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1. Análise dos itens das Escalas de Interação com os Pares e de Envolvimento Acadêmico

1.1.1 Interações Acadêmicas

Na apresentação original da escala este domínio era composto por 20 itens, que diziam respeito às experiências ou ações que os estudantes realizam junto aos seus colegas e que tenham como foco aspectos ou tópicos ligados às exigências e tarefas do ensino superior.

A Tabela 5, a seguir, traz os dados obtidos em cada item que compõe a escala.

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Pelo tamanho da amostra, ao invés da apresentação do valor observado de U, opta-se pelo cálculo do valor de

Tabela 5: Análises descritivas e inferenciais dos itens do domínio interações acadêmicas da Escala de Interação com os Pares, para ingressantes (I) e concluintes (C)

Teste

Cód Descrição dos itens

Respostas

Mann-Whitney

1 2 3 4 5 σ Me z p

IP2 Explico matérias para colegas I 36 101 226 145 77 3,21 1,07 3 -0,992 0,321

% 6,1 17,2 38,6 24,7 13,1

C 19 67 154 124 49 3,28 1,02 3

% 4,6 16,1 36,9 29,7 11,8

IP4 Faço as tarefas e os trabalhos I 28 80 154 193 128 3,54 1,12 4 -2,314 0,021

do meu curso com colegas % 4,8 13,7 26,3 32,9 21,8 *

C 12 49 101 146 106 3,69 1,07 4

% 2,9 11,8 24,2 35 25,4

IP5 Peço para um colega ler os I 158 159 128 79 61 2,53 1,3 2 -2,610 0,009

trabalhos que escrevi para ver % 27 27,1 21,8 13,5 10,4 **

se estão claros para ele C 89 99 101 80 45 2,74 1,29 3

% 21,3 23,7 24,2 19,2 10,8

IP7 Discuto com outros estudantes I 33 101 191 169 90 3,31 1,1 3 -0,752 0,452

idéias ou conceitos apresenta- % 5,6 17,2 32,6 28,8 15,4

dos em sala C 22 65 135 125 67 3,36 1,09 3

% 5,3 15,6 32,4 30 16

IP10 Estudo para uma avaliação I 123 123 143 119 76 2,83 1,32 3 -2,764 0,006

ou prova com colegas % 21 21 24,4 20,3 13 **

C 66 81 107 86 74 3,05 1,33 3

% 15,8 19,4 25,7 20,6 17,7

IP11 Obtenho ajuda de colegas para I 29 116 202 167 71 3,23 1,06 3 -1,332 0,183

a realização de tarefas em % 4,9 19,8 34,5 28,5 12,1

sala de aula C 25 62 152 116 59 3,29 1,08 3

% 6 14,9 36,5 27,8 14,1

IP13 Peço aos colegas informações I 31 108 119 164 163 3,55 1,22 4 -0,913 0,361

do curso como, datas de provas, % 5,3 18,4 20,3 28 27,8

horários das aulas C 19 57 93 123 122 3,66 1,17 4

% 4,6 13,7 22,3 29,5 29,3

IP17 Peço explicações ou ajuda de I 17 54 148 182 184 3,79 1,07 4 -0,114 0,909

colegas sobre uma matéria % 2,9 9,2 25,3 31,1 31,4

em que tenho dúvida C 10 32 115 127 130 3,81 1,04 4

% 2,4 7,7 27,6 30,5 31,2

IP20 Discuto com colegas idéias I 16 56 206 178 127 3,6 1,02 4 -0,365 0,715

sobre os trabalhos do meu % 2,7 9,6 35,2 30,4 21,7

curso C 9 48 129 132 96 3,62 1,03 4

% 2,2 11,5 30,9 31,7 23

IP22 Estudo com colegas nas suas I 230 114 95 77 68 2,38 1,41 2 -3,999 0,0

residências % 39,2 19,5 16,2 13,1 11,6 **

C 113 85 87 66 64 2,72 1,41 3

% 27,1 20,4 20,9 15,8 15,3

IP23 Troco mensagens eletrônicas I 85 116 125 127 131 3,18 1,37 3 -1,420 0,161

com colegas para organizar um % 14,5 19,8 21,3 21,7 22,4

trabalho para o curso C 51 68 90 99 107 3,34 1,34 3

% 12,2 16,3 21,6 23,7 25,7

χ

Tabela 5: Análises descritivas e inferenciais dos itens do domínio interações acadêmicas da Escala de Interação com os Pares, para ingressantes (I) e concluintes (C)

(conclusão)

Teste

Cód Descrição dos itens

Respostas

Mann-Whitney

1 2 3 4 5 σ Me z p

IP24 Aprendo conteúdos relaciona- I 34 107 192 167 85 3,28 1,1 3 -2,21 0,027

dos ao curso com colegas % 5,8 18,3 32,8 28,5 14,5 *

C 17 66 138 118 76 3,41 1,08 3

% 4,1 15,8 33,1 28,3 18,2

IP25 Ensino colegas a utilizar I 79 131 198 116 61 2,91 1,17 3 -2,674 0,008

materiais ou equipamentos % 13,5 22,4 33,8 19,8 10,4 **

da instituição C 43 79 128 118 46 3,11 1,15 3

% 10,3 18,9 30,7 28,3 11

IP30 Trabalho com colegas na I 310 116 77 50 31 1,93 1,22 1 -1,073 0,283

realização de um projeto de % 52,9 19,8 13,1 8,5 5,3

pesquisa ou extensão C 204 96 55 37 23 1,98 1,22 2

% 48,9 23 13,2 8,9 5,5

IP32 Encontro colegas para discutir I 120 129 174 110 52 2,73 1,23 3 -0,157 0,875

questões ligadas ao curso % 20,5 22 29,7 18,8 8,9

C 79 103 127 68 38 2,71 1,21 3

% 18,9 24,7 30,5 16,3 9,1

IP33 Converso com colegas sobre I 16 65 165 197 140 3,65 1,05 4 -0,854 0,393

uma matéria ou sobre acon- % 2,7 11,1 28,2 33,6 23,9

tecimentos do curso C 16 50 119 126 104 3,61 1,1 4

% 3,8 12 28,5 30,2 24,9

IP35 Forneço aos colegas informa- I 18 85 184 168 128 3,52 1,08 4 -0,353 0,724

ções relacionadas ao curso % 3,1 14,5 31,4 28,7 21,8

que realizamos C 9 58 126 129 93 3,58 1,05 4

% 2,2 13,9 30,2 30,9 22,3

IP37 Vou aos eventos acadêmicos I 96 116 145 134 92 3,02 1,31 3 -2,909 0,004

com colegas % 13,4 19,8 24,7 22,9 15,7 **

C 39 64 132 101 79 3,28 1,21 3

% 9,4 15,3 31,7 24,2 18,9

IP38 Trabalho em grupo em ativida- I 33 71 141 166 172 3,64 1,18 4 -1,258 0,208

des para as disciplinas % 5,6 12,1 24,1 28,3 29,4

C 23 44 104 107 137 3,7 1,19 4

% 5,5 10,6 24,9 25,7 32,9

IP41 Oriento meus colegas na reali- I 44 83 200 158 98 3,31 1,14 3 -0,196 0,984

zação de suas atividades de % 7,5 14,2 34,1 27 16,7

sala de aula C 24 63 153 108 67 3,31 1,09 3

% 5,8 15,1 36,7 25,9 16,1

I – estudantes ingressantes C – estudantes concluintes * p<0,05; ** p<0,01

A partir dos dados apresentados na Tabela 5 pode-se constatar que os estudantes, participantes deste estudo interagem academicamente com os seus colegas, mas a intensidade de tais interações é variável em função da atividades desempenhada.

Tanto para os estudantes ingressantes como para os concluintes, algumas formas de interação ocorrem com uma intensidade mais elevada, como Peço explicações ou ajuda de

colegas sobre uma matéria em que tenho dúvida (ip17), Discuto com colegas idéias sobre os trabalhos do meu curso (ip20), Converso com colegas sobre uma matéria ou sobre acontecimentos do curso (ip33), Forneço aos colegas informações relacionadas ao curso que realizamos (ip35) e Trabalho em grupo em atividades para as disciplinas (ip38). Algumas

dessas interações, principalmente àquelas que envolvem conversas, solicitação e oferecimento de auxílio podem ocorrer espontaneamente, sem o planejamento formal das instituições. Por outro lado, as instituições também podem exercer um papel na concretização das mesmas, através da elaboração de contextos formais através dos quais tais interações ocorram. Por exemplo, a solicitação e o oferecimento de auxílios podem se manifestar através de atividades de monitoria, nas quais um estudante, matriculado em um período mais avançado, assume o papel de docente e ensina aos estudantes determinados conteúdos. Também a discussão com colegas sobre trabalhos e a realização de trabalhos em grupos com colegas são formas de interação que são favorecidas pelos currículos e planos de curso que priorizem atividades colaborativas entre os estudantes, como o intuito de facilitar o processo de aprendizado.

O papel que a instituição exerce na viabilização de algumas formas de interação parece claro quando se analisa as interações acadêmicas realizadas com pouca freqüência entre os estudantes, entre elas destaca-se Trabalho com colegas na realização de um projeto de

pesquisa ou extensão (ip30). Se as atividades de pesquisa podem ter um caráter mais

individual, com o envolvimento apenas do professor e seus alunos, as práticas de extensão, ao menos na instituição analisada, têm se destacado enquanto possibilidade de convívio entre os universitários, criando contextos para a ampliação das interações. Neste sentido, permanecem indagações sobre a pouca freqüência com que tais interações acontecem: seriam tais atividades limitadoras para a ocorrência de contato com os pares, ou seria a escassez de oportunidades de participação em atividades de pesquisa e extensão que inviabilizariam a ocorrência de tais interações?

Na seqüência são apresentadas descrições detalhadas de cada item que compunha o domínio interações acadêmicas, da Escala de Interação com os Pares, buscando-se analisar as diferenças entre ingressantes e concluintes.

Dentre os impactos da adoção de uma perspectiva construtivista sobre o processo de construção do conhecimento está a possibilidade de que os próprios estudantes possam exercer, em determinados contextos, uma influencia educativa sobre os seus colegas (COLL e COLOMINA, 1996). Nesses contextos, destaca-se a realização das atividades junto aos pares. Na Escala de Interação com os Pares, diversos itens foram formulados a partir desse princípio.

Um deles, Trabalho com colegas na realização de um projeto de pesquisa ou extensão

(ip30), como anteriormente destacado, descreve a ação de menor freqüência realizada pelos

alunos dessa instituição, quando comparados aos demais itens que compunham a escala. Por volta de 72% dos alunos ingressantes e concluintes nunca interagem com os colegas ou o fazem com uma intensidade pequena. Em geral, é baixa a média da freqüência com a qual os estudantes de início de curso interagem com os colegas nas atividades de pesquisa e extensão, sendo 1,93 para os calouros e 1,98 para os alunos de final de curso. Bridi (2004), em um estudo no qual foram investigados os benefícios das atividades de pesquisa, em particular da atividade de iniciação científica, destacou a possibilidade do trabalho em grupo, o que cria condições para um aprendizado do trabalho em equipe. É provável que o pequeno número de interações com os colegas esteja relacionado à pequena participação dos estudantes nos projetos de pesquisa e extensão de seus professores.

Outro item, presente na Escala de Interação com os Pares, Faço as tarefas e os

trabalhos do meu curso com colegas (ip4), foi uma forma de interação, segundo a média da

freqüência das respostas, realizada em uma intensidade ligeiramente acima da média pelos alunos de início de curso (3,54) e, também, pelos alunos de final de curso (3,69), os quais a realizam em uma intensidade moderadamente elevada. Além disso, apesar de apresentarem as mesmas medianas (4), as análises realizadas através do Teste Mann-Whitney apontam diferenças estatisticamente significantes entre os dois grupos (z = -2,314, p=0,021), sugerindo que os estudantes concluintes interagem mais frequentemente com os seus pares através da realização de tarefas e trabalhos. Desses dados, destaca-se ainda que 54,7% dos calouros realizam com grande freqüência essa atividade e, apenas 18,5% não desenvolvem essas interações ou a fazem pouco. Já no que se refere aos estudantes concluintes, 60,4% interagem com os colegas diante dessas ações, com uma intensidade elevada e, apenas 14,7% não interagem ou se relacionam pouco com os colegas.

Dados similares são encontrados nas respostas ao item Trabalho em grupo em

atividades para as disciplinas (ip38). Ambos os estudantes se envolvem com os colegas nos

trabalhos para as disciplinas com uma freqüência moderadamente elevada, sendo a média para os alunos ingressantes 3,64 e para os alunos concluintes 3,70, apesar de apresentarem a mesma mediana (4). Dos dados, destaca-se que apenas 5,5% dos estudantes nunca trabalham com os colegas. Estas informações reafirmam colocações de Tinto (1997) sobre a importância de se criarem contextos, no ambiente acadêmico, que incentivem as interações com os colegas, inclusive aquelas que envolvam o trabalho em grupo, como estratégia para os alunos aprimorarem o processo de ensino aprendizagem.

Os universitários deste estudo também relatam que Estudam para uma avaliação ou

prova com colegas (ip10), mas com uma intensidade ligeiramente baixa para os alunos de

início de curso (2,83) e uma freqüência próxima à média para os estudantes concluintes (3,05). Ambos os grupos de estudantes apresentam a mesma mediana (3), porém as análises estatísticas destacam a existência de diferenças significantes entre os dois grupos (z = -2,764,

p=0,006), sendo tal interação realizada com maior freqüência pelo aluno de final de curso.

Apesar de os dados da média indicarem um envolvimento médio e ligeiramente abaixo da média com os pares nessas atividades, 42% dos estudantes de início de curso nunca interagem com os colegas ou o fazem pouco. Essa porcentagem é um pouco menor para os concluintes, sendo que 35,2% realizam pouco ou quase nada esta atividade. A análise das médias de outro item, com conteúdo semelhante a este, Estudo com colegas nas suas residências (ip22), também indica um envolvimento ligeiramente abaixo da média dos alunos concluintes (2,72), e moderadamente baixo dos alunos calouros (2,38), com os seus pares nesta atividade. A análise da mediana das respostas indica diferença entre os dois grupos, sendo que os concluintes apresentam maior mediana (3) quando comparados aos ingressantes (2), e a diferença é estatisticamente significante (z=-3,999, p<0,001). Dos dados referentes aos ingressantes, 58,7% interagem pouco ou quase nada com os seus pares através do estudo em suas residências. Já no que diz respeito aos concluintes, a porcentagem de estudantes que pouco ou que não se relacionam com colegas é menor, 47,5%.

É provável que o aluno de início de curso tenha vivenciado menos oportunidades de interagir com os seus colegas fora do ambiente acadêmico e, com isso, tenha uma freqüência maior de interações em atividades que possam ocorrer dentro do espaço físico da instituição, como realizar as tarefas e os trabalhos em grupos com colegas. Por outro lado, retomando as colocações já apresentadas de Boruchovitch (1996), a freqüência menor com a qual os alunos optam por estudar com colegas pode ser explicada pelo envolvimento dos estudantes nas tarefas. A autora destaca que dentre os impactos negativos das atividades em grupo, como o estudo, está o empenho distinto dos estudantes com as atividades. Alguns universitários podem se esforçar menos nas suas realizações, na tentativa de se beneficiar das interações com os colegas. Com isso, contribuem pouco para o estudo, não criando condições para a ampliação da aprendizagem. Por outro lado, as questões ligadas à escassez de tempo também podem contribuir para o estudante ter oportunidades mais limitadas de interagir com os pares, principalmente nas situações ligadas ao estudo. Além disso, Lazar (1995) sinaliza que não são todos os estudantes disponíveis a estudarem em grupo. No geral, os universitários relatam que as disciplinas relacionadas às Ciências Humanas não necessitam ser estudadas em grupo.

As interações entre os alunos podem ocorrer, também, através das conversas e discussões, com o foi investigado nos itens Discuto com outros estudantes idéias ou conceitos

apresentados em sala (ip7), Discuto com colegas idéias sobre os trabalhos do meu curso (ip20) e Converso com colegas sobre uma matéria ou sobre acontecimentos do curso (ip33).

No que se refere a esses dois últimos itens, a média de freqüência de interação com os pares foi similar entre os estudantes ingressantes e concluintes, ficando em torno de 3,6. A mediana dos grupos de alunos para os dois últimos itens também foi a mesma (4), não sendo constatadas diferenças estatisticamente significantes entre os grupos. Apesar disso, os alunos de início de curso discutem um pouco menos com colegas idéias sobre os trabalhos do curso, quando comparados aos concluintes, sendo que esta situação se inverte quando o foco das interações são conversas com colegas sobre uma matéria ou sobre acontecimentos do curso. É provável que o estudante calouro ainda tenha oportunidades mais limitadas de realizar trabalhos com colegas devido ao pouco tempo de vivência universitária. Contudo, esses dados sinalizam uma abertura maior dos estudantes às interações com os pares envolvendo conteúdos acadêmicos. Ainda no que se diz respeito a essas interações, as médias das respostas ao item discuto com outros estudantes idéias ou conceitos apresentados em sala

(ip7), também indicam que essas interações ocorrem com uma freqüência ligeiramente acima

da média tanto para os estudantes ingressantes (3,31) como para os concluintes (3,36). A mediana dos dois grupos foi 3 e não se constatou diferença estatisticamente significante entre os dois grupos. Dos estudantes, apenas 5,6% dos ingressantes e 5,3% dos concluintes nunca interagem com os pares com essa finalidade.

Esses dados sugerem que os conteúdos acadêmicos estão presentes nas interações estabelecidas com os colegas. De acordo com La Taille (1992), ao destacar a posição piagetiana sobre as interações interindividuais que envolvem cooperação, ou seja, discussão, troca de pontos de vista e controle mútuo dos argumentos, acrescenta que as mesmas criam condições para o desenvolvimento humano devido, principalmente, aos desafios e conflitos presentes nesse processo. Esta posição também é defendida por Boruchovitch (1996). Porém, neste estudo, as interações que envolvem discussões com colegas, principalmente aquelas que dizem respeito às questões ligadas às idéias, conceitos ou temáticas desenvolvidas na sala de aula, acontecem no cotidiano da universidade, sem que essas discussões precisem ser formalizadas em locais e datas específicos. Isso se torna mais claro quando se analisa a freqüência com a qual os estudantes interagem através de Encontro colegas para discutir

questões ligadas ao curso (ip32). Em média, apenas 9% dos estudantes se relacionam com

curso. Das respostas dos estudantes observa-se que 20,5% dos ingressantes e 18,9% dos concluintes nunca interagem com os colegas dessa forma. É provável que este item tenha remetido ao estudante discussões relacionadas às dificuldades vivenciadas pelo curso e tais discussões podem ocorrer no dia-a-dia do estudante, sem a necessidade de se construírem situações específicas para tal. Por outro lado, tais dados sugerem cautela em políticas que visam ampliar as interações com os colegas através da imposição de algumas atividades. Considerando que um conjunto de variáveis pode interferir nas interações que os estudantes estabelecem com os colegas, inclusive aquelas que envolvem preferências particulares dos estudantes, as interações com os colegas deveriam ser incentivadas pelas instituições, ao invés de serem impostas.

Ainda no que se refere à Escala de Interação com os Pares, outros itens que ilustram as interações que os estudantes estabelecem com os colegas são Troco mensagens eletrônicas

com colegas para organizar um trabalho para o curso (ip23) e Vou aos eventos acadêmicos com colegas (ip37). Com relação à troca de mensagens eletrônicas, em média os estudantes

concluintes interagem com os seus colegas com uma intensidade maior (3,34), quando comparados aos ingressantes (3,18). Apesar disso, com exceção da resposta nunca, com uma freqüência de resposta de 14,5% dos participantes, a distribuição da freqüência às demais opções de respostas pareceu mais homogênea para os alunos ingressante. Já para os estudantes concluintes, a distribuição das respostas parece atingir um crescente, com uma porcentagem menor de estudantes (14,5%) que nunca trocam mensagens eletrônicas, sendo essa atividade realizada com uma freqüência elevada para uma porcentagem maior de alunos (25,7%). A freqüência com a qual os estudantes interagem com os pares através de ambientes virtuais ilustra as mudanças comportamentais e subjetivas decorrentes do uso da Internet (Lévy, 1998) e também incita questionamentos sobre as melhores formas de incorporar as novas tecnologias no cotidiano da universidade, bem como sobre as conseqüências dos ambientes virtuais para a formação do estudante.

Já no que se refere à participação dos estudantes nos eventos acadêmicos junto aos colegas, essa interação, através da análise das medidas de respostas, acontece com uma freqüência ligeiramente acima da média para o estudante concluinte (3,28) quando comparado ao estudante ingressante (3,02) e, apesar de apresentarem a mesma mediana (3), a diferença entre os dois grupos foi estatisticamente significante (z=-2,909, p=0,004). Sabe-se que ocorrência das interações nos eventos acadêmicos está na dependência da existência dos mesmos, o que, por sua vez, reafirma o papel da instituição na criação de contextos nos quais as interações possam acontecer.

Ainda dentre as interações estabelecidas pelos estudantes com os seus pares destacam- se aquelas que envolvem o oferecimento ou recebimento de informações relacionadas ao curso, descritos no instrumento através de dois itens: Forneço aos colegas informações

relacionadas ao curso que realizamos (ip35) e Peço aos colegas informações do curso como, datas de provas, horários de aulas (ip13). Desses itens, Forneço aos colegas informações relacionadas ao curso que realizamos (ip35) ocorre com uma freqüência moderadamente

elevada pelos alunos do início e final de curso, com a média de 3,58 para os estudantes concluintes e 3,52 para os alunos ingressantes. Desses dados, também destaca-se que apenas 2,2% dos concluintes e 3,1% dos calouros nunca interagem com os colegas dessa forma. Já com relação ao item Peço aos colegas informações do curso como, datas de provas, horários

de aulas (ip13), observa-se, pela média das respostas, que estas interações também ocorrem

com uma freqüência mais elevada para os estudantes de final de curso (3,66), quando comparados aos estudantes de início de curso (3,55). Apesar disso, ambos os estudantes interagem com os colegas através do pedido ou oferecimento de auxílio com uma intensidade moderadamente elevada, sendo que 55,8% dos calouros e 58,8% dos concluintes o realizam sempre ou quase sempre.

Apesar de as interações nas quais os estudantes fornecem auxílio aos colegas indicarem, na maioria dos casos, a presença de relações assimétricas, ou seja, um dos pares detém um saber num nível um pouco mais elevado do que o colega, o pequeno número de participantes que nunca interagem com os colegas dessa forma, através do oferecimento ou recebimento de informações sobre o curso, sinaliza que esta é um tipo de interação que pode acontecer com grande freqüência no contexto acadêmico, sem exigir dos estudantes um domínio amplo em alguma área de conhecimento. Talvez seja necessário, apenas, que o estudante esteja envolvido com a dinâmica da instituição.

Outras interações acadêmicas estabelecidas pelos estudantes com os seus pares são aquelas que envolvem relações de tutoria ou o oferecimento de ajuda aos colegas. Essas interações estavam expressas nos itens Explico matérias para colegas (ip2); Ensino colegas a

utilizar materiais ou equipamentos da instituição (ip25), Oriento meus colegas na realização de suas atividades de sala de aula (ip41).

Dos três itens anteriormente apresentados, destaca-se, pela análise das médias dos alunos ingressantes e concluintes que esses grupos interagem, com colegas, em uma freqüência bastante semelhante (3,2), com os colegas através da explicação de matérias. Apesar disso, 37,8% dos estudantes de início de curso explicam matérias para colegas com uma intensidade moderada a elevada e 41,5% dos concluintes interagem com os seus pares

com freqüência moderada a elevada. Outra atividade, Oriento meus colegas na realização de

suas atividades de sala de aula (ip41), também é desenvolvida pelos estudantes com uma

freqüência similar à explicação das matérias (3,31). Com relação a este item a média da freqüência é idêntica entre os estudantes ingressantes e concluintes, apesar de a dispersão dos dados, mensurada através do desvio-padrão, ser maior entre os ingressantes. A freqüência ligeiramente elevada com a qual os estudantes interagem com os colegas através do ensino, de maneira semelhante às situações de tutoria, reafirma as colocações de Webb (1989) sobre o papel dos colegas para o processo de ensino-aprendizagem, deslocando a responsabilidade exclusiva dos professores nesse processo. Boruchovitch (1996, p. 32) destaca que uma contribuição importante da ajuda dos colegas reside no fato de que alunos, em geral,

compartilham de uma linguagem comum e são capazes, portanto, de fornecer explicações