constituem (PAZUCH, 2014, p. 67).

Corroborando essas constatações, Fiorentini et al. (2002, p. 152) afirmam que, durante a participação em grupos e práticas colaborativos, “[...] os professores tornaram-se mais reflexivos em suas práticas; buscaram melhores condições profissionais; tornaram-se produtores de seus próprios materiais, geraram novas práticas e promoveram mudanças de concepção de Matemática”. Destacam também que “o trabalho colaborativo é fundamental para o desenvolvimento profissional dos professores”.

Acreditamos que os momentos de colaboração compartilhados entre professores, seja em uma abordagem inicial ou continuada, contribuem para possíveis mudanças na prática e influenciam a cultura docente, assim como favorecem a reflexão e a relação entre os pares. Ademais, o trabalho com a constituição de grupos colaborativos pode levar os professores à busca de melhores condições profissionais, bem como discutir as múltiplas abordagens das TIC na prática da docência (VIOL; MISKULIN, 2011).

Consideramos ainda os ambientes educacionais a distância como ambientes que propiciam momentos de interação e colaboração. Interação no sentido de propiciar

[...] o suporte ao compartilhamento de informação, e a comunicação entre alunos e entre alunos e professores, mantendo viva uma conexão entre as pessoas; e a colaboração, que apoia o desenvolvimento de projetos e trabalhos colaborativos, possibilitando a reflexão compartilhada e o desenvolvimento conjunto de conhecimentos e significados. (MISKULIN, 2012, p. 118, grifo da autora, tradução nossa35).

Essa autora enfatiza, ainda, que a interação e a colaboração

[...] promovem o desenvolvimento: da capacidade de pensar criticamente – habilidade mais difícil de dominar individualmente – e habilidades de pensamento crítico e de diálogo. Assim, elas contribuem para níveis de conhecimento mais profundos: em atividades online que buscam uma postura colaborativa, o objetivo principal é a construção conjunta de

35 “[...] que propicia y da soporte al processo de compartit información, a la comunicación entre los mismos

estudiantes y entre los estudiantes y los professores, mantiendo viva la conexión entre las personas, e la colaboración, que apoya el desarrollo de proyectos y trabajos colaborativos, lo cual posibilita la reflexión compartida y el desarrollo conjunto de conocimientos y significados.”

significados, o que é ampliado nos trabalhos em grupos, nas discussões em fóruns, entre outros. (MISKULIN, 2012, p. 119, tradução nossa36).

Nesse sentido, Miskulin, Penteado e Mariano (2008) abordam a importância da Internet e da colaboração entre os pares para a Formação de Professores em ambientes de interação online, por meio de um estudo sobre as potencialidades didático-pedagógicas de um curso a distância para a Formação de Professores. Essas pesquisadoras destacam as dimensões didática e matemática evidenciadas nas interações entre os participantes do curso online oferecido, destacando a importância da Internet para que essa interação ocorra, propiciando que pessoas fisicamente distantes possam compartilhar conhecimentos, o que por sua vez dá suporte à colaboração entre os pares. Segundo as autoras, a “Comunicação Mediada por Computador – CAC é importante para o processo educacional, pois permite a interação para a troca de informação e comunicação entre os participantes e a colaboração, que apoia projetos e desenvolvimento de trabalho colaborativo”37 (MISKULIN; PENTEADO; MARIANO,

2008, p. 7, tradução nossa).

Tratando da importância da interação entre os pares, Viol e Miskulin (2010), ao realizarem um mapeamento de Teses e Dissertações que tratam da formação de Comunidades Virtuais de Aprendizagem como espaços formativos de professores que ensinam Matemática, apontam que as discussões e produções nessas comunidades são amplamente influenciadas pelas ferramentas disponíveis nos ambientes de apoio à EaD online para a interação entre os membros participantes, visto que essa interação é considerada imprescindível para a aprendizagem dos conteúdos e discussão dos temas abordados.

Portanto, a colaboração exerce na própria cultura docente um papel significativo quanto à reflexão sobre a constituição dessa cultura do “ser professor”, como uma de suas identidades apresentadas no próprio processo formativo. Colaborar compartilhando narrativas, fatos, problemas, experiências, anseios, expectativas e histórias de aprendizagem revela aspectos da prática docente de cada um, fato esse que pode apresentar-se como fundamental no processo de Formação do Professor que ensina Matemática.

36 “[...] promueven el desarrollo de la capacidad para pensar criticamente – habilidade que es más difícil de

dominar si se hace individualmente – y las habilidades de pensamiento crítico y de diálogo. Asimismo, contribuyen a alcanzar niveles más profundos de conocimiento: en atividades on-line que buscan un enfoque colaborativo, el objetivo principal es la construcción conjunta de significados, que logran mayor efecto cuando, por ejemplo, se trabahan en grupo o se discuten en foros.”

37 “Computer Mediated Communication – CAC is important in the educational process as they allow interaction

for information exchanging and communication among the participants, and collaboration, which supports projects and collaborative work development”.

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