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Nas discussões acerca da EaD online para a Formação de Professores, um aspecto que ganha destaque e necessita ser abordado é a formação e prática do professor-tutor. Dentre as mais diferentes abordagens e propostas de formação já implementadas e também em desenvolvimento, um aspecto emergente é a redefinição de papéis profissionais, bem como o surgimento de novos profissionais que se envolvem com a EaD online.

O professor-tutor, em uma abordagem mais tradicional da EaD, era visto como alguém que apoiaria o aluno no processo de aprendizagem, sendo de sua responsabilidade apenas orientar as atividades a serem desenvolvidas. Segundo Souza e Castro Filho (2009, p. 2), “[...] este fato estava ligado a uma concepção de ensino como sinônimo de transmissão de informações. O ensino ficava a cargo dos materiais didáticos, que eram auto-suficientes e a aprendizagem era centrada no autodidatismo”. Entretanto, pode-se observar que o professor- tutor desempenha, também, o papel de animador das discussões nos fóruns, motivador dos alunos e cobrador de tarefas e atividades agendadas nos cursos de formação a distância.

Neste trabalho, usamos a denominação professor-tutor visando contribuir para a profissionalização e reconhecimento desse profissional envolvido no processo educativo, que pode atuar tanto na modalidade a distância ou presencial. Para Santos (2013, p. 79), há uma ampla discussão já iniciada por investigações acerca da prática desse novo “profissional”, sendo que o tema que tem maior destaque é o papel do professor-tutor na formação do aluno da EaD online, em especial, “[...] a influência que ele possui na aprendizagem do aluno”. Além disso,

Outro debate polêmico diz respeito à sua identidade, de modo que a discussão concentra-se na questão do tutor poder ou não ser considerado professor ou docente. Também tem se destacado na literatura a discussão sobre a condição profissional desse tutor. Outras de natureza mais técnica apresentam as atribuições ou funções do tutor nos cursos a distância já consolidados (SANTOS, 2013, p. 79).

Nesse sentido, com base em pesquisas desenvolvidas sobre o tutor/tutoria, Santos (2013) alerta para a importância do professor-tutor nos processos de ensino e aprendizagem, seja em atividades desenvolvidas em grupo ou individualmente. Entretanto, aponta que “[…] ainda não há consenso a respeito de quais são as suas funções, em que medida ele pode participar da elaboração e implementação de propostas educacionais na modalidade a distância, bem como a própria denominação de tutor” (SANTOS, 2013, p. 82).

Analisando os referenciais de qualidade para a Educação Superior a distância (BRASIL, 2007), identificamos uma definição para as atribuições do professor-tutor e sua importância no processo educacional:

O tutor deve ser compreendido como um dos sujeitos que participa ativamente da prática pedagógica. Suas atividades desenvolvidas a distância e/ou presencialmente devem contribuir para o desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem e para o acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico. Um sistema de tutoria necessário ao estabelecimento de uma educação a distância de qualidade deve prever a atuação de profissionais que ofereçam tutoria a distância e tutoria presencial (BRASIL, 2007, p. 21).

No entanto, Grützmann (2013, p. 73-74), ao discutir os saberes docentes do professor- tutor, destaca as atividades que são desenvolvidas pelos tutores presenciais e tutores a distância vinculados ao sistema UAB:

O tutor a distância tem como atribuições mediar a comunicação entre os conteúdos e os alunos, acompanhar os alunos conforme o cronograma, salientando datas importantes e os prazos das atividades, apoiar o grupo de professores nas atividades docentes, manter acesso regular ao Moodle, responder os fóruns referentes a dúvidas de conteúdo, corrigir as atividades propostas de acordo com os roteiros de correção e dar feedback apropriado, que estimule o aluno ao raciocínio e ao senso crítico, entre outros. Cada tutor a distância acompanha um ou mais polos, com aproximadamente 25 alunos no total. O tutor presencial acompanha os alunos, principalmente quando estes vão ao polo. [...] media o processo de construção do conhecimento, de acordo com o roteiro que recebeu para tal. [...] Este tutor ainda aplica as avaliações presenciais (provas e seminários) e, depois, encaminha-as para a sede do curso, via correio, quando, então, serão corrigidas pelo tutor a distância.

Dada a complexidade da prática docente do professor-tutor (presencial e a distância), enfatizamos que “a prática da tutoria deve ser compreendida pelos tutores como docência” (OLIVEIRA; MILL; RIBEIRO, 2010, p. 83). Porém, essa prática não envolve apenas o trabalho desenvolvido junto aos alunos, mas também o “[...] aprendizado contínuo das novas tecnologias, domínio maior da plataforma de ensino-aprendizagem e, [...] o gerenciamento e a organização do tempo de trabalho” (OLIVEIRA; MILL; RIBEIRO, 2010, p. 83).

Nesse contexto, com base na análise de quatro Editais de Seleção para professor-tutor, Barreto (2008) aponta a precariedade das condições de trabalho desse profissional, seja em editais para tutores virtuais que preveem ou não visitas aos polos, seja para tutores de apoio presencial nos polos. Além disso, segundo essa autora, o valor da bolsa concedida aos

profissionais e as atividades atribuídas a eles implicam na fragilidade da função do professor- tutor, que acaba se tornando o elo mais frágil de uma cadeia de simplificações, um desdobramento do processo de esvaziamento da formação e do trabalho docente.

Assim, vemos a precarização do trabalho docente na figura do professor-tutor, mesmo sendo abordada sua importância no processo formativo e de ensino e aprendizagem:

Os recursos do FNDE38 previstos para o seu pagamento, em geral na forma

de bolsas que servem de complementação aos salários de professores, preferencialmente das redes estaduais ou municipais, não são certamente compatíveis com a montagem de um sistema regular de educação, que requer financiamento permanente para assegurar a estabilidade de seus quadros. A condição precária que está sendo expandida para a sua contratação torna o vínculo do tutor com o programa extremamente frágil e não permite investir sistematicamente no seu aperfeiçoamento em serviço (GATTI; BARRETO, 2009, p. 115).

Além da precarização do trabalho docente, Gatti e Barreto (2009) atentam para outra situação que emerge na discussão sobre a tutoria: a permanência dos profissionais no cargo, bem como sua formação para a atuação nessa modalidade de ensino.

Nesse sentido, o trabalho de Oliveira, Mill e Ribeiro (2010, p. 82) discute a tutoria como aspecto da formação docente na EaD online, baseando-se no conceito de polidocência, que é entendido como a articulação dos diferentes profissionais envolvidos no trabalho docente na EaD online (MILL, 2010). Para os autores, “[...] os tutores são os mediadores entre os alunos e conhecimento, as tecnologias e o professor”, assim, os processos de ensino e aprendizagem depende em grande parte desses profissionais. Com base em um estudo desenvolvido junto aos tutores pertencentes ao sistema UAB, Oliveira, Mill e Ribeiro (2010, p. 82-83) observaram que “[...] a formação dos tutores na área de conhecimento específico e o apoio e suporte tanto do professor-responsável como da equipe técnica, gestores e demais agentes, são fundamentais para que eles atuem com segurança”.

Corroboramos as ideias de Oliveira, Mill e Ribeiro (2010), ao entender a tutoria como docência, já que as práticas desenvolvidas por esses profissionais visam à aprendizagem do aluno. Entretanto, também é necessário o reconhecimento desse profissional junto aos órgãos que regulam a EaD no Brasil, já que eles contribuem sobremaneira para a Formação de Professores e consequentemente influenciam a melhoria da Educação.

38 Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Mais informações disponíveis em: <http://www.fnde.gov.br>.

Com base nas discussões apresentadas neste capítulo, identificamos que tanto a formação quanto a prática de professores que ensinam Matemática, no contexto da EaD online, apresentam diversos limites e possibilidades; limites no sentido de uma formação contextualizada ao ambiente sociocultural em que se encontra o indivíduo em formação, uma formação que privilegie os conhecimentos específicos, pedagógicos e tecnológicos e prática em um contexto diferenciado do habitual (presencial); possibilidades remetendo-se ao fato do rompimento de distâncias geográficas e constituição de um ambiente de discussão e reflexão sob diferentes pontos de vista, que se inter-relacionam com os aspectos socioculturais advindos de diferentes culturas escolares, bem como a possibilidade de democratização ao acesso à formação superior.

No capítulo seguinte, apresentamos as opções teórico-metodológicas que guiaram esta investigação, que se fundamentou na Metanálise e em alguns procedimentos da Análise de Conteúdo.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA: A METANÁLISE E A ANÁLISE DE

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