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Interações e brincadeiras entre: crianças e adultas, crianças e crianças,

3 ANALISANDO PRÁTICAS EDUCATIVAS DESENVOLVIDAS COM

3.2 Categorias de análise da pesquisa com bebês e crianças pequenas: o

3.2.3 Interações e brincadeiras entre: crianças e adultas, crianças e crianças,

Com base no referencial teórico consultado, entende-se que, de certa forma, todas as vivências observadas entre os sujeitos e também deles com o ambiente coletivo institucional caracterizam-se como interações. Da mesma forma, seguindo as DCNEI como instrumento orientador das propostas pedagógicas na Educação Infantil: “Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira [...] (BRASIL, 2009, p. 4), compreende-se ainda que não é possível separar estes dois conceitos nas situações produzidas nos contextos observados, já que a

brincadeira se constitui de uma situação interativa, seja entre crianças, delas

com as educadoras ou com o ambiente coletivo.

Nesse sentido, no desenho de análise conceitual da pesquisa, esses termos conceituais são colocados lado a lado no sentido de serem observadas e percebidas de modo relacionado, pois, ao mesmo tempo em que brincam, as crianças interagem. Desse modo, as interações foram compreendidas como as relações e formas de comunicação estabelecidas entre os sujeitos por meio de diferentes linguagens; olhares, gestos, toques, choro, sorrisos, balbucios e falas (BARBOSA, 2009; BRASIL, 2009; RICHTER; BARBOSA, 2010; OLIVEIRA, 2010; OLIVEIRA- FORMOSINHO; FORMOSINHO, 2013).

Assim, entende-se que tais formas de interagir e se comunicar em correspondência ao que é manifestado pelo outro ocorrem durante as brincadeiras, das crianças entre si e também, nas mediadas pelas educadoras, podendo ou não ser explorados objetos. Da mesma forma, as interações; comunicações e relações estabelecidas ocorrem nos momentos de alimentação, sono e higiene pessoal; situações, portanto, de cuidado e educação (BARBOSA, 2009; BRASIL, 2009; SAYÃO, 2010).

Uma situação de interação e brincadeira produzida pelas crianças que se destaca foi o momento de uso da Bebeteca22 (cortina com os livros) como objeto

para esconder-se e mostrar-se ao outro. Entende-se que as interações produzidas ocorreram também por meio de diferentes linguagens; movimentos corporais, gestos, olhares, observações, gritinhos e outros (FARIA; DIAS; 2007; BARBOSA, 2009; PEDROSA; SANTOS, 2009). Nesta cena, é possível perceber a procura e a espera das ações do outro, o que se compreende como interações que ocorreram em um momento de brincadeira criado pelas próprias crianças (OLIVEIRA- FORMOSINHO; FORMOSINHO, 2013). No entanto, também se entende que, de certa forma, houve a mediação do adulto ao possibilitar a exploração e (re)significação daquele objeto no espaço da sala (RICHTER; BARBOSA, 2010; GODOI; SILVA, 2011).

As brincadeiras, outro dos eixos centrais do trabalho com as crianças na Educação Infantil proposto nas DCNEI, é entendida como situação interativa, na qual as crianças expressam a forma como estão aprendendo sobre si mesmas, sobre a relação com os outros e com o mundo. Segundo Richter e Barbosa (2010), o corpo é onde ocorre a manifestação das diferentes linguagens e, nas brincadeiras, as crianças experimentam, no convívio com outros sujeitos.

Rossetti-Ferreira e Oliveira (2009) entendem que, durante as brincadeiras com companheiros, a criança aprende sobre situações criadas em sua cultura, as quais são transmitidas pelos sujeitos, adultos e crianças com quem convive. Nesse sentido, retoma-se também os conceitos trazidos pela Antropologia, que permitem compreender que, a partir da atuação da criança, ou seja, de suas diferentes formas de interagir, ela também produz cultura, uma cultura da infância ou cultura de pares (COHN, 2005; PEDROSA; SANTOS, 2009; OLIVEIRA, 2010; RICHTER; BARBOSA, 2010).

Rossetti-Ferreira e Oliveira (2009) trazem a brincadeira de faz de conta como recurso para desenvolvimento na infância, ou seja, uma atividade mediadora na formação da consciência. Oliveira (2009) considera que a brincadeira permite à criança imitar aquilo o que já conhece, mas também, construir algo novo a partir da transformação do cenário. Esta capacidade, conforme a autora, permite que a fantasia aproxime ou distancie as crianças da realidade vivenciada.

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Para a autora, nas brincadeiras, a criança aprende a assumir diferentes papeis, coloca-se no lugar do outro, aprende a comandar seu comportamento de acordo com os de seus parceiros, bem como, desenvolve habilidades e, assim, constrói sua identidade. De acordo com Pedrosa e Santos (2009), a criança traz para a situação de brincadeira modelos de comportamento e significados que foram produzidos em outros espaços de interação. Assim, este é um momento/espaço em que, segundo as autoras, a criança legitima os valores de sua cultura.

Estes foram aspectos percebidos, por exemplo, na situação de brincadeira proposta e mediada pela professora-estagiária, na turma do Berçário I, na qual houve interação com o objeto “túnel” (caixa de papelão)23

e, com a boneca trazida para a brincadeira por Amanda. Esta era, portanto, uma situação lúdica na qual uma caixa era tratada como túnel e, a boneca também participou da mesma forma que as crianças (CORSINO, 2006; KISHIMOTO, 2010; RICHTER, BARBOSA, 2010; MORETTI; SILVA, 2011).

Entende-se que a sequência de fatos mediados pela professora-estagiária possibilitou aprendizagens da vivência cultural como entrar e sair de determinado lugar, estar dentro de um espaço e, depois, fora dele ou, ao contrário. Do mesmo modo, as crianças foram estimuladas a participar, a notar a presença do outro e, por isso, aguardar a sua vez (FREIRE, 2014). Assim, foram agindo, atuando a partir da mediação da professora, mas também de suas necessidades e desejos.

As interações entre elas ocorreram por meio do diálogo constante da professora-estagiária, mas também da observação e atenção ao outro, o que gerou ações e interações entre as crianças por meio de olhares, sorrisos, gestos, movimentos corporais, enfim, diferentes linguagens (FREIRE, 1996; OLIVEIRA- FORMOSINHO, FORMOSINHO, 2013). No mesmo sentido e, com potencial voltado para a aprendizagem de outra significativa prática social por meio das brincadeiras, tem-se a brincadeira no “banheiro de brinquedo”24 produzido pela professora da turma Berçário II juntamente às crianças.

Com isso, tem-se ideia da importância e representatividade das brincadeiras e interações nos processos de aprendizagens das crianças. Em um espaço representativo de uma situação real que passou a ser vivenciada por parte do grupo, o lúdico e o real se interligaram possibilitando às crianças, por meio da brincadeira e

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Ver excerto do diário de campo na página 128.

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de interações com a professora e com os colegas explorar objetos e produzir vivências culturais de modo coletivo, mas também individuais, já que, cada um estava produzindo as suas experiências e, assim, construindo conhecimentos acerca de si, de suas necessidades (OLIVEIRA-FORMOSINHO; FORMOSINHO, 2013).

O mesmo ocorreu em uma atividade relacionada ao processo de abandono das fraldas vivenciado pelo grupo. Ainda como parte das atividades sugeridas pela pesquisadora, portanto, uma intervenção indireta, a professora da turma Berçário II organizou e propôs uma atividade em que as crianças puderam, brincando, colocar fraldas nas bonecas da sala:

A seguir, a professora chama para que o grupo vá próximo a ela: “vem aqui, vem aqui”. A estagiária Jô também estimula: “Olha aqui, a Dora vai colocar a fralda no nenê. Vamos ver o que Dora vai fazer!”. O grupo começa a se aglomerar em volta da professora, que está com um boneco (representativo do sexo masculino) nas mãos. A seguir, pergunta: “sabem esse bonequinho aqui?” e solicita: “senta, senta!” Em seguida, pergunta: “ele está vestido com roupa?”. Olhando para as crianças que ainda estão se acomodando à sua volta, diz com ar de espanto: “Ele está sem roupa, o boneco!”. Questionando as crianças pergunta: “O que precisa fazer?”. Julio (2 anos e 9 meses) fala algo e a professora pergunta de volta: “Botar fralda nele?”. Julio balança a cabeça confirmando. A professora então pergunta: “quem é que usa fralda aqui?”. Francisco (2 anos e 5 meses) responde com voz enfática: “Eeeu”. Ela pergunta de volta: “tu usa?”. Segurando uma fralda pergunta a Francisco: “a tua fraldinha é parecida com essa?”. Ele responde algo, mas só consigo compreender a palavra fralda. A seguir, segurando o boneco em uma das mãos e a fralda na outra, a professora pergunta: “como que coloca a fralda nesse nenê?”. E, em seguida, convida: “vamos colocar a fraldinha nele?”. O grupo a observa. Em seguida, ela explica: “a Dora vai abrir a fraldinha. É assim que a gente abre óh! E ele é bem pequenininho e a gente vai colocar ele aqui dentro da fralda e a gente vai fechar a fraldinha. Olha aqui! E a gente vai colocar a fraldinha nele e, agora, ele está de fralda, olha!” Segurando o boneco, agora usando a fralda, explica: “quando ele quiser ir ao banheiro, a gente precisa tirar a fraldinha”. Ingrid (2 anos e 5 meses) quer segurar o boneco. Ela permite e lhe alcança o boneco. A seguir, começa a perguntar às crianças se querem colocar fraldas em seus “nenês” e, então, passa a alcançar-lhes fraldas e os incentiva a procurar “nenês” (bonecas) para colocar as fraldas. Enquanto isso, Kevin (2 anos e 2 meses) está brincando de empurrar, pela sala, a cadeira que representa o vaso sanitário no banheiro de brinquedo. Duas das estagiárias auxiliam com as crianças neste momento. Há choro na sala, a estagiária Jô pergunta: “o que foi veinho?” e se aproxima de Renato (2 anos e 5 meses). A seguir, orienta: “Não bate nele e dando colo à Francisco diz: “não foi nada meu amor!”. Percebendo que Renato ainda chorava, a professora perguntou a ele: Quer colocar uma fraldinha no teu nenê? Ele diz que sim e recebe uma fralda. Neste momento, é possível observar a movimentação das crianças com as bonecas e fraldas. A professora pergunta: “cadê o vaso?” e, em seguida, solicita: “coloca lá o vaso. Lá no banheiro”, justificando que Jorge (2 anos) queria levar seu nenê ao banheiro e que assim (sem o vaso no lugar), não era possível. As crianças se envolvem nesta atividade de colocar as fraldas nas bonecas. Neste momento, também chamou a atenção a

participação das estagiárias ao ajudar as crianças a colocar as fraldas nas bonecas (Diário de Campo, 02/10/2014).

Entende-se que a proposta de atividade da professora do Berçário II, além de possibilitar a interação das crianças com ela, entre elas mesmas e com diferentes objetos presentes em seu cotidiano, oportunizou que as crianças vivenciassem, de modo lúdico, uma experiência cultural na qual, na realidade, elas é que exercem o papel, naquela atividade, representado pelas bonecas, mas realizado por elas (CORSINO, 2006; PEDROSA; SANTOS, 2009; KISHIMOTO, 2010; OLIVEIRA, 2010; RICHTER; BARBOSA, 2010; MORETTI; FARIA, 2011; SILVA, 2011; OLIVEIRA-FORMOSINHO; FORMOSINHO, 2013).

Estas foram, portanto, situações de brincadeira e interação que se destacaram ao olhar da pesquisadora. Da mesma forma, estes conceitos não se esgotam nesta categoria de análise, mas serão, novamente, mencionados.

4 IDENTIFICANDO ESPECIFICIDADES PARA AS PRÁTICAS